Fisioter
Bras 2022;23(1):1-17
ARTIGO ORIGINAL
Percepção de saúde, mobilidade e humor
de mulheres participantes de caminhada em imersão
Perception of
health, mobility and mood of women participating in immersion walk
Maria Cláudia Gatto Cardia, M.Sc.*, Maria Helena Morgami de Almeida**, Eliane Araújo de Oliveira, D.Sc.***, José Eduardo Pompeu, D.Sc.**,
Erika Christina Gouveia e Silva, D.Sc.**, Fátima
Aparecida Caromano**
*Departamento de Fisioterapia do Centro
de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa,
PB, Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), São Paulo, SP,
**Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), São Paulo, SP,
***Departamento de Fisioterapia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB
Recebido em 11 de agosto de 2021; aceito em 17 de janeiro
de 2022.
Correspondência: Fátima Caromano,
Laboratório de Saúde e Comportamento, Dep. FOFITO, Rua Cipotânia
51 Cidade Universitária USP 056160-000 Butantã SP
Maria Cláudia Gatto Cardia:
gattocardia@gmail.com
Maria Helena Morgami de Almeida: hmorgani@usp.br
Eliane Araújo de
Oliveira: elianeao@gmail.com
José Eduardo Pompeu:
j.e.pompeu@usp.br
Erika Christina Gouveia
e Silva: erikacgouveia@gmail.com
Fátima Aparecida Caromano: fcaromano@uol.com.br
Resumo
Estudos têm demonstrado que exercícios realizados em meio
aquático produzem benefícios diversos para mulheres. Esta pesquisa objetivou
avaliar a percepção subjetiva de saúde, mobilidade e humor de mulheres
quinquagenárias saudáveis e sedentárias em decorrência de participação em
programa de caminhada em imersão. Participaram 59 mulheres entre 50 e 59 anos,
distribuídas em grupos de 10 a 12 pessoas. A atividade foi desenvolvida em
piscina aquecida 2 vezes por semana, por 30 minutos, durante 12 meses. O
programa foi dividido em 4 etapas de 3 meses com 5 tempos de avaliação. Para a
avaliação subjetiva sobre o estado de saúde, mobilidade e humor, utilizou-se
uma escala numérica de 0 a 10. Breve relato sobre os principais efeitos do
programa também foi analisado em seu conteúdo. Observou-se melhora na percepção
de saúde (p < 0,001), na mobilidade (p < 0,001) e no humor (p = 0,003).
Na análise de conteúdo, 49,4% dos relatos relacionaram-se com a melhora da
saúde; 22,9% com a autoestima e satisfação e 19,3% com a capacidade física. O
estudo reforça a necessidade deste tipo de prática para a saúde integral da
mulher de “meia idade” como medida preventiva do processo de envelhecimento
saudável.
Palavras-chave: hidroterapia; assistência integral à
saúde; humor; senescência.
Abstract
Studies have
demonstrated that exercises performed in aquatic environment produce several
benefits for women. This research aimed at evaluating the subjective perception
on health status, mobility, and mood of healthy and sedentary 50-year-old women
as a consequence of participating in an immersion walk program. 59 women aged
50 to 59 years old participated, distributed in groups of 10 to 12 people. The
intervention was conducted in a heated pool, twice a week, for 30 minutes for
12 months. The program was divided into 4 phases of 3 months, with 5 evaluation
times. For the subjective assessment of the health status, mobility and mood, a
number scale from zero to ten was used. A brief report on the main effects of
the program, was also analysed in its content. Improvement
in health status perception (p < 0,001), mobility
(p < 0,001) and mood (p = 0,003) was noticed. In the content
analysis, 49,4% of speeches were related to health improvement; 22,9% to
self-esteem and satisfaction and 19,3% were related to physical capacity. The
study reinforces the need for this type of practice for the integral health of
middle-aged women as a preventive measure of the healthy aging process.
Keywords:
hydrotherapy; comprehensive health care; affect; aging.
A idade ainda que possa ser traduzida
objetivamente como anos de vida, tem definido ciclos e trajetórias de vida,
idades ou segmentos geracionais como “infância”, “juventude”, “meia idade” ou
“terceira idade” e desse modo expressam um modo de ser e de estar no mundo [1].
Se num passado recente ter 50 anos
significava o início da velhice, hoje com o avanço da expectativa de vida temos
uma melhor relação com a senescência, que se caracteriza pelo processo de
envelhecimento saudável [2], e que na mulher comumente inicia-se no período
pós-menopausa. Assim, esse prolongamento da vida trouxe um distanciamento entre
a juventude e a velhice demarcado como “meia idade” [1,2].
A promoção da saúde no envelhecimento
deverá levar em consideração ainda a questão do gênero. A presença de grande
número de mulheres em idade avançada é, em muitas sociedades, um fenômeno
demográfico recente e a preparação para seu envelhecimento saudável deve ser
mais do que uma busca pessoal, e sim, um desafio para gestores de políticas
públicas, quer seja pela simples justificativa populacional, econômica ou pelo
débito histórico de desigualdade de poder entre homens e mulheres que impacta
fortemente nas condições de saúde da mulher [3,4].
Especificamente no que se refere à
mulher de meia idade surgem diversas questões que suscitam atenção e cuidado,
dentre elas destacamos o declínio do ciclo vital em que cessa a sua capacidade procriativa; o apelo ao desempenho do papel de cuidadora de
pais idosos e de mediadora de relações intergeracionais. Somam-se a essas
cobranças sociais, a expectativa de que a mulher se submeta a ditatura da
beleza e da jovialidade. Esses fatores são muitas vezes vivenciados como fontes
de estresse e conflito gerando adoecimento [1,2,3].
Outras questões relacionadas ao processo
saúde-doença, tais como o estilo e condições de vida e do trabalho também podem
influenciar negativamente na senescência, sendo o sedentarismo um dos
principais fatores para o declínio da capacidade funcional [5]. No entanto,
grande parte das mulheres quinquagenárias contemporâneas tem se preocupado com
seu estado de saúde buscando recursos para o autocuidado, incluindo a prática
de atividades físicas que lhes proporcionem bem-estar [6]
Programas simples, com atividades
preventivas atrativas, desenvolvidas em grupo são de baixo custo e podem ser
estimuladas como complemento à fisioterapia reabilitadora convencional. Estes
programas conduzidos por profissionais especializados, com indicadores de
evolução pré-definidos e bem controlados podem apresentar boa adesão e promover
melhoras funcionais. E neste sentido, a fisioterapia aquática surge como uma
excelente opção.
Imprescindível para nossa sobrevivência,
a água também é uma fonte de prazer podendo ser um meio de lazer, de atividade
física e de reabilitação. A imersão na água como meio para relaxamento e cura
não é privilégio do homem moderno, sendo praticada há muitos séculos e de diversas
formas [7]. Em seus primórdios, a hidroterapia, esteve mais relacionada à
balneoterapia, à crenoterapia e à termoterapia
[8]. Mais recentemente, programas de cinesioterapia, fundamentados e dirigidos
para populações específicas, em ambientes controlados, têm sido desenvolvidos
com diferentes tipos de exercícios a exemplo das caminhadas e corridas em
imersão [8,9,10,11].
Exercícios terapêuticos em imersão
proporcionam efeitos fisiológicos benéficos que envolvem respostas cardíacas,
respiratórias, renais e musculoesqueléticas [12], podendo atuar também na
redução da dor, melhora de estados de humor, qualidade de vida, e na percepção
da imagem corporal [13].
Estudos têm demonstrado benefícios dos
exercícios terapêuticos em imersão para mulheres no período pós-menopausa [14]
e em senescentes saudáveis [15], no entanto, poucos estudos avaliaram a
percepção de mulheres sobre os efeitos deste tipo de intervenção. Acredita-se
que o relato das pacientes em relação aos efeitos decorrentes de uma intervenção
terapêutica seja uma fonte de informação relevante, desde que explorada de
forma controlada e sistemática. Categorias de respostas podem indicar o uso de
biomarcadores adequados para análise de evolução física e serem usados como
feedback mensuráveis.
Neste sentido, esta pesquisa teve o
objetivo de avaliar a percepção subjetiva de saúde, mobilidade e humor de
mulheres quinquagenárias saudáveis em decorrência de participação em programa
de caminhada em imersão.
Trata-se de um estudo
quase-experimental, com duas metodologias de análise, a primeira de caráter
quantitativo, longitudinal e descritivo referiu-se ao desenvolvimento e
avaliação do programa de caminhada em imersão em quatro etapas. A segunda, de
caráter qualitativo e exploratório, referiu-se a
obtenção e análise de conteúdo de relato de cada uma das participantes em
relação ao programa realizado [16]. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (CAAE:66719817.1.0000.0065).
Todos os sujeitos foram instruídos sobre os procedimentos de avaliação e
tratamento, e concordaram em participar de forma voluntária assinando o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme a Resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde e declaração de Helsinki.
Participantes
Para fins de inclusão no estudo foram
admitidas mulheres entre 50 e 59 anos, saudáveis e sedentárias.
Para o atestado de saúde as
participantes apresentaram parecer médico afirmando que estavam em condições
clínicas para frequentar programa de exercícios físicos de baixa a moderada
intensidade em imersão em água aquecida, constatando não serem portadoras de
doenças cardiopulmonares, musculoesqueléticas, neurológicas ou dermatológicas
que limitassem a prática de hidroterapia. As participantes também afirmaram não
fazer uso de medicamentos, e declararam não ter praticado qualquer atividade
física específica ou caminhadas regulares (mínimo 30 minutos, pelo menos duas
vezes por semana) há cinco anos, caracterizando o estado de sedentarismo. Foram
critérios de exclusão a falta ao treinamento sem reposição na mesma semana,
intercorrências clínicas ou sociais que impedissem a continuidade no programa e
a falta de interesse nas atividades físicas durante as aulas.
Procedimentos
Foram organizados grupos de 10 a 12
participantes, com intervenção realizada 2 vezes por semana, por 30 minutos. A
piscina com dimensão de 12 por 8 metros e profundidade de 1.3 metros permitiu a
imersão até o nível das axilas e a temperatura se manteve em uma média de 31ºC
± 1ºC. As quatro etapas e atividades do programa estão detalhadas no Quadro 1.
Quadro 1 - Descrição das etapas e atividades
do programa de caminhada em imersão na água (ver PDF anexo)
Instrumentos e análise de dados
Foi utilizada uma escala numérica com 10
centímetros de comprimento e marcas a cada 1 centímetro para a avaliação
subjetiva sobre o estado de saúde, mobilidade e humor, no qual o zero indicava
a pior situação possível e o 10 a melhor situação possível para cada variável.
Os resultados foram analisados mediante estatística descritiva, taxa de
variação absoluta e percentual e pelo teste não paramétrico de Wilcoxon, devido a não normalidade das variáveis estudadas,
utilizando o programa estatístico SPSS – Statistical
Package for the Social Sciences, v. 22.
Após a última sessão, cada uma das
participantes foi incentivada a desenvolver um relato escrito sobre os efeitos
que acreditava estar relacionado com a prática dos exercícios que realizou. A
análise de conteúdo [16], dos relatos neste protocolo, cumpre o importante
papel de fornecer elementos subjetivos que não poderiam ser identificados por
meio de instrumentos estruturados ou semiestruturados. Os relatos foram
organizados em torno do tema norteador “possíveis benefícios do programa de
imersão” e todas as respostas foram identificadas e categorizadas com base na
ocorrência e frequência.
O estudo contou inicialmente com 136
mulheres e terminou com 59, apresentando uma adesão ao programa de 43%
(Diagrama 1).
t0 = avaliação inicial;
t1 = após o término da etapa 1; t2 = após o término da etapa 2; t3 = após o
término da fase 3; t4 = após o término da fase 4; n = número de pacientes;
Fonte: Dados da pesquisa, 2018
Diagrama 1 – Distribuição da amostra
As intercorrências familiares
corresponderam a: mudança de bairro, mudança de cidade, mudança na estrutura
familiar, morte em família, nascimento de neto e desemprego em família e
intercorrências clínicas devido a gripes, pneumonia, fratura, dermatite, anemia
e dengue.
O grupo foi formado por mulheres
quinquagenárias, com média de 52,9 ± 1,2 anos; com escolaridade média de 10,9 ±
2,8 anos; estatura mediana de 162,6 ± 3,2 cm; e a maioria (52.5%) apresentava
sobrepeso. Eram profissionalmente ativas 78% e 49.2% eram casadas.
Avaliação da percepção subjetiva do
estado de saúde, da mobilidade e do humor das participantes pela escala
numérica de 0 a 10
Na avaliação subjetiva, realizada com a
escala numérica, houve melhora significativa nas 3 variáveis estudadas (Tabela
I).
Tabela I – Análise quantitativa da percepção
de saúde, mobilidade e humor em cada etapa do programa
p (); t0 (Avaliação
inicial); t1 (após o término da etapa 1); t2 (após o término da etapa 2); t3
(após o término da fase 3); t4 (após o término da fase 4)
A percepção inicial do estado de saúde
teve uma média regular de 6,95 ± 1,4, mas foi considerada alta (entre boa,
muito boa e excelente) por 25,4% das participantes, com nota 8 atribuída por
8,5% das mulheres; 9 por 10,2% e 10 (nota máxima) por 6,8% delas.
A mobilidade também teve uma média
regular de 6,56 ± 0,9 na avaliação inicial, sendo considerada alta por 18,6%
das participantes, com nota 8 atribuída por 15,3% das mulheres e 9 por 3,4%. A
mobilidade foi considerada melhor desde a etapa t1 quando 52,6% das
participantes já atribuíram maior valor que na avaliação inicial e, na etapa final
(t4), 86,4% das mulheres consideraram ter melhor mobilidade, 10,2% relataram
ter a mesma mobilidade que no início do programa e apenas 3,4% tiveram a
percepção de piora na mobilidade.
A percepção inicial do estado de humor
teve igualmente uma média regular de 6,95 ± 1,2, sendo considerada alta por
40,7% das participantes, com nota 8 atribuída por 33,9% das mulheres e 9 por
6,8%.
Apesar do alto número de participantes
ter atribuído notas acima de 8 na avaliação inicial, conseguimos observar os
efeitos positivos do programa na percepção da saúde com melhora de 16,13%; da
mobilidade com melhora de 22,15% e do estado de humor com de melhora de 9,69%
através da análise de variação percentual (t0-t4) (Gráfico 1).
TVP_saúde = variável saúde; TVP_mobil = variável mobilidade; TVP_humor
= variável humor; t0 = avaliação inicial; t1 = após o término da etapa 1; t2 =
após o término da etapa 2; t3 = após o término da fase 3; t4 = após o término
da fase 4; n = número de pacientes; Fonte: Dados da pesquisa, 2018
Gráfico 1 – Distribuição da taxa de variação
percentual do início e final do programa (t0-t4) do estado de saúde, mobilidade
e estado de humor
Análise de conteúdo do relato aberto das
participantes no final do programa
Os relatos das participantes sobre o
programa, realizados após a última sessão, foram compostos em seu conjunto por
83 relatos feitos por 94,9% das mulheres. A partir da análise de conteúdo
destes relatos foram identificadas cinco categorias temáticas com 23
subcategorias, conforme descrito na tabela II.
Tabela II – Análise qualitativa dos
comentários realizados no final do programa
n = número de pacientes;
Freq = frequência (%); Fonte: Dados da pesquisa, 2018
Este estudo mostrou que, por meio de
informações objetivas foi possível descrever um quadro de percepções subjetivas
referentes aos prováveis benefícios de programa anual de caminhada em imersão,
na modalidade grupal. Foram conhecidas percepções dos participantes sobre a
saúde, a mobilidade e o estado de humor em mulheres quinquagenárias saudáveis,
a partir de indicações qualitativas quantificáveis através de uma escala
numérica de zero a dez. Percepções adicionais foram expressas por meio de
relatos escritos. Considera-se que, em conjunto, a análise dessas informações,
revelou a percepção subjetiva destas mulheres sobre os efeitos do programa.
São poucos os estudos que utilizaram
caminhada em imersão como recurso terapêutico e dentre eles apenas dois estudos
[10,11] observaram os efeitos da caminhada na água nos aspectos psicossociais.
O estudo de Katsura et al. [10] avaliou os
efeitos de um treinamento de exercícios aquáticos utilizando um novo
equipamento de resistência à água no desempenho do exercício e na promoção dos
estados de humor (Profile Of Mood
States - POMS) de 20 idosos saudáveis e concluíram
que o treinamento melhorou a capacidade de caminhada, bem como a pontuação de
tensão e ansiedade do POMS.
Arrieiro [11] utilizou o autorrelato de dor, função física e rigidez articular, por
meio da aplicação do Western Ontario and Mc Master
Universities Osteoarthritis
Index (WOMAC) e analisou a qualidade de vida, por meio do questionário Medical
Outcomes Study 36-Item
Short Form Health Survey
(SF-36) tendo observado uma relação direta entre a melhora dos aspectos
emocionais e a melhora do quadro clínico de indivíduos com osteoartrose de
joelho.
Estudos de Sabioni,
Galante & Pelá [17] e Santana et al. [18],
realizados com mulheres entre 31 e 80 anos e com terapia aquática, analisaram o
conteúdo das falas dos participantes a respeito da intervenção, todavia a
terapia aquática não foi especificamente a caminhada. Embora com método de
pesquisas diferentes do utilizado no presente estudo, conteúdos semelhantes
foram relevados.
Nossos resultados demonstraram um
incremento positivo e significativo no estado de saúde entre as medidas t1-t2
(p = 0,007), t3-t4 (p < 0,001) e t0-t4 (p < 0,001), com variação
percentual do ganho entre a medida inicial e final de 16,13% (p < 0,001). A
maior parte dos relatos (49,4%) foi relacionada com a melhora geral referida da
saúde, como nos exemplos: “diminuição da dor, do inchaço, melhor funcionamento
do intestino, melhora na qualidade do sono, mais disposição e tranquilidade”.
Estado de saúde é uma condição subjetiva
influenciada por fatores culturais, socioeconômicos e biológicos e reflete a
conjuntura de uma época e lugar, e embora a epidemiologia expresse a saúde por
meio de números, admitem-se indicadores subjetivos do estado de saúde que podem
ser expressos através da narrativa na primeira pessoa, aquela que sente a dor e
sofrimento ou felicidade e prazer [19].
Sabioni, Galante & Pelá
[17] relataram que a hidroterapia foi apresentada como algo importante na vida
das mulheres estudadas, por proporcionar bem-estar, melhora na qualidade de
vida e alívio da dor. Estes autores registraram 24,5% das falas relacionadas à
sensação de bem-estar.
O estudo de Gomes & Zazá [20], com 20 mulheres idosas (69,7 ± 7,1 anos)
demonstrou que, entre os motivos mais importantes para praticarem atividade
física estavam melhorar ou manter o estado de saúde, prevenir doenças e
aprender novas atividades.
Também foi observada uma melhora
significativa na mobilidade das mulheres participantes em todos os momentos de
avaliação: t0-t1 (p < 0,001); t1-t2 (p = 0,004); t2-t3 (p < 0,001) e
t3-t4 (p = 0,002) apresentando uma variação percentual do ganho entre a medida
inicial (t0) e final (t4) de 22,15% (p < 0,001) na mobilidade percebida pelas
participantes. Quanto às narrativas relacionadas à mobilidade e capacidade
física, 19,3% das mulheres expressaram sentir-se “mais ágeis, com maior
confiança para andar e subir escadas”.
Estes dados corroboram os estudos de Sabioni, Galante & Pelá [17]
que registraram falas relacionadas à mobilidade e à capacidade física; e de
Santana [18] com relato específico de melhora de movimentos e sensação de
relaxamento muscular. É comum a estes estudos e ao nosso, o reconhecimento do
efeito do programa de intervenção nos aspectos físicos de origem
musculoesquelética.
A mobilidade é um constructo importante
para a percepção do estado de saúde e pode ser influenciada diretamente pela
atividade física. Nessa perspectiva, a Sociedade Brasileira de Medicina do
Esporte (SBME) identificou relação inversa entre o exercício praticado
regularmente e as principais causas de morte na mulher pós-menopausa [21].
Sobre os estados de humor, o estudo de
validação do instrumento de avaliação do perfil de estados de humor (POMS)
apontou uma associação positiva entre prática de atividades físicas e
desportivas e os estados emocionais e a saúde mental [22].
Os resultados deste estudo apontaram uma
melhora significativa nas avaliações entre o t1-t2 (p = 0,012) e t0-t4 (p =
0,002) e uma análise de variação percentual (t0-t4) com melhora de 9,69% (p =
0,002) no estado de humor. Entretanto deve-se considerar que a avaliação
inicial das participantes já apresentava bom escore inicial e apesar do “efeito
teto” houve uma variação percentual de melhora ainda que mais baixa quando
comparada às variáveis estado de saúde e mobilidade [23].
Sabioni, Galante & Pelá
[17] não apontam nenhuma fala específica com a palavra humor, no entanto o
estado de humor pode ser percebido em diversas falas do referido estudo, em que
também se evidencia o prazer em realizar atividades em imersão. E o estudo de
Vieira, Rocha & Porcu [24], realizado com
mulheres com idade média de 43,33 ± 3,56 anos e diagnóstico de depressão
moderada, mostrou que um programa de hidroginástica de 12 semanas diminuiu a
depressão e melhorou o humor das participantes do grupo experimental e não
alterou o do grupo controle.
Da mesma forma, o estudo de Agra et
al. [2], com mulheres com idade variando entre 55 e 75 anos, submetidas a
um programa de 12 meses de exercícios aquáticos, alongamentos e fortalecimento
muscular, também apontou para melhoras significativas na depressão, imagem
corporal, autoestima e no estado de humor.
Queiroz Júnior et al. [6]
ressaltam que benefícios psicossociais, como o alívio da depressão, o aumento
da autoconfiança e a melhora da autoestima podem ser percebidos pelas pessoas
que praticam regularmente exercícios físicos. Belza et
al. [25], em um estudo com intervenção com exercícios aquáticos em adultos
com osteoartrite, encontraram que a qualidade do bem-estar e o humor deprimido
melhoraram para os aderentes, mas não para os não aderentes.
No estudo de Gomes & Zazá [19], o estado de humor não foi considerado
especificamente, porém “aumentar o contato social” (85%), e “a autoestima”
(82,5%) foram destacados como aspectos relevantes da intervenção pelos
participantes.
Das 136 mulheres que iniciaram o
programa de caminhada em imersão na água, 59 o finalizaram um ano após seu
início, apresentando uma adesão de 43%. Considerando que adesão possa
significar concordância ativa, consciente e realmente voluntária, admite-se que
as 59 assíduas participantes tenham extraído relevante proveito do programa, o
que se expressa na melhora dos estados de saúde, humor e mobilidade e nos
relatos positivos associados.
Por outro lado, a não-adesão é bastante
comum em programas de atividade física, e foi observada neste estudo. Para
aumentar a adesão, Belza et al. [25]
reforçaram a necessidade de aprimoramento dos métodos com maior atenção ao
papel de fatores intrínsecos, como autoeficácia e
sistemas de crença.
Acreditamos que, neste estudo, a prática
em grupo, com objetivos a serem atingidos pré-estabelecidos, níveis de
dificuldade crescente das atividades, supervisão constante e especializada,
associados ao conforto da prática de exercícios em imersão na água termoneutra influenciaram positivamente na adesão por parte
das participantes.
O estudo mostrou os efeitos benéficos de
um programa de caminhada em imersão na água com duração de um ano, no estado de
saúde, na mobilidade e no estado de humor, de acordo com a percepção subjetiva
de mulheres quinquagenárias. Desta forma, reforçamos a necessidade deste tipo de
prática para a saúde integral da mulher de “meia idade” como medida preventiva
do processo de envelhecimento saudável.
Vinculação acadêmica
Este artigo é parte da
Tese “Efeitos da caminhada em imersão em mulheres quinquagenárias saudáveis” do
programa de Doutorado em Ciências da Reabilitação da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP)
Conflitos de interesse
Não há conflito de
interesse
Fonte de financiamento
Não há fonte de
financiamento
Contribuição dos autores
Concepção e desenho do
estudo:
Cardia MCG, Almeida MHM, Caromano
FA; Coleta de dados: Cardia MCG, Almeida MHM, Caromano FA; Análise e interpretação dos dados: Cardia MCG, Almeida MHM, Caromano
FA, Oliveira EA, Pompeu JE; Elaboração e revisão crítica do manuscrito: Cardia MCG, Almeida MHM, Caromano
FA, Oliveira EA, Pompeu JE, Silva ECG; Aprovação da versão final do
manuscrito: Cardia MCG, Almeida MHM, Caromano FA, Oliveira EA, Pompeu JE, Silva ECG