Fisioter
Bras 2022;2391);37-50
ARTIGO ORIGINAL
Capacidade funcional de indivíduos com
doenças crônicas
Functional
capacity of individuals with chronic diseases
Orlando Pereira Cativo*, Wendell Mattheus
Amâncio da Silva**, Jennifer Letícia Nery Gomes Ferreira**, Jaqueline de Sousa
Veras Barbosa***, Ejandre Garcia Negreiros da
Silva***, Barbara Lira Bahia****, Roberta Lins Gonçalves*****
*Acadêmico do Escola de Ciências da
Saúde, Centro Universitário do Norte, **Acadêmico da Universidade Federal do
Amazonas (UFAM), ***Mestrando do Programa de Pós-graduação strictu
sensu em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Amazonas (UFAM),
****Professora do Escola de Ciências da Saúde, Centro Universitário do Norte,
*****Coordenadora do Programa de Pós-graduação strictu
sensu em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
Recebido em 15 de outubro de 2021; aceito em 6 de janeiro
de 2022.
Correspondência: Orlando Pereira Cativo, Avenida
Ajuricaba, 1154, 69065-110 Manaus AM
Orlando Pereira Cativo:
orlandopereira735@hotmail.com
Jaqueline de Sousa Veras
Barbosa, jaquefst10@hotmail.com
Wendell Mattheus Amancio da Silva,
wendellmattheus@gmail.com
Jennifer Letícia Nery
Gomes Ferreira, jenniferlnery@gmail.com
Barbara Lira Bahia:
fisio.barbara@hotmail.com
Ejandre Garcia Negreiros da
Silva: ejandregnsilva@gmail.com
Roberta Lins Gonçalves:
betalinsfisio@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: As doenças crônicas são condições
complexas de saúde associadas a sintomas variados, que aumentam a propensão a
exacerbações, redução da capacidade funcional e piora da qualidade de vida
(QV). Assim, restabelecer a capacidade funcional pode ser um importante alvo
terapêutico, reduzindo a morbidade e a mortalidade. Para tal, torna-se
necessária a monitorização dessa importante variável. Objetivo:
Investigar a capacidade funcional de indivíduos com doenças crônicas. Métodos:
Estudo transversal de amostra por conveniência com indivíduos adultos com
doenças crônicas, o qual analisou o nível de capacidade funcional utilizando o
Teste de Caminhada de 6 Minutos (TC6M) e o teste de sentar e levantar. A
capacidade cardiorrespiratória por meio do questionário Duke Activity Status Index (DASI) e dispneia pelo Medical
Research Council (MRC).
Para avaliar o impacto da doença na vida do indivíduo, foi analisada a
qualidade de vida (QV) pelo Questionário do Hospital Saint George na Doença
Respiratória (SGRQ), o Questionário STOP-BANG para a detecção do risco de
Síndrome Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) e para a avaliação da Sonolência
Excessiva Diurna (SES) foi utilizado o questionário de Epworth.
Os dados foram analisados no programa estatístico SigmaPlot
versão 11.0 (Systat Software). Resultados:
Foram estudados 77 indivíduos com doenças crônicas, sendo o principal
diagnóstico a DPOC. A maior parte apresentou dispneia grau 2, aproximadamente
39% Sonolência Diurna e, aproximadamente, 25% alto risco de SAOS. A QV foi
reduzida em todos os domínios, principalmente no domínio que analisou o impacto
da doença na vida. A capacidade cardiorrespiratória foi baixa. A distância
percorrida média no TC6m correspondeu a 72,72% do valor predito, demonstrando
baixa capacidade funcional. Conclusão: Os indivíduos, com doenças
crônicas, estudados apresentaram condições de saúde comprometidas de maneira
multidimensional, com redução da capacidade funcional. Houve redução da
qualidade de vida e da qualidade de sono, com a presença de distúrbio do sono
em uma parcela significativa, além da presença de uma variedade de condições
que repercutiram negativamente na sua vida.
Palavras-chave: aptidão cardiorrespiratória; doença
crônica; teste de caminhada.
Abstract
Introduction:
Chronic diseases are complex health conditions associated with varied symptoms,
which increase the propensity for exacerbations, reduced functional capacity
and poorer quality of life (QL). Thus, restoring functional capacity can be an
important therapeutic target, including morbidity and mortality. For this, it
is necessary to monitor this important variable. Objective: To
investigate the functional capacity of disabling with chronic diseases. Methods:
Cross-sectional study of a convenience sample with adults with chronic
diseases, which analyze the level of functional capacity using the 6-minute
walk test (6MWT) and the sit and stand test. Cardiorespiratory capacity through
the Duke Activity Status Index (DASI) questionnaire and dyspnea by the Medical
Research Council (MRC). To assess the impact of the disease on the individual's
life, quality of life (QL) was analyzed using the Saint George's Hospital
Respiratory Disease Questionnaire (SGRQ) and the STOP-BANG Questionnaire for
the detection of the risk of Obstructive Sleep Apnea Syndrome (OSAS) and for
the assessment of Excessive Daytime Sleepiness (SES) the Epworth questionnaire
was used. Data were fulfilled in the statistical program SigmaPlot
version 11.0 (Systat Software). Results: 77
patients with chronic diseases were studied, the main diagnosis being COPD.
Most had grade 2 dyspnea, approximately 39% had daytime sleepiness and
approximately 25% had high risk of OSAS. QoL was reduced in all domains,
especially in the domain that analyzed the impact of the disease on life.
Cardiorespiratory capacity was low. The mean distance covered in the 6MWT
corresponded to 72.72% of the predicted value, demonstrating low functional
capacity. Conclusion: The nodes with chronic diseases studied, health
conditions compromised in a multidimensional way, with reduced functional
capacity. There is a reduction in quality of life and sleep quality, with the
presence of sleep disorders in a significant portion, in addition to the
presence of a variety of conditions that negatively impacted their life.
Keywords:
cardiorespiratory fitness; chronic disease; walk test.
O envelhecimento populacional é um
fenômeno mundial que cresce de forma acelerada. Desde as últimas décadas, o
Brasil também se depara com o envelhecimento populacional e aumento da
longevidade. Segundo a síntese de indicadores sociais do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de pessoas com 60 anos ou mais
na população brasileira passou de 12,8% para 14,4% entre 2012 e 2016, passando
de 25,5 milhões para 29,6 milhões, um crescimento de 16,0% [1,2,3,4,5,6,7,8,9,10]. Entretanto,
esse envelhecimento populacional tem acarretado transformações na incidência e
prevalência das doenças, bem como alavancado os índices de óbitos causados
pelas doenças crônicas não transmissíveis [11]. Grande parte das doenças
crônicas tem manifestações respiratórias. Fatores como a exposição ao tabaco e
a outros poluentes ambientais, além das variações climáticas, tem influenciado
sobremaneira o aumento das doenças respiratórias em todo o mundo [12].
A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono
(SAOS) é um distúrbio do sono caracterizado pela obstrução completa ou parcial
das vias aéreas superiores durante o sono, resultando em períodos de apneia, dessaturação e despertares frequentes com consequente
sonolência diurna [5]. Clinicamente, os indivíduos acometidos pela SAOS podem
apresentar sonolência diurna, obesidade, aumento da circunferência do pescoço
(> 42 cm para homens e 37 cm para mulheres), ronco alto e despertares devido
a engasgo ou asfixia, dores de cabeça matinais e prejuízos à concentração e a
memória [13].
O diagnóstico da SAOS se dá com base na
investigação de sinais e sintomas clínicos, e o exame de polissonografia de
noite inteira, considerado o padrão ouro para a investigação [14,15,16,17]. Os
sintomas presentes na SAOS podem ser divididos entre os que se manifestam
durante o sono e os que estão presentes no período de vigília. Os sinais e
sintomas mais comuns da apneia do sono são roncos, apneias testemunhadas e
sonolência excessiva diurna (SED) [14,15,16,17]. A utilização de ferramentas de
triagem para identificar a possível presença dos DRS, como os questionários,
podem auxiliar na detecção precoce dos mesmos, sendo particularmente útil
quando a abordagem diagnóstica padrão não é disponível [14,15,16,17].
Os questionários utilizados neste estudo
foram: Questionário STOP-BANG, que avalia a presença de ronco e sono não
reparador, é amplamente utilizado para a detecção do risco de SAOS. A escala de
sonolência de Epworth (ESE), que foi originalmente
concebida para avaliar a presença da SED, atualmente também tem sido aplicada
para auxiliar na identificação do risco de SAOS [14,15,16,17]. Este instrumento
avalia a chance de o indivíduo cochilar em situações corriqueiras do dia a dia.
A presença da sonolência diurna vem sendo descrita na literatura como uma
condição clínica frequente, o que pode levar a um impacto negativo na qualidade
de vida e na capacidade laboral dos indivíduos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu
a qualidade de vida (QV) como “a percepção do indivíduo em relação a sua
posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive
e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. O
Questionário do Hospital Saint George na Doença Respiratória (SGRQ) é utilizado
para a avaliação de qualidade de vida [18].
O questionário de DASI estima a
capacidade cardiorrespiratória por calcular o volume máximo de oxigênio
consumido (VO2máx) a partir de 12 itens de atividades diárias como
higiene pessoal, locomoção, tarefas domésticas, função sexual e recreação com
seus respectivos gastos metabólicos (MET), levando a uma pontuação final, que
quanto maior, melhor sua capacidade funcional estimada [19].
O teste de caminhada de 6 minutos (TC6M)
é utilizado para avaliação da capacidade funcional em indivíduos pulmonares
crônicos, sendo amplamente difundido e aceito na prática clínica devido a sua
simplicidade e fácil reprodutibilidade. Ele avalia de forma global a resposta
do organismo durante o exercício, ajudando na determinação de prognóstico,
sendo equivalente a um gasto metabólico de atividades de vida diária.
Atualmente vem sendo utilizado em diversas doenças respiratórias crônicas,
incluindo Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), doenças intersticiais,
fibrose cística, bronquiectasia, asma, hipertensão
pulmonar e doenças vasculares pulmonares, além de insuficiências cardíaca e
fibromialgia [20,21].
Tem se desenvolvido ao longo dos últimos
tempos outros testes alternativos com a mesma finalidade, como o Teste de
Sentar e Levantar (TSL), no qual o indivíduo é instruído a sentar e levantar de
uma cadeira por 1 minuto seguindo o maior número de repetições que puder [22].
Trata-se de um estudo transversal de
amostra por conveniência, o qual avaliou pacientes com diagnóstico de doenças
crônicas que foram encaminhados para a realização de teste de caminhada de seis
minutos (TC6M) no ambulatório de pneumologia do Hospital Universitário Getúlio
Vargas (HUGV) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Foram inclusos, neste estudo, indivíduos
adultos, com diagnóstico de doenças crônicas, não fumantes atuais, não
etilistas, em tratamento regular para a doença e que não estivessem em vigência
de exacerbações da doença e excluídos aqueles que apresentaram doenças
ortopédicas, neurológicas ou cognitivas que impediram a realização dos testes
propostos.
Aspectos éticos
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de
Ética e Pesquisa (CEP) da UFAM sob CAAE 70829217.9.0000.5020 e os participantes
assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme
Resolução 466/2012-CNS.
Procedimentos experimentais
A coleta de dados foi realizada de
maneira acurada e sistematizada por meio de entrevista e posterior aplicação
dos questionários. Informações adicionais coletadas incluíram altura, peso,
Índice de Massa Corporal (IMC) (kg/m2), tempo de doença e
informações sobre a medicação. Todos os indivíduos receberam informações
detalhadas sobre os testes antes de começar.
Nem todos os participantes realizaram
todos os testes, pois alguns não conseguiram realizar o teste de sentar e
levantar.
A dispneia foi avaliada pelo Medical Research Council (MRC) que se
trata de uma escala de 5 pontos baseada na gravidade da dispneia [1,23]. A QV
relacionada à saúde foi avaliada pelo Questionário Respiratório de Saint
George. Este questionário consiste de 76 itens que abordam o efeito da doença
respiratória na qualidade de vida. É composto por três domínios (sintomas,
atividades e impacto da doença) que variam de 0% (melhor) a 100% (pior), além
de uma pontuação total também expressa em porcentagem. Considera-se que quanto
maior a porcentagem, maior a influência dos sintomas respiratórios na qualidade
de vida do paciente, consequentemente, um pior resultado [16,18].
Para a avaliação da Sonolência Excessiva
Diurna (SES), utilizou-se o questionário de Epworth,
que consiste em 8 itens que abordam a sonolência em atividades diárias. As
questões são de múltipla escolha, e cada resposta varia de 0 a 3. O valor 0
refere-se a “nenhuma chance de cochilar”, valor 1 refere-se a “pequena chance
de cochilar”, valor 2 refere-se a “moderada chance de cochilar” e o valor 3
refere-se a “alta chance de cochilar”. Nesse instrumento, pontuações acima de
10 são caracterizadas como sonolência excessiva, enquanto abaixo de 10 indicam
ausência de sonolência [8,24].
A mensuração do risco de Síndrome da
Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) foi realizada pelo questionário de STOP-BANG.
Ele é baseado em oito itens com questões referentes ao ronco, cansaço, fadiga,
sonolência, observação de parada da respiração durante o sono (apneia), pressão
arterial, IMC e idade. Estas perguntas consistem em respostas do tipo sim ou
não (pontuação 1 e 0), com um escore total que varia de 0 a 8, porém três das 8
questões possuem peso diferente para gerar o escore final que varia entre
baixo, intermediário e alto risco de SAOS [15,16].
Para a avaliação da capacidade
cardiorrespiratória, foi utilizado o questionário Duke Activity
Status Index (DASI). O DASI é um questionário originalmente desenvolvido em
inglês, validado para o português em 2014. É um questionário autoaplicável
composto por 12 itens e permite, de maneira indireta, o cálculo do volume de
oxigênio máximo consumido (VO2máx estimado). Ele consiste em
questões sobre a capacidade dos indivíduos de realizar cuidados pessoais (um
item), deambulação (quatro itens), trabalho doméstico (três itens), trabalho no
quintal (um item), relações sexuais (um item) e atividades recreativas (dois
itens) [19]. Os indivíduos selecionam sim ou não como resposta a cada item
[19]. Cada item é ponderado com base no nível de MET associado à atividade
[19]. Um escore total é obtido pela soma dos escores ponderados (variação da
ponderação do MET de 1,75 a 8,0) para os 12 itens. Os escores totais variam de
0 a 58,2, com escores mais altos refletindo melhor status funcional [19]. Não
há ponto de corte estabelecido para este instrumento.
Para a avaliação da capacidade funcional
foi utilizado Teste de Caminhada de 6 Minutos (TC6M). Ele foi realizado
conforme recomendações da American Thoracic
Society [25]. Os participantes foram orientados a caminhar, continuamente,
a maior distância possível, em um percurso de 30 metros durante seis minutos,
sendo permitido diminuírem o ritmo e até mesmo interromper o teste caso fosse
necessário. No final do mesmo era registrada a distância percorrida em metros
bem como percentual em relação ao predito, estimado a partir de uma equação.
Para a sua realização foram utilizados: cronômetro, cones para a delimitação do
circuito, esfigmomanômetro, estetoscópio e oxímetro de pulso. Os participantes
foram instruídos a usar roupas e calçados confortáveis, além de manter
medicação usual. Antes da realização do teste, os participantes fizeram um
período de repouso de, no mínimo, 10 minutos. Durante esse período foram
avaliados pressão arterial, saturação periférica de oxigênio, dispneia,
frequência cardíaca (FC) e respiratória (FResp).
Os participantes foram treinados
previamente e realizaram dois testes, com intervalo mínimo de 30 minutos entre
eles. A realização de duas repetições do teste visou eliminar o efeito
aprendizado e assegurar a reprodutibilidade. Caso ocorresse uma diferença
superior a 10% na distância percorrida entre a primeira e a segunda repetição,
um terceiro teste seria realizado [26]. Suplementação com oxigênio foi instituída
quando a saturação periférica de oxigênio registrasse valores iguais ou
inferiores a 87%. Ao término do teste, os dados vitais foram coletados e a
distância percorrida calculada.
Para a avaliação funcional também foi
realizado o teste de sentar e levantar (TSL). Foi utilizado como forma
complementar de avaliar a capacidade funcional, com ênfase na resistência de
membros inferiores [22]. Os indivíduos foram orientados a sentar e levantar de
uma cadeira estável com encosto, o maior número de vezes possíveis durante um
minuto, sendo permitido diminuir o ritmo e até mesmo interromper o teste caso
fosse necessário [22]. No final, foi feito o registro do número de vezes que o
indivíduo foi capaz de realizar o movimento de sentar e levantar durante o
período de 1 minuto.
Análise estatística
Os dados foram analisados no programa
Excel, por meio de análise descritiva simples com medidas de tendência central
e de dispersão, como: média, desvio padrão e mediana.
Foram estudados 77 indivíduos com
doenças crônicas, sendo a maioria do sexo feminino (64,94%), com faixa etária
entre 18 e 91 anos, Tabela I.
A maioria da amostra (58,4%) apresentou
diagnóstico de DPOC, 14% Asma, 10% Hipertensão Pulmonar, 9% Fibrose Pulmonar,
5% Bronquiectasia, 2,6% sequela de tuberculose e
pneumonia, a alguns apresentavam coexistência de várias patologias.
A distância percorrida média no TC6M
foi, em média, 394,07 ± 118,47 m, o que correspondeu a 72,72% do valor predito
(deveriam percorrer, em média, 540,71 ± 57,83 m) conforme a Tabela II. Os
participantes realizaram, em média, 18,79 ± 4,71 repetições no teste sentar e
levantar (n = 43). Nem todos os participantes conseguiram realizar o teste de
sentar e levantar. A capacidade cardiorrespiratória foi baixa, com média de
24,67 ± 6,61 de VO2máx, correspondendo a 7,05 ± 1,89 METs
como exposto na Tabela III. A maior parte da amostra apresentou dispneia grau
II em repouso conforme Gráfico 1.
A QV foi reduzida em todos os domínios,
principalmente no domínio que analisou o impacto da doença na vida, Tabela IV.
Aproximadamente 38% apresentou Sonolência Diurna, com aproximadamente 25% com
alto risco de SAOS, conforme o gráfico 2.
Tabela I - Análise descritiva da idade,
altura, peso e IMC dos pacientes avaliados
N = número amostral; IMC
= Índice de Massa Corporal; kg = Quilogramas; m = metros; Fonte: Autores.
Tabela II - Análise descritiva dos resultados
do Teste de Caminhada de 6 minutos dos pacientes avaliados
Fonte: Autores
Tabela III - Análise descritiva dos resultados
do Escore DASI dos pacientes avaliados
Fonte: Autores
Fonte: Autores
Gráfico 1 - Resultado da análise da dispneia
Tabela IV - Análise descritiva dos resultados
do Questionário de Saint George dos pacientes avaliados
N = número amostral;
Fonte: Autores
Fonte: Autores
Gráfico 2 - Resultado da análise do risco de
SAOS pelo questionário STOP-BANG
Este estudo analisou a capacidade
funcional, resistência de membros inferiores, a QV e a presença de distúrbios
do sono em indivíduos com doenças crônicas com sintomas respiratórios. As
condições crônicas, especialmente as doenças crônicas, iniciam e evoluem
lentamente [1,6]. Usualmente, apresentam múltiplas causas que variam no tempo,
incluindo hereditariedade, estilo de vida, exposição a fatores ambientais e a
fatores fisiológicos. Normalmente, faltam padrões regulares ou previsões para
as condições crônicas [1,2,3,4,5,6]. Ao contrário das condições agudas, nas quais, em
geral, espera-se uma recuperação adequada, as condições crônicas levam a muitos
sintomas e a perda da capacidade funcional.
Assim, a melhoria das condições de saúde
de indivíduos com doenças crônicas é um desafio complexo. Ela requer a quebra
do paradigma de uma atenção à saúde fragmentada, reativa e episódica, centrada
na doença, para focar na pessoa, promovendo e mantendo, da melhor maneira
possível, a capacidade do indivíduo viver de maneira plena. Este novo modelo é
multiprofissional e interdisciplinar. Requer monitoramento sistematizado de
aspectos que, sabidamente, podem interferir negativamente na vida de indivíduos
com doenças crônicas, prevenindo as condições de saúde. As doenças
respiratórias crônicas, que foram alvo deste estudo, demonstraram considerável
impacto negativo na capacidade funcional e QV dos indivíduos estudados [1,2,3,4,5,6].
Os diversos sintomas apresentados como dispneia, fadiga, alterações emocionais,
alterações do sono, diminuição da capacidade cardiorrespiratória podem causar
redução da capacidade funcional e levar a inatividade, redução da capacidade
aeróbia, e o ciclo de inatividade e sedentarismo.
A OMS define a QV como um conceito que
incorpora de forma complexa e individual a saúde física, o estado psicológico,
o nível de independência, as relações sociais, crenças e o envolvimento do
indivíduo com o meio ambiente [15,16]. O Questionário Respiratório de Saint
George aborda os aspectos relacionados a três domínios: sintomas, atividade e
impactos psicossociais que a doença respiratória inflige ao paciente. Cada
domínio tem uma pontuação máxima possível; os pontos de cada resposta são
somados e o total é referido como um percentual deste máximo. Valores acima de
10% refletem uma qualidade de vida alterada naquele domínio. Alterações iguais
ou maiores que 4% após uma intervenção, em qualquer domínio ou na soma total
dos pontos, indicam uma mudança significativa na qualidade de vida dos pacientes.
Nossos resultados demonstraram que a qualidade de vida foi amplamente afetada
em todos os seus aspectos nos indivíduos com doenças crônicas, sendo a
principal alteração relacionada a capacidade dos indivíduos de realizar
atividades em seu dia a dia, e relativo à qualidade que estes indivíduos
realizam estas atividades.
A qualidade de sono, importante fator
implicante na QV, também sofreu alterações, com parcela pequena da amostra
tendo bons resultados. Associada à qualidade surgem os distúrbios. A sonolência
excessiva diurna e a síndrome da apneia obstrutiva crônica foram indicadas em
pelo menos um terço da população. A má qualidade do sono está presente em 8 a
18% na população em geral, sendo fortemente associada às DCVs
e a mortalidade geral. Há comprovada relação entre a má qualidade e a duração
do sono com uma série de fatores de risco independentes para várias doenças. A
depressão também está independentemente associada com má qualidade do sono, e
este é um problema altamente prevalente em indivíduos com doenças crônicas.
Estes problemas podem ser observados pela dificuldade para adormecer, má
qualidade do sono, sono não reparador, vigília, despertares durante a noite e
excesso de sonolência diurna [1,22,24,25]. A baixa qualidade do sono pode
contribuir para a sensação de dor, fadiga e distúrbios no humor, e mais posteriormente
afetar a QV.
A união e associação destes sintomas
culmina em um impacto na capacidade funcional. Assim, a relevância deste estudo
foi fornecer conhecimento sobre as repercussões das doenças crônicas em vários
aspectos da vida dos indivíduos, de maneira multidimensional, incluindo a QV.
Estes resultados podem fornecer alvos terapêuticos além dos sintomas
característicos das doenças. Mais estudos são importantes para avaliar se
medidas de recuperação funcional e reabilitação podem melhorar a vida de
indivíduos com doenças crônicas.
Os indivíduos estudados, com doenças
crônicas, apresentaram condições de saúde comprometidas de maneira
multidimensional, com redução da capacidade funcional. Houve redução da
qualidade de vida e da qualidade de sono, com a presença de distúrbio do sono
em uma parcela significativa, além da presença de uma variedade de condições
que repercutiram negativamente na sua vida.
Agradecimentos
Ao Hospital
Universitário Getúlio Vargas HUGV/UFAM, a UFAM. A equipe do grupo de pesquisa
“Saúde Funcional, Epidemiologia, Avaliação e Tratamento” que fizeram parte da
execução do Teste da Caminhada de Seis Minutos: Pablo Costa Cortêz,
Patricia Wilkens Chaves,
Fernanda Facioli dos Reis Borges, Fernanda
Albuquerque Marinho Marcião
Fonte de financiamento
Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), por meio do Programa de Apoio a
Iniciação Científica PAIC do Amazonas do Hospital Universitário Getúlio Vargas
HUGV/UFAM.
Conflito de interesse
Não há conflito de
interesse.
Contribuição dos autores
Orientação: Lins R; Execução:
Cativo OP, Barbosa JSV, Silva WMAS, Ferreira JLNG, Lins R; Elaboração do
manuscrito: Cativo OP, Barbosa JSV, Bahia BL, Silva EGN, Lins R; Revisão
do manuscrito: Bahia BL, Silva EGN, Lins R