Fisioter Bras 2021;22(4):584-96
ARTIGO
ORIGINAL
Desempenho
funcional do membro superior após cirurgia para câncer de mama de mulheres no
menacme
Functional performance of upper
limb after breast cancer surgery in women at menacme
Sarah
Santos Moreira*, Helena Yannael Bezerra Domingos*,
Mikael Santos Alves*, Maiana Damares
Santos Silva**, Aline Silva Siqueira Martins***, Tiago Plácido da Rocha****,
Caroline Bomfim Lemos da Cruz**, Fernanda Bispo Oliveira**** Mariana Tirolli Rett*****
*Graduanda
em Fisioterapia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), **Fisioterapeuta
pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), ***Fisioterapeuta do Ambulatório de
Oncologia do Hospital Cirurgia e da UTIN do Hospital Santa Isabel,
Pós-graduação em Terapia Intensiva pela Escola Bahiana
de Medicina e em Fisioterapia Pélvica pela Faculdade Inspirar,
****Fisioterapeuta e Mestre pela Universidade Federal de Sergipe (UFS),
*****Professora Associada do Departamento de Fisioterapia da Universidade
Federal de Sergipe (UFS), Mestre e Doutora pela UNICAMP, especialista em Saúde
da Mulher pela ABRAFISM
Recebido
em 2 de julho de 2021; Aceito em 23 de agosto de 2021.
Correspondência: Mariana Tirolli
Rett, Avenida Marechal Randon s/n Bairro Jardim Rosa Elze,
49100-000 São Cristóvão SE
Sarah Santos Moreira: sarahsantos.14@outlook.com
Helena Yannael Bezerra Domingos:
helena.yannael@gmail.com
Mikael Santos Alves: mikaalves007@gmail.com
Maiana Damares
Santos Silva: maiana_fisioufs@hotmail.com
Aline Silva Siqueira Martins:
alinesilvasiqueiramartins@gmail.com
Tiago Plácido da Rocha: tiago.placido@bol.com.br
Caroline Bomfim Lemos da Cruz: fisio.carollemos@gmail.com
Fernanda Bispo Oliveira: fisio.nanda.oliveira@hotmail.com
Mariana Tirolli Rett: marianatrb@gmail.com
Resumo
Introdução: Após a cirurgia para câncer de mama,
algumas complicações podem levar a restrições da amplitude de movimento (ADM),
dor e impacto negativo na realização das tarefas de vida diária. Neste
contexto, a fisioterapia é importante na recuperação da funcionalidade. Objetivo:
Avaliar o efeito da fisioterapia na amplitude de movimento, na intensidade de
dor e no desempenho funcional do membro superior após a cirurgia para câncer de
mama de mulheres no menacme. Métodos: Ensaio clínico não controlado,
considerando mulheres que realizaram cirurgia para câncer de mama associada a linfonodectomia axilar. Foram avaliados a ADM pela fleximetria, intensidade de dor pela escala visual
analógica (EVA) e o desempenho funcional pelo questionário “deficiência do
ombro braço e mão” (DASH). Resultados: Após as 10 sessões de
fisioterapia, foi observado aumento significativo da ADM de todos os
movimentos, diminuição da intensidade de dor de 4,09 ± 2,51) para 2,54 ± 2,18,
(p = 0,04), e dos escores do DASH de 35,31 ± 17,23 para 17,75 ± 13,09, (p =
0,001), indicando significativa melhora do desempenho funcional. Conclusão:
A abordagem fisioterapêutica foi satisfatória em melhorar a ADM, intensidade de
dor e o desempenho funcional em mulheres na pré-menopausa.
Contudo, acompanhamento por mais longo prazo e incrementar os exercícios podem
trazer melhora adicional.
Palavras-chave: neoplasia de mama; pré-menopausa;
mastectomia; fisioterapia, desempenho físico funcional.
Abstract
Introduction: After surgery
for breast cancer, some complications can lead to restrictions on range of
motion (ROM), pain and negative impact on the performance of daily life tasks.
In this context, physical therapy has been important in the recovery of
functionality. Objective: To evaluate the effect of physical therapy on
range of motion, pain intensity and functional performance of the upper limb
after breast cancer surgery for women in the menacme.
Methods: Non-controlled clinical trial, considering women who underwent
surgery for breast cancer associated with axillary lymphonodectomy. ROM were
evaluated by fleximetry, pain intensity by visual
analog scale (VAS) and functional performance by the questionnaire “arm and
hand shoulder deficiency” (DASH). Results: After the 10 physical therapy
sessions, a significant increase in ROM was observed for all movements, a
decrease in pain intensity from 4.09 ± 2.51 to 2.54 ± 2.18, (p = 0,04), and
DASH scores from 35.31 ± 17.23 to 17.75 ± 13.09, (p = 0.001), indicating a
significant improvement in functional performance. Conclusion: The
physiotherapeutic approach was satisfactory in improving ROM, pain intensity
and functional performance in pre-menopausal women. However, monitoring for a
longer term and increasing the exercises, can bring additional improvement.
Keywords: breast neoplasms; premenopause; mastectomy; physical therapy; physical
functional performance.
O número de casos de câncer tem aumentado em todo o mundo
configurando-se como um dos mais importantes problemas de saúde pública
mundial. O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais comum no mundo, sendo
o mais frequente entre as mulheres, representado 29,7% dos casos. Em relação
aos fatores de risco para este tipo de câncer, mencionam-se fatores ambientais
e comportamentais, história reprodutiva e hormonal, suscetibilidade genética e
fatores hereditários, podendo considerar a idade um fator potencial de risco
para o desenvolvimento desse carcinoma. Dados atuais estimam que quatro em cada
cinco casos ocorrem após os 50 anos [1].
As cirurgias para tratamento para o câncer de mama podem
ser conservadoras (quadrantectomia e tumorectomia) ou radicais (mastectomias), associadas ou não
à linfonodectomia axilar. Contudo, a biópsia do
linfonodo sentinela tem diminuído a morbidade, assim como diagnósticos mais
precoces e a possibilidade de reconstrução da mama, que melhora a autoestima e
imagem corporal da mulher. Adicionalmente, terapias complementares adjuvantes
e/ou neo-adjuvantes incluem
quimioterapia (QT), imunoterapia, radioterapia (RT) e hormonioterapia [2].
O procedimento cirúrgico pode gerar complicações tanto
imediatas quanto tardias, como infecções locais, deiscência, necrose cutânea, seroma, retrações cicatriciais, alterações funcionais,
lesões nervosas, distúrbios da sensibilidade, alteração da amplitude de
movimento (ADM) do ombro, dor, síndrome da rede axilar e linfedema [3,4,5,6,7,8]. Isso
pode afetar negativamente no desempenho funcional do membro superior
homolateral à cirurgia, levando a limitações em sua autonomia, como em realizar
as atividades de vida diária (AVDs) que impactam no
autocuidado, bem como na realização de atividades de vestuário e higiene,
atividades laborais, domésticas, de lazer e também na
função emocional [7,8,9,10].
O desenvolvimento de complicações funcionais pós-cirúrgicas
do membro superior, podem ser evitadas ou minimizadas pelo suporte profissional
nesse período e de forma precoce. Neste contexto, a fisioterapia tem
demonstrado importante papel na recuperação da ADM, redução da dor, incremento
da qualidade de vida e da funcionalidade do membro superior homolateral à
cirurgia [7,9,11,12,13].
Apesar da idade avançada ser um fator de risco para câncer,
tanto mulheres na pós-menopausa como as mais jovens, no período do menacme (em
idade reprodutiva), podem desenvolver o câncer de mama. Embora as complicações
pós-cirúrgicas possam ser bastante semelhantes, independentemente da idade, a
maioria dos estudos de reabilitação não consideram separadamente estes perfis
de mulheres.
Levando em consideração a relevância dos benefícios da
fisioterapia para minimizar possíveis complicações pós-operatórias [7,8,9,11,12]
e que são escassos os estudos que estudam separadamente mulheres mais jovens ou
mulheres com idade mais avançada, o objetivo deste estudo foi verificar o
efeito da cinesioterapia na amplitude de movimento do ombro, na intensidade de
dor e no desempenho funcional do membro superior após a cirurgia para câncer de
mama de mulheres no menacme.
Delineamento
do estudo
Foi conduzido um ensaio clínico não controlado no Setor de
Fisioterapia da OncoRadium, localizado na Fundação de
Beneficência Hospital Cirurgia, no município de Aracaju/SE. Foi um estudo pré e pós-tratamento com um único grupo que recebeu
intervenção. O serviço atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e dispõe de uma
equipe interdisciplinar em oncologia. O estudo foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), nº 39816, e
todas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), aceitando
participar voluntariamente.
Critérios
de inclusão e exclusão
Foram incluídas mulheres que realizaram cirurgia para o
tratamento de câncer de mama associada à linfonodectomia
axilar. Foram excluídas aquelas que estivessem na pós-menopausa, com
mastectomia bilateral, reconstrução mamária imediata ou tardia, processos
infecciosos ativos, disfunção prévia do membro superior homolateral à cirurgia,
história de tratamento fisioterapêutico prévio no ombro e incapacidade para
compreensão dos questionários.
Protocolo
fisioterapêutico
O protocolo adotado foi de 10 sessões de fisioterapia (3
vezes por semana, 60 minutos e individual). Foram realizadas: mobilização
cicatricial: (3 x 30’’) diretamente na cicatriz somente 4 semanas após a
cirurgia; mobilização do tendão do peitoral maior; mobilização articular
escapular e glenoumeral (2 x 10); tração da articulação glenoumeral;
alongamentos (2 x 30´´) do flexores e extensores de punho, romboides, peitoral
maior e menor, tríceps braquial, deltoide, supra e infraespinhoso,
redondo maior e subescapular; exercícios pendulares com peso de 5 kg;
exercícios ativo-livres e ativo-assistidos com bastão ou bola (2 x 10 a 15);
exercícios isométricos (2 x 10 a 15). Com a evolução da paciente, os exercícios
tornaram-se resistidos, utilizando-se halteres de 1 a 2 kg e faixas elásticas
(1 x 10 a 15). Todas as participantes foram orientadas com relação a cuidados
para realização de suas atividades de vida diária AVDs
e hidratação da pele [7].
Coleta
e análise de dados
Inicialmente foram coletados dados pessoais e oncológicos
(idade, altura, peso, ocupação, escolaridade, estado civil, tipo de cirurgia,
lateralidade, tempo de cirurgia, tratamentos complementares, número de linfonodos
dissecados e comprometidos). No exame físico, foi avaliada a amplitude de
movimento do ombro por meio da fleximetria através de
um flexímetro regulável da marca Sanny®
do membro superior (MS) homolateral à cirurgia. Foram
considerados para esse
estudo os movimentos de flexão/extensão,
adução/abdução, rotação
medial e
lateral. Os valores foram registrados em graus e cada medida foi
repetida três
vezes adotando-se a média das medidas como valor final.
A intensidade da dor no repouso foi avaliada por meio da
escala visual analógica (EVA) a qual consiste numa linha horizontal de 10 cm
contendo numa extremidade a classificação “nenhuma dor” e, na outra, a
classificação “pior dor imaginável”. As pacientes foram instruídas a marcar um
traço perpendicular à linha no ponto que representasse a intensidade da sua
dor. Posteriormente era realizada uma medição com auxílio de régua, em cm, da
distância entre o início da linha, correspondente a zero, até o local
assinalado, obtendo-se, assim, um valor numérico representativo da intensidade
dolorosa.
O desempenho funcional foi avaliado pelo questionário
“Deficiência do ombro, braço e mão” (DASH), na forma de entrevista. É composto
por 30 questões que avaliam sintomas e função física e foi escolhido por contemplar
o membro superior como um todo. As respostas podem variar de “não houve
dificuldade” até “não conseguiu fazer”. Em cada pergunta, as pacientes
avaliaram o nível de dificuldade em uma escala de 5 pontos: 1 - sem
dificuldade; 2 - dificuldade leve; 3 - dificuldade moderada; 4 - dificuldade
severa e 5 - dificuldade extrema, incapaz de fazer. A pontuação final
pode variar de 0 (sem disfunção) a 100 (disfunção severa). Não foram aplicados
os módulos opcionais para atletas/músicos/trabalhadores nessa pesquisa, pois
não é o perfil da amostra [14].
A avaliação e realização dos exercícios foram realizadas
por investigadores independentes. Todas as avaliações foram realizadas na 1ª e
10ª sessão de fisioterapia pela mesma pesquisadora e os atendimentos foram
conduzidos por outra pesquisadora, de forma independente.
Os dados foram analisados pelo programa BioEstat
5.0., descritos em frequências absolutas, porcentagens, médias e
desvios-padrão. Seguindo a distribuição normal, utilizou-se teste t de Student para comparação da ADM, intensidade de dor e dos
escores do DASH entre a 1ª e 10ª sessão. Adotou-se o nível de significância p
< 0,05 em todas as análises.
Foram selecionadas 43 mulheres e 13 excluídas (duas tinham
histórico de tratamento fisioterapêutico para bursite no ombro, 10 não
completaram o tratamento e uma não soube responder os questionários). Das 30
mulheres incluídas, a média de idade foi de 41,58 ± 6,25 anos, IMC de 26,47 ±
5,64, indicando sobrepeso, a maioria com parceiro, pardas ou negras, com
ocupação de comerciante ou professora.
Tabela
I - Informações
gerais e pessoais da amostra (n = 30)
A maioria das pacientes realizou mastectomia à direita,
foram encaminhadas para a fisioterapia em até 5 semanas de pós-operatório e
realizou algum tratamento complementar (tabela II).
Tabela
II - Características
clínico-cirúrgicas da amostra (n = 30)
Ao final do tratamento, observou-se aumento
significativo da ADM de todos os movimentos (Tabela III).
Tabela
III - Comparação da
amplitude de movimento (ADM) antes e após a 10ª sessão de fisioterapia (n = 30
Valores em média (± desvio padrão); teste t pareado.
Encontrou-se uma redução significativa da média dos escores
do DASH de 35,31 ± 17,23 para 17,75 ± 13,09 (p = 0,001) e da intensidade de dor
pela escala EVA de 4,09 ± 2,51 para 2,54 ± 2,18 (p = 0,04), (Tabela IV). Tais
achados demonstram importante melhora no desempenho funcional.
Tabela
IV - Comparação da
EVA e escores do DASH antes e após a 10ª sessão de fisioterapia
A
fisioterapia no pós-operatório de câncer de mama
tem sido
indispensável para a prevenção e
recuperação de complicações
físico-funcionais,
mostrando importante melhora da capacidade funcional do ombro
após a realização
dos exercícios ativos com amplitude livre e respeitando a
intensidade de dor
[7,9,11,12,13,15,16].
Na avaliação inicial, os movimentos de abdução, flexão e
rotação lateral foram os mais comprometidos, associado ao elevado escore do
DASH, indicam que prejuízo da ADM interfere na realização das atividades de
vida diária [7,10]. Thomas-Maclean et al.
[17], considerando mulheres acima de 18 anos, avaliaram a ADM, dor, linfedema e
correlacionaram essas variáveis com o DASH após o período de 6 e 12 meses
depois da cirurgia e observaram uma correlação significativa da limitação da
ADM e dor com deficiência no desempenho funcional. Clinicamente, essa situação
é bastante comum e se dá pela extensão da cicatriz cirúrgica, linfonodectomia axilar, sintomas dolorosos ou medo de
movimentar o membro [7,9,11,15].
Contudo, após a abordagem fisioterapêutica, observou-se
melhora significativa da ADM do ombro, juntamente com diminuição da intensidade
de dor, o que provavelmente justifica menores escores do DASH, menos sintomas no membro superior e melhor desempenho funcional.
No presente estudo, foram incluídas mulheres jovens, com
média de idade de 41,58 ± 6,25 anos e a maioria com atividade ocupacional.
Entretanto, a maioria dos estudos consideram mulheres de diferentes idades em
suas amostras, envolvendo tanto mais jovens quanto de idade avançada. Sweeney et al. [10] randomizaram 100 mulheres em 16
semanas de exercícios aeróbicos, resistidos, supervisionados e progressivos 3
vezes por semana e outro grupo em cuidados habituais. O grupo intervenção
demonstrou melhora superior e significativa na ADM, DASH e força isométrica.
Embora não tenham feito uma subanálise, mais da
metade da amostra (52 mulheres) estavam no menacme. Em um aspecto geral, apesar
da maioria dos estudos não considerarem separadamente mulheres no menacme e na
pós-menopausa, todos apresentam bons desfechos clínicos considerando as
variáveis físico-funcionais.
Uma revisão sistemática com meta-análise de Xu Yang et al. [18] apontou que em mulheres com
idade mais avançada, há uma perda progressiva da força muscular induzida pela
idade e que esse declínio é mais acentuado na pós-menopausa. A literatura ainda
traz que contrações musculares dinâmicas, em velocidades médias e altas geram
fadiga semelhante ou maior em mulheres com mais idade [19]. Além disso, fatores
fisiológicos contribuem no metabolismo de recuperação do tecido musculoesquelético.
A redução sérica de hormônios ovarianos pode impactar na recuperação de massa
muscular, devido a sua ação no sistema musculoesquelético, interferindo na
força e área da fibra muscular [20,21] e isso possui relação direta com a idade
reprodutiva na vida de uma mulher. Talvez, mulheres no período menacme possam
apresentar uma boa recuperação funcional por uma boa resposta
musculoesquelética, o que podemos hipotetizar pelo
resultado satisfatório do presente estudo.
Ainda não há consenso na literatura sobre a quantidade de
atendimentos necessários para melhora total do quadro clínico funcional. No
presente estudo, com a realização de 10 sessões, observaram-se resultados
satisfatórios, porém acompanhamentos por mais longo prazo podem trazer
benefícios adicionais [10]. A flexão e abdução, por exemplo, apesar de ter
aumentado, estão em valores médios no limite para o padrão normal de
funcionalidade. Assim, Leites et al. [22] demonstraram que um número
maior de sessões com incremento de exercícios resistidos auxiliam na melhora de
parâmetros como força, ADM de ombro e redução de dor, o que pode melhorar
adicionalmente o desempenho funcional. Incrementar esta terapêutica incluindo
exercícios de maior resistência [10,23,24,25,26], talvez possa melhorar os níveis de
potência muscular e incrementar o desempenho nas tarefas motoras. Todavia, não
foi avaliada a força muscular e fadiga, portanto não se pode fazer tal
inferência. Além disso, não foi realizado um estudo comparativo incluindo
mulheres na pós-menopausa, o que é uma limitação deste estudo.
Algumas mulheres têm plano de saúde suplementar, que tem
número restrito de atendimento, moram distante dos centros de reabilitação ou
dependem do SUS, que envolve grande demanda e maior rotatividade de pacientes,
ficando limitadas no tempo de atendimento. Deste modo, é importante que o
profissional esteja habilitado a lidar com essas questões alcançando bons
desfechos em curto prazo e, que os serviços tenham em sua rotina critérios e
indicadores de acompanhamento. Em contrapartida, alguns centros de reabilitação
conduzem acompanhamentos por seis a doze meses com exercícios estruturados, mas
com poucos encontros presenciais, favorecendo uma situação de
autorresponsabilidade e autocuidado por parte da própria paciente [24,25].
Adicionalmente, os escores do DASH diminuíram
significativamente indicando melhora na funcionalidade e menos dificuldade para
realizar atividades como “lavar ou secar o cabelo”, “lavar as costas”, “vestir
uma blusa fechada”, “mover braço, ombro ou mão”. Uma vez que a ADM melhora e
que a dor diminui, as mulheres passam a realizar suas atividades cotidianas com
mais segurança e independência. Entretanto, ainda é necessário incrementar a
qualidade dos exercícios e o tempo de seguimento.
Estudos atuais têm demonstrado que exercícios resistidos
são seguros e não estão associados ao linfedema [27]. Deste modo, incorporar e
estimular exercícios globais e mais exercícios de fortalecimento com ênfase
para os membros superiores pode ser uma importante estratégia para prevenção e
recuperação de disfunção em mulheres de todas as idades, mas especialmente para
aquelas que têm uma rotina com maiores demandas físico-funcionais do ponto de
vista laboral, social e familiar.
Vale ressaltar que apesar do início do tratamento deste
estudo ter variado entre 5 e 9 semanas não impossibilitou em um bom desfecho.
Contudo, para as mulheres no menacme, as quais possuem um estilo de vida com
maiores demandas laborais, familiares e sociais, a recuperação funcional é
essencial e importante que o início da fisioterapia seja o mais precoce
possível, como encontrado na literatura [15,16,24,26].
A incidência de câncer de mama vem aumentando e haverá uma
maior necessidade de rastreamento e diagnóstico precoce em mulheres
consideradas jovens, as quais se encontram ainda em idade fértil. Estudos com
delineamentos que incluam acompanhamento no pré-operatório (pré-habilitação),
seguimento em longo prazo, que compare grupo de mulheres em idade reprodutiva e
no período de pós-menopausa e tamanho amostral maior poderão oferecer novas
informações para os profissionais envolvidos com a reabilitação, para os
serviços de atendimento em oncologia e, sobretudo para assistência a estas
mulheres. Avaliar o desempenho funcional também é uma ferramenta para
direcionar as principais ações e cuidados para este perfil de mulheres a serem
acolhidas pelos serviços de fisioterapia.
A abordagem fisioterapêutica no pós-operatório de câncer de
mama foi satisfatória em melhorar a amplitude de movimento, a intensidade de
dor e o desempenho funcional de mulheres no menacme. Contudo, acompanhamento
por mais longo prazo e aumento dos exercícios, incluindo aeróbicos e de
fortalecimento, podem trazer melhora adicional.
Conflito de interesse
Nenhum
Fontes de financiamento
Apoio do Programa de Iniciação Científica (PIBIC)/COPES/UFS
e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Contribuição dos autores
Coleta de dados: MDSS, FBO; análise dos dados e redação do
manuscrito: MDSS, FBO, SSM, HYBD; Revisão crítica do manuscrito: MSA, ABAS,
CBLC, TPR; Planejamento, análise e interpretação dos dados: MTRB, FBO.
Agradecimentos
Às pacientes da OncoCirurgia, ao
CNPq e ao PIBIC-Copes/UFS.