Fisioter
Bras 2021;22(6):904-11
RELATO
DE CASO
Rejuvenescimento
periorbicular por indução ultrassônica: um estudo de casos
Periorbicular rejuvenation by ultrasonic induction:
a report case
Isadora Nascimento
Fernandes, M.Sc.*, Maria José Alves Silva**, Pedro Ricardo
Paulino Menezes***, Lucas Henrique Ferreira Sampaio, D.Sc.****
*Universidade
Estadual de Goiás, Anápolis/GO, **Especialista em Gestão e Biossegurança em Estética,
Universidade Estadual de Goiás, Campus Laranjeiras, Goiânia/GO, ***Bacharel em Engenharia
Eletrônica, Universidade Complutense de Madrid, ****Docente
do Programa Stricto Sensu de Ciências Aplicadas a Produtos para Saúde, Universidade
Estadual de Goiás, Anápolis/GO
Recebido
em 8 de julho de 2021; aceito em 9 de dezembro de 2021.
Correspondência: Lucas Henrique Ferreira Sampaio, Universidade
Estadual de Goiás, Parque das Laranjeiras, Rua Prof. Alfredo de Castro, 9175, 74855-130
Goiânia GO
Isadora
Nascimento Fernandes: isadora_nascim@hotmail.com
Maria
José Alves Silva: mariajoseestetica@hotmail.com
Pedro
Ricardo Paulino Menezes: prp@pedroricardo.com
Lucas
Henrique Ferreira Sampaio: lucas.sampaio@ueg.br
Resumo
A blefaroplastia é atualmente o tratamento cirúrgico mais indicado
na reversão dos efeitos do envelhecimento palpebral. Porém, a técnica é cara, extremamente
invasiva, com recuperação pós-cirúrgica lenta e só pode ser realizada por cirurgiões
em ambiente hospitalar. O ultrassom tem se mostrado um método seguro e eficaz no
tratamento antienvelhecimento cutâneo, mas pouco se tem pesquisado sobre o efeito
do ultrassom na dermatocalase. Este estudo piloto têm
como objeto avaliar um emissor ultrassônico no tratamento de rejuvenescimento da
região periorbicular. Trata-se uma pesquisa qualitativa
descritiva de estudo de casos, no qual foram avaliadas duas voluntárias submetidas
a tratamento com ultrassom. Após as sessões, foi possível observar retomada de viço
e redução de flacidez palpebral, com consequente minimização da dermatocalase e rugas adjacentes. O uso do ultrassom se mostrou
satisfatório e eficaz, principalmente na remodelação na região acometida por dermatocalase. Além disso, a técnica apresenta melhor custo-benefício
e recuperação pós-procedimento mais curta em relação a outras terapias atualmente
empregadas para tratamento da região periorbital.
Palavras-chave: ultrassom; envelhecimento da pele; rejuvenescimento.
Abstract
Blepharoplasty is currently the most
indicated surgical treatment for reversing the effects of
eyelid aging. However, the technique
is expensive, extremely invasive, with slow post-surgical recovery and can only
be performed by surgeons in a hospital environment. Ultrasound has been shown
to be a safe and effective method
for skin antiaging treatment, but little has been
researched on the effect of ultrasound on dermatochalasis. This pilot study
aims to evaluate
an ultrasonic emitter in the rejuvenation treatment of the periorbicular
region. This is a qualitative descriptive case study research, in which two volunteers
who underwent treatment with ultrasound were evaluated. After the sessions,
it was possible to observe resumption of freshness and
reduction of eyelid flaccidity, with a consequent minimization of dermatochalasis and adjacent wrinkles. The use of ultrasound proved
to be satisfactory
and effective, especially in remodeling the region affected
by dermatochalasis. In addition, the ultrasound
technique is more cost-effective and have shorter post-procedural recovery compared to other therapies
used to treat
the periorbital region.
Keywords: ultrasound; skin aging; rejuvenation.
A
área periorbital é uma das primeiras regiões faciais a
mostrar sinais de envelhecimento [1]. Perturbações nesta área podem causar uma aparência
prematuramente envelhecida e queixas de má interpretação emotiva (aparência cansada,
triste e zangada) [2]. Devido às suas propriedades únicas, como a espessura reduzida
da derme e epiderme, a região periorbital requer tratamentos
especializados [3]. Um fenômeno conhecido como blefarocalase
ou dermatocalase pode se apresentar como bolsas e dobras
e se caracteriza pelo excesso de pele e depósito de tecido adiposo na pálpebra [1].
Os
métodos cirúrgicos para o rejuvenescimento da região periorbital
incluem o levantamento de sobrancelhas, o enxerto de gordura estrutural e a blefaroplastia. Porém estes métodos são muito invasivos, caros,
apresentam efeitos adversos, recuperação difícil e possibilidade de danos permanentes
nos canais lacrimais [4]. Entre as alternativas não cirúrgicas estão peelings químicos
e terapias laser [3]. Contudo, esses tratamentos nem sempre são eficazes para levantar
ou retrair a pele orbicular [5].
O
ultrassom (US) tem se mostrado um método seguro e eficaz para melhorar a flacidez
da pele, por meio da coagulação e retração do tecido dérmico. Por isso o US também
pode ser uma opção para o rejuvenescimento facial de regiões delicadas, como as
áreas periorbiculares [6]. Assim o objetivo deste trabalho
foi relatar em um estudo de casos de correção da dermatocalase,
por procedimento estético não invasivo com ultrassom.
Este
estudo piloto é um trabalho qualitativo de descrição de casos, no qual foi analisado
a evolução de duas pacientes diferentes, submetidas ao mesmo protocolo de tratamento,
com ultrassom para rejuvenescimento da região periorbicular.
Para
a realização do estudo foi utilizada para cada paciente a ficha de anamnese facial,
com levantamento de dados sobre envelhecimento e avaliação do grau de satisfação
pós-tratamento das voluntárias. Foram incluídas no estudo duas pacientes que apresentavam
envelhecimento grau III, conforme a escala de Glogau,
com rugas visíveis estáticas e dinâmicas na região perirbital.
O
protocolo seguiu as mesmas etapas para as duas pacientes, com higienização e aplicação
do ultrassom Dermeclean® [7].
Foram realizadas 2 sessões,
com duração de 40 minutos e intervalos de 20 dias entre
elas. O protocolo usado
consistiu na higienização da região com sabonete
líquido antisséptico. Após
higienização
foi utilizado aparelho emissor de ultrassom, com ponteiras de
precisão no modo pontilhado
por 5 minutos, associado ao uso do soro fisiológico. Em
sequência, uma ponteira
de precisão foi substituída por uma ponteira tipo T, que
foi usada no modo arraste por 15 minutos. Após o estímulo com a indução do equipamento,
o protocolo foi finalizado com protetor solar branco sem totalizante. Foi orientada
a realização de home care com uso de protetor FPS 40.
Este
estudo foi aprovado Comitê de Ética da Universidade Estadual de Goiás. As voluntárias
aceitaram participar da pesquisa após assinatura do Termos de Consentimento Livre
e Esclarecido e de Uso e Autorização de Imagem.
Caso 1
Paciente
mulher, 43 anos e fototipo grau 2, segundo a escala de
Fitzpatrick. Apresentava envelhecimento grau II a III,
conforme Classificação de Glogau, rugas dinâmicas visíveis
com presença de lentigos senis, telangectasias,
leves queratoses solares e melasma.
A voluntaria apresentava excesso de pele e presença de flacidez acentuada na sobreposição
da pálpebra fixa superior.
Após
a realização do tratamento, observou-se visível melhora na textura da pele e viço.
As rugas finas na pálpebra inferior foram reduzidas, bem como foi notado clareamento
da região (Figura 1). Na pálpebra superior, houve redução bastante visível da flacidez
e consequente amenização do aspecto de caimento da região, especialmente nas porções
laterais. Também se observou aparente inclinação e levantamento da sobrancelha,
bem como redução de rugas e da dermatocalase da pálpebra
inferior. A voluntaria relatou opinião “muito satisfatória” em relação ao procedimento.
Caso 2
Paciente
mulher, 58 anos fototipo grau 3. segundo a escala de Fitzpatrick. Apresentava envelhecimento tipo III a IV, conforme
Classificação de Glogau. Presença de rugas dinâmicas,
estáticas e generalizadas mesmo na ausência de movimentação. Mostrava lentigos senis, telangectasias, queratoses solares e flacidez, sobretudo presença de dermatocalase, sobreposição cutânea da pálpebra superior, moderada
aparição na pálpebra inferior.
Figura
1 - Foto da voluntária
Caso 1. Rugas nítidas na região inferior palpebral, presença de dermatocalase significativa na pálpebra superior, e flacidez.
Na Imagem B, nota-se a redução da dermatocalase, levantamento
da pálpebra fixa superior, moderada redução do deposto adiposo na pálpebra inferior,
aparência de tom mais iluminada e uniforme e redução de rugas dinâmicas na parte
inferior
A
partir do tratamento foi observada redução significativa da flacidez palpebral,
com diminuição de dermatocalase na pálpebra superior.
Foi observada discreta melhora na pálpebra inferior, redução de rugas finas na região
de sulco glabelar e externa do olho. Foi percebida ainda
melhora no aspecto das olheiras na pálpebra inferior (Figura 2). A voluntaria relatou
opinião “bastante satisfatórias” em relação ao procedimento, com maior facilidade
na movimentação da pálpebra e na aplicação de produtos cosméticos, como maquiagem
e cremes de uso diário.
Figura
2 - Foto da voluntária
Caso 2. No momento A, antes do início do tratamento, nota-se acentuada caimento
da pele sobre as pálpebras, rugas lateralizadas aos olhos, região glabelar com rugas aparentes, e moderada deposição adiposa,
característica da dermatocalase na pálpebra inferior.
Imagem B, demonstra a fase posterior ao tratamento com US, abordando a redução da
flacidez e dermatocalase superior, minimização das rugas
destacadas na imagem A, pele com aparência mais iluminada e viço
Este
estudo analisou o uso de terapia ultrassônica em duas pacientes voluntárias, apresentando
rugas periorbitais, dermatocalase
e flacidez palpebral. Os achados deste estudo mostraram que a terapia com US foi
visivelmente positiva aos pesquisadores e considerados muito satisfatórios pelas
participantes. Antes dos procedimentos do presente trabalho, era nitidamente perceptível
o decaimento das sobrancelhas das pacientes, que tinham aspecto de olhar cansado
e entristecido, decorrente da sobreposição de pele.
A
terapia ultrassônica proporcionou uma redução do desabamento periorbicular, atestado pelas imagens pós-procedimento e pela
opinião pessoal das voluntárias. As ondas ultrassônicas promovem um aquecimento
no interior do tecido, induzindo a degradação do colágeno antigo e quaternariamente desestruturado. As ondas ultrassônicas permitem
a propagação de energia de maneira focalizada e controlada [8]. O US promove ainda
uma cascata inflamatória que induz a neocolagênese e a
neoelastogênese. O US penetra mais profundamente
no tecido dérmico, causando coagulação térmica, mas também evita os efeitos adversos
de tratamentos mais superficiais, como a radiofrequência e os peelings químicos
[9].
O US causa a contração térmica retrátil da
derme. O US também causa remodelação
e sustentação das estruturas dérmicas preenchedoras adjacentes
ao colágeno, como a substância fundamental amorfa e do glicosaminoglicano. O efeito
térmico é confinado a pequenas regiões focais dentro da derme, poupando a epiderme
sobreposta [10].
Uma
das opções médicas invasivas mais adotas em casos de flacidez palpebral é a blefaroplastia, que consiste na retirada do excesso de pele
e tecido subcutâneo. A blefaroplastia é bastante invasiva,
com extirpação da pele e requer muito cuidado durante a recuperação pós-procedimento
[11]. Em relação ao tempo de recuperação, a blefaroplastiaexige
cerca de 10 dias para redução dos desconfortos e edema.
Também se observa
uma cicatrização demorada. São relatadas, ainda,
complicações pós-operatórias mais
graves, como o desenvolvimento da síndrome do olho seco [12].
Quando
comparando com terapias mais invasivas disponíveis os resultados deste estudo com
ultrassom foram considerados positivos, pois o único cuidado pós-procedimento é
o uso de protetor solar. No ultrassom não há exigência de recuperação ou risco de efeitos
adversos mais graves, como a ocorrência de síndrome do olho seco.
Este
estudo considera os achados satisfatórios, levando-se em conta também o relato das
pacientes na melhora de mobilidade da região e bem-estar com a aparência mais harmônica.
E em confronto com outras técnicas mostra-se mais acessível, aplicação mais confortável,
considerado praticamente quase indolor, com reduzido tempo de recuperação, sem necessidade
de repouso absoluto pós-procedimento, por se tratar de uma técnica não invasiva.
Este
estudo piloto não prova que a técnica de ultrassom será sempre eficaz na melhoria
dos sinais de envelhecimento periorbicular e dermatocalase. Porém este trabalho mostra que o ultrassom pode
ser uma técnica pouco invasiva, mais barata e eficiente em substituição aos procedimentos
atualmente usados para o envelhecimento periorbicular.
Estudo comparativos, com maior quantitativo de pacientes, devem ser realizados para
determinar com maior precisão o efeito do ultrassom. Para melhor confiabilidade
dos resultados, recomendamos a realização de estudos clínicos, com grupos controles
e maior número de participantes.
O
uso do ultrassom se mostrou satisfatório e eficaz neste estudo de casos na remodelação
da região periorbicular acometida por dermatocalase. Além disso esta técnica apresenta menor custo-benefício
em relação as demais terapias para rejuvenescimento palpebral e periocular. Assim,
estudos com maior quantitativo de voluntários e comparação com grupos controles
podem comprovar que o ultrassom pode ter futuras aplicações seguras, eficientes
e mais confortáveis para tratamento destas afecções estéticas.
Agradecimentos
Agradecemos
a participação das voluntárias. Ao apoio da UEG, facilitando e possibilitando o
desenvolvimento desta pesquisa. E a Pós-Graduação Stricto Sensu UEG, pela concessão
de bolsa de mestrado à Isadora Nascimento.
Conflito
de interesse
Não
existe conflito de interesse.
Contribuição
dos autores
Realização
dos procedimentos e redação do artigo: Fernandes IN; Silva MJA: Recrutamento de pacientes
e realização de procedimentos: Silva MJA; Desenvolvimento do equipamento:
Menezes PRP; Planejamento e orientação do estudo, redação, submissão e correção
do artigo: Sampaio LH
Financiamento
A
pesquisa não recebeu recursos financeiros institucionais e/ou privados para sua
realização, além da bolsa de mestrado da pesquisadora Isadora Nascimento.