Fisioter
Bras 2021;2294);502-15
ARTIGO
ORIGINAL
Treinamento
cardiorrespiratório e força dos músculos ventilatórios de idosas: ensaio
controlado randomizado duplo cego
Cardiorespiratory training and
ventilatory muscle strength in elderly women: double blind randomized
controlled trial
Fabio
Dutra Pereira, D.Sc.*, Glória de Paula Silva, M.Sc.**, Glaucio Vitor Antunes de
Mello***, Isis Brinco de Souza***, Patrícia Zaidan de
Barros, D.Sc.****, Elirez
Bezerra da Silva, D.Sc.*****
*Universidade
Estácio de Sá, **Metangrupo, ***Especialista em
treinamento desportivo e fisiologia do exercício, Metangrupo,
****Doutora em ciências do exercício e do esporte, Universidade Estácio de Sá,
*****Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Recebido
em 12 de abril de 2021; aceito em 29 de junho de 2021.
Correspondência: Fabio Dutra Pereira, Universidade
Estácio de Sá, Rua Prof. Gabizo 252/402, BL-5,
20271-062 Rio de Janeiro RJ
Fabio Dutra Pereira: m.g@metangrupo.com
Glória de Paula Silva: glorips_ibnj@hotmail.com
Glaucio Vitor Antunes de Mello:
gvamello@hotmail.com
Isis Brinco de Souza: isisbrinco@gmail.com
Patrícia Zaidan de Barros:
patriciazaidan@gmail.com
Elirez Bezerra da Silva:
elirezsilva@cosmevelho.com.br
Resumo
Introdução: A dinapenia
da musculatura ventilatória relaciona-se com as complicações respiratórias
pós-operatórias e aos óbitos de idosos submetidos a procedimentos cirúrgicos de
etiologia toracoabdominal. Objetivo: Verificar
o efeito crônico do treinamento cardiorrespiratório sobre a força dos músculos
ventilatórios de idosas. Métodos: Amostra (n = 24) randomizada nos
grupos: controle (n = 8), treinamento ventilatório (n = 7) e treinamento
cardiorrespiratório (n = 9). O desfecho primário (PImáx
e PEmáx) foi medido por um manovacuômetro
digital MDV®300 (MDI/Brasil). Rodou-se a estatística descritiva (média e desvio
padrão), seguida de uma ANOVA 3x3 e o testes post-hoc de Bonferroni,
todos com significância de (P ≤ 0,05). Resultados: O teste Post
Hoc atestou diferença estatisticamente significativa do grupo treinamento
cardiorrespiratório no reteste 1 e 2 quando comparados ao teste inicial (PImáx; P = 0,000001 e P = 0,0000001 respectivamente) e (PEmáx; P = 0,000000 em ambas as comparações). Conclusão:
O treinamento cardiorrespiratório proposto foi capaz de aumentar
significativamente a PImáx, PEmáx,
resistência aeróbica e a força de membros inferiores das participantes deste
ECR.
Palavras-chave: exercício físico; músculos
respiratórios; resistência aeróbica; força muscular; idoso.
Abstract
Introduction: Ventilatory
musculature dynapenia is related to postoperative
respiratory complications and deaths of elderly patients submitted to surgical
procedures of thoracic-abdominal etiology. Objective: To verify the
chronic effect of cardiorespiratory training on the strength of the ventilatory
muscles of elderly women. Methods: Sample (n = 24) randomized in the
groups: control (n = 8), ventilatory training (n = 7) and cardiorespiratory
training (n = 9). The primary outcome (MIP and MEP) was measured by a MDV®300 digital manovacuometer
(MDI/Brazil). Calculated descriptive statistics (mean and standard deviation),
followed by an ANOVA 3x3 and post-hoc Bonferroni tests, all with a significance
(P ≤ 0.05). Result: The Post Hoc test showed a statistically significant
difference of the cardiorespiratory training group in retest 1 and 2 when
compared to the initial test (MIP; P = 0.000001 and P = 0.0000001 respectively)
and (MEP; P = 0.000000 in both comparisons). Conclusion: The proposed
cardiorespiratory training was able to significantly increase the MIP, MEP,
aerobic resistance, and lower limb strength of the participants of this RCT.
Keywords: physical exercise; respiratory
muscles; aerobic resistance; muscle strength; elderly.
A dinapenia dimensiona-se com a
redução da força muscular voluntária na ordem de 10 a 15% a cada 10 anos de
vida a partir dos 50 anos, exacerbando-se ainda mais após os 70 anos, com
reduções de 20 a 40% em ambos os sexos, destacando um decréscimo ainda mais
acentuado no sexo feminino [1,2,3]. Quando estendida à musculatura ventilatória
evidencia-se decréscimos nas pressões inspiratória e expiratória máxima (PImáx e PEmáx) [4].
Esta dinapenia específica está
intimamente relacionada com as complicações respiratórias pós-operatórias e aos
óbitos de idosos submetidos a procedimentos cirúrgicos de etiologia tóraco-abdominal [5,6]. Desta feita, a manutenção da força
muscular ventilatória em níveis fisiológicos se torna ainda mais recomendada,
pois estes músculos além de participarem da mecânica à homeostase sérica de O2
e CO2, também possibilitam a higienização brônquica que irá
minimizar os riscos de infecções respiratórias em ambiente nosocomial [7],
ainda mais quando tal contágio, sobretudo pela pneumonia, representa 35,8% dos
óbitos totais por infecção hospitalar em idosos [8]. Quando o exercício é
prescrito aos músculos ventilatórios, os efeitos positivos sobre a referida musculatura
também são consistentes nos idosos [9,10], porém o treinamento dos músculos
ventilatórios normalmente ocorre, apenas em situações terapêuticas [11], sendo
incomum nos programas de treinamento de caráter promocional à saúde e
preventivo de doenças.
Neste sentido, entendendo o padrão ventilatório durante o
exercício físico em suas inúmeras modalidades, que aumenta a frequência e a
amplitude ventilatória para atender uma demanda energética sistêmica, seria
possível então impor uma sobrecarga de treinamento inespecífica à musculatura
ventilatória, tanto aos músculos inspiratórios (diafragma, intercostais
externos, esternocleidomastóideo, escalenos, peitoral
menor e serrátil anterior) quanto aos expiratórios (intercostais internos e
abdominais) [12,13].
Tal hipótese parece se consolidar em função
dos resultados de um experimento randomizado realizado com adultos jovens [14],
no qual a força muscular ventilatória apresentou incrementos significativos de
25% e 43% para o treinamento contínuo e intervalado, respectivamente.
Portanto, o objetivo deste experimento foi identificar o
efeito crônico do treinamento cardiorrespiratório sobre a força muscular
ventilatória de idosas.
Delineamento
Ensaio controlado randomizado duplo cego (ECR), com
intervenção paralela e fatorial, realizado no período de 2017 a 2018 na
Universidade de Castelo Branco, UCB/RJ. Este experimento seguiu padrões éticos
internacionais, conforme descrito por Harriss e
Atkinson [15]. O projeto de pesquisa também foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Gama Filho (UGF/RJ), sob
protocolo número 283.141. As participantes deram seu consentimento informado de
acordo com a Declaração de Helsinque [16].
Participantes
As participantes elegíveis para o referido experimento
atenderam aos critérios de inclusão: possuir idade entre 60 e 79 anos; ter o
índice de massa corporal (IMC) compreendido entre 18,0 a 29,5 kg/m2;
não possuir histórico tabagístico; não ser portadora
de doenças crônico degenerativas, cardíacas e nem respiratórias; ser
classificada como “Irregularmente ativa B” (realiza menos de 150 minutos de
caminhada leve por semana, em até 5 dias) no International
Physical Activity Questionnaire (IPAQ); ter a força dos membros
inferiores (FMMII) e a resistência aeróbica (RA) dentro dos valores normativos
de referência segundo o Senior Fitness Test [17]. Foi
considerado como critério de exclusão qualquer condição que viesse a obrigar as
participantes a se ausentarem por mais de duas semanas das atividades
realizadas no experimento.
Randomização
A partir de uma lista de números aleatórios gerada pelo
software Microsoft Excel 2010® e método de randomização simples, as
participantes foram alocadas para os grupos controle (GC), treinamento
ventilatório (GTV), treinamento cardiorrespiratório (GTC).
Tamanho
da amostra
Para calcular o tamanho amostral foi utilizado software
G*Power 3.0.10. Considerou-se: o teste ANOVA para medidas repetidas com interação
intra e intergrupos; tamanho de efeito f de Cohen =
0,10; erro α = 0,05; poder do teste = 0,80; quantidade de grupos = 3;
quantidade de medidas repetidas = 3, correlação entre medidas repetidas = 0,95;
correção a não esfericidade = 1. O tamanho da amostra foi calculado em 24
participantes.
Grupo
controle
Esta intervenção teve duração de seis semanas. Neste
período, as participantes alocadas eram orientadas a não iniciar nenhum
programa sistematizado de exercício físico. Ao término deste período, a fim de
garantir os princípios éticos da pesquisa envolvendo seres humanos, essas
participantes eram convidadas a participar do treinamento específico para a
musculatura ventilatória.
Grupo
treinamento ventilatório
O GTV foi submetido a 18 sessões de treinamento dos
músculos ventilatórios, distribuídas em no máximo seis semanas, respeitando a
frequência semanal mínima de três sessões, não obrigatoriamente sequenciais. Os
equipamentos utilizados no treinamento da referida musculatura foram os Threshold®/IMT e PEP (Respironics/USA)
associados ao clamp nasal.
Quanto à biomecânica dos exercícios ventilatórios, no
treinamento inspiratório, as incursões inspiratórias eram iniciadas a partir do
volume residual se estendendo até capacidade pulmonar total, já os exercícios
expiratórios seguiam a biomecânica inversa. Cabe ressaltar que em ambos os
exercícios era realizada uma sequência postural à adaptação aos mesmos, sendo o
decúbito dorsal, a sentada e a ortostática.
Cada sessão de treinamento foi iniciada com uma série de
aquecimento com 15 repetições de exercícios inspiratórios e expiratórios com a
biomecânica já descrita, mas sem sobrecarga externa.
Tabela
I - Prescrição e
periodização para o GTV
cmH2O = unidade de medida para pressão em
centímetros de água; TMI = treinamento dos músculos inspiratórios; TME =
treinamento dos músculos expiratórios
Grupo
treinamento cardiorrespiratório
O GTC foi submetido a 18 sessões de treinamento
cardiorrespiratório, distribuídas em no máximo seis semanas, respeitando a
frequência semanal mínima de três sessões, não obrigatoriamente sequenciais.
A prescrição do volume destinado a parte específica das
sessões de treinamento cardiorrespiratório foi estabelecida em função da
sobrecarga (45 e 20 minutos) proposta pelo experimento [14], sendo ajustada à
população alvo do presente experimento em 35 minutos.
A prescrição da intensidade individualizada da sobrecarga
de treinamento foi realizada pela estimação da frequência cardíaca máxima (FCmáx = 220 - idade) e da zona alvo de treinamento (ZAT = (FCreserva x % de intensidade desejado) + FCrepouso) [18,19], considerou-se como (FCreserva
= FCmáx – FCrepouso) [18].
A frequência cardíaca de repouso foi medida a partir de
quinze minutos de repouso em decúbito dorsal, em uma temperatura ambiente
controlada de 23º a 24ºC [20]. O % de intensidade desejado foi estabelecido em
função da sobrecarga (77,0 ± 3,3% a 84,9 ± 0,5% FCmáx)
proposta pelo experimento [14], sendo ajustado à população alvo do presente
experimento em (60 a 85 %, para o volume de 35 minutos).
Os equipamentos utilizados para monitorar a evolução cardiodinâmica e respiratória individualizada das
participantes foram um frequencímetro cardíaco Polar®-RS800 (Polar/Finlândia) e
um oxímetro de pulso Sense 10 (Alfa Med /Brasil),
respectivamente.
O treinamento cardiorrespiratório foi realizado em uma
bicicleta estacionária modelo Racing (Astro/Brasil), na qual as participantes
pedalaram assistidas por um dos pesquisadores responsáveis pelo experimento, e
este, tinha a responsabilidade de ajustar a intensidade do referido treinamento
em equivalência às ZAT pré-estabelecidas, independente do bpm
da sequência musical que era utilizada nas sessões de treinamentos. Cabe
ressaltar, que no transcorrer deste treinamento esse pesquisador não estimulou
verbalmente à potencialização do drive ventilatório das participantes.
Tabela
II - Prescrição e a
periodização para o GTC
Desfechos
Foram considerados como desfechos a PImáx,
PEmáx, FMMII e RA, todos mensurados nos seguintes
momentos: no início (teste); quando as participantes do GC completavam 4
semanas e as do GTV e as GTC 12 sessões nas intervenções propostas (reteste 1);
quando o GC ao findar a sexta semana e os GTV e GTC as 18 sessões completadas
(reteste 2). O intervalo entre as 12a e 18a sessões e os reteste 1 e 2,
respectivamente, foi de 24 a 96 horas.
Desfechos
primários (força dos músculos ventilatórios)
As PImáx e PEmáx
foram medidas por um manovacuômetro digital MDV®300
(MDI/Brasil) com resolução de 1 cmH2O, intervalo operacional de ±300cmH2O,
com certificado de calibração emitido pelo INMETRO sob o número 0421/2017. Em
ambas as medições se adotou os específicos protocolos propostos pelas
diretrizes para testes de função pulmonar da Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia [21]. O coeficiente de correlação intraclasse (CCI) e
o erro típico da medida (ETM) intra examinador foi
mensurado em estabilidade para a PImáx CCI = 0,95 e
ETM (ETM%) = 7,92 cmH2O (7%) e para PEmáx CCI = 0,93
e ETM (ETM%) = 12,34 cmH2O (9%) [22].
Desfechos
secundários (força dos membros inferiores e resistência aeróbica)
A FMMII e RA foram medidaa pelos
testes 30-Second Chair Stand e 2-Min Step respectivamente, adotando-se os específicos protocolos
propostos pela bateria de autonomia funcional Senior
Fitness Test [17].
Métodos
estatísticos
Foram usadas as técnicas descritivas (média e desvio
padrão). Satisfeitos os pressupostos estatísticos, rodou-se o teste ANOVA 3x3,
com medidas repetidas para PImáx, PEmáx,
FMMII e RA, seguido dos testes post-hoc de Bonferroni.
Foi utilizado o software Statistica 7.0 e o nível de
significância adotado foi P ≤ 0,05.
O software G*Power 3.0.10 foi utilizado para verificar o
poder do teste estatístico post hoc, a partir do verdadeiro tamanho de efeito f
de Cohen advindo dos resultados encontrados neste experimento.
Cegamento
Levando em consideração a exequibilidade do referido
experimento, apenas cegaram-se os procedimentos de avaliação dos desfechos
primários e de análise estatística, pois tanto as participantes quanto o
fisioterapeuta e o educador físico envolvidos na administração das intervenções
tinham conhecimento obrigatório da alocação às condições experimentais e de
controle.
Resultados
Figura
1 - Diagrama de
fluxo dos participantes
O f de Cohen foi calculado a partir da razão entre a
variância do efeito dos treinamentos cardiorrespiratório e ventilatório
realizados e a variância dos participantes dentro do grupo. Foi calculada
também a verdadeira correlação entre as medidas repetidas PImáx
e da PEmáx. Como foram dois desfechos primários, PImáx e PEmáx e três medidas
repetidas, registou-se os menores valores do f de Cohen e da correlação entre
as medidas repetidas, 0,62 e 0,84 respectivamente, para a obtenção do poder do
teste post hoc que foi igual a 1.
Tabela
III - Informações
iniciais da amostra
FA = frequência absoluta; IAB = irregularmente ativa B; SED
= sedentária e ADMF = administração farmacológica. Valor de referência Senior Fitness Test para FMMII = 11 - 16 rep/30s e RA=
73-107 rep/min
O teste Shapiro-Wilk atestou distribuição normal tanto para
PImáx quanto para a PEmáx.
Entretanto o teste de Levene atestou heterogeneidade de variâncias/covariâncias
para as referidas varáveis, sendo necessário utilizar a análise ajustada de Greenhouse-Geisser nas inferências da PImáx
e PEmáx.
A: PImáx (cmH2O) dos grupos (GC =
-79,8 ± 10,1), (GTV = -60,6 ± 20,5) e (GTC = -96 ± 16,3) no Teste, (GC = -81,3
± 11,0), (GTV = -77,1 ± 22,2) e (GTC = -111,1 ± 13,9) no reteste 1 e (GC =
-84,5 ± 12,1), (GTV = -82,1 ± 23,0) e (GTC = -115,3 ± 14,6) no reteste 2
B: PEmáx (cmH2O) dos grupos (GC =
111,4 ± 18,2), (GTV = 94,0 ± 25,0) e (GTC = 117,8 ± 10,2) no Teste, (GC = 112,3
± 20,3), (GTV = 114,9 ± 29,8) e (GTC = 135,8 ± 12,0) no reteste 1 e (GC = 111,8
± 19,4), (GTV = 120,7 ± 29,9) e (GTC = 140,2 ± 10,9) no reteste 2
Figura
2 - ANOVA 3x3 para PImáx e PEmáx
O teste Post Hoc de Bonferroni
atestou que o GTV apresentou aumentos significativos da PImáx
no reteste 1 e 2 quando comparados ao teste inicial (P = 0,000000 em ambas as
comparações) e o GTC aumentos significativos no reteste 1 e 2 quando comparados
ao teste inicial (P = 0,000001 e P = 0,0000001 respectivamente).
O teste Post Hoc de Bonferroni
atestou que o GTV apresentou aumentos significativos da PEmáx
no reteste 1 e 2 quando comparados ao teste inicial (P = 0,000000 em ambas as
comparações) e o GTC aumentos significativos no reteste 1 e 2 quando comparados
ao teste inicial (P = 0,000000 em ambas as comparações).
Para os desfechos FMMII e RA os testes Shapiro-Wilk e
Levene atestaram distribuição normal e homogeneidade de variâncias / covariâncias
para ambas as variáveis.
A: FMMII (rep/30s) dos grupos (GC = 13,9 ± 1,4), (GTV =
12,7 ± 1,4) e (GTC = 13,7 ± 1,5) no Teste, (GC = 14,0 ± 2,0), (GTV = 13,1 ±
1,6) e (GTC = 16,4 ± 1,9) no reteste 1 e (GC = 14,4 ± 1,4), (GTV = 13,3 ± 2,1)
e (GTC = 17,0 ± 1,4) no reteste 2
B: RA (rep/2 min) dos grupos (GC = 96,9 ± 9,4), (GTV = 90,9
± 7,4) e (GTC = 92,3 ± 7,2) no Teste, (GC = 98,5 ± 9,9), (GTV = 93,6 ± 7,9) e
(GTC = 105,1 ± 7,4) no reteste 1 e (GC = 101,1 ± 10,3), (GTV = 94,7 ± 9,6) e
(GTC = 108,6 ± 7,7) no reteste 2
Figura
3 - Anova 3x3 para
FMMII e RA
O teste Post Hoc de Bonferroni
atestou que apenas o GTC apresentou incremento significativo na FMMII no
reteste 1 e 2 quando comparados ao teste inicial (P = 0,000000 em ambas as
comparações) e incremento significativo na RA no reteste 1 e 2 quando
comparados ao teste inicial (P = 0,000000 em ambas as comparações).
Torna-se oportuno evidenciar os efeitos colaterais
identificados advindos dos treinamentos cardiorrespiratório (pubalgia = 78%) e ventilatório (dor na gengiva = 71,5% e
vertigem = 43%). Entretanto, os referidos efeitos somente se apresentaram até
as 6 primeiras sessões em ambos os treinamentos.
A Tabela III mostra que os GC, GTV e GTC foram homogêneos
quanto as variáveis idade, IMC, PImáx, PEmáx, FMMII e RA, neutralizando qualquer possibilidade de confundimento dos resultados a partir das mesmas (P >
0,05) em todas as análises de variância de um fator realizadas.
Ao analisar as Figuras 2 (A) e (B), pode-se perceber que o
treinamento ventilatório produziu o aumento significativo das PImáx (36%) e PEmáx (28%) após 12
e 18 sessões, quando comparadas ao teste inicial. Tal resultado já esperado se
deu pelo princípio da especificidade do treinamento. Esta hipótese está
sustentada no ECR [9] que propôs um programa de exercícios para a musculatura
ventilatória e teve como desfecho o aumento da PImáx
(26%, P < 0,0001) e da PEmáx (34%, P < 0,0001).
Analisando as Figuras 2 (A) e (B) e as 3 (A) e (B) pode-se
observar que apenas o treinamento cardiorrespiratório apresentou incrementos
estatisticamente significativos para as variáveis PImáx
(19%), PEmáx (19%), FMMII (24%) e RA (18%), após 12 e
18 sessões quando comparadas ao teste inicial. Neste sentido, ainda que o treinamento
ventilatório tenha apresentado ganhos de 36% e 28%, que são superiores aos
ganhos de 19% e 19% do treinamento cardiorrespiratório para as PImáx e PEmáx, respectivamente,
para uma proposta preventiva de doenças e de promoção à saúde de idosas, sugere-se
as mesmas optarem pelo treinamento cardiorrespiratório, por aumentar também a
força muscular dos membros inferiores e a resistência aeróbica, qualidades
físicas fundamentais para a autonomia funcional desta população.
O aumento da PImáx e PEmáx causado pelo treinamento cardiorrespiratório pode ter
ocorrido pelo fato de que a sobrecarga imposta às participantes tenha sido
capaz de ampliar o drive e o timing ventilatório para manter a homeostase das
pressões arteriais de O2 e CO2 [12,13]. Ratificando esta hipótese, o ECR [23]
propôs um programa de treinamento cardiorrespiratório para idosas (grupo
experimental n = 13, idade = 65,5 ± 2,6 anos e IMC = 25,5 ± 3,3 kg/m2)
com 3 sessões semanais de caminhada de intensidade = 60% da frequência cardíaca
de reserva e volume de 20 - 40 minutos por 12 semanas. Esse experimento,
apresentou em seus resultados um aumento de PImáx e PEmáx = 9% (P < 0,05), quando comparado ao grupo
controle e na comparação intragrupo (teste PImáx =
68,9 ± 17,2 vs. reteste = 75,2 ± 21,7) e (teste PEmáx
= 83,4 ± 27,9 vs. reteste = 90,5 ± 27,2) ambos estatisticamente significativos
(P < 0,05).
Corroborando os achados obtidos neste ECR, especificamente
sobre o treinamento cardiorrespiratório proposto em ciclismo estacionário, um
experimento realizado com jovens [14] testou o efeito crônico de dois programas
de ciclismo estacionário sobre a função pulmonar, com duração de 4 semanas de
frequência de 3 sessões semanais totalizando 12. Um grupo realizou treinamento
intervalado (n = 8, idade = 20,2 ± 2,1 anos e IMC = 24,2 ± 2,2 kg/m2)
de 5 sets com intensidade de pico/1min = 90% do VO2máx e 3 minutos
nas recuperações ativas mantidas em intensidade de 20W, totalizando um volume
total de vinte minutos, enquanto outro grupo realizou treinamento contínuo, (n
= 7, idade = 21,3 ± 2,3 e IMC = 23,2 ± 2,6) teve uma intensidade fixa = 60 -
70% VO2máx e volume 45 minutos. Esse experimento [14] obteve em seus
resultados intragrupo o aumento estatisticamente significativo apenas na força
dos músculos inspiratórios PImáx = 25% e 43% para o
treinamento contínuo e intervalado, respectivamente. Em seu resultado
intergrupo o grupo de treinamento intervalado se diferenciou significativamente
do contínuo (P < 0,05).
Quanto ao desfecho FMMII, acredita-se na possibilidade que
o treinamento cardiorrespiratório, predominantemente realizado pelos membros
inferiores, ciclismo estacionário, possa aumentar a força muscular dos
referidos membros, haja vista o envolvimento dos mesmos grupamentos musculares
quando a eles é prescrito o treinamento de força, leg
press. Tal possibilidade, se fundamenta no ECR [24]
que testou o efeito crônico do treinamento de força, leg
press, de 16 sessões periodizadas em 8 semanas sobre
a força voluntária máxima de idosas (n = 11, idade = 70 a 81 anos), pois em um
de seus desfechos, o teste de 1RM apresentou incrementos estatisticamente significativos intragrupo experimental (teste = 113 ± 35,6
kg vs. reteste = 155 ± 46,2 kg, P = 0,001). Desta feita, o presente ECR poderia
sustentar com mais segurança seus resultados para esta variável, pois o
programa cardiorrespiratório, realizado em bicicleta estacionária, empregou os
grupamentos musculares que também foram utilizados na execução do 30-Second Chair Stand [17], o que provavelmente o explica.
Já o desfecho RA, o princípio da especificidade do
treinamento desportivo pode sustentá-lo uma vez que a revisão [25], quando
buscou evidenciar o efeito do treinamento cardiorrespiratório sobre a função
cardiovascular de idosos descreveu similares resultados.
São limitações deste ECR a prescrição da intensidade do
treinamento cardiorrespiratório não ter sido fundamentada em um teste de
esforço máximo; ter admitido participantes que faziam a utilização de
medicamentos controlados (87,5%); não ter conseguido padronizar o intervalo
entre a última sessão de treinamento e os retestes 1 e 2 para os desfechos
estabelecidos (24 a 96 horas).
A partir dos resultados do presente ECR é possível concluir
que os treinamentos cardiorrespiratório e ventilatório foram capazes de
incrementar significativamente a PImáx e PEmáx de idosas. Entretanto, apenas o treinamento
cardiorrespiratório produziu aumentos significativos na RA e na FMMII das
participantes submetidas a ele.
Desta feita, com objetivo de aumentar a força dos músculos
ventilatórios, recomenda-se fortemente os referidos treinamentos à população
estudada.