ARTIGO
ORIGINAL
O uso
do linfotaping, terapia combinada e drenagem linfática manual sobre a fibrose
no pós-operatório de cirurgia plástica de abdome
Use of linfotaping, combined therapy and
manual lymphatic drainage on fibrosis in post- operative of abdominoplasty
Anny Chi, M.Sc.*, Andréia Vieira Marques de Oliveira**, Anelice
Calixto Ruh, M.Sc.***, Juliana Carvalho Schleder, M.Sc.****
*Instituto
Marcus Thomé, **Cescage, ***Universidade Estadual de Ponta Grossa, ****Hospital
Universitário Regional dos Campos Gerais
Recebido em 5 de fevereiro de 2015; aceito em 15 de janeiro de 2016.
Endereço
de correspondência:
Anny Chi, Rua Tomasina, s/n, Ponta Grossa PR, E-mail: annychi10@hotmail.com
Resumo
A fisioterapia
dermato-funcional possui diversos recursos para o tratamento pós-operatório de
cirurgias de abdominoplastia e lipoaspiração, dentre eles a drenagem linfática
manual (DLM), a terapia combinada e o linfotaping. O objetivo deste estudo foi
identificar os efeitos de dois protocolos distintos no tratamento da fibrose
secundária ao pós-operatório de abdominoplastia e lipoaspiração de abdome. Foi
feita análise da fibrose por meio de palpação tecidal e termografia. Os
protocolos foram determinados conforme a fase de reparo tecidual, proliferativa
(DML associada ao linfotaping) e remodelagem (DLM associada à terapia combinada
e linfotaping). A amostra foi constituída por 10 pacientes do sexo feminino com
idade de 46,3 (± 2,5) anos, em pós-operatório de cirurgia plástica de abdome.
Foram realizados 10 atendimentos num período de 5
semanas. A análise comparativa da avaliação inicial e final, tanto da palpação
quanto da termografia, mostrou que houve redução significativa (p < 0,0001)
do quadro fibrótico apresentado pelas pacientes. Os protocolos propostos foram
eficientes no tratamento de fibroses secundárias a cirurgias de abdominoplastia
associada ou não a lipoaspiração.
Palavras-chave: abdominoplastia,
lipoaspiração, fibrose, cicatrização, modalidades de fisioterapia.
Abstract
The dermato-functional physical therapy has
many tools to provide treatment in post- operative of abdominoplasty and
liposuction, such as manual lymphatic drainage (MLD), combined therapy and linfotaping. This study aimed to identify the effects of
two different protocols to treat secondary fibrosis after abdominoplasty and
abdomen liposuction. The fibrosis analysis was carried out using the tissue
palpation and thermography. The protocols were determined according to the
tissue repair stage, proliferative (MLD associated with linfotaping)
and remodeling (MLD associated to combined therapy and linfotaping).
The sample consisted of 10 female patients 46.3 (± 2.5) years old, in
abdominoplasty post-operative period. A ten session program was performed
during 5 weeks. The comparative analysis of the effectiveness of initial and
final evaluation was performed with both the linfotaping
therapy and thermograpy and showed significant
reduction (p < 0.0001) of the patient’s fibrosis stage. The proposed
protocols were efficient to treat secondary fibrosis and abdominoplasty
associated or not to liposuction.
Key-words:
abdominoplasty, lipectomy, fibrosis, wound healing,
physical therapy modalities.
Os padrões estéticos
difundidos pela mídia têm influência sobre o comportamento e determinação do
ideal de beleza sonhado por muitas mulheres [1]. Nessa busca pela melhora da
aparência, modificando formas do corpo, encontram-se procedimentos como a
cirurgia plástica de lipoaspiração e abdominoplastia [2]. A abdominoplastia tem
como objetivo reduzir o excesso cutâneo-adiposo e a flacidez, redefinindo as
curvas, cintura e relevo do abdome. Na tentativa por resultados estéticos mais
satisfatórios, técnicas operatórias são associadas, como a lipoaspiração [3].
Tais procedimentos trazem a fibrose como manifestação pós-operatória às
pacientes submetidas à técnica [4].
A fibrose tecidual,
decorrente da lipoaspiração é caracterizada pela formação de tecido conjuntivo
fibrótico consequência do trauma cirúrgico [5]. Observa-se um espessamento com
aspecto disforme com contornos irregulares, ondulações e depressões, e à
palpação percebem-se nódulos e enrijecimento da área [6]. Para a diminuição dessas
manifestações, melhora do aspecto da pele e prevenção de aderências
encontram-se procedimentos da fisioterapia dermatofuncional baseados em
evidências científicas, que possui recursos terapêuticos que influenciam no
pós-operatório acelerando a recuperação e prevenindo complicações [7].
Entre os recursos
terapêuticos empregados no tratamento da fibrose tecidual está a drenagem
linfática manual (DLM), realizada com as mãos do fisioterapeuta de forma lenta
e superficial no sentido do sistema linfático com o intuito de diminuir edema,
linfedema, distúrbios circulatórios venosos e linfáticos [8]. Este recurso atua
diretamente no extravasamento de proteínas a serem reabsorvidas regulando as
pressões tissulares e hidrostáticas, podendo ser utilizado desde o primeiro dia
de pós-operatório [9]. Outro recurso utilizado pela fisioterapia no
pós-operatório de cirurgias plásticas é o ultrassom terapêutico de 3MHz que atua principalmente na fase inflamatória e melhora
a nutrição celular, reduz a dor e edema, melhora a circulação sanguínea e
linfática, diminuindo assim a instalação de fibrose tecidual [6]. Recentemente
começou a ser utilizada a terapia combinada, que é o ultrassom associado a uma corrente alternada, frequentemente à corrente Aussie
[10], com grande aplicabilidade na fibrose tecidual secundária à lipoaspiração
[11].
Técnicas como DLM e a
terapia combinada são utilizadas para o alívio da dor e do edema. Outra técnica
que tem se destacado para este fim é o kinesiotaping que, por meio da técnica
de linfotaping, já mostra vários benefícios para a drenagem linfática de
mulheres mastectomizadas [12]. O kinesiotaping é uma técnica criada por Kenso
Kase, em 1976, utilizando uma fita de cóton, fina, elástica, porosa, adesiva,
hipoalergênica sem princípio ativo, que pode permanecer em contato com a pele
por vários dias [13,14]. Seus principais efeitos fisiológicos são analgesia,
suporte muscular e correção articular. Os cortes da banda podem ser em X, Y e
I. Quando utilizado para o efeito de drenagem linfática, o corte é denominado
teia de aranha, polvo ou fan, sendo aplicado sem tensão seguindo o percurso do
sistema linfático, proporcionando assim um melhor escoamento da linfa,
denominando-se assim linfotaping [15,16].
O linfotaping mesmo
aplicado na prática clínica por vários profissionais da área da saúde possui
poucas evidências científicas que comprovam seus benefícios [17], assim ainda
precisa ser mais esclarecida [18]. Este artigo teve como objetivo identificar
os efeitos de dois protocolos distintos no tratamento da fibrose secundária ao
pós-operatório de abdominoplastia e lipoaspiração de abdome.
Este estudo
experimental de abordagem quantitativa e qualitativa caracteriza-se como
prospectivo, aplicado, experimental com caráter investigativo do tipo
experimental, realizado mediante prévio consentimento do Comitê de Ética do
Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais (11326012.1.0000.5215). Foram
incluídas 13 mulheres com idades entre 44 e 51 anos, submetidas a abdominoplastia, lipoaspiração abdominal, associadas ou
não, com no mínimo 7 dias de pós-operatório, encontrando-se na fase
proliferativa ou de remodelação cicatricial. Foram excluídas do estudo 03
pacientes que haviam sido submetidas à cirurgia plástica de abdome prévia.
Na avaliação inicial
foram coletados dados pessoais, físicos e inerentes ao tratamento médico. A
fibrose tecidual foi avaliada por meio de palpação seguindo os seguintes
critérios: Nível 0
(N0): não foi detectado indícios de
fibrose após a avaliação visual e
palpação nas posições: ereta,
decúbito dorsal
e ventral; Nível 1 (N1): a fibrose somente é detectada
após a palpação da
região avaliada, com o paciente em decúbito dorsal e
ventral; Nível 2 (N2): a
fibrose é detectada após avaliação visual
do paciente em posição ereta.
Entretanto, nas posições de decúbitos (dorsal e
ventral), a detecção é feita
após a palpação; Nível três (N3): a
fibrose é detectada após a avaliação
visual, estando o paciente tanto na posição ereta quanto
nos decúbitos, dorsal
e ventral [20]. Outro critério para avaliação da
fibrose tecidual foi a
termografia de contato, método que utiliza placas
flexíveis, compostas de
cristais termossensíveis de colesterol que em contato com a pele
da paciente
emite um mapa infravermelho da superfície da pele, com
finalidade de
classificar o grau de fibrose [12] conforme mostram as Figuras 1, 2, 3,
4 e 5.
Figura
1 - Análise termográfica normal da classificação
da fibrose.
Fonte: Manual do
fabricante do Celluvision®
Figura
2 - Análise termográfica grau I da classificação
da fibrose.
Fonte: Manual do
fabricante do Celluvision®
Figura
3 - Análise termográfica grau II da
classificação da fibrose.
Fonte: Manual do
fabricante do Celluvision®
Figura
4 - Análise termográfica grau III da
classificação da fibrose.
Fonte: Manual do
fabricante do Celluvision®
Figura
5 - Análise termográfica grau IV da
classificação da fibrose.
Fonte: Manual do
fabricante do Celluvision®
O tratamento
fisioterapêutico, composto por 10 atendimentos, com duração média de 90 minutos
cada, 2 vezes por semana, com intervalos de 2 ou 3
dias, foi dividido em dois grupos conforme a fase de reparo tecidual. Na fase
proliferação, após 7 dias foi realizada DLM pelo
método Leduc [8] em todo o corpo e linfotaping em formato Fan, no qual a fita é
recortada no sentido de seu comprimento com no mínimo 05 cortes, ficando unidos
pela âncora fixada (Figura 6) sem tensão para onde a calda irá recuar,
promovendo assim espaço entre a derme e a epiderme. As pacientes eram
orientadas a manter as fitas no corpo por um período de 3
dias, prolongando o efeito da DLM. Na fase de remodelagem, após 20 dias de
pós-operatório, foi realizada DLM e linfotaping
semelhante ao grupo da proliferação, associados a terapia combinada (ultrassom
e corrente Aussie) na região abdominal, utilizando equipamento disponível no
mercado que possui três geradores de ultrassom de 3 MHz com área efetiva de
radiação de 6 cm2 e potência de 18 W cada um, totalizando uma potência de 54
W/cm2 [10]. O protocolo utilizado pré-programado no aparelho como
pós-cirúrgico tardio (modo contínuo, frequência portadora de 1
KHz, frequência de modulação da corrente de 50Hz, e intensidade a máxima
tolerada pela paciente). Um dia antes do retorno de todas as pacientes
submetidas ao estudo, orientou-se a retirar as fitas para um descanso da pele
de 24 horas, quando era observado possível surgimento de algum tipo de alergia
ou irritação da pele, o tratamento era suspenso. A avaliação final foi
realizada semelhante à avaliação inicial.
Figura
6 - Linfotaping em formato Fan em região de
abdome.
Foi feita análise
descritiva das variáveis e posteriormente foi aplicado o teste t para dados
pareados para comparação entre as avaliações iniciais e finais. Para isso foi
utilizado o software GraphPad Prism versão 5.
Resultados
A amostra foi
constituída por 10 pacientes do sexo feminino com idade média de 46,3 (± 2,5)
anos. A descrição das pacientes está na Tabela I.
Tabela
I – Caracterização da amostra.
Abd =
abdmoninoplastia; Lipo = lipoaspiração; *Diferença estatisticamente significativa
entre a avaliação inicial e final, pelo teste t pareado (p < 0,0001),
adotado o valor de significância de 95%.
Conforme observado na
Tabela I, ambas as avaliações de fibrose mostraram diferença estatisticamente
significativas (p < 0,0001) comparando-se as avaliações inicias e finais. É
possível se inferir também que o tempo para início do tratamento da fibrose
interfere no resultado após 10 atendimentos, pois a Paciente
10 iniciou o tratamento após dois anos da cirurgia e a palpação na
avaliação não apresentou a mesma redução do quadro fibrótico.
A principal limitação
e dificuldade desta pesquisa foi o pequeno número de voluntárias da amostra.
Isto ocorreu devido ao pequeno número de cirurgias plásticas de abdome
realizadas pelo cirurgião plástico do local de estudo, pois o mesmo atua com
maior ênfase em cirurgias de prótese mamária. Esta restrição na amostra
impossibilitou a randomização da amostra em 2 grupos
para a verdadeira verificação dos efeitos de cada tratamento proposto, portanto
as generalizações restringem-se à população da qual foi extraída a amostra.
Para Vieira e Netz
[20], a fibrose tecidual pode estar presente após procedimentos cirúrgicos em
maior ou menor proporção e quanto antes se iniciar o tratamento pós-operatório,
melhor o resultado final, pois ainda não está instalada a desorganização do
colágeno. Borges [21] explica a existência de 03 fases no reparo tecidual,
inflamatória, proliferativa e de remodelação; no presente estudo as pacientes
se encontravam nas fases, proliferativa, e de remodelação.
As Pacientes 1, 2, 3,
4 e 5, que estavam na fase proliferativa, obtiveram reversão total do quadro de
fibrose após submeter-se a DLM acompanhada de linfotaping. Acredita-se que o
linfotaping promoveu uma melhora do metabolismo devido à drenagem linfática
constante proporcionada por ele. Chou [22] obteve resultados semelhantes pós
linfedema em membro superior associando linfotaping a DLM em pacientes
mastectomizadas.
As Pacientes 6, 7, 8,
9 e 10 obtiveram resultados satisfatórios com a utilização do linfotaping
juntamente com a DLM e terapia combinada, mesmo estando no pós-operatório
tardio. Para Sant’Ana em sua revisão bibliográfica
[11] a terapia combinada é um recurso disponível que pode ajudar a reverter o
grau de fibrose por meio da ação da corrente Aussie associada ao ultrassom. De
acordo com Silva et al. [4] o uso de terapia combinada
somente é indicado após 40 dias de pós-operatório, quando a paciente se
encontra na fase de remodelação cicatricial. Para Leal em sua revisão de
literatura [23], a utilização do linfotaping em linfedema tem melhor resultado
concomitante a terapia descongestiva e drenagem mecânica.
Quatro Pacientes, 1,
2, 3 e 4, realizaram associação de abdominoplastia e lipoaspiração o que pode
levar a maior complicação tanto durante a cirurgia quanto no pós-operatório
conforme constatado na revisão literária de Janete et al. [3]. Nesse caso de acordo com achados de Vieira e Netz [20],
em sua revisão de literatura, o tratamento pós-operatório deve-se iniciar o
mais precoce possível, para evitar possíveis complicações pós-cirúrgicas como
seroma, edema prolongado, equimoses refratárias e quadro álgico intenso. As
pacientes aceitaram participar da pesquisa na fase profilática, utilizando DLM
e linfotaping, permitindo uma reversão total do quadro fibrótico.
Quando a Paciente 10 aceitou participar da pesquisa estava no
pós-operatório mais tardio, com 02 anos de cirurgia. Segundo Tacani et al. [8], quando mais tardio o tratamento
para fibrose tecidual, pior seu prognóstico, todos as fases da cicatrização já
estão acentuadas e desordem ou desorganização do colágeno também, dificultando
ainda mais sua reorganização.
Para Sant’Ana [10] a terapia combinada é um recurso disponível
que pode ajudar a reverter o quadro de fibrose. De acordo com Leal [23], o
linfotaping associado a outras terapias mecânicas possibilita melhores
resultados da terapia. Vale ressaltar que em nossas buscas literárias não foram
encontradas pesquisas que comparem o uso do linfotaping como adjuvante às
terapias da dermatofuncional. Sendo este estudo o começo de uma nova área a ser
estudada.
Os protocolos
propostos, DLM associada ao linfotaping para fase proliferativa do reparo
tecidual e DLM associada à terapia combinada e ao linfotaping para a fase de
remodelação mostraram resultados eficientes no tratamento de fibroses
secundárias a cirurgias de abdominoplastia associadas ou não a lipoaspiração.
Mais estudos devem ser realizados com uma amostra maior, comparando os
protocolos e as fases de reparo tecidual, para verificar se cada protocolo
apresenta bons resultados em outras fases de cicatrização.