Fisioter Bras 2021;2294);502-15

doi: 10.33233/fb.v22i4.4724

ARTIGO ORIGINAL

Treinamento cardiorrespiratório e força dos músculos ventilatórios de idosas: ensaio controlado randomizado duplo cego

Cardiorespiratory training and ventilatory muscle strength in elderly women: double blind randomized controlled trial

 

Fabio Dutra Pereira, D.Sc.*, Glória de Paula Silva, M.Sc.**, Glaucio Vitor Antunes de Mello***, Isis Brinco de Souza***, Patrícia Zaidan de Barros, D.Sc.****, Elirez Bezerra da Silva, D.Sc.*****

 

*Universidade Estácio de Sá, **Metangrupo, ***Especialista em treinamento desportivo e fisiologia do exercício, Metangrupo, ****Doutora em ciências do exercício e do esporte, Universidade Estácio de Sá, *****Universidade do Estado do Rio de Janeiro

 

Recebido em 12 de abril de 2021; aceito em 29 de junho de 2021.

Correspondência: Fabio Dutra Pereira, Universidade Estácio de Sá, Rua Prof. Gabizo 252/402, BL-5, 20271-062 Rio de Janeiro RJ

 

Fabio Dutra Pereira: m.g@metangrupo.com

Glória de Paula Silva: glorips_ibnj@hotmail.com

Glaucio Vitor Antunes de Mello: gvamello@hotmail.com

Isis Brinco de Souza: isisbrinco@gmail.com

Patrícia Zaidan de Barros: patriciazaidan@gmail.com

Elirez Bezerra da Silva: elirezsilva@cosmevelho.com.br

 

Resumo

Introdução: A dinapenia da musculatura ventilatória relaciona-se com as complicações respiratórias pós-operatórias e aos óbitos de idosos submetidos a procedimentos cirúrgicos de etiologia toracoabdominal. Objetivo: Verificar o efeito crônico do treinamento cardiorrespiratório sobre a força dos músculos ventilatórios de idosas. Métodos: Amostra (n = 24) randomizada nos grupos: controle (n = 8), treinamento ventilatório (n = 7) e treinamento cardiorrespiratório (n = 9). O desfecho primário (PImáx e PEmáx) foi medido por um manovacuômetro digital MDV®300 (MDI/Brasil). Rodou-se a estatística descritiva (média e desvio padrão), seguida de uma ANOVA 3x3 e o testes post-hoc de Bonferroni, todos com significância de (P ≤ 0,05). Resultados: O teste Post Hoc atestou diferença estatisticamente significativa do grupo treinamento cardiorrespiratório no reteste 1 e 2 quando comparados ao teste inicial (PImáx; P = 0,000001 e P = 0,0000001 respectivamente) e (PEmáx; P = 0,000000 em ambas as comparações). Conclusão: O treinamento cardiorrespiratório proposto foi capaz de aumentar significativamente a PImáx, PEmáx, resistência aeróbica e a força de membros inferiores das participantes deste ECR.

Palavras-chave: exercício físico; músculos respiratórios; resistência aeróbica; força muscular; idoso.

 

Abstract

Introduction: Ventilatory musculature dynapenia is related to postoperative respiratory complications and deaths of elderly patients submitted to surgical procedures of thoracic-abdominal etiology. Objective: To verify the chronic effect of cardiorespiratory training on the strength of the ventilatory muscles of elderly women. Methods: Sample (n = 24) randomized in the groups: control (n = 8), ventilatory training (n = 7) and cardiorespiratory training (n = 9). The primary outcome (MIP and MEP) was measured by a MDV®300 digital manovacuometer (MDI/Brazil). Calculated descriptive statistics (mean and standard deviation), followed by an ANOVA 3x3 and post-hoc Bonferroni tests, all with a significance (P ≤ 0.05). Result: The Post Hoc test showed a statistically significant difference of the cardiorespiratory training group in retest 1 and 2 when compared to the initial test (MIP; P = 0.000001 and P = 0.0000001 respectively) and (MEP; P = 0.000000 in both comparisons). Conclusion: The proposed cardiorespiratory training was able to significantly increase the MIP, MEP, aerobic resistance, and lower limb strength of the participants of this RCT.

Keywords: physical exercise; respiratory muscles; aerobic resistance; muscle strength; elderly.

 

Introdução

 

A dinapenia dimensiona-se com a redução da força muscular voluntária na ordem de 10 a 15% a cada 10 anos de vida a partir dos 50 anos, exacerbando-se ainda mais após os 70 anos, com reduções de 20 a 40% em ambos os sexos, destacando um decréscimo ainda mais acentuado no sexo feminino [1,2,3]. Quando estendida à musculatura ventilatória evidencia-se decréscimos nas pressões inspiratória e expiratória máxima (PImáx e PEmáx) [4].

Esta dinapenia específica está intimamente relacionada com as complicações respiratórias pós-operatórias e aos óbitos de idosos submetidos a procedimentos cirúrgicos de etiologia tóraco-abdominal [5,6]. Desta feita, a manutenção da força muscular ventilatória em níveis fisiológicos se torna ainda mais recomendada, pois estes músculos além de participarem da mecânica à homeostase sérica de O2 e CO2, também possibilitam a higienização brônquica que irá minimizar os riscos de infecções respiratórias em ambiente nosocomial [7], ainda mais quando tal contágio, sobretudo pela pneumonia, representa 35,8% dos óbitos totais por infecção hospitalar em idosos [8]. Quando o exercício é prescrito aos músculos ventilatórios, os efeitos positivos sobre a referida musculatura também são consistentes nos idosos [9,10], porém o treinamento dos músculos ventilatórios normalmente ocorre, apenas em situações terapêuticas [11], sendo incomum nos programas de treinamento de caráter promocional à saúde e preventivo de doenças.

Neste sentido, entendendo o padrão ventilatório durante o exercício físico em suas inúmeras modalidades, que aumenta a frequência e a amplitude ventilatória para atender uma demanda energética sistêmica, seria possível então impor uma sobrecarga de treinamento inespecífica à musculatura ventilatória, tanto aos músculos inspiratórios (diafragma, intercostais externos, esternocleidomastóideo, escalenos, peitoral menor e serrátil anterior) quanto aos expiratórios (intercostais internos e abdominais) [12,13].

 Tal hipótese parece se consolidar em função dos resultados de um experimento randomizado realizado com adultos jovens [14], no qual a força muscular ventilatória apresentou incrementos significativos de 25% e 43% para o treinamento contínuo e intervalado, respectivamente.

Portanto, o objetivo deste experimento foi identificar o efeito crônico do treinamento cardiorrespiratório sobre a força muscular ventilatória de idosas.

 

Material e métodos

 

Delineamento

 

Ensaio controlado randomizado duplo cego (ECR), com intervenção paralela e fatorial, realizado no período de 2017 a 2018 na Universidade de Castelo Branco, UCB/RJ. Este experimento seguiu padrões éticos internacionais, conforme descrito por Harriss e Atkinson [15]. O projeto de pesquisa também foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Gama Filho (UGF/RJ), sob protocolo número 283.141. As participantes deram seu consentimento informado de acordo com a Declaração de Helsinque [16].

 

Participantes

 

As participantes elegíveis para o referido experimento atenderam aos critérios de inclusão: possuir idade entre 60 e 79 anos; ter o índice de massa corporal (IMC) compreendido entre 18,0 a 29,5 kg/m2; não possuir histórico tabagístico; não ser portadora de doenças crônico degenerativas, cardíacas e nem respiratórias; ser classificada como “Irregularmente ativa B” (realiza menos de 150 minutos de caminhada leve por semana, em até 5 dias) no International Physical Activity Questionnaire (IPAQ); ter a força dos membros inferiores (FMMII) e a resistência aeróbica (RA) dentro dos valores normativos de referência segundo o Senior Fitness Test [17]. Foi considerado como critério de exclusão qualquer condição que viesse a obrigar as participantes a se ausentarem por mais de duas semanas das atividades realizadas no experimento.

 

Randomização

 

A partir de uma lista de números aleatórios gerada pelo software Microsoft Excel 2010® e método de randomização simples, as participantes foram alocadas para os grupos controle (GC), treinamento ventilatório (GTV), treinamento cardiorrespiratório (GTC).

 

Tamanho da amostra

 

Para calcular o tamanho amostral foi utilizado software G*Power 3.0.10. Considerou-se: o teste ANOVA para medidas repetidas com interação intra e intergrupos; tamanho de efeito f de Cohen = 0,10; erro α = 0,05; poder do teste = 0,80; quantidade de grupos = 3; quantidade de medidas repetidas = 3, correlação entre medidas repetidas = 0,95; correção a não esfericidade = 1. O tamanho da amostra foi calculado em 24 participantes.

 

Grupo controle

 

Esta intervenção teve duração de seis semanas. Neste período, as participantes alocadas eram orientadas a não iniciar nenhum programa sistematizado de exercício físico. Ao término deste período, a fim de garantir os princípios éticos da pesquisa envolvendo seres humanos, essas participantes eram convidadas a participar do treinamento específico para a musculatura ventilatória.

 

Grupo treinamento ventilatório

 

O GTV foi submetido a 18 sessões de treinamento dos músculos ventilatórios, distribuídas em no máximo seis semanas, respeitando a frequência semanal mínima de três sessões, não obrigatoriamente sequenciais. Os equipamentos utilizados no treinamento da referida musculatura foram os Threshold®/IMT e PEP (Respironics/USA) associados ao clamp nasal.

Quanto à biomecânica dos exercícios ventilatórios, no treinamento inspiratório, as incursões inspiratórias eram iniciadas a partir do volume residual se estendendo até capacidade pulmonar total, já os exercícios expiratórios seguiam a biomecânica inversa. Cabe ressaltar que em ambos os exercícios era realizada uma sequência postural à adaptação aos mesmos, sendo o decúbito dorsal, a sentada e a ortostática.

Cada sessão de treinamento foi iniciada com uma série de aquecimento com 15 repetições de exercícios inspiratórios e expiratórios com a biomecânica já descrita, mas sem sobrecarga externa.

 

Tabela I - Prescrição e periodização para o GTV

 

cmH2O = unidade de medida para pressão em centímetros de água; TMI = treinamento dos músculos inspiratórios; TME = treinamento dos músculos expiratórios

 

Grupo treinamento cardiorrespiratório

 

O GTC foi submetido a 18 sessões de treinamento cardiorrespiratório, distribuídas em no máximo seis semanas, respeitando a frequência semanal mínima de três sessões, não obrigatoriamente sequenciais.

A prescrição do volume destinado a parte específica das sessões de treinamento cardiorrespiratório foi estabelecida em função da sobrecarga (45 e 20 minutos) proposta pelo experimento [14], sendo ajustada à população alvo do presente experimento em 35 minutos.

A prescrição da intensidade individualizada da sobrecarga de treinamento foi realizada pela estimação da frequência cardíaca máxima (FCmáx = 220 - idade) e da zona alvo de treinamento (ZAT = (FCreserva x % de intensidade desejado) + FCrepouso) [18,19], considerou-se como (FCreserva = FCmáxFCrepouso) [18].

A frequência cardíaca de repouso foi medida a partir de quinze minutos de repouso em decúbito dorsal, em uma temperatura ambiente controlada de 23º a 24ºC [20]. O % de intensidade desejado foi estabelecido em função da sobrecarga (77,0 ± 3,3% a 84,9 ± 0,5% FCmáx) proposta pelo experimento [14], sendo ajustado à população alvo do presente experimento em (60 a 85 %, para o volume de 35 minutos).

Os equipamentos utilizados para monitorar a evolução cardiodinâmica e respiratória individualizada das participantes foram um frequencímetro cardíaco Polar®-RS800 (Polar/Finlândia) e um oxímetro de pulso Sense 10 (Alfa Med /Brasil), respectivamente.

O treinamento cardiorrespiratório foi realizado em uma bicicleta estacionária modelo Racing (Astro/Brasil), na qual as participantes pedalaram assistidas por um dos pesquisadores responsáveis pelo experimento, e este, tinha a responsabilidade de ajustar a intensidade do referido treinamento em equivalência às ZAT pré-estabelecidas, independente do bpm da sequência musical que era utilizada nas sessões de treinamentos. Cabe ressaltar, que no transcorrer deste treinamento esse pesquisador não estimulou verbalmente à potencialização do drive ventilatório das participantes.

 

Tabela II - Prescrição e a periodização para o GTC

 

Desfechos

 

Foram considerados como desfechos a PImáx, PEmáx, FMMII e RA, todos mensurados nos seguintes momentos: no início (teste); quando as participantes do GC completavam 4 semanas e as do GTV e as GTC 12 sessões nas intervenções propostas (reteste 1); quando o GC ao findar a sexta semana e os GTV e GTC as 18 sessões completadas (reteste 2). O intervalo entre as 12a e 18a sessões e os reteste 1 e 2, respectivamente, foi de 24 a 96 horas.

 

Desfechos primários (força dos músculos ventilatórios)

 

As PImáx e PEmáx foram medidas por um manovacuômetro digital MDV®300 (MDI/Brasil) com resolução de 1 cmH2O, intervalo operacional de ±300cmH2O, com certificado de calibração emitido pelo INMETRO sob o número 0421/2017. Em ambas as medições se adotou os específicos protocolos propostos pelas diretrizes para testes de função pulmonar da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia [21]. O coeficiente de correlação intraclasse (CCI) e o erro típico da medida (ETM) intra examinador foi mensurado em estabilidade para a PImáx CCI = 0,95 e ETM (ETM%) = 7,92 cmH2O (7%) e para PEmáx CCI = 0,93 e ETM (ETM%) = 12,34 cmH2O (9%) [22].

 

Desfechos secundários (força dos membros inferiores e resistência aeróbica)

 

A FMMII e RA foram medidaa pelos testes 30-Second Chair Stand e 2-Min Step respectivamente, adotando-se os específicos protocolos propostos pela bateria de autonomia funcional Senior Fitness Test [17].

 

Métodos estatísticos

 

Foram usadas as técnicas descritivas (média e desvio padrão). Satisfeitos os pressupostos estatísticos, rodou-se o teste ANOVA 3x3, com medidas repetidas para PImáx, PEmáx, FMMII e RA, seguido dos testes post-hoc de Bonferroni. Foi utilizado o software Statistica 7.0 e o nível de significância adotado foi P ≤ 0,05.

O software G*Power 3.0.10 foi utilizado para verificar o poder do teste estatístico post hoc, a partir do verdadeiro tamanho de efeito f de Cohen advindo dos resultados encontrados neste experimento.

 

Cegamento

 

Levando em consideração a exequibilidade do referido experimento, apenas cegaram-se os procedimentos de avaliação dos desfechos primários e de análise estatística, pois tanto as participantes quanto o fisioterapeuta e o educador físico envolvidos na administração das intervenções tinham conhecimento obrigatório da alocação às condições experimentais e de controle.

 

Resultados

 

 

Figura 1 - Diagrama de fluxo dos participantes

 

O f de Cohen foi calculado a partir da razão entre a variância do efeito dos treinamentos cardiorrespiratório e ventilatório realizados e a variância dos participantes dentro do grupo. Foi calculada também a verdadeira correlação entre as medidas repetidas PImáx e da PEmáx. Como foram dois desfechos primários, PImáx e PEmáx e três medidas repetidas, registou-se os menores valores do f de Cohen e da correlação entre as medidas repetidas, 0,62 e 0,84 respectivamente, para a obtenção do poder do teste post hoc que foi igual a 1.

 

Tabela III - Informações iniciais da amostra

 

FA = frequência absoluta; IAB = irregularmente ativa B; SED = sedentária e ADMF = administração farmacológica. Valor de referência Senior Fitness Test para FMMII = 11 - 16 rep/30s e RA= 73-107 rep/min

 

O teste Shapiro-Wilk atestou distribuição normal tanto para PImáx quanto para a PEmáx. Entretanto o teste de Levene atestou heterogeneidade de variâncias/covariâncias para as referidas varáveis, sendo necessário utilizar a análise ajustada de Greenhouse-Geisser nas inferências da PImáx e PEmáx.

 

 

A: PImáx (cmH2O) dos grupos (GC = -79,8 ± 10,1), (GTV = -60,6 ± 20,5) e (GTC = -96 ± 16,3) no Teste, (GC = -81,3 ± 11,0), (GTV = -77,1 ± 22,2) e (GTC = -111,1 ± 13,9) no reteste 1 e (GC = -84,5 ± 12,1), (GTV = -82,1 ± 23,0) e (GTC = -115,3 ± 14,6) no reteste 2

B: PEmáx (cmH2O) dos grupos (GC = 111,4 ± 18,2), (GTV = 94,0 ± 25,0) e (GTC = 117,8 ± 10,2) no Teste, (GC = 112,3 ± 20,3), (GTV = 114,9 ± 29,8) e (GTC = 135,8 ± 12,0) no reteste 1 e (GC = 111,8 ± 19,4), (GTV = 120,7 ± 29,9) e (GTC = 140,2 ± 10,9) no reteste 2

Figura 2 - ANOVA 3x3 para PImáx e PEmáx

 

O teste Post Hoc de Bonferroni atestou que o GTV apresentou aumentos significativos da PImáx no reteste 1 e 2 quando comparados ao teste inicial (P = 0,000000 em ambas as comparações) e o GTC aumentos significativos no reteste 1 e 2 quando comparados ao teste inicial (P = 0,000001 e P = 0,0000001 respectivamente).

O teste Post Hoc de Bonferroni atestou que o GTV apresentou aumentos significativos da PEmáx no reteste 1 e 2 quando comparados ao teste inicial (P = 0,000000 em ambas as comparações) e o GTC aumentos significativos no reteste 1 e 2 quando comparados ao teste inicial (P = 0,000000 em ambas as comparações).

Para os desfechos FMMII e RA os testes Shapiro-Wilk e Levene atestaram distribuição normal e homogeneidade de variâncias / covariâncias para ambas as variáveis.

 

 

A: FMMII (rep/30s) dos grupos (GC = 13,9 ± 1,4), (GTV = 12,7 ± 1,4) e (GTC = 13,7 ± 1,5) no Teste, (GC = 14,0 ± 2,0), (GTV = 13,1 ± 1,6) e (GTC = 16,4 ± 1,9) no reteste 1 e (GC = 14,4 ± 1,4), (GTV = 13,3 ± 2,1) e (GTC = 17,0 ± 1,4) no reteste 2

B: RA (rep/2 min) dos grupos (GC = 96,9 ± 9,4), (GTV = 90,9 ± 7,4) e (GTC = 92,3 ± 7,2) no Teste, (GC = 98,5 ± 9,9), (GTV = 93,6 ± 7,9) e (GTC = 105,1 ± 7,4) no reteste 1 e (GC = 101,1 ± 10,3), (GTV = 94,7 ± 9,6) e (GTC = 108,6 ± 7,7) no reteste 2

Figura 3 - Anova 3x3 para FMMII e RA

 

O teste Post Hoc de Bonferroni atestou que apenas o GTC apresentou incremento significativo na FMMII no reteste 1 e 2 quando comparados ao teste inicial (P = 0,000000 em ambas as comparações) e incremento significativo na RA no reteste 1 e 2 quando comparados ao teste inicial (P = 0,000000 em ambas as comparações).

Torna-se oportuno evidenciar os efeitos colaterais identificados advindos dos treinamentos cardiorrespiratório (pubalgia = 78%) e ventilatório (dor na gengiva = 71,5% e vertigem = 43%). Entretanto, os referidos efeitos somente se apresentaram até as 6 primeiras sessões em ambos os treinamentos.

 

Discussão

 

A Tabela III mostra que os GC, GTV e GTC foram homogêneos quanto as variáveis idade, IMC, PImáx, PEmáx, FMMII e RA, neutralizando qualquer possibilidade de confundimento dos resultados a partir das mesmas (P > 0,05) em todas as análises de variância de um fator realizadas.

Ao analisar as Figuras 2 (A) e (B), pode-se perceber que o treinamento ventilatório produziu o aumento significativo das PImáx (36%) e PEmáx (28%) após 12 e 18 sessões, quando comparadas ao teste inicial. Tal resultado já esperado se deu pelo princípio da especificidade do treinamento. Esta hipótese está sustentada no ECR [9] que propôs um programa de exercícios para a musculatura ventilatória e teve como desfecho o aumento da PImáx (26%, P < 0,0001) e da PEmáx (34%, P < 0,0001).

Analisando as Figuras 2 (A) e (B) e as 3 (A) e (B) pode-se observar que apenas o treinamento cardiorrespiratório apresentou incrementos estatisticamente significativos para as variáveis PImáx (19%), PEmáx (19%), FMMII (24%) e RA (18%), após 12 e 18 sessões quando comparadas ao teste inicial. Neste sentido, ainda que o treinamento ventilatório tenha apresentado ganhos de 36% e 28%, que são superiores aos ganhos de 19% e 19% do treinamento cardiorrespiratório para as PImáx e PEmáx, respectivamente, para uma proposta preventiva de doenças e de promoção à saúde de idosas, sugere-se as mesmas optarem pelo treinamento cardiorrespiratório, por aumentar também a força muscular dos membros inferiores e a resistência aeróbica, qualidades físicas fundamentais para a autonomia funcional desta população.

O aumento da PImáx e PEmáx causado pelo treinamento cardiorrespiratório pode ter ocorrido pelo fato de que a sobrecarga imposta às participantes tenha sido capaz de ampliar o drive e o timing ventilatório para manter a homeostase das pressões arteriais de O2 e CO2 [12,13]. Ratificando esta hipótese, o ECR [23] propôs um programa de treinamento cardiorrespiratório para idosas (grupo experimental n = 13, idade = 65,5 ± 2,6 anos e IMC = 25,5 ± 3,3 kg/m2) com 3 sessões semanais de caminhada de intensidade = 60% da frequência cardíaca de reserva e volume de 20 - 40 minutos por 12 semanas. Esse experimento, apresentou em seus resultados um aumento de PImáx e PEmáx = 9% (P < 0,05), quando comparado ao grupo controle e na comparação intragrupo (teste PImáx = 68,9 ± 17,2 vs. reteste = 75,2 ± 21,7) e (teste PEmáx = 83,4 ± 27,9 vs. reteste = 90,5 ± 27,2) ambos estatisticamente significativos (P < 0,05).

Corroborando os achados obtidos neste ECR, especificamente sobre o treinamento cardiorrespiratório proposto em ciclismo estacionário, um experimento realizado com jovens [14] testou o efeito crônico de dois programas de ciclismo estacionário sobre a função pulmonar, com duração de 4 semanas de frequência de 3 sessões semanais totalizando 12. Um grupo realizou treinamento intervalado (n = 8, idade = 20,2 ± 2,1 anos e IMC = 24,2 ± 2,2 kg/m2) de 5 sets com intensidade de pico/1min = 90% do VO2máx e 3 minutos nas recuperações ativas mantidas em intensidade de 20W, totalizando um volume total de vinte minutos, enquanto outro grupo realizou treinamento contínuo, (n = 7, idade = 21,3 ± 2,3 e IMC = 23,2 ± 2,6) teve uma intensidade fixa = 60 - 70% VO2máx e volume 45 minutos. Esse experimento [14] obteve em seus resultados intragrupo o aumento estatisticamente significativo apenas na força dos músculos inspiratórios PImáx = 25% e 43% para o treinamento contínuo e intervalado, respectivamente. Em seu resultado intergrupo o grupo de treinamento intervalado se diferenciou significativamente do contínuo (P < 0,05).

Quanto ao desfecho FMMII, acredita-se na possibilidade que o treinamento cardiorrespiratório, predominantemente realizado pelos membros inferiores, ciclismo estacionário, possa aumentar a força muscular dos referidos membros, haja vista o envolvimento dos mesmos grupamentos musculares quando a eles é prescrito o treinamento de força, leg press. Tal possibilidade, se fundamenta no ECR [24] que testou o efeito crônico do treinamento de força, leg press, de 16 sessões periodizadas em 8 semanas sobre a força voluntária máxima de idosas (n = 11, idade = 70 a 81 anos), pois em um de seus desfechos, o teste de 1RM apresentou incrementos estatisticamente significativos intragrupo experimental (teste = 113 ± 35,6 kg vs. reteste = 155 ± 46,2 kg, P = 0,001). Desta feita, o presente ECR poderia sustentar com mais segurança seus resultados para esta variável, pois o programa cardiorrespiratório, realizado em bicicleta estacionária, empregou os grupamentos musculares que também foram utilizados na execução do 30-Second Chair Stand [17], o que provavelmente o explica.

Já o desfecho RA, o princípio da especificidade do treinamento desportivo pode sustentá-lo uma vez que a revisão [25], quando buscou evidenciar o efeito do treinamento cardiorrespiratório sobre a função cardiovascular de idosos descreveu similares resultados.

São limitações deste ECR a prescrição da intensidade do treinamento cardiorrespiratório não ter sido fundamentada em um teste de esforço máximo; ter admitido participantes que faziam a utilização de medicamentos controlados (87,5%); não ter conseguido padronizar o intervalo entre a última sessão de treinamento e os retestes 1 e 2 para os desfechos estabelecidos (24 a 96 horas).

 

Conclusão

 

A partir dos resultados do presente ECR é possível concluir que os treinamentos cardiorrespiratório e ventilatório foram capazes de incrementar significativamente a PImáx e PEmáx de idosas. Entretanto, apenas o treinamento cardiorrespiratório produziu aumentos significativos na RA e na FMMII das participantes submetidas a ele.

Desta feita, com objetivo de aumentar a força dos músculos ventilatórios, recomenda-se fortemente os referidos treinamentos à população estudada.

 

Referências

 

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