Fisioter
Bras 2021;22(6):931-50
REVISÃO
Atividade
física, aptidão física e dor lombar em adultos jovens: revisão sistemática de
evidências observacionais
Physical activity, physical
fitness and low back pain in young
adults: systematic review of observational evidence
Leticia
Aparecida Ferreira Gottarde*, Gleice Beatriz Batista
Vitor*, Fabio Antônio Neia Martini, D.Sc.**, Raphael Gonçalves de Oliveira, D.Sc.***
*Graduanda
em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP),
Jacarezinho/PR, **Professor do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual
do Norte do Paraná (UENP), *** Professor do curso de Educação Física da
Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP)
Recebido
em 17 de julho de 2021; Aceito em 9 de setembro de
2021.
Correspondência: Leticia Aparecida Ferreira Gottarde, Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP),
Alameda Padre Magno, 841 Jacarezinho PR
Leticia Aparecida Ferreira Gottarde: leticiagottarde027@gmail.com
Gleice
Beatriz Batista Vitor: gleicesenac@outlook.com
Fabio
Antônio Neia Martini: famartini@uenp.edu.br
Raphael
Gonçalves de Oliveira: rgoliveira@uenp.edu.br
Resumo
Introdução: Dor lombar caracteriza-se como um
importante problema de saúde pública desde idades jovens. Dentre as variáveis
que podem impactar nesta ocorrência encontra-se atividade física e aptidão
física, contudo os resultados dos diferentes estudos observacionais sobre a
temática apresentam inconsistências. Objetivo: Verificar associação
entre atividade física, aptidão física e dor lombar em adultos jovens. Métodos:
Foi realizada revisão sistemática de estudos observacionais, na qual atividade
física e aptidão física foram variáveis de exposição e dor lombar desfecho. As
buscas foram realizadas nas bases de dados: Pubmed,
Web of Science, Science Direct, Lilacs,
Scielo, PEDRo e Central. Resultados:
No total, oito estudos foram incluídos. Um estudo dentre quatro identificou que
atividade física vigorosa aumenta as chances de dor lombar. Para força
muscular, dois de cinco estudos verificaram associação entre menor força de
tronco e maior chance de dor lombar, enquanto para flexibilidade nenhum
resultado foi observado. Baixa aptidão cardiorrespiratória se associou com dor
lombar em um dentre dois estudos. Para composição corporal, dois de três
estudos acharam associação contraditória com IMC. Conclusão: Em vista
dos resultados apresentados pelos estudos incluídos na revisão sistemática, não
foi identificada nenhuma evidência consistente de associação entre atividade
física, aptidão física e dor lombar em adultos jovens.
Palavras-chave: dor lombar; aptidão física; atividade
física.
Abstract
Introduction: Low back pain has
been characterized as an important public
health problem since young ages. Among the variables
that can impact this occurrence
are physical activity and physical fitness, however the results
of different observational studies on the subject
are inconsistent. Objective:
To verify the association between physical activity, physical fitness and low back
pain in young adults. Methods: A systematic review of observational studies was carried out, in which physical activity and physical
fitness were variables of exposure and
low back pain outcome. The searches were carried
out in the following databases: Pubmed, Web of Science, Science Direct, Lilacs,
Scielo, PEDRo e Central. Results: In total, eight studies were included.
One study out of four found that
vigorous physical activity increases the chances of low back pain.
For muscle strength, two out of five
studies found an association between lower trunk
strength and a higher chance of low back pain,
while for flexibility, no results were observed.
Low cardiorespiratory
fitness was associated with low back
pain in one of two studies.
For body composition, two out of three
studies found a contradictory association with BMI. Conclusion: In view of the
results presented by the studies
included in the systematic review, no consistent evidence of an
association between physical activity, physical fitness and low back pain
in young adults was identified.
Keywords: low back pain; physical
fitness; physical activity.
Dor
lombar atualmente é um dos problemas de saúde mais difundidos que o mundo
industrializado enfrenta. A ocorrência de lombalgia é considerada alta e
estima-se que aproximadamente 80% da população em algum momento da vida sofrerá
com a mesma [1]. Dor lombar é definida como dor na região lombar ou região
glútea, podendo ser radiculada nas extremidades inferiores. Grande parte da
população com lombalgia não tem um diagnóstico específico. Além disso, há
grande evidência de que a lombalgia na população adulta tem seu início em idade
jovem [2].
Dentre
as variáveis que se associam com a dor lombar destaca-se as medidas de aptidão
física, como força/resistência muscular e o consumo máximo de oxigênio [3]. Um
dos fatores de risco para dor lombar é o desequilíbrio na força muscular de
tronco o que ocasiona uma mecânica instável da coluna vertebral [4,5]. Por sua
vez, não há evidências de que a flexibilidade das extremidades possua
associação com a dor lombar, contudo, foi demonstrado que a diminuição da
flexibilidade se tornou um mecanismo compensatório para a instabilidade pélvica
na existência de dor lombar [6]. Em relação a composição corporal, um estudo
feito em adultos relatou que obesos possuem uma maior chance de relatar dor
lombar quando comparados a pessoas que possuem um índice de massa corporal
normal [7]
Outra
variável que tem sido associada com a dor lombar é atividade física. Pesquisas
sugerem que 30 minutos ou mais de atividade física moderadamente a intensa na
maior parte dos dias da semana pode prevenir a dor lombar, visto que aumenta a
placa da extremidade e permeabilidade dos discos intervertebrais [8,9]. Além do
que, exercícios físicos podem melhorar a mobilidade da coluna, alongando e
relaxando a musculatura [10]. Atividade física também leva a uma melhoria dos
níveis de aptidão física, como maior força muscular e melhora da flexibilidade
articular na região dorsal e nos membros inferiores, impactando favoravelmente
no mecanismo que gera dor lombar [11]. Neste sentido, uma prática contínua e
orientada de exercícios físicos coopera para uma postura mais correta e uma
menor incidência de dor lombar [12].
Dados
referentes a prática de atividade física e níveis de aptidão física em adultos
jovens com dor lombar tem sido estudado por todo o mundo, entretanto, até o
momento, não foi encontrado nenhum trabalho que agrupou estes dados em uma
revisão sistemática. Portanto, o objetivo deste estudo foi revisar de forma
sistemática a literatura de forma a verificar as associações entre aptidão
física, atividade física e dor lombar em adultos joven
O
estudo caracteriza-se por uma revisão sistemática, redigida de acordo com o
protocolo PRISMA. Os critérios de inclusão foram: estudos observacionais;
estudos que consideraram atividade física ou aptidão física como variável de
exposição e dor lombar como variável de desfecho; estudos que tenham avaliado
população adulta jovem (≥ 18 anos < 45 anos). Os critérios de exclusão
foram: estudos com informações duplicadas em outro estudo já incluído; estudos
que selecionaram adultos com quadro patológico, deficiência física ou mental.
Bases
de dados e estratégia de busca
A
busca foi realizada nas seguintes bases de dados: Pubmed,
Web of Science, Science Direct, Lilacs,
Scielo, PEDro e Cochrane
Library, sem o uso de filtro que limitasse a data das publicações ou a língua.
Como estratégia de busca, foram definidas palavras-chave disponíveis no MeSH (Pubmed) e DeCS (Descritores em Ciências da Saúde). A estratégia de
busca considerou as seguintes palavras-chave: (“adult”
OR “young adult” OR “adult health”) AND (“physical activity” OR “motor activity” OR “sedentary behavior” OR “sedentary activity” OR “sedentary lifestyle” OR “screen time” OR “physical fitness” OR “cardiorespiratory
fitness” OR “musculoskeletal fitness” OR “muscular strength” OR “muscular endurance”
OR “flexibility” OR “range of
motion” OR “body composition” OR “body fat distribution” OR “adiposity”) AND (“low back pain” OR “back pain” OR “non-specific low back
pain” OR “chronic low back pain”).
Além disso, foram pesquisadas citações dos estudos incluídos nas publicações
identificadas como elegíveis para o presente estudo. A última busca ocorreu em
abril de 2020.
Seleção dos estudos
Um
revisor realizou a estratégia inicial de pesquisa nas bases de dados.
Posteriormente, dois revisões (LAFG e GBBV) realizaram de forma independente a
exclusão de duplicatas e em sequência os títulos e resumos dos artigos. Os
estudos que o título e resumo estavam relacionados ao objetivo da presente
revisão sistemática foram incluídos para a solicitação de leitura completa do
texto. As divergências quando não resolvidas entre os dois pesquisadores (LAFG
e GBBV), foram transmitidas a um terceiro pesquisador (RGO) o qual decidiu
quanto à questão.
Aspectos
éticos
O
presente estudo de revisão sistemática foi realizado coletando e analisando
dados de estudos anteriores cujo consentimento foi obtido pelo respectivo
original. Portanto, este estudo foi isento de aprovação do comitê de ética.
Extração
dos dados
Foram
extraídos de cada estudo: identificação dos autores; ano de publicação; país de
origem; tamanho de amostra; sexo e idade dos sujeitos; desenho do estudo;
critério de identificação da dor lombar; prevalência de dor lombar; indicador
empregado para dimensionar aptidão física; principais resultados.
Avaliação
da qualidade metodológica dos estudos
Para
avaliar potencial risco de viés e qualidade metodológica dos estudos, cada
trabalho foi criticamente analisado mediante versão adaptada de ferramenta
proposta por Downs e Black (1998), numa escala que
variou de 0-10 pontos.
Caracterização
das variáveis de exposição e desfecho
Atividade
física pode ser compreendida como qualquer movimento corporal, produzido pelos
músculos esqueléticos, o que resulta em gasto energético [13], possui como
determinantes e componentes de ordem biopsicossocial, comportamental, cultural
podendo ser exemplificada por danças, esportes, exercícios físicos, atividades
laborais e deslocamentos [14].
Aptidão
física é conceituada em dois âmbitos, como componentes relacionados à saúde
como composição corporal, resistência cardiorrespiratória, flexibilidade, força
e resistência muscular, ou âmbito relacionado a habilidades como agilidade,
equilíbrio, coordenação motora, poder (capacidade de realizar trabalho), tempo
de reação e velocidade tem como definição os componentes relacionados à saúde
como composição corporal [13].
Dor
lombar tem como definição dor e desconforto localizados abaixo do rebordo
costal e acima da linha glútea superior, podendo ou não ser irradiada no membro
inferior. A dor lombar pode ser considerada crônica quando a sua duração
persistir por mais de três meses [15].
A
pesquisa nas bases de dados identificou 4.696 estudos. Após a exclusão por
duplicatas 4.030 estudos permaneceram. Em seguida foi realizada exclusão por
título e resumo, permanecendo 104 artigos para a leitura do texto completo.
Desses, oito foram incluídos na revisão sistemática. Além da busca nas bases de
dados, foi realizada uma busca manual nas referências dos estudos incluídos na
revisão, com objetivo de encontrar novos estudos para compor a presente
revisão. A figura 1 mostra o processo esquematizado da seleção dos estudos com
base em um diagrama de fluxo PRISMA.
Figura
1 – Seleção dos
estudos
A
avaliação da qualidade metodológica relatou que grande parte dos estudos foram
considerados de qualidade satisfatória, apresentando uma média de 7,25 pontos.
Os oito estudos incluídos foram publicados de 2004 até 2018. A característica
da amostra foi de adultos jovens de ambos os sexos com idades entre 18 e 45
anos. Estes estudos compreenderam um total de 1763 participantes (homens, n =
1242; mulheres n = 521). Os estudos foram realizados nos seguintes países:
Austrália, Bélgica, Brasil, China, Estados Unidos da América, Finlândia
[1,10,16,17,18,19,20,21]. Três estudos eram transversais [1,19,21],
três de caso-controle [16,17,18] e dois prospectivos [10,20].
A
avaliação da dor lombar foi medida através da EVA (Escala Visual Analógica da
dor) [1,10,16,17,18,19,21], a qual é utilizada como método de mensuração quantitativa
da dor, uma vez que pode identificar pequenas alterações da dor quando
comparada a outras escalas [22]; Questionário Nórdico [21] serve como
instrumento na triagem de distúrbios musculoesqueléticos relacionados à
ergonomia, além de proporcionar meios de medir resultados de estudos
epidemiológicos sobre distúrbios musculoesqueléticos [23]; Questionário de
lombalgia e incapacidade de Rolland Morris [17], utilizado para avaliar a
incapacidade funcional de doentes com lombalgia em suas atividades [24] e
diagnóstico médico [20]. As características dos estudos incluídos na presente
revisão sistemática estão sintetizadas na tabela I.
Tabela
I - Características
dos estudos inclusos na revisão sistemática
Quatro
estudos [10,18,19,21] verificaram os efeitos da atividade física na dor lombar
em adultos jovens, e apenas um encontrou diferença entre o grupo com e sem dor
lombar. Neste caso, para cada hora a mais despendida com atividade vigorosa,
houve um aumento de 30% nas chances de ter dor lombar. As características dos
estudos incluídos estão resumidas na Tabela II.
Tabela
II - Estudos
associando atividade física com dor lombar em adultos jovens
Em
relação à força muscular, foram encontrados cinco estudos [16,17,19,20,21] que
relacionaram este componente com a dor lombar. Destes, três estudos não
identificaram qualquer resultado significativo. Entretanto, Handranski
et al. [19] observaram menor resistência no teste de Sorensen
para o grupo com dor lombar, enquanto Tanilla et
al. [20] verificaram força de flexão de braço e extensão de tronco
significativamente reduzidas em adultos jovens com dor lombar. As
características dos estudos incluídos na associação entre dor lombar e força
muscular estão sintetizadas na Tabela III.
Tabela
III - Estudos
associando força muscular com dor lombar em adultos jovens
Quanto
a flexibilidade, foram encontrados três estudos [1,17,19] que estabeleceram
associação desta e dor lombar em adultos jovens, e nenhum destes encontrou
associação significativa. As características dos estudos inclusos na associação
entre flexibilidade e dor lombar estão sintetizadas na Tabela IV.
Tabela
IV - Estudos
associando flexibilidade com dor lombar em adultos jovens
Quanto
à aptidão cardiorrespiratória, apenas dois estudos [20,21] relacionaram a mesma
com dor lombar em adultos jovens. Um dos estudos [21] não constatou qualquer
diferença significativa quando comparado o grupo com e sem dor lombar,
entretanto, Taanila et al. [20] identificaram
que há uma associação significativa entre alcançar menos de 2.600 m no teste de
Cooper de 12 minutos e dor lombar em adultos jovens, embora este resultado seja
apenas para o sexo masculino. As características dos estudos inclusos estão
descritas na Tabela V.
Tabela
V - Estudos
associando aptidão cardiorrespiratória com dor lombar em adultos jovens
Em
relação à composição corporal, houve três estudos [1,16,20] que associaram as
variáveis de interesse. Neste caso, dois estudos mostraram a existência de
associação significativa entre baixo Indicie de Massa Corporal (IMC) e dor
lombar. Um estudo demonstrou uma alta correlação entre baixo IMC e dor lombar,
enquanto outro observou 2,6 vezes maiores chances de dor lombar em indivíduos
com IMC ≥ 30 kg/m2 (Tabela VI).
Tabela
VI - Estudos
associando composição corporal com dor lombar em adultos jovens
Acordos
e discordâncias com outros estudos
Verificou-se
que até o presente momento, nenhuma revisão sistemática envolvendo adultos
jovens investigou as variáveis selecionadas neste estudo. Os resultados do
presente estudo mostraram alguns resultados contraditórios em relação à
associação da atividade física, aptidão física e dor lombar em adultos jovens. O comportamento e o prognóstico de pessoas com dor lombar aguda é
distinto de pessoas que apresentam sintomatologia de dor lombar crônica, que
comumente apresentam comprometimento das atividades diárias [25].
A
dor lombar pode ser definida de acordo com a duração dos sintomas, é
considerada aguda quando um episódio de dor lombar possui duração menor que
seis semanas, já um episódio com duração dos sintomas entre seis a doze semanas
é denominada subaguda, por fim é considerado dor lombar crônica um episódio de
dor lombar com duração superior a doze semanas [26]. Os estudos desta revisão
tiveram pacientes de caráter agudo [17,19] subagudo [1] e crônico
[10,16,18,21].
Atividade física
A
análise qualitativa realizada neste estudo não confirma a existência de uma
associação significativa entre atividade física e dor lombar em adultos jovens,
uma vez que apenas um [21] dos quatro estudos [10,18,19,21] incluídos na
revisão sistemática que investigaram uma possível relação entre atividade
física e dor lombar encontrou resultados significativos. Provavelmente, o fato do estudo em questão ter contato com uma amostra composta
somente por mulheres fez com que fosse demonstrada uma associação entre
atividade física vigorosa e uma maior chance de ter dor lombar. Este resultado
também foi encontrado no estudo feito por Mourcel et
al. [27] no qual se conclui que a prevalência de dor lombar foi superior no
sexo feminino, grupo que também apresentou maior prevalência de sintomatologia
lombar. A amostra da presente revisão possui um predomínio masculino devido ao
fato de o estudo de Taanila et al. [22] contar
com uma amostra de 982 participantes do sexo masculino, o que elevou o número
total de participantes do sexo masculino de 260 para 1242 participantes.
Uma
limitação importante em todos os estudos foi a utilização de medidas subjetivas
(questionários) para a avaliação da atividade física e critérios de
classificação, visto que esses métodos são os que possuem menor precisão para medir
atividade física [28]. Além disso, embora diversas diretrizes internacionais
assegurarem a atividade física como elemento importante na prevenção e/ou
tratamento da dor lombar [25], diversas pesquisas ainda são necessárias para
que sejam definidas suas doses e intensidades [29].
Força
muscular
Dois
estudos apresentaram resultados significativos para menor força muscular e dor
lombar. Handraski et al. [19] mostraram que o
grupo com dor lombar expressou um tempo menor no teste de Sorensen,
enquanto Tanila et al. [20] identificaram que
há maiores chances de dor lombar entre aqueles que realizaram < 22
repetições no teste de flexão de braço (OR = 1,8 [IC 90% 1, 1-2,8; p <
0,05]). Este mesmo estudo, evidenciou ainda, que há maior probabilidade do desenvolvimento
de dor lombar em pessoas que realizaram < 60 repetições no teste de extensão
de tronco. Um fato que deve ser considerado é que os achados destes estudos
foram encontrados usando medidas de força muscular e critérios de classificação
diferentes dos estudos que não encontraram resultados significativos. Os demais
estudos avaliaram medidas como força isométrica, agachamento, Vertical Trunk Force, Trunk Moment, Hip Force.
Em
adultos jovens, uma boa resistência muscular de tronco pode diminuir o risco de
lesão [20]. Também há evidências de que a presença de uma baixa resistência
elástica dos músculos extensores das costas é considerada um fator de risco
para dor lombar [30]. Entretanto, foi demonstrado que a resistência da
musculatura estabilizadora lombo pélvica em pessoas com dor lombar pode não
apresentar diferenças significativas quando comparadas com pessoas sem dor
lombar [31].
A
análise qualitativa realizada no presente estudo aponta que não há existência
de uma associação significativa entre força muscular e dor lombar em adultos
jovens. A partir das análises dos estudos incluídos na revisão sistemática, não
foi possível prever este achado, uma vez que apenas dois estudos [19,20] dos
cinco estudos que relacionaram força muscular e dor lombar identificaram uma
associação entre força muscular e dor lombar em adultos jovens.
Em
uma revisão sistemática foi demonstrado que há controversas se baixa capacidade
de resistência estática dos músculos extensores do tronco é um fator de risco
para dor lombar. Além de relevar forte evidência da ausência de relação entre
testes dinâmicos de resistência muscular e risco para lombalgia [32].
Flexibilidade
Apenas
três estudos [1,17,19] relacionaram a flexibilidade com ocorrência de dor
lombar em adultos jovens, os quais não mostraram resultados significativos. De
igual forma, no estudo de Jesus et al. [33] não foi observada diferença
significativa quanto a flexibilidade entre o grupo com e sem dor lombar.
Segundo
Plowman [34], a ausência de atividade física gera
encurtamento dos músculos isquiotibiais e enfraquecimento dos músculos
abdominais, perdendo assim a estabilização lombar e ocasionando os quadros de
lombalgia. De acordo com Silva [35], há uma relação entre dor lombar moderada e
flexibilidade com correlação leve, e o peso corpóreo está relacionado com a
diminuição da flexibilidade, aumento do limiar de dor e diminuição da
capacidade de cumprir funções diárias
Deve-se
destacar, que estudos de intervenção tipicamente avaliam efeitos do alongamento
e consequente melhoria da flexibilidade em pessoas com dor lombar. Um estudo
com 55 participantes homens e mulheres entre 18 e 60 anos com diagnóstico clínico
de lombalgia crônica inespecífica observou redução da dor, incapacidade
funcional e um aumento da flexibilidade global no grupo alongamento [36].
Aptidão
cardiorrespiratória
Dos
dois estudos inclusos na revisão envolvendo aptidão cardiorrespiratória
[20,21], somente o estudo de Tanila [20] demonstrou
um resultado significativo entre o teste de Cooper de 12 minutos (OR = 1,6 [IC
90% 1, 1-1, 2,4; p < 0,05]) para < 2.600 m e dor lombar. Deve-se
considerar que esses achados foram encontrados em uma população masculina de
serviço militar com idade entre 18 e 28 anos.
Polito [37] demonstrou relação não
significativa entre aptidão cardiorrespiratória e o predomínio de incômodos
relacionados à dor lombar. Em contrapartida Van Der Velde
e Mireau [38] observaram, por meio de revisão
retrospectiva, que pessoas com dor lombar crônica predispõe de uma capacidade
aeróbica menor quando comparada a indivíduos sem dor lombar.
Composição
corporal
Em
relação à composição corporal e dor lombar, os achados da presente revisão
demonstram que dois artigos [1,20] dos três [1,16,20] encontraram associação.
Furtado et al. [1] obtiveram como resultado dor lombar em participantes
com IMC menor, o que contrapõe o resultado visto no estudo de Tanila et al. [20] no qual os participantes com dor
lombar apresentaram um IMC ≥ 30. Esta relação ainda é inconsistente na
literatura. Uma revisão sistemática com meta-análise apontou um resultado
significativo entre obesidade e dor lombar crônica. Os achados podem ter resultado
devido ao estudo contar com uma amostra de adultos jovens, o que fez com que
não existisse qualquer associação entre excesso de peso e dor lombar [39].
O
excesso de peso corporal seria capaz de ser considerado um fator independente
de dor lombar resultante do aumento da circunferência na região abdominal, o
qual pode agravar a dor e associá-la a alterações da curvatura na região
lombar. Além disso, o aumento da carga mecânica de sustentação pela coluna
seria o principal fator inicial dos progressos degenerativos da coluna na
região lombar [40], embora estudos realizados por Lebouef-Yde
[41] e Toda [42] relatem que a obesidade é considerada
um fator de risco para o desenvolvimento da lombalgia.
Em
relação a achados de estudos de intervenção, Contri
[43] realizou um programa de exercícios físicos com uma amostra de
participantes do sexo masculino, de aproximadamente 44 anos de idade. Através
do programa de exercícios propostos foi possível concluir que houve uma redução
do nível da massa corpórea e, consequentemente, uma redução do nível da dor
lombar, indicando que o excesso de peso está relacionado com a lombalgia.
Qualidade
de evidência
Dos
quatro estudos incluídos na revisão envolvendo atividade física, houve
representação de três regiões geográficas diferentes (Ásia [10], América do
Norte [18,19] e Oceania [21]), enquanto para força muscular houve três regiões
(América do Norte [16,19], Europa [17,20], Oceania [21]), para a flexibilidade,
três regiões (América Latina [1], América do Norte [19] e Europa [17]), e para
aptidão cardiorrespiratória, duas regiões (Europa [20] e Oceania [21]) e para
composição corporal, duas regiões (América Latina [1], América do Norte [16] e
Europa [20]). Visto isso, não é possível extrapolar os resultados dos estudos
para todas as localizações, uma vez que não houve representação de todas as
regiões na presente revisão. Em contrapartida, a qualidade dos estudos
incluídos na revisão sistemática foi considerada satisfatória com um média de
7,25. Apenas três estudos [16,17,20] dos incluídos na revisão apresentaram
indicadores de baixa qualidade. Além disso, dos 8 estudos incluídos na revisão,
apenas três [17,20,21] apresentaram dados separadamente para homens e mulheres,
o que não possibilitou uma análise de subgrupo.
Potenciais
vieses no processo de revisão
Na
revisão sistemática foram incluídos apenas estudos observacionais, o que
possibilita um maior risco de viés, especialmente porque três dos oito estudos
selecionados eram transversais, o que por sua vez não possibilita a
interferência causal. O número reduzido de estudos também deve ser levado em
conta como uma limitação. Por fim, a busca dos estudos não se expandiu em todas
as bases de dados existentes. No entanto, realizamos buscas em sete bases de
dados (Pubmed, Science Direct, Cochrane Library, Web of Science, Lilacs, PEDRo, Scielo). Além de
realizarmos uma busca exaustiva de todas as referências dos estudos incluídos
na revisão na tentativa de encontrar novos estudos para compor a presente
revisão.
A
presente revisão sistemática não identificou evidências científicas para
associação entre atividade física, componentes da aptidão física relacionada a
saúde (força muscular, aptidão cardiorrespiratória, composição corporal e
flexibilidade) com a dor lombar em adultos jovens.
Conflito
de interesse
Não
há qualquer potencial conflito de interesse.
Financiamento
Este
trabalho recebeu uma bolsa de iniciação científica pelo Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) concedida através da agencia de
fomento de pesquisa do Paraná, Fundação Araucária (FA).
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Oliveira RGO e Martini FAN; Coleta de dados, análise e interpretação: Gottarde LAF e Vitor GBB; Redação do manuscrito: Gottarde LAF e Vitor GBB; Revisão crítica do trabalho:
Oliveira RGO e Martini FAN; Aprovação final da versão a ser publicada:
Todos os autores.