ARTIGO
ORIGINAL
Respostas
na composição corporal e performance após 8 semanas de
treinamento do método Pilates
Body composition and performance response after 8 weeks of Pilates method training
Talita Santos Viana*,
Luis Claudio Paolinetti Bossi*, Ticiane Marcondes Fonseca da Cruz**, Clodoaldo
José Dechechi***, Charles Ricardo Lopes****
*UniFAE - São João da Boa Vista, **Universidade Metodista de
Piracicaba- Programa de Pós-graduação em Educação Física, ***Universidade
Estadual de Campinas, ****Universidade Metodista de Piracicaba, Programa de
Mestrado e Doutorado em Ciências do Movimento Humano, Faculdade Adventista de
Hortolândia
Recebido em 9 de maio de 2014; aceito em 12 de dezembro de 2015.
Endereço
para correspondência:
Charles Ricardo Lopes, Faculdade de Educação Física UNIMEP 13400-911 Piracicaba
SP, E-mail: charles_ricardo@hotmail.com
Resumo
Introdução: Poucos estudos
relatam a utilização com sequências de exercícios do método Pilates e a
descrição das variáveis de treinamento utilizadas. Assim, torna-se necessário
analisar os efeitos das variáveis de treinamento em uma aula de Pilates com
equipamentos. Objetivos: Analisar os efeitos da sobrecarga do Método Pilates
com aparelhos na composição corporal, flexibilidade e salto horizontal em
indivíduos do sexo feminino após 8 semanas de
treinamento. Material e métodos:
Participaram do estudo 24 mulheres fisicamente ativas e saudáveis, com idade
entre 18 e 35 anos; peso: 62,02 ± 3,2 kg; estatura: 167 ± 4,1 cm. As
voluntárias foram divididas randomicamente em dois grupos: 12 voluntárias no
grupo de treinamento periodizado com o método Pilates (GP) e 12 no grupo
controle (GC), totalizando 24 sessões de treinamento. A composição corporal foi
obtida pelo método duplamente indireto, mensurando a espessura de dobras
cutâneas, por meio de um plicômetro (Sany®); a flexibilidade, utilizando o
teste com o banco de Wells; e o salto horizontal parado, realizando três
tentativas de salto, com intervalo mínimo de 40 segundos entre os mesmos. A
normalidade e homogeneidade das variâncias foram verificadas por meio do teste
de Kolmogorov-Smirnov e de Levene, respectivamente. Anova (2x2) medidas
repetidas com os fatores de grupo (GP versus GC) e condição (pré e pós) foi
utilizada para verificar diferenças significativas para as variáveis:
composição corporal, salto e flexibilidade. Uma significância (?) de 5% foi
utilizada para todos os testes estatísticos. Resultados: Foram observadas reduções significativas nos momentos
pré x pós-sessão para flexibilidade. Conclusão:
A manipulação da sobrecarga no Método Pilates com aparelhos parece ser efetiva
para a melhora da flexibilidade em mulheres fisicamente ativas.
Palavras-chave: composição
corporal, treinamento de resistência, mulheres.
Abstract
Introduction: Few studies have reported the use of sequences with Pilates
exercises and the description of the training variables. Thus, it becomes
necessary to examine the effects of training variables in Pilates
class with equipment. Objectives: To
assess the effects of training variables in Pilates
method with apparatus in body composition, flexibility and vertical jump in
female subjects after 8 weeks of training. Methods:
The study included 24 healthy and physically active women, 18 to 35 years old;
weight: 62.02 ± 3.2 kg height: 167 ± 4.1 cm. The volunteers were randomly
divided into 2 groups: 12 volunteers in the group of periodized
training with Pilates (GP) method, and 12 in the control group (CG), with a
total of 24 training sessions. Body composition was obtained by doubly indirect
method, by measuring skinfold thickness, using a caliper (Sany
®), for the flexibility test was used the Wells bench and the horizontal jump
test was performed with three attempts to jump, with a minimum interval of 40
seconds between them. The normality and homogeneity of variances were verified
using the Kolmogorov-Smirnov and Levene test,
respectively. ANOVA (2 x 2) repeated measures with the factors group (PG versus
CG) and condition (pre and post) was used to determine significant differences
in body composition variables, jump and flexibility. Significance (?) of 5 %
was used for all statistical tests. Results:
Significant reductions in post-session for flexibility moments pre x post. Conclusion: The manipulation of training
variables in Pilates with apparatus seems to be effective for improving
flexibility in physically active women.
Key-words: body
composition, resistance training, women.
O surgimento do
Método Pilates ocorreu durante a 1ª Guerra Mundial, quando o alemão Joseph
Hubertus Pilates aplicou seu conhecimento para reabilitar os lesionados da
guerra. O método é baseado em cinco princípios-chave: centralização,
concentração, controle, precisão e respiração [1], por meio de exercícios
realizados no solo, aparelhos e acessórios criados por Joseph Pilates (fitness
circle, reformer, cadillac, cadeira combo, barril), contendo molas que são as
responsáveis por adicionar resistência aos movimentos durante a fase de contração
excêntrica [2].
Na
última década a
popularidade desse método de exercício físico
despertou interesse de
pesquisadores, resultando em elevado número de estudos
disponíveis na
literatura, que associam tal método a diversos benefícios
para a saúde. Os
distúrbios na coluna lombar são os mais investigados
[3,4], bem como aumento da
capacidade funcional e melhora da qualidade de vida [5-9]. A sobrecarga
utilizada nas aulas com equipamentos e também as
variáveis de treinamento como
número de séries e repetições é
definida através da utilização de molas, as
quais promovem resistência ou facilitação de carga
frente ao aparelho
utilizado. Poucos estudos relatam a utilização com
sequências de exercícios do
método com o número de séries,
repetições e a sobrecarga utilizada [5,10,11]. Assim, torna-se necessário analisar os efeitos das
variáveis de treinamento em uma aula de Pilates com equipamentos.
Para que ocorram
adaptações fisiológicas no organismo durante o treinamento é necessário que
exista um aumento de intensidade e volume e também da sobrecarga imposta à
musculatura.
Considerando-se
a
escassez de estudos que demonstrem a efetividade/benefício da
manipulação e
utilização da sobrecarga no Método Pilates com
aparelhos em relação às adaptações
fisiológicas e melhora de capacidades físicas, o objetivo
deste trabalho foi
identificar os efeitos da sobrecarga do Método Pilates com
aparelhos na
composição corporal, flexibilidade e salto horizontal em
indivíduos do sexo
feminino após oito semanas de treinamento.
Amostra
Participaram do
estudo 24 mulheres fisicamente ativas e saudáveis, com idade entre 18 e 35
anos; peso: 62,02 ± 3,2 kg; estatura: 167 ± 4,1 cm. As voluntárias foram
divididas randomicamente em dois grupos: 12 voluntárias no grupo de treinamento
periodizado com o Método Pilates (GP) e 12 no grupo controle (GC). Todas as
participantes foram informadas sobre a pesquisa antes de concordar e assinaram
um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os critérios para
participação deste estudo foram os seguintes: participar de atividades físicas
há pelo menos seis meses, não praticar exercício resistido durante a pesquisa,
não possuir lesões osteo-mio-articulares que impedissem a realização dos
movimentos e aumento da sobrecarga e participar de todas as sessões semanais.
Equipamentos
Foram utilizados os
equipamentos da marca Metalife (Cadillac, Reformer, Barril e Cadeira Combo),
cuja intensidade das molas é classificada em uma escala de cores: amarela,
azul, vermelha, prata longa e preta, sendo a amarela classificada como “leve” e
a vermelha “pesada. A intensidade da sobrecarga imposta ao sistema muscular das
molas (tensão) foi mensurada utilizando-se uma balança (Globe Universal), dois
ganchos com formato “S”, fita métrica (Sanny). A aferição da sobrecarga imposta
pelas molas foi verificada pela distância com que as molas se deformavam, sendo
esta análise realizada de duas maneiras: pela distância que as molas atingiam
sem sofrer deformidade: a) primeiro as molas foram encaixadas em um gancho e
tracionadas até o ponto máximo sem ocorrer deformação. A distância atingida foi
anotada e aferida por três vezes obtendo-se a média das três tentativas, e; b)
a fim de conferir a primeira medida, as molas foram conectadas em um gancho e
anilhas de 1 a 2 kg foram adicionadas, a distância atingida foi verificada sem
ocorrer à deformidade da mola. A primeira e a segunda medidas foram iguais, e a
fórmula de Hooke, F = K.x foi utilizada para obter os
valores da sobrecarga imposta pelas molas.
Quadro1 - Características das molas de acordo com a
cor e sobrecarga.
Antropometria
A composição corporal
foi obtida pelo método duplamente indireto, através da mensuração da espessura
de dobras cutâneas, por meio de um plicômetro (Sany®). Para o cálculo da composição
corporal foram utilizadas as equações de Jackson e Pollock [12]. Foram aferidas
as seguintes dobras: peitoral; axilar média; tricipital; subescapular;
abdominal; suprailíaca; coxa. A massa corporal e a estatura foram mensuradas
por meio de uma balança mecânica (Welmy®).
Flexibilidade
Nesse teste o
indivíduo foi posicionado sentado sobre um colchonete, com os pés em pleno
contato com a face anterior do banco de Wells (Cardiomed®) e os membros
inferiores com extensão de joelhos e com os quadris fletidos. Posteriormente ao
correto posicionamento, os indivíduos foram orientados a mover o escalímetro do
banco ao máximo que conseguissem, realizando uma flexão de tronco [13]. O valor
obtido para cada tentativa foi expresso em centímetros (cm) e foi imediatamente
anotado pelo avaliador.
Salto
Horizontal parado (SH)
O teste de SH parado
foi utilizado para verificar o desempenho da potência de membros inferiores.
Este teste foi escolhido por ser de fácil aplicação, de baixo custo, reaplicabilidade
e validade para análises comparativas. Todos os avaliados realizaram
aquecimento e alongamento por 10 minutos e, ao final desse período, saltaram
três vezes como forma de finalizar seu aquecimento. Cada avaliado realizou três
tentativas de salto, com intervalo mínimo de 40 segundos entre os mesmos.
Análise
estatística
Todos os dados foram
reportados através da média e desvio padrão (DP) da média. A normalidade e
homogeneidade das variâncias foram verificadas utilizando o teste de Kolmogorov-Smirnov
e de Levene, respectivamente, com valor de referência significativa de p >
0,1 para o teste Kolmogorov-Smirnov, e de p < 0,05 para o teste de Levine.
Em relação à análise de diferença entre as médias, foi utilizado o teste de
variância ANOVA (2x2) com medidas repetidas com os fatores de grupo (GP versus
GC), e condição (pré e pós) foi utilizada para verificar diferenças
significativas para as variáveis: composição corporal, salto e flexibilidade. O
valor de referência significativa utilizado foi p < 0,05.
Protocolo
de exercícios
Foram realizados três
treinos diferentes durante a semana. A intensidade foi ajustada semanalmente
para o GP, pela carga máxima para cada exercício, este ajuste não foi realizado
para o GC. Os dois grupos realizaram exercício de solo como aquecimento no
início das sessões e exercícios em todos os aparelhos (Reformer, Cadillac,
Barril e Cadeira Combo). O treinamento teve uma frequência de 3 vezes na semana e 8 semanas de duração, totalizando 24
sessões. A sobrecarga foi a mesma para a 1º e 2º
semana para o GP e foram modificadas na 3º e 4º, 5º e 6º e 7º e 8º semanas. O
grupo controle permaneceu com a mesma sobrecarga durante todo o período do
estudo.
Tabela
I - Exercícios utilizados nos treinamentos
semanais.
Os resultados de
ambos os grupos estão expressos na tabela I. Foi observada diferença
significativa (P < 0,05) para o teste de flexibilidade do Grupo
Experimental, comparando o momento pré em relação ao momento após programa de
treinamento.
Tabela
II -
Características antropométricas do grupo
experimental e controle.
¥ P < 0,05 em
relação ao momento Pré.
O método Pilates
periodizado para o grupo experimental contribuiu para melhora significativa da
flexibilidade (P < 0,05). Já para as outras variáveis, não foi observada
diferença significativa.
O presente estudo é
um dos primeiros estudos que investigou os efeitos da periodização do Método
Pilates com aparelhos em mulheres fisicamente ativas. Há uma escassez na
literatura a respeito de estudos que comparam os efeitos da manipulação da
sobrecarga durante um período pré-determinado.
Comparamos os efeitos
da periodização da sobrecarga utilizada em aulas de Pilates com aparelhos em
relação à melhora da flexibilidade, potência e composição corporal. Poucos
estudos na literatura analisaram o Método Pilates de modo periodizado em
mulheres fisicamente ativas. Estudos com atletas foram realizados, mas os
autores não manipularam a sobrecarga utilizada. Hutchinson et al. [14] analisaram a melhora da força de impulsão em atletas
femininas de elite de ginástica rítmica utilizando o Método Pilates com
aparelho e treinamento em piscina por um período de 4 semanas, reportando uma
melhora no tempo de reação do solo, altura do salto e impulsão. Em nosso estudo
não se observou melhoras significativas para a impulsão. El-Sayed et al. [16] observaram melhoras
significativas em atletas de vôlei no salto vertical após treinamento com o
Método Pilates associado a treino específico de voleibol. No entanto, esses
estudos [14,16], além de não utilizarem grupo controle, não aplicaram
exclusivamente o Método Pilates com os sujeitos, treinando também as atividades
esportivas simultaneamente. Deste modo, não é possível concluir que o Método
Pilates tenha sido o responsável pelo desenvolvimento desta capacidade. A
composição corporal não sofreu alterações com o treinamento periodizado
aplicado no presente estudo. No estudo de Erkal [11] foram relatadas melhoras
na composição corporal de mulheres durante 8 semanas
com treinamento de Pilates, uma das possíveis causas para este resultado
justifica-se pela amostra ter sido constituída por mulheres sedentárias de meia
idade, já em nosso estudo a amostra foi composta mulheres jovens e ativas. O
American College of Sports Medicine (ACSM) [15] indica a necessidade de 250
minutos semanais de atividade física para variações significativas na
composição corporal, justifica-se a não observância de melhora com as
atividades do presente estudo, pois o mesmo utilizou-se de 180 minutos semanais
de atividade física. Além disso, a não intervenção nutricional durante o
período de estudo também pode ter contribuído para este resultado.
Em adição, Bertola,
Baroni e Junior et al. [13] encontraram melhora
significativa na flexibilidade com quatro semanas de treinamento em atletas
juvenis de futsal corroborando os resultados de nosso estudo que obteve
melhoras significativas na flexibilidade em relação ao grupo controle. Assim
como Bertola et al. [15], Segal et al. [5] e Sekendiz et al.
[7] que também encontraram diferença significativa na flexibilidade com o
Método Pilates, porém as amostras utilizadas foram mulheres sedentárias e
sujeitos fisicamente ativos respectivamente. O ajuste semanal da intensidade da
sobrecarga para o grupo GP pode ter contribuído para este resultado em relação
ao grupo GC, uma vez que os exercícios utilizados foram os mesmos para ambos os
grupos. Os efeitos da melhora da flexibilidade também podem ser explicados pelo
foco específico do Método Pilates através da resposta mecânica tanto dos
tecidos contráteis quanto dos tecidos não contráteis e da resposta
neurofisiológica relacionada à manipulação dos controles das variáveis de
treinamento propostas neste estudo. A frequência da prática de três vezes por
semana com controle de intensidade e volume também são apropriados para a
promoção da melhora da flexibilidade como visto nos estudos citados
anteriormente. O Método Pilates é uma combinação de exercícios estáticos e
dinâmicos de alongamento que contribuem para a melhora da flexibilidade.
O estudo de Cruz et al. [17] não encontrou melhoras
significativas na composição corporal e nas capacidades físicas analisadas em
jovens atletas de basquete ao realizarem 6 semanas de Método Pilates com
aparelhos de maneira periodizada. Neste estudo o número de séries, repetições e
pausa foram manipulados, no entanto não houve um controle da sobrecarga
utilizada. Pertile [18] também não encontrou melhoras significativas na
flexibilidade e na força isométrica do tronco de jovens atletas de futebol
durante a prática de 4 semanas do Método Pilates-solo.
Por fim, uma
limitação deste estudo merece ser destacada. A falta de uma intervenção
nutricional durante o programa de treinamento pode ter exercido influência nas
respostas da composição corporal. Contudo, os dados aqui encontrados sinalizam
que maior atenção deve ser dada à manipulação da sobrecarga nas aulas do Método
Pilates.
Em conclusão, os
resultados mostraram que a manipulação da sobrecarga no Método Pilates com
aparelhos foi efetiva para a melhoria da flexibilidade em mulheres fisicamente
ativas. Porém, não foram observadas alterações significativas no salto
horizontal e composição corporal. Mais estudos, em sujeitos com diferentes
níveis de aptidão física e com outros protocolos de exercícios do método (solo,
por exemplo), devem ser realizados para elucidar um pouco mais o tema em
questão.