Fisioter Bras.
2023;24(2):139-52
ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação
da satisfação e da qualidade de vida no trabalho de profissionais da área da
saúde em um centro especializado em reabilitação de Belém do Pará
Assessment of satisfaction and quality of life of
healthcare professionals at a specialized rehabilitation center in Belém do Pará
Christian
Pacheco de Almeida¹, Stanley Soares Xavier1, Angelica
Homobono Machado2
1Universidade do Estado do Pará, Belém,
PA, Brasil
2Universidade Federal do Pará, Belém, PA,
Brasil
Recebido
em 30 de julho de 2021; Aceito em 23 de outubro de
2022.
Correspondência: Christian Pacheco de Almeida, dchristianpacheco134@gmail.com
Como citar
Almeida CP, Xavier SS,
Machado AH. Avaliação da satisfação e da qualidade de vida no trabalho de
profissionais da área da saúde em um centro especializado em reabilitação de
Belém do Pará. Fisioter Bras. 2023;24(2):139-52 doi: 10.33233/fb.v24i2.4828
Resumo
Introdução: O ambiente de trabalho sempre trouxe
para a sociedade diversos temas a serem debatidos dentro da Saúde Ocupacional.
Com isso, são destacadas estratégias que possam criar um ambiente favorável às
práticas profissionais, mas que dependem de fatores subjetivos e objetivos
atrelados a Qualidade de Vida e a Satisfação no Trabalho. Objetivo:
Avaliar o grau de Satisfação e a Qualidade de Vida no Trabalho e desenvolver um
perfil sociodemográfico dos profissionais da área da saúde em um Centro
Especializado em Reabilitação. Métodos: O estudo é observacional,
transversal, quantitativo, realizado por meio da aplicação de três instrumentos
avaliativos sobre Satisfação no Trabalho, Qualidade de Vida no Trabalho e Dados
Sociodemográficos e Profissionais. Amostra composta por 49 profissionais da
Unidade de Ensino Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional/Centro
Especializado em Reabilitação. Resultados: Média de idade encontrada
igual a 41,7 ± 8,5. Em relação a Satisfação Global dos participantes, os
resultados indicaram um estado de indiferença com média de 4,7 (±0,9). Todavia,
a Qualidade de Vida no trabalho geral dos servidores é considerada satisfatória
ao nível de 68,54%. Conclusão: Portanto, observaram-se bons níveis de
Satisfação e Qualidade de Vida no Trabalho. Além disso, trouxe novos
conhecimentos sobre as temáticas estudadas.
Palavras-chave: qualidade de vida; satisfação no
emprego; saúde do trabalhador.
Abstract
Introduction: The job
environment has always brought to society several topics to be debated within
Occupational Health. Thus, strategies are highlighted that can create a
favorable environment for professional practices, but that depend on subjective
and objective factors linked to Quality of Life and Job Satisfaction. Objective:
Assess the degree of Satisfaction and Quality of Life at Work and develop a
health sociodemographic profile of health in a Specialized Rehabilitation
Center. Methods: The study is observational, cross-sectional,
quantitative, carried out through the application of three evaluation
instruments on Job Satisfaction, Quality of Life and Sociodemographic and
Professional Data. Sample composed of 49 professionals from the Teaching Unit
of Assistance in Physical therapy and Occupational Therapy/Specialized Center
in Rehabilitation. Results: Mean age found equal to 41.7 (±8.5).
Regarding the Global Satisfaction of the participants, the results indicated a
state of indifference with a mean of 4.7 ± 0.9. However, the general Quality of
Life of the servers is considered satisfactory at the level of 68.54%. Conclusion:
Therefore, there were good levels of Job Satisfaction and Quality of Life. In
addition, it brought new knowledge about the themes studied.
Keywords: quality of life; job
satisfaction; occupational health.
Introdução
Os
aspectos inerentes à saúde dos profissionais que estão inseridos no mercado de
trabalho, principalmente os da área da saúde, são insumos para a discussão dos
setores organizacionais desde quando se estabeleceu o fortalecimento e a
promoção de ambientes favoráveis às suas práticas. De outro modo, esse tema
remonta a capacidade da gestão dos locais de trabalho proporcionar Satisfação e
Qualidade de Vida entre os seus colaboradores. O contexto, assim, remete-se à
criação de programas, estratégias, que tornem os espaços laborais adequados
para quem está inserido neles [1]. O ambiente de trabalho, então, mostrou-se ao
longo dos anos um assunto de grande relevância no que tange a Saúde
Ocupacional, devido à notória e incessante busca por modelos gerenciais eficazes
na tentativa de minimizar os possíveis riscos (biológicos, físicos, químicos e
psicoemocionais), os quais esses trabalhadores estão suscetíveis [2].
Por
conseguinte, a Qualidade de Vida é definida como a percepção que o indivíduo
tem sobre sua posição na vida, pensamento formulado tendo como base o seu
contexto social e cultural. Consoante, a abordagem sobre Qualidade de Vida no
Trabalho (QVT) tem sua importância relatada, pois engloba a motivação,
satisfação, participação do empregado nas atividades de gestão e bem-estar,
saúde, comportamento pessoal e relação com seus colegas. Portanto, diante
desses aspectos, diversos fatores poderão influenciar na percepção que esses
profissionais terão sobre seu local de trabalho, caracterizando-o indiretamente
como promotor ou inviabilizador da Qualidade de Vida. Dentre esses fatores, de
extrema relevância, abordados ao se estudar o ambiente de trabalho,
culminam-se: os físicos, mentais, emocionais, econômicos, ambientais e, por
último, os sociais [3].
No
cenário complementar sobre os cuidados em Saúde Ocupacional, ressalta-se a
Satisfação no Trabalho como um conjunto diversificado de sentimentos que uma
pessoa pode ter em relação ao seu ambiente de trabalho. Eventualmente, também,
denotam situações de contentamento ou descontentamento diante de sua relação
com seus colegas profissionais, com a remuneração que recebe, com sua chefia,
com suas promoções e/ou com a natureza do seu trabalho [4], quesitos
pertinentes a serem avaliados nos profissionais da área da saúde.
Indubitavelmente, traz à tona a discussão sobre como a pessoa se enxerga dentro
do seu convívio profissional e, expressa uma visão subjetiva acerca das
questões salariais; relacionais; da flexibilidade a mudanças; das hierarquias
atinentes aos profissionais da reabilitação [5,6]. Nesse sentido, a plena
satisfação depende de uma estabilização no binômio trabalho-trabalhador e não
somente da subjetividade do que significa estar satisfeito, mas também a
objetividade do que realmente compõe este objeto de estudo [7].
Destarte,
o presente estudo é importante e necessário na abordagem
de temas diretamente
ligados a Saúde Ocupacional, bem como são a
Satisfação e a Qualidade de Vida no
Trabalho (QVT); que interferem na qualidade dos serviços
ofertados ao
paciente/cliente/usuário no contexto da
reabilitação, ou seja, reflete a
estruturação dos serviços e a
percepção dos próprios trabalhadores em
relação
ao seu local de trabalho. Isto é, salientado, pois, estes
assuntos, o estudo
versa para a explanação dos modelos de gerenciamento
eficazes na busca pelo
equilíbrio entre saúde física, emocional, social,
intelectual e ocupacional dos
trabalhadores [8].
Além
de tudo, tem-se o propósito de esclarecer os profissionais e a instituição
coparticipante sobre como a Satisfação e a Qualidade de Vida interfere na saúde
do profissional da reabilitação e, caso influencie negativamente, como podem
cooperar para a melhora do ambiente de trabalho. Em consequência, o efeito será
positivo ao proporcionar bem-estar e a prestação de serviços adequados para a
sociedade [8]. Com esse intuito, a pesquisa objetivou avaliar o grau de
Satisfação e a Qualidade de Vida no Trabalho e desenvolver um perfil
sociodemográfico dos profissionais da área da saúde em um Centro Especializado
em Reabilitação.
O
estudo é do tipo observacional, transversal ou seccional, quantitativo, de
centro único. A pesquisa foi alicerçada por meio do aceite da orientadora; da
instituição coparticipante, na figura da coordenadora da Unidade de Ensino
Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional (UEAFTO), onde funciona o
Centro Especializado em Reabilitação (CER III); pela autorização da
coordenadora de Ensino e Serviço do Centro de Saúde Escola do Marco (CSEM) da
Universidade do Estado do Pará (UEPA). Em respeito aos preceitos éticos, o
estudo foi conduzido após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humano (CEP) da UEPA sob o número CAAE 36624720.4.0000.5174, seguindo a
Resolução n° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), a Declaração de
Helsinque e o Código de Nuremberg.
A
realização da coleta de dados ocorreu entre os meses de abril e maio de 2021,
desenvolvendo-se com a aplicação de três instrumentos avaliativos por meio de
uma abordagem e preenchimento presencial. Nela, os pesquisadores compareciam ao
local de trabalho de cada profissional (ambulatórios e/ou consultórios
especializados) e realizavam o convite para participarem da pesquisa. Isso tudo
de segunda-feira a sexta-feira, durante os turnos da manhã e da tarde no
período supracitado. Concomitantemente, solicitou-se a leitura e preenchimento
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para os que se enquadravam
nos critérios a serem mencionados, consumando amostra de 49 participantes. Compuseram,
assim, este grupo fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos,
fonoaudiólogos e assistente social; todos atrelados ao serviço de saúde de
reabilitação.
A
seleção dos voluntários no estudo seguiu os referidos critérios de inclusão: ser
profissional de nível superior, de ambos os sexos, acima de 18 anos, com
vínculo empregatício temporário ou efetivo, trabalhando a mais de um ano no
local da pesquisa. Os critérios de exclusão foram: profissionais que estivessem
de férias ou afastados durante a coleta, com mais de dois vínculos
empregatícios voltados à reabilitação e aqueles diagnosticados previamente com
Distúrbios Osteomioarticulares Relacionados ao
Trabalho (DORTs) ou Lesão por Esforço Repetitivo
(LER).
Primeiramente,
aplicou-se a Ficha de Identificação Sociodemográfica e Profissional elaborada e
estruturada pelos próprios pesquisadores, contendo perguntas/itens sobre dados
pessoais e profissionais dos participantes. Em segundo plano, efetivou-se a
aplicação da Escala Satisfação no Trabalho (EST) [4] composta por 25 itens,
todos associados a uma escala de 7 pontos, com as seguintes pontuações: 1
(totalmente insatisfeito), 2 (muito insatisfeito), 3 (insatisfeito), 4
(indiferente) 5 (satisfeito), 6 (muito satisfeito), 7 (totalmente satisfeito);
dividida nas dimensões de satisfação com os colegas (dimensão 1), satisfação
com o salário (dimensão 2), satisfação com a chefia (dimensão 3), satisfação
com a natureza do trabalho (dimensão 4), por fim, satisfação com as promoções
(dimensão 5).
Em
último plano, aplicou-se o questionário de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT),
QWLQ-bref de Cheremeta et
al. [9];
constituído por 20 perguntas, que estão
distribuídas em 4
domínios: domínio 1 ou domínio
físico/saúde; domínio 2 ou domínio
psicológico;
domínio 3 ou domínio pessoal; e, domínio 4 ou
domínio profissional. Os scores
deste questionário para avaliação da Qualidade de
Vida são: 1 ou nada, 2 ou
muito pouco, 3 ou mais ou menos, 4 ou bastante, 5 ou extremamente. No
caso
deste instrumento, utilizou-se uma ferramenta desenvolvida pelos seus
autores
para o cálculo dos dados, de forma que basta tabular os dados
nos locais
específicos e os cálculos serão realizados
automaticamente.
Como
método estatístico, após a coleta de dados foi elaborada uma planilha
eletrônica, para armazenamento dos dados, no software Microsoft Excel® 2010, na
qual cada linha correspondia a um caso e cada coluna a uma variável. Para
representação descritiva dos dados foram elaboradas tabelas, utilizando o
software Microsoft Word®, representando as médias, desvio-padrão, mediana,
intervalo interquartil, mínimo e máximo das distribuições das variáveis
numéricas e as frequências absolutas e relativas para as variáveis categóricas.
Os dados foram processados no software Epi Info 7.2 e o gráfico construído a
partir do software Microsoft Excel® 2010.
A
caracterização ou perfil da população estudada, realizada mediante a Ficha de
Identificação Sociodemográfica e Profissional (com 10 perguntas/itens), foi
dividida em duas categorias. Na Tabela I foram enfatizadas as variáveis
sociodemográficas, considerando os 49 participantes da pesquisa. Com este
princípio, destaca-se o sexo feminino como mais prevalente com 37 (75,51%)
participantes e o predomínio de trabalhadores com o título de pós-graduação com
51,02%.
Tabela
I – Dados
sociodemográficos obtidos durante a pesquisa
Fonte:
Pesquisa de campo, 2021
Posto
isso, na segunda parte da Ficha (Tabela II) estão listadas as cinco variáveis
profissionais, nas quais se destaca: a maior fração desses profissionais
composta por fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, aproximadamente 84% dos
indivíduos. Dos 49 voluntários da pesquisa, apenas 18 (36,73%) eram
temporários.
Tabela
II – Dados
profissionais obtidos durante a pesquisa
Fonte:
Pesquisa de campo, 2021
Adiante,
na Tabela III, apresentam-se as medidas de tendência central e dispersão das
variáveis idade e tempo de atuação profissional em anos na Unidade de Ensino
Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional (UEAFTO)/Centro Especializado
em Reabilitação (CER III).
Tabela
III – Análise
complementar das variáveis da Ficha de Identificação Sociodemográfica e
Profissional
Fonte:
Pesquisa de campo, 2021. DP = Desvio-padrão; Q1 = primeiro quartil; Q3 =
terceiro quartil
Os
resultados correspondentes a Escala de Satisfação no Trabalho, na Tabela IV,
compreendem as dimensões: a primeira dimensão, que trata sobre o contentamento
com a colaboração, amizade, confiança e o relacionamento mantido com os colegas
de trabalho; a segunda, do contentamento com o salário se comparado com o
quanto o indivíduo trabalha, com sua capacidade profissional, custo de vida e
os esforços feitos para realizar sua função; terceira dimensão, portanto,
contentamento com a organização e capacidade profissional do chefe, seu
interesse pelo trabalho dos subordinados e entendimento entre eles; quarta
dimensão, contentamento com o interesse despertado pelas tarefas, com a
capacidade de elas absorverem o trabalhador e a variedade destas; quinta
dimensão, ou seja, o contentamento com o número de vezes que já recebeu
promoções, garantias oferecidas a quem é promovido, maneira como são realizadas
promoções e com o tempo de espera para ser promovido.
Tabela
IV – Dimensões da
Escala de Satisfação no Trabalho (EST)
Fonte:
Pesquisa de campo, 2021. DP = Desvio-padrão, Q1= primeiro quartil, Q3= terceiro
quartil
Conquanto,
para a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), de acordo com a porcentagem (Figura
1) abordada a partir do instrumento QWLQ-bref, têm-se
os domínios: físico/saúde, dos aspectos atrelados à saúde, doenças relacionadas
ao trabalho e hábitos dos trabalhadores; psicológico, sobre satisfação pessoal,
motivação no trabalho e autoestima dos trabalhadores; pessoal, dos fatores
ligados à família, crenças pessoais, cultura e como influenciam no trabalho;
profissional, que trata da influência das questões organizacionais na vida dos
trabalhadores.
Fonte:
Pesquisa de campo, 2021
Figura
1 – Porcentagem dos
domínios e geral de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)
Muitas
pesquisas preocuparam-se em abordar o perfil sociodemográfico dos profissionais
da área da saúde e, nos últimos anos, é crescente na literatura a presença de
publicações destacando o predomínio da população do sexo feminino entre esses
trabalhadores [10,11,12,13]. Em conformidade, com esses recentes achados, a amostra
deste estudo é composta por 75,51% de pessoas deste sexo no setor de
reabilitação.
A
predominância de rendas entre 4 e 8 salários é importante de ser analisada para
a futura compreensão no que concerne a Satisfação no Trabalho, à luz da
remuneração [4,5,6,7]. A parcela maioritária de profissionais com pós-graduação
também constitui fato de extrema importância, considerando o local onde foi
realizada a pesquisa. Afinal, os atendimentos no setor de reabilitação envolvem
conhecimentos específicos para cada área de atuação e são realizados de acordo
com as demandas da população atendida no local, logo, no Centro Especializado
em Reabilitação da UEPA. Sendo assim, essa formação proporciona subsídios
técnico-pessoais para atuação profissional mais crítica e qualificada,
ampliando o olhar para novas possibilidades dentro da restauração em saúde do
paciente/cliente/usuário [14].
Percebe-se,
além do sinalizado, a consonância entre as variáveis destacadas de idade e
tempo de atuação profissional na instituição. Essa análise complementar pode
ser efetivada uma vez que, quanto maior for a média de idade, maior será o
tempo de atuação por se tratarem de quesitos proporcionais [15]. Todavia, essa
afirmativa é considerada verdadeira, apenas, caso seja considerado o fato de a
maioria dos trabalhadores serem efetivos neste local.
Com
base nos expostos acerca do perfil desenvolvido da amostra, conjuntamente,
faz-se imprescindível compreender as análises descritivas da Escala de
Satisfação no Trabalho (EST) [4] e do QWLQ-bref [9]
de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). No primeiro caso, considera-se um grau
de insatisfação no trabalho para números a meio-termo de 1 e 3,9; indiferença
quando a satisfação permanece entre 4 e 4,9; a satisfação tende a estar
compreendida na faixa de 5 e 7 [4]. Por sua vez, no QWLQ-bref
reforça-se Qualidade de Vida muito insatisfatória a meio de zero e 22,5%;
insatisfatória entre 22,5 e 45%; neutra de 45 a 55%; satisfatória de 55 até
77,5%, e muito satisfatório compreenderia valores de, no mínimo 77,5 e no
máximo 100% [9,16].
Primordialmente,
é necessário destacar que a dimensão de satisfação com os colegas neste estudo
comprova nível de agrado com média igual a 5,4 ± 0,8; incluindo espírito de
colaboração, amizades, bom relacionamento interpessoal, quantidade de amigos e
confiança nos colegas. Contudo, para Andrade et al. [17], muitas vezes,
é difícil o estabelecimento desses valores considerados altos. A presente
assertiva é feita por exposto fato demandar abdicação frente à satisfação das
necessidades pessoais em benefício da coletividade, então, o pensamento
individual costuma prevalecer.
No
presente estudo, a análise descritiva da Escala de Satisfação no Trabalho (EST),
considerando-se a amostra total permitiu afirmar que os indivíduos apresentaram
indiferença na média de 4,7 ± 0,9, semelhante ao encontrado por Roldan et al. [18]
profissionais de uma rede de
farmácias, situada em Fortaleza, Ceará. Da mesma maneira,
a indiferença é
identificada nas questões que envolvem o salário ou
esforços despendidos em
suas atividades laborais e a relação com a chefia,
médias 4 ± 1,3 e 4,8 ± 1,5,
respectivamente [4]. Esses dois domínios incluem situações de
satisfação tendo em vista os salários adequados para o custo de vida e
entendimento com seu chefe.
Em
relação às promoções, estas sofrem interferência direta dos gestores à medida
que investem em condições para a criação no trabalho e, indiretamente,
influencia na visão sobre contentamento com a natureza do ofício [19]. Sem
contraposição, com os dados relacionados é possível considerar esta afirmação
para a satisfação com a natureza do trabalho, no entanto, com as promoções o
efeito não foi positivo. No último caso, insatisfação é de 3,8 ±1,4 e pode ser
justificada pelo fato de serem servidores públicos sem níveis de progressão
dentro do serviço de saúde de reabilitação.
Da
satisfação global, para o cenário dos profissionais do setor de segurança
pública (policiais militares) no estado do Rio Grande do Sul, segundo Almeida et
al. [20], por exemplo, a insatisfação notada é de 3 ± 1,6. Tal constatação
pode ser explicada em parte pela enorme exigência de cumprimento em relação às
regras e hierarquias dentro dos ambientes militares. Isso tem diversas causas,
tais quais: falta de reconhecimento dos superiores, sentimento de ameaça e
insegurança constantes, descontentamento com a justiça. Dessarte,
para os trabalhadores de reabilitação as exigências seriam as mesmas, mas com
cobrança menos veemente e/ou incisivas. E, apesar de não haverem apresentado
plena satisfação global, não demonstram insatisfação.
Quanto
a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), nas Minas Gerais, um grupo de Educação
Permanente em Saúde (EPS) formado por fisioterapeutas, fonoaudiólogos,
educadores físicos, agentes de endemias, dentistas, médicos e outros,
demonstrou no domínio físico/saúde score de 64,58%, próximo ao detectado nesta
pesquisa de 65,43%, ambos satisfatórios. Nas duas situações, os participantes mostraram-se
contentes com sua qualidade de sono, conforto no ambiente de trabalho e
realização de necessidades fisiológicas básicas durante o dia a dia
profissional [21].
Seguindo
a lógica de debate, uma equipe de profissionais intensivistas em um hospital de
ensino trouxe à tona um valor de 70,05% profissionais satisfeitos para o
domínio psicológico [22], valor bem próximo ao encontrado nesta pesquisa de
71,77%. Por isso, ambas as amostras se manifestam realizadas perante a
motivação diária para trabalhar, liberdade de expressão e orgulhosos com a
profissão escolhida. Não obstante, para Boff e Nodari
[23], que estudaram enfermeiros na Atenção Básica de Saúde, os resultados
também seguem a mesma linha neste quesito de 60,19%, ainda que sejam menores estão
na margem de satisfação. Os estudos citados [22,23] demonstram a satisfação de
profissionais da saúde em seus locais de trabalho para o domínio psicológico da
Escala de Satisfação no Trabalho (EST), independente
do nível de atenção à saúde (terciário ou primário), concordando com os achados
desta pesquisa realizada no secundário.
No
tocante ao domínio pessoal, o estudo de Silva et al. [24] semelhante ao
apresentado, encontrou altos índices no domínio pessoal de 93,75% para a
categoria profissional de dentistas atuantes em um Centro de Especialidades
Odontológicas (CEO), indicando muita satisfação. De outro lado, o domínio
pessoal na Unidade de Ensino Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional
(UEAFTO)/Centro Especializado em Reabilitação (CER III) indica satisfação
quanto à Qualidade de Vida em média de 74,62%; em razão de as famílias
aprovarem as profissões dos participantes da amostra, firmarem boa relação com
seus superiores, haver respeito entre os colegas e compartilharem um sentimento
de realização profissional.
Por
outra visão, no domínio profissional, enfermeiras de Hospitais Gerais das três
esferas governamentais (municipal, estadual e federal) em São Luís do Maranhão,
mostraram-se neutras (52,81%) a respeito da liberdade de inovar no trabalho,
igualdade de tratamento, orgulho da organização, participação nas decisões,
nível de responsabilidade, treinamentos, capacitações ofertadas, variedade de
tarefas e espírito de camaradagem. Em outras palavras, não consideram que as
questões ligadas à gestão dos seus locais de trabalho interfiram na Qualidade
de Vida. Mesmo assim, a maior parcela dos domínios encontra-se na faixa
satisfatória (55 a 77,5%), tal como se encontram os resultados de todos os
domínios desta pesquisa [25].
De
modo geral, a Qualidade de Vida no Trabalho nos estudos analisados descreve uma
satisfação frente aos tópicos analisados [21,22,23,24,25]. Todos esses achados
demonstram e recrudesce uma capacidade, minimamente, eficaz e satisfatória dos
gestores proporcionarem ambientes adequados para a prática profissional. O
mesmo demonstra acontecer na Unidade de Ensino Assistência em Fisioterapia e
Terapia Ocupacional (UEAFTO)/Centro Especializado em Reabilitação (CER III),
local do estudo, situado na cidade de Belém, capital do estado do Pará. Não se
encontrou, até o momento desta pesquisa, nenhum estudo parecido com este que
foi realizado com profissionais da área da saúde de reabilitação. Isto
dificulta a discussão e abre espaço para que novas pesquisas sejam realizadas
com esse grupo de pessoas.
A
presente contribuição científica efetivou seu papel principal ao medir o grau
de Satisfação e Qualidade de Vida no ambiente de trabalho dos profissionais da
área da saúde de um Centro Especializado em Reabilitação de Belém do Pará.
Também, oportunamente desenvolveu o perfil sociodemográfico da população
pesquisada. Trouxe conhecimento a respeito das temáticas estudadas,
contribuindo com a gestão e/ou setor organizacional por meio de seus resultados
para a construção de um ambiente de trabalho favorável às práticas
profissionais.
Além
de tudo, propiciou novos conhecimentos sobre os assuntos que servirão de base
para estudos posteriores. É sugerido à gestão da Unidade de Ensino Assistência
em Fisioterapia e Terapia Ocupacional (UEAFTO)/Centro Especializado em
Reabilitação (CER III) o diálogo com os órgãos estaduais responsáveis pela
formulação de políticas que visem à promoção dos servidores no local de estudo,
posto que foi o único critério considerado indiferente na pesquisa. Ao final,
uma das limitações apontadas é a dificuldade em encontrar estudos para comparar
os achados alcançados, essencialmente para profissionais ligados à
reabilitação. Sem embargo, destaca-se a indispensabilidade na realização de
novos estudos para a construção de um conhecimento consolidado no tema.
Conflitos
de interesse
Os
autores declaram não haver quaisquer conflitos de interesses na realização da
pesquisa.
Fontes
de financiamento
A
pesquisa contou com financiamento dos próprios pesquisadores.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Almeida CP, Machado AH; Coleta de dados: Almeida CP; Análise e
interpretação dos dados: Xavier SS, Almeida CP; Análise estatística:
Xavier SS; Redação do manuscrito: Almeida CP; Revisão crítica do manuscrito
quanto ao conteúdo intelectual importante: Almeida CP, Machado AH.