Fisioter Bras. 2023;24:(5):670-89
REVISÃO
Atuação
da fisioterapia na doença arterial obstrutiva periférica: revisão sistemática
Role of physical therapy in peripheral arterial
disease: systematic review
Poliana Agnez Rodrigues, Thereza Maria Martins, Vânia Cristina dos
Reis Miranda, Sandra Regina de Gouvêa Padilha Galera, Flávio de Pádua Oliveira
Sá Nery, Elaine Cristina Martinez Teodoro
Centro Universitário FUNVIC, Pindamonhangaba, SP, Brasil
Recebido
em: 14 de agosto de 2021; Aceito em: 12 de julho de 2023.
Correspondência: Elaine Cristina Martinez Teodoro,
teodoro.elaine18@gmail.com
Como citar
Rodrigues PA, Martins
TM, Miranda VCR, Galera SRGP, Nery FPOS, Teodoro ECM. Atuação da fisioterapia
na doença arterial obstrutiva periférica: revisão sistemática. Fisioter Bras. 2023;24(5):670-89. doi:10.33233/fb.v24i5.4883
Resumo
Introdução: A Doença Arterial Obstrutiva
Periférica (DAOP) é uma enfermidade decorrente de uma oclusão causada por uma
placa aterosclerótica nos vasos sanguíneos, designada pelo aumento da morbidade
e mortalidade, limitações na capacidade funcional e diminuição da Qualidade de
Vida (QV). Objetivo: O presente estudo tem por objetivo investigar as
condutas fisioterapêuticas relacionadas à terapia por exercícios no tratamento
da DAOP. Métodos: Trata-se de uma revisão sistemática, na qual foram
consultados os bancos de dados Bireme e PubMed e
utilizados artigos científicos em inglês de revistas indexadas nas bases de dados
Medline, Scielo, Lilacs e Physiotherapy Evidence Database (PEDro), publicados
entre os anos de 2010 a 2022, avaliados de acordo com a qualidade metodológica
por meio da Escala de Qualidade de JADAD. Para a construção do trabalho foram
incluídos estudos que estivessem disponíveis na íntegra, que a população alvo
fosse composta por indivíduos com DAOP, com idade ≥ 60 anos, com o índice
tornozelo-braquial (ITB) ≤ 0,9 no repouso ou após o exercício. Resultados:
A fisioterapia fundamentada em exercícios pode proporcionar melhoras
significativas em pacientes que apresentam Claudicação Intermitente (CI) ou são
assintomáticos e atua na melhora da marcha, no aumento do fluxo sanguíneo, na
melhora da QV e no seu prognóstico, o que diminui a dor, melhora a funcionalidade
e sucessivamente auxilia a vida pessoal e ocupacional. Conclusão: O
programa de exercícios supervisionados em esteira é o mais indicado e após doze
semanas de intervenção já é obtida uma melhora no quadro clínico desses
pacientes. Mais estudos de qualidade serão necessários para investigar as
condutas fisioterapêuticas relacionadas à terapia por exercícios no tratamento
da doença arterial obstrutiva periférica.
Palavras-chave: doença arterial periférica;
claudicação intermitente; fisioterapia; exercício; treinamento.
Abstract
Introduction: Peripheral
Obstructive Arterial Disease (PAOD) is a disease resulting from an occlusion
caused by an atherosclerotic plaque in blood vessels, designated by increased
morbidity and mortality, limitations in functional capacity and decreased
Quality of Life (QoL). Objective: This study aims to investigate
physiotherapeutic approaches related to exercise therapy in the treatment of
PAOD. Methods: This is a systematic review, in which the Bireme and
PubMed databases were consulted and scientific articles in English from
journals indexed in the Medline, Scielo, Lilacs and
Physiotherapy Evidence Database (PEDro) databases,
published between the years from 2010 to 2022, evaluated according to
methodological quality using the JADAD Quality Scale. For the construction of
the work, studies that were available in full were included, that the target
population consisted of individuals with PAOD, aged ≥ 60 years, with
ankle-brachial index (ABI) ≤ 0.9 at rest or after exercise. Results:
Physical therapy based on exercises can provide significant improvements in
patients who have Intermittent Claudication (IC) or are asymptomatic and acts
to improve gait, increase blood flow, improve QoL and prognosis, which reduces
pain, improves functionality and successively helps personal and occupational
life. Conclusion: The supervised exercise program on a treadmill is the
most indicated and after twelve weeks of intervention, an improvement in the
clinical condition of these patients is already obtained. More high-quality
studies are needed to investigate physiotherapeutic approaches related to
exercise therapy in the treatment of peripheral arterial occlusive disease.
Keywords: peripheral arterial disease;
intermittent claudication; physical therapy; exercise, training.
A
Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP) é uma enfermidade decorrente de
uma doença oclusiva aterosclerótica designada pelo aumento da morbidade e
mortalidade, limitações na capacidade funcional e diminuição da qualidade de
vida [1].
As
suas principais causas incluem o envelhecimento, o tabagismo, o diabetes
mellitus, a hipertensão arterial sistêmica e a obesidade. A prevalência da DAOP
aumenta com o envelhecimento; na população em geral representa 12% a 14% e
afeta até 20% dos indivíduos com mais de 75 anos [2].
Os
indivíduos que desenvolvem a doença podem se mostrar sintomáticos ou
assintomáticos. Os sintomáticos sentem dores e formigamentos nos membros
inferiores quando realizam exercícios, por conta de um baixo desempenho físico,
exibem uma manifestação clínica conhecida como claudicação intermitente, a qual
é o sintoma primário da DAOP. Como as artérias femorais e poplíteas
superficiais são mais afetadas pela aterosclerose, a dor da claudicação
intermitente é constantemente localizada na panturrilha, isso faz com que o
paciente pare de realizar exercícios, o que favorece a formação de trombos. No
entanto, mais da metade dos pacientes com DAOP são assintomáticas ou apresentam
sintomas atípicos [1,2].
A
principal barreira para o diagnóstico de DAOP pode ser os pacientes
assintomáticos, os idosos que muitas vezes apresentam outras comorbidades e
podem atribuir os primeiros sintomas da doença a outras condições clínicas e
por esses motivos não procuram uma consulta médica [3].
O
ideal é que todos os pacientes a partir dos 65 anos ou abaixo dos 50 anos de
idade, que apresentem os fatores de risco da DAOP sejam submetidos a exames
para avaliar a presença ou a ausência da doença. O principal exame utilizado
para o diagnóstico é o Índice Tornozelo-Braquial (ITB), um exame simples e não
invasivo, que tem como objetivo indicar a obstrução arterial quando o valor é
igual ou menor a 0,9. Valores até 0,7 indicam obstrução leve e valores abaixo
de 0,69 indicam obstrução moderada a grave. Para um melhor diagnóstico da
doença podem ser realizados os exames como a ultrassonografia de duplex e a
angiografia [3].
Algumas
medidas a serem tomadas imediatamente após a confirmação do diagnóstico são as
mudanças no estilo de vida, tais como: a cessação do tabagismo, o início da
prática de atividades físicas, a terapia medicamentosa e o controle adequado da
pressão arterial e glicemia [4].
Existem
alguns tratamentos para DAOP que dependem do grau da doença, como a
revascularização por cirurgias ou por intervenções endovasculares
e a terapia por meio de exercícios [4].
Uma
equipe multidisciplinar é ideal no decorrer da doença para os cuidados
necessários, além de um bom diagnóstico e tratamento, o que pode prevenir o
paciente de complicações futuras. A equipe pode ser composta além do
fisioterapeuta, por médico, enfermeira e nutricionista. Cada paciente pode se
diferenciar em relação aos sinais e sintomas, o que depende de sua genética e
estilo de vida, conforme a doença progride é necessário que se altere a equipe,
acrescentando ou reduzindo os profissionais [4,5].
A
fisioterapia fundamentada em exercícios pode proporcionar melhoras
significativas em pacientes que apresentam claudicação intermitente ou são
assintomáticos e atuam na melhora da marcha, no aumento do fluxo sanguíneo, na
melhora da qualidade de vida e no prognóstico do paciente, o que diminui a dor,
melhora a funcionalidade e sucessivamente facilita a vida pessoal e ocupacional
desses pacientes, demonstrando ser um tratamento indicado para melhora dos
sintomas da DAOP [3,6,7].
Quando
indicados os programas de exercícios, os mesmos não devem ser rigorosos, os
fisioterapeutas podem adaptar o exercício e a duração do programa conforme as
necessidades e capacidades individuais dos pacientes [8]. Esses programas de
treinamento supervisionado podem envolver exercícios aeróbicos, exercícios
resistidos ou uma combinação deles [9].
Portanto, o presente trabalho teve como
objetivo investigar as condutas fisioterapêuticas relacionadas à terapia por
exercícios no tratamento da doença arterial obstrutiva periférica.
Foi
realizada uma revisão sistemática. As seguintes bases eletrônicas de dados
foram utilizadas para a pesquisa: Literatura da América Latina e do Caribe
(LILACS), MEDLINE, Scielo, Physiotherapy
Evidence Database (PEDro) e os bancos de dados: PubMed
e Lilacs.
O
período de busca ocorreu de março a junho de 2020 e foram selecionados artigos
de 2010 a 2022.
Empregaram-se
as seguintes combinações de Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): doença arterial periférica, claudicação
intermitente, fisioterapia exercício, treinamento, peripheral
arterial disease, intermittent
claudication, physiotherapy,
exercise, training, as quais foram utilizadas na base
PubMed os descritores MeSH
correspondentes.
Em
cada base e banco de dados, as combinações entre as palavras foram conduzidas
utilizando os operadores booleanos (OR/AND) e (NOT/AND), sendo aceitos os
idiomas português e inglês. Os artigos foram avaliados e selecionados de forma
independente por dois revisores, sendo retiradas as duplicatas (àqueles
publicados em duas ou mais bases ou banco de dados).
Os
estudos foram escolhidos conforme o conteúdo do título, resumo e metodologia,
sendo excluídos os trabalhos que não tinham relação com o tema e direcionamento
da revisão e de metodologia, como revisão sistemática, revisão de literatura,
validação de protocolo e estudo piloto; foram incluídos os estudos de ensaios
clínicos randomizados, ensaios clínicos randomizados controlados e ensaios
clínicos prospectivos randomizados controlados, que descrevessem as condutas
fisioterapêuticas relacionadas à terapia por exercício no tratamento da DAOP.
A
partir da pré-seleção e consenso, os avaliadores analisaram os textos na
íntegra, considerando os critérios definidos e de relevância ao objetivo dessa
revisão. Para a extração de dados, selecionaram-se os estudos que incluíam
pacientes de ambos os sexos, com idade ≥ 60 anos, com DAOP e
diagnosticados de acordo com o ITB ≤ 0,9 no repouso ou após o exercício.
Os
dois revisores avaliaram também a qualidade metodológica dos estudos
selecionados, de acordo com a Escala de Qualidade de JADAD [10] a qual é uma
ferramenta desenvolvida para avaliar a qualidade de estudos clínicos e que visa
à diminuição das tendenciosidades, ou seja, sua validade interna. Nos itens da
escala existem duas opções de resposta: sim ou não; questionam-se os seguintes
critérios: se o estudo é randomizado, se o método de randomização é adequado;
se é duplo-cego, se o método de blindagem é adequado; se há descrição das
exclusões e perdas do estudo. Para cada item atribui-se um ponto para a
resposta sim e zero ponto para a resposta não, de modo que cada item tenha
apenas uma resposta. Se nos itens 1 e 2 os métodos de randomização e blindagem
forem citados, mas descritos de maneira inadequada, faz-se a dedução de um
ponto; da mesma forma, se nos mesmos itens os métodos de randomização e
blindagem forem citados e descritos corretamente, adiciona-se um ponto.
Como
resultado da escala de JADAD, o estudo pode receber, no máximo, cinco pontos,
um ponto para cada sim. O estudo é considerado de má qualidade se obtiver
pontuação menor ou igual a dois, após a avaliação.
Por
meio da busca primária foram encontrados nas bases de dados um total de 939
artigos, após a verificação de duplicatas, foram excluídos 242; dos 697
restantes foi realizada a seleção de títulos e resumos, e foram excluídos 658
estudos, permanecendo 39 artigos. Destes, após a verificação da metodologia, 29
deles foram selecionados para a leitura integral dos textos.
Após
a leitura crítica destes, 17 estudos foram excluídos conforme os critérios da
escala de JADAD e 12 foram incluídos por preencherem os critérios de seleção
para esta revisão sistemática, conforme demonstrado na Figura 1.
Figura
1 - Fluxograma do
processo de seleção de artigos para o estudo
As
características dos estudos que preencheram os critérios de inclusão, assim
como as intervenções e resultados estão sumarizadas na Tabela I.
Na
maioria dos estudos, os exercícios foram conduzidos por fisioterapeutas ou
havia fisioterapeutas na equipe multidisciplinar que atuaram com esses
pacientes.
Tabela
I - Características
dos estudos incluídos (n = 12)
A
DAOP é uma doença decorrente de uma oclusão causada pela aterosclerose. Os
sintomas incluem dor nos MMII induzido pelo exercício, mais conhecido como CI.
Afeta adultos com idade mais avançada, tendo sua prevalência de aproximadamente
12% nos Estados Unidos e 21,6% da população idosa no Brasil. Os pacientes com
CI tem sua capacidade de deambulação afetada [23].
A
fisioterapia baseada em um programa de exercícios, pode promover melhoras
significativas em pacientes que apresentam CI ou são assintomáticos e atuam na
melhora da marcha, ou seja, na sua capacidade de locomoção e no estado
funcional do paciente, proporcionando uma melhora da QV [24].
Portanto,
as diretrizes atuais recomendam a terapia de exercícios como padrão-ouro para
todos os pacientes com DAOP, sendo indicada ao paciente que apresenta quadro de
isquemia de esforço principalmente para lesões femorais, lesões distais com
resultados menos satisfatórios, isquemia de repouso em pacientes com
contraindicação cirúrgica, após cirurgias ou técnicas endovasculares
ou amputação, sendo contraindicada na presença de uma patologia cardíaca,
pulmonar ou cerebral instável, ou seja, em qualquer contraindicação ao esforço
[25,26,27].
Os
programas de exercício podem ser realizados em vários ambientes, incluindo
hospitais, centros comunitários e ambientes domiciliares, contudo o objetivo de
um programa de exercícios é obter como resultados uma melhora no Tempo do
Início de Claudicação (TIC), aumentar o Tempo do Pico de Caminhada (TPC),
dentre outros benefícios [28].
Dos
artigos selecionados, foram avaliados diversos tipos de programas de exercícios
para o tratamento de DAOP, alguns foram analisados quanto a sua efetividade por
meio da comparação entre um grupo de exercício e um grupo controle, ou entre
intervenções diferentes [11,12,13,14,15,16,17,18,19,20,21,22].
Para
as pesquisas de Gardner et al. [11], Gardner et al. [13],
Chehuen et al. [14],
Ritti-Dias et al. [16] e Guidon
et al. [21] e foram eleitos somente indivíduos do sexo masculino,
enquanto Park et al. [22] elegeram sujeitos do sexo feminino, os demais
estudos foram realizados com pacientes de ambos os sexos.
Dos
artigos científicos discutidos no presente estudo, Gardner et al. [11],
Gardner et al. [12], Gardner et al. [13], Chehuen et al.
[14], Ritti-Dias et al. [16], Gomes et al. [17], Monteiro et
al. [19], Saxton et al. [20] e Guidon et al. [21] realizaram seus estudos com
pacientes sintomáticos e Castro-Sanchez et al. [18], Park et al.
[22] e McDermott et al. [15] realizaram seus estudos com pacientes
assintomáticos e sintomáticos.
Oito
estudos realizaram um período de intervenção de 12 semanas, exceto Saxton et al. [20] que realizaram a intervenção por
72 semanas. Gardner et al. [13] concluíram 6 meses de intervenção,
Castro-Sanchez et al. [18] realizaram 20 semanas de programas de
exercícios e McDermott et al. [15] efetuaram 6 meses de intervenção e
mais 6 meses de acompanhamento por telefone.
Em
relação a frequência de sessões terapêuticas por semana, houve similaridade
entre os autores Gardner et al. [11], Gardner et al. [12],
Gardner et al. [13], McDermott et al. [15] e Monteiro et al.
[19] que realizaram três
vezes e Chehuen et al. [14], Ritti-Dias et al. [16], Gomes et al. [17] e Saxton et al. [20], que realizaram duas vezes.
Park
et al. [22] foram os únicos que realizaram durante quatro dias e os
únicos que realizaram o protocolo de exercícios propostos todos os dias foi
Castro-Sanchez et al. [18], cujos participantes realizaram os exercícios
duas vezes ao dia em casa, e somente Guidon et al.
[21] não especificaram a quantidade de sessões por semana.
No
estudo de Gardner et al. [11], o grupo exercícios
domiciliares realizou caminhada intermitente até o máximo de dor na
claudicação em um ritmo auto-selecionado com duração
de 20 minutos nas primeiras 2 semanas, aumentando progressivamente 15 minutos
quinzenais, até atingir um total de 45 minutos durante as 2 semanas finais do
programa.
Já no grupo de ES em esteira, os
participantes caminharam com CI em uma velocidade de 2 mph com duração inicial
de 15 minutos nas primeiras 2 semanas, aumentando progressivamente 5 minutos
quinzenalmente, até um total de 40 minutos [11].
O
GC foi encorajado a caminhar por conta própria, mas não recebeu recomendações
específicas. Os pacientes do programa de exercícios domiciliares caminharam por
mais tempo por sessão do que os pacientes em ES, mas em uma cadência mais
lenta, resultando em um volume total de exercício semelhante, expresso como
MET-minutos. Os exercícios domiciliares e ES aumentaram o TIC e TPC, que foram
significativamente diferentes do GC. O estudo mostrou que o exercício em casa
parece ser mais eficaz em melhorar a CI, sendo semelhante a um programa padrão
de ES, com menos recursos e menos esforço [11].
O
estudo que realizou programas de exercícios semelhantes foi o de Gardner et
al. [12] com objetivo e resultado similares ao estudo anterior. O grupo de
exercícios em casa “Next Step” (NS) realizou
caminhada para dor de CI leve a moderada em um ritmo autosselecionado,
no qual a duração do exercício foi aumentando de 20 para 45 minutos por sessão.
O grupo de ES consistiu em caminhada na esteira com dor de claudicação leve a
moderada a uma velocidade de 3 km/h e com uma classificação igual a 40% da
maior carga de trabalho alcançada durante o teste máximo da esteira como linha
de base. As sessões de exercícios aumentaram progressivamente durante o
programa de 15 para 40 minutos.
Porém
neste estudo, o GC realizou TR com exercícios para MMSS e MMII, usando um
sistema de peso específico, no início a resistência que causou fadiga em vários
grupos musculares após 15 repetições foi estabelecida e reavaliada a cada mês e
se a resistência da máquina não pudesse aumentar utilizavam-se faixas de
resistência. A intensidade de cada sessão de treinamento foi determinada usando
o valor de captação de oxigênio obtido durante o teste de linha de base máximo
em esteira que correspondia ao grau de treinamento [12].
Após
a intervenção, o TIC, o TPC e a DC6min aumentaram significativamente desde o
início no NS e nos programas de ES, porém o TPC no grupo ES foi
significativamente maior. Contudo, o programa de exercício NS com a supervisão
mínima da equipe mostrou baixo atrito, alta adesão e eficácia por melhorar os
TIC e TPC, o desempenho do exercício submáximo e a atividade deambulatória
diária em pacientes sintomáticos, sendo a única intervenção capaz de aumentar
diariamente a cadência nesse estudo [12].
Gardner
et al. [13] dividiram dois grupos, um GC que foi incentivado a caminhar,
mas não recebeu recomendações específicas sobre um programa de exercícios
durante o estudo e um grupo de ES em esteira caminhando até a dor de
claudicação quase máxima, que começou aos 15 minutos no primeiro mês e aumentou
em 5 minutos por mês até 40 minutos totalizados no 6º mês. A intensidade
iniciou ao nível de 50% da carga de trabalho final atingida durante a linha de
base na esteira e foi aumentando em 10% a cada 6 semanas, até 80% durante as 6
semanas finais do programa e durante cada sessão de exercício, os pacientes
caminhavam em aproximadamente 2 mph até que a dor da claudicaçao
atingisse nível 3 em uma escala de dor de 0 (sem dor) a 4 (dor máxima).
O
programa obteve melhoras mediadas pelo teste de esteira, onde ocorreu um
aumento gradativo do TIC e do TPC que foi percebido rapidamente nos primeiros 2
meses de reabilitação e assim foram mantidos com o treinamento adicional. A
relevância do estudo foi que um programa de exercícios de 2 meses relativamente
curto pode ser preferível, a um programa mais longo para tratar a claudicação
porque a adesão é mais alta e os custos são mais baixos [13].
Chehuen et al. [14] também apresentaram
um programa de exercícios com o objetivo de analisar a sua eficácia comparado a
um GC que realizou aproximadamente 20 exercícios de alongamento para todos os
principais grupos musculares. Cada exercício foi realizado 2 ou 3 vezes usando
a técnica passiva e o alongamento máximo foi mantido por 20 segundos. O grupo
TC realizou 15 minutos de caminhada, separados por 2 minutos de repouso e a
intensidade do exercício foi ajustada para manter a FC naquela previamente
determinada dentro do limiar da dor. A velocidade da esteira foi ajustada a 2
mph para manter a FC no valor alvo. Ambos os grupos tiveram a sessão com
duração de 30 minutos e no grupo TC, o TIC, o TPC, a economia de caminhada e a
função cardiovascular melhoraram significativamente após 12 semanas apenas.
McDermott
et al. [15] compararam os resultados de três grupos de intervenção,
sendo um GC de atenção que compareceu a 11 sessões de 1 hora, com apoio
nutricional. O grupo ES realizou treino de esteira iniciado com 15 minutos,
aumentando para 40 minutos e após a oitava semana a intensidade aumentou
semanalmente, por meio da elevação da velocidade e inclinação da esteira e os
participantes foram incentivados a continuar até os sintomas quase máximos de
CI.
O
grupo TR dos MMII realizou 3 séries de 8 repetições de extensão de joelho,
exercícios long press e
flexão de joelho, para cada exercício foi avaliado a 1RM (uma repetição maxima) no início e a cada 4 semanas. Os participantes
começaram a se exercitar com 50% de suas 1RM e aumentaram para 80% durante as
primeiras 5 semanas de treinamento, os pesos eram ajustados após cada 1RM
mensal e conforme necessário a fim de atingir uma intensidade de exercício
consistente com uma taxa de esforço percebido de 12 a 14. Os participantes
também realizaram 3 séries de 8 repetições de agachamento e exercícios para plantiflexores. Entre os meses 6 e 12, eles receberam pesos
para os tornozelos e foram instruídos sobre a resistência dos MMII e sobre a
realização de exercícios com caneleiras para executarem em casa [15].
O
estudo demonstrou que uma intervenção de exercício aeróbico realizado em
esteira supervisionada por seis meses melhorou a DC6min, por outro lado, no
acompanhamento de seis meses pelo telefone a distância diminuiu. Contudo, não
houve benefício persistente no acompanhamento de 12 meses. Esses resultados não
demonstram um benefício duradouro do ES em esteira na DAOP. Não houve efeitos
significativos da intervenção de TR em qualquer resultado do estudo em 12 meses
de acompanhamento o que contraria outros estudos aqui apresentados [15].
Ritti-Dias et al. [16] compararam os
exercícios de TR com exercícios de caminhada, ambos com aproximadamente 60
minutos de duração por sessão, 30 minutos de exercícios e 30 minutos de
recuperação passiva. O TC foi realizado em esteira, os pacientes realizaram 15
exercícios de 2 minutos, com um intervalo de descanso de 2 minutos entre eles.
Para o TR foram realizados 8 exercícios, com 3 séries de 10 repetições com um
intervalo de 2 minutos entre as séries e entre os exercícios que foram
realizados em máquinas específicas na seguinte ordem: leg
press, flexões, extensão unilateral do joelho, flexão
sentada, flexão unilateral do joelho, supino sentado, supino apoiado no leg press e extensão de tronco
sentado. A velocidade da caminhada, para o TC ou os pesos, para o TR eram
ajustados na série seguinte sempre que o esforço percebido fosse menor ou maior
que 11 e 13 na escala de Borg.
O
autor ratifica a eficácia do TF na melhora da limitação funcional em pacientes
com CI de forma semelhante ao TC, mas, quando se comparam os grupos, o grupo TF
elicitou níveis de dor significativamente mais baixos, o que sugere que este
tipo de exercício pode ser útil e deve ser considerado em pacientes com CI
[16].
Gomes
et al. [17] compararam o GC e o grupo TR, ambos os grupos realizaram as
sessões por 40 minutos. O GC realizou alongamentos e relaxamento de corpo
inteiro. O grupo TR realizou os seguintes exercícios: supino reto, leg press, linha sentada, extensão
do joelho, flexão do braço, flexão da perna, elevação frontal e abdução do
quadril, com 3 séries de 10 repetições, com intervalo de 2 minutos. Todos os
exercícios alcançaram uma intensidade moderada com base em uma classificação de
esforço percebido de 5 a 7 de 10 pela escala de Borg
modificada.
Na
6º semana, foram realizados testes para ajustar a progressão de carga para
manter a intensidade do exercício dentro dos limites estabelecidos. Após a
intervenção, o estudo não demonstrou resultados sobre melhorias na caminhada ou
CI e apresentou como resultados dos exercícios outros indicadores como a
diminuição da variabilidade da pressão arterial (PA). Esses achados sugerem que
o TR pode ser considerado uma alternativa ao reduzir o risco cardiovascular em
pacientes com DAOP [17].
Castro-Sanchez
et al. [18] compararam dois grupos, sendo eles GP e GE que realizaram um
protocolo composto por três exercícios de treino muscular para os MMII, sendo:
primeiro exercício na posição sentado com os braços levantados para a frente,
segundo exercício dorsiflexão em pé seguidos de flexão plantar e terceiro
exercício, dorsiflexão em pé seguido de flexão plantar na área
metatarso-falangeana e retorno à posição inicial. Os pacientes repetiram cada
exercício a uma velocidade controlada pelo metrônomo de 25 movimentos por
minuto até que não pudessem continuar devido à exaustão ou dor de claudicação.
O número de repetições foi realizado de acordo com a capacidade do paciente ao
treino.
Iniciou-se
com uma fase de aquecimento, realizando 50% do número de repetições para cada
exercício, com um intervalo de descanso de 3 minutos entre cada um. A fase de
treinamento seguiu um intervalo de 3 minutos, realizando 70% do número de
repetições para cada exercício. A cada 7 dias era estabelecido um novo número
de repetições e eram determinadas as FC máxima e média usando um medidor de
pulso. Foi fornecido aos pacientes um notebook para registrar os seus
desempenhos diários e os mesmos foram contatados por telefone, duas vezes por
semana. O estudo demonstrou melhoras em variáveis como ITB e velocidade de
fluxo Doppler, o mesmo não abordou resultados sobre a CI ou outros indicadores
de caminhada [18].
Monteiro
et al. [19] compararam um Grupo Aeróbico Modificado (GAM), sendo esse
com sobrecarga progressiva nos MMII através da adição de caneleiras de acordo
com o protocolo de progressão de carga e um Grupo Aeróbico Tradicional (GAT).
Ambos os grupos iniciaram a caminhada no solo e evoluíram para a caminhada na
esteira somente com ausência de sintomas de claudicação moderada a máxima. No
GAM, a carga foi adicionada gradativamente, iniciando sem carga e chegando até
no máximo 2 kg. Aquecimentos e relaxamentos foram realizados no início e no
final de cada caminhada, quando ocorriam os sintomas de claudicação moderados a
máximos, eram permitidos períodos de recuperação e assim que havia uma
resolução dos sintomas da claudicação, uma nova caminhada era iniciada.
Houve
melhora da capacidade funcional e da taxa de oxigenação em ambos os grupos,
porém o GAT apresentou valores mais altos comparados ao GAM, demonstrando que
nesse estudo, o GAT foi a melhor intervenção em relação a melhora do
metabolismo muscular em pacientes com DAOP [19].
O
estudo de Saxton et al. [20] comparou três
grupos, um GC e dois de exercícios aeróbico e resistido, um para os MMSS e
outro para os MMII. Os grupos realizaram treino de ES em intensidades de
exercício relativas equivalentes (85% a 90% do pico do consumo de oxigênio
específico do membro) usando um ergômetro de manivela de MMSS ou de ciclismo de
MMII. A frequência do treinamento de exercício foi baseada no trabalho com
os pacientes e em uma frequência que provavelmente iria resultar em boa
conformidade. Os pacientes se exercitaram em ciclos de 2 minutos de exercício
em uma taxa de manivela de 50 rpm, seguida por 2 minutos de descanso por um
tempo total de exercício de 20 minutos em uma sessão de 40 minutos. A Escala de
Borg modificada foi utilizada durante cada sessão.
As
melhoras do desempenho da caminhada foram semelhantes nos dois grupos de
exercício em todas as avaliações de acompanhamento. A diferença média em metros
entre os grupos de exercicios e controle em seis
semanas foi maior para o GT de MMSS e menor para o GT de MMII e na 24a semana
foi maior para o grupo dos MMII, do que para o grupo dos MMSS. Entre as semanas
48 e 72, as melhoras em metros nos grupos de exercícios foram mantidos. Uma melhora na distância de claudicação também foi
observada em pacientes que se exercitaram comparadas ao GC. Como um efeito a
curto prazo, o GT de MMSS obteve como resultado uma melhora na claudicação e na
capacidade de subir escadas do que o GC [20].
Guidon et al. [21] aplicaram em seus
participantes um programa de ES com duração de uma hora, incluindo períodos de
aquecimento com 10 minutos de exercícios de caminhada leve, alongamentos de
MMSS, MMII, tronco e resfriamento. Os participantes se exercitaram por 30 a 40
minutos usando alguns equipamentos como esteira, step,
aparelho elíptico, ergômetro de ciclo reclinado e cicloergômetro
de MMSS e MMII. Os participantes foram incentivados a se exercitarem com uma
intensidade de 70 a 80% da FC máxima e foram autorizados a descansarem até a
dor de claudicação diminuir e, em seguida, encorajados a recomeçar o exercício.
O
nível de exercício foi estabelecido em uma intensidade que produziu dor
moderada de claudicação em 5 minutos. O exercício progrediu aumentando a
resistência e ou o tempo. O GC realizou os cuidados usuais, ou seja, a medição do
ITB, os conselhos sobre os exercícios, a cessação do tabagismo e a revisão nas
consultas agendadas para pacientes externos. Em 12 semanas de intervenção,
houve uma tendência de melhora da qualidade de vida maior no grupo de
exercício. Nesse programa de exercícios supervisionados, houve melhoras nas
medidas de capacidade funcional, questionário de claudicação intermitente e QV
específica da doença durante o programa de exercícios e mesmo após um ano de
intervenção os valores não diminuíram muito [21].
Somente
Park et al. [22] realizaram estudo com um grupo de Caminhada Aquática
(CAQ), com 10 minutos de aquecimento com exercícios de alongamentos
subaquáticos que enfatizavam os músculos dos MMII e treinamento de marcha de
baixa intensidade com movimentos para frente, para trás e para o lado, 40
minutos de exercícios principais, contendo 10 minutos de exercício de
flexão-extensão de quadril e joelhos, abdução-adução de quadril e 30 minutos de
exercícios de caminhada na água e por fim, 10 minutos de relaxamento com os
mesmos exercícios do aquecimento.
A
intensidade do programa e a frequência cardíaca de reserva aumentaram a cada 4
semanas, de acordo com a classificação de esforço percebido. Cada sessão durava
60 minutos, em ambos os grupos. Após o programa de exercícios, a FC de repouso
no grupo de CAQ diminuiu comparado aos valores iniciais e DC6min aumentou.
Esses resultados concordam que a CAQ pode servir como uma nova modalidade de
exercício e potencialmente mais confortável para o tratamento e prevenção de
outras manifestações da doença nessa população [22].
Desse
modo, é possível constatar que existem vários tipos de intervenções para esses
pacientes e que as mais pesquisadas são os exercícios aeróbicos e anaeróbicos,
visto que ambas as modalidades melhoram as suas condições.
O
presente estudo apresentou como limitações a dificuldade em encontrar artigos
científicos referentes ao tema abordado e que possuíssem qualidade metodológica
procedente, além disso, nenhum estudo duplo-cego foi encontrado disponível na
íntegra nas bases de dados consultadas.
De
acordo com o presente estudo, pode-se concluir que o programa de exercícios
supervisionados em esteira é o mais indicado para pacientes com DAOP e que após
doze semanas de intervenção já é obtida uma melhora no quadro, entretanto, o
treinamento resistido também se mostrou eficiente. Contudo, a junção das duas
modalidades pode trazer mais benefícios para esses pacientes.
Embora
os programas de exercícios apresentem grande comprovação científica, alguns
autores ainda propõem outros tipos de intervenções para essa doença, no
entanto, para que seja observada eficácia nas modalidades atuais são
necessários mais estudos com boa qualidade metodológica.
Conflitos
de interesse
Não
há.
Fontes
de financiamento
O
presente estudo não contou com fontes de financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Rodrigues PA, Martins TM, Teodoro ECM; Coleta de dados: Rodrigues PA,
Martins TM; Análise e interpretação dos dados: Rodrigues PA, Martins TM,
Teodoro ECM; Redação do manuscrito: Rodrigues PA, Martins TM, Teodoro
ECM; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante:
Teodoro ECM, Nery FPOS, Galera SRGP, Miranda VCR.