Fisioter Bras 2022;23(3):451-62
REVISÃO
Evidências
científicas sobre a temperatura de aplicação da radiofrequência no fibroedema geloide: revisão de literatura
Scientific evidence about the temperature of radiofrequency
application in cellulite: literature review
Alexia Aparecida
Balduino Christoforo Tressino*, Bianca Sartarelli*, Danila Maria Corassari*, Flávia Fernanda
de Oliveira Assunção*
*Universidade
de Araraquara, Araraquara, SP
Recebido
em 18 de outubro de 2021; Aceito em 9 de maio de 2022.
Correspondência: Flávia Fernanda de Oliveira Assunção, Universidade
de Araraquara, Rua Carlos Gomes, 1338, 14801-340 Araraquara SP
Alexia
Aparecida Balduino Christoforo
Tressino: alexia.christoforo@hotmail.com
Bianca
Sartarelli: bianca_sarterelli98@hotmail.com
Danila Maria Corassari:
danilacorassari@gmail.com
Flávia
Fernanda de Oliveira Assunção: ffdeoassuncao@uniara.edu.br
Resumo
O Fibroedema Geloide (FEG) é uma afecção
vascular e estética, com maior incidência em mulheres, que pode ocasionar a redução
da qualidade de vida e autoestima. Sendo a radiofrequência um recurso para seu tratamento,
esta revisão buscou por evidências científicas sobre sua aplicação, temperatura
ideal para melhores resultados e o nível de evidência dos estudos. As pesquisas
nas bases eletrônicas Pubmed, Lilacs,
Web of Science e Cochrane foram limitadas entre 2006 e
2019, com os descritores radiofrequency, cellulite, celulite, celulites e a palavra-chave: gynoid lipodystrophy, nos idiomas
português e inglês. Foram incluídos estudos que descreveram o objetivo de investigar
a radiofrequência de forma isolada no FEG. Foram encontrados 206 estudos e 12 foram
incluídos. Foram verificadas limitações quanto a metodologia aplicada no âmbito
amostra, metodologia empregada, e/ou a análise de dados e ausência de parâmetros
de aplicação. Quanto a temperatura observou-se maior representação entre 40 e 42oC,
com níveis de evidência moderados quanto aos estudos. São necessários trabalhos
futuros com maior padronização de parâmetros, além de um maior rigor metodológico
para melhor investigação da temperatura ideal para o tratamento do FEG.
Palavras-chave: celulite; terapia por radiofrequência;
temperatura.
Abstract
Fibroedema Geloid (FEG) is a vascular and aesthetic disorder, with a higher
incidence in women, which can lead to a reduction in quality of life and self-esteem.
Since radiofrequency is a resource for its treatment, this review sought scientific
evidence on its application, ideal temperature for better results and the level
of evidence of the studies. The search in the electronic databases Pubmed, Lilacs, Web of Science and Cochrane were limited between
2006 and 2019, with the descriptors radiofrequency, cellulite, celulite, celulites and the keyword:
gynoid lipodystrophy, in Portuguese and English. Studies that described the objective
of investigating radiofrequency alone in the FEG were included. We found 206 studied
and 12 were included. The main limitations were the methodology applied in the sample
scope, methodology used, and/or data analysis and absence of application parameters.
For temperature, a greater representation was observed between 40 and 42oC,
with moderate levels of evidence regarding the studies. Future works are needed
with better standardization of parameters, in addition to greater methodological
rigor for the investigation of the ideal temperature for the treatment of FEG.
Keywords: cellulitis; radiofrequency therapy;
temperature.
O
Fibroedema Geloide (FEG), denominado
popularmente como ‘celulite’, é uma disfunção da pele, com desequilíbrio da fisiologia
tegumentar e subcutânea. Há espessamento das camadas subepidérmicas, que muitas
vezes pode ser doloroso, e que aparecem como nódulos ou placas de extensão e localização
variadas [1]. De causa multifatorial e apresenta três principais fatores: predisponentes,
determinantes e condicionantes, que quando associados geram maior probabilidade
da instalação. Quanto aos fatores predisponentes pode-se citar a hereditariedade,
idade, sexo, biotipo, cor da pele e desequilíbrio hormonal, nos fatores determinantes
estão inclusos a obesidade, tabagismo, ingestão de bebidas alcoólicas, sedentarismo,
estresse, maus hábitos alimentares, uso de contraceptivos hormonais, disfunção hormonal,
gravidez, uso de medicamentos, alterações circulatórias e alterações ortopédicas,
e nos fatores condicionantes estão presentes os desequilíbrios no tecido adiposo
subcutâneo, na microcirculação e na matriz extracelular [2].
Seu
tratamento é relevante, uma vez que pode levar a problemas álgicos nas regiões acometidas,
culminando até na imobilidade dos membros afetados [1], e ocasionar problemas psicossociais,
pois de acordo com estudo 78,3% das mulheres sentem-se pressionadas a procurar tratamentos
não invasivos para o FEG, e 50% dessas já receberam comentários constrangedores
a respeito do FEG [3]. Dentre os recursos eletrofísicos
para o tratamento tem-se a radiofrequência, comumente utilizada na prática clínica.
Este
equipamento produz uma oscilação de corrente elétrica capaz de gerar movimentação
iônica e molecular promovendo aquecimento, e é este calor que ocasionará os diferentes
efeitos biológicos e clínicos cujos resultados são dependentes da profundidade do
tecido que se deseja atingir [4]. A radiofrequência promove um tratamento não invasivo
que ao transcorrer pelos tecidos eleva a temperatura tissular promovendo uma vasodilatação,
melhora o trofismo tissular, melhora a oxigenação e nutrição tissular, remodela
fibras colágenas, promove a neocolagênese e aumenta a
espessura e densidade do tecido epitelial, reduzindo a flacidez e deformidades na
pele [2]. O êxito do tratamento com a radiofrequência está relacionado ao uso correto
da temperatura [5].
Por
ser uma disfunção que incomoda a maioria da população feminina diante dos padrões
de beleza pregados pela sociedade, o que resulta em problemas psicológicos e sociais,
afetando a qualidade de vida, o tratamento para esta disfunção torna-se importante
a fim de melhorar a qualidade de vida dessas mulheres. Os objetivos da pesquisa
foram verificar as evidências científicas sobre a aplicação da radiofrequência no
FEG com vistas à temperatura aplicada e avaliar o rigor metodológico das pesquisas.
Para
o desenvolvimento da presente revisão foram percorridas as
seguintes etapas: 1)
Definição da questão norteadora; 2)
seleção dos artigos e critérios de
inclusão;
3) extração dos artigos incluídos; 4)
avaliação dos estudos incluídos e 5)
interpretações
dos resultados [6] e avaliação do nível de evidência [7], que classificam 7 níveis,
sendo o nível I o de melhor rigor metodológico. A questão norteadora desta revisão
consistiu em: “Qual a temperatura ideal para o tratamento do fibroedema geloide com radiofrequência?”.
Foram
selecionadas as bases eletrônicas de dados Pubmed, Lilacs, Web of Science e Cochrane,
com agrupamento dos descritores do DeCS/MeSH: radiofrequency, cellulite, celulite, celulites e palavra-chave: gynoid lipodystrophy, em conjunto
com o operador booleano AND.
Os
critérios de inclusão foram identificar palavra-chave e/ou os descritores no título
ou resumo, estudos em humanos, publicados entre 2006 e 2019, nos idiomas português
e inglês, com uso isolado da radiofrequência, sendo excluídos estudos com associação
de recursos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações ou teses não publicadas
e artigos de revisão.
Após
leitura de título e resumo dos estudos resultantes foi realizada a seleção dos estudos
incluídos para extração de conteúdo pertinente à questão norteadora e aos objetivos
desta pesquisa. As avaliações foram realizadas por quatro revisores que organizaram
o conteúdo de forma individual e discutida em conjunto posteriormente, visando elucidar
possíveis limitações e vieses dos estudos. Para catalogar os estudos foram organizadas
planilhas nas quais continham dados da Estratégia PICOS [8]: população, pessoas,
intervenção, comparação presente ou não, e desfecho (outcomes),
sendo acrescidas informações sobre o protocolo aplicado, temperatura e nível de
evidência.
Foram
encontradas 206 referências sobre o tema, sendo incluídos na amostra final desta
revisão 12 estudos, todos em mulheres. Quanto ao nível de evidência dois estudos
[9,10] são de nível 2 (evidências derivadas de pelo menos um ensaio clínico randomizado
controlado bem delineado) e os outros 10 estudos são de nível 3 (evidências obtidas
de ensaios clínicos bem delineados sem randomização). A Tabela I apresenta a demonstração
dos dados extraídos dos estudos.
Tabela
I - Resultados dos artigos
científicos sobre a aplicação da radiofrequência no FEG selecionados
N
= amostra, NC = Nada Consta, FEG = Fibroedema geloide
O
uso da radiofrequência no tratamento do fibroedema geloide é comum na prática clínica e tem sido investigado quanto
aos seus efeitos sobre a pele. No entanto, os parâmetros adotados nas pesquisas
podem revelar limitadores para sua replicação na prática clínica, uma vez que há
grandes diferenças quanto a metodologia empregada nos estudos, bem como as características
dos equipamentos. Foi possível verificar uma grande variação quanto a composição
das amostras e parâmetros adotados. Tendo em vista a importância destes fatores
para interpretação dos resultados, esta revisão descreve tais variações a fim de
corroborar os achados sobre qual seria a temperatura ideal a ser utilizada.
Quanto
às amostras e caracterização dos grupos, há variação de mínimo de 8 [16,17] e máximo
de 50 [14] participantes, porém nenhum dos estudos aqui investigados relata aplicação
de cálculo amostral, ou se a amostra foi de conveniência. A diferença entre amostras
maiores ou menores e diferentes grupos eleitos dificultam a padronização dos resultados,
a exemplo, dois estudos [10,15] que não mencionaram os critérios de inclusão e/ou
exclusão adotados para a seleção das participantes. Estudos com amostras pequenas
podem não conseguir reproduzir resultados clínicos expressivos, diante das variações
que podem ser pequenas ou nulas. O delineamento de pesquisa não é claro de forma
unânime nos estudos, tanto na metodologia quanto na análise dos resultados, mas
há estudos que descrevem bem o delineamento, descrição e seleção de grupo controle,
randomização ou não, e se esta foi simples ou cega [9,15,18].
É
unânime a investigação em mulheres, mas com grande variação na idade, entre 18 e
60 anos. Outro item relevante para esta investigação foi a comparação do grau do
FEG eleito pelos estudos, para assim agrupar os resultados conforme estudos que
investigaram o mesmo grau da disfunção, uma vez que diferentes graus apresentam
diferentes níveis de comprometimento, sendo passíveis ou não de melhora [1]. O FEG
é comumente encontrado em mulheres, nas regiões ginoides
[1], sendo estas as áreas investigadas na maioria dos estudos, pois houve também
aplicação em abdômen [13,20] e braços [13].
Quanto
ao grau de comprometimento, dois estudos [14,15] investigaram apenas o grau 3, já
os demais investigaram graus associados, perfazendo grau 2 a 4 [9], grau 3 e 4 [12],
grau 1 a 3 [10], grau 2 e 3 [16,17,19,20], grau 1, 2 e 3 [18], e seleção de grau
2 ou maior [13] e um não descreveu [11]. Foi analisado qual o método de avaliação
os autores empregaram, encontrando-se também diferentes métodos.
Levaram
em consideração a classificação de Nurnberger-Muller [21]
as pesquisas [10,12,13,16,18,20], já a classificação proposta por Rossi e Verganini [22] foram dois estudos [14,15], enquanto que a classificação
de Curri [23] e Fibro Edema
Geloid Assessment Protocol (PAFEG)
foi aplicado em um [17], e a classificação proposta por Guirro
e Guirro [1] também em único estudo [19]. Dois estudos
não relatam a classificação aplicada [9,11]. Diferentes métodos de avaliação podem
apresentar diferentes classificações quanto ao nível de comprometimento, considerando-se
ainda que os métodos em sua grande maioria são qualitativos.
Estudo
clássico dos efeitos da radiofrequência na pele por meio de análise histológica
mostrou que as alterações na produção de colágeno por meio do calor dependem do
processo inflamatório gerado, e que este fenômeno ocorreu por até 28 dias após a
aplicação do recurso [24]. Com base nesse estudo a radiofrequência era comumente
aplicada em uma única sessão mensal quando o objetivo de tratamento era a melhora
da ptose tissular, que muitas vezes está associada ao FEG.
Estudos
posteriores no FEG mostraram que aplicações em um período menor de tempo também
eram capazes de gerar efeitos satisfatórios, no que diz respeito ao número de sessões
e intervalos, as sessões variaram de aplicação única [15], 20 sessões [18], entremeando
duas [11], quatro [16], seis [9,12], oito [10,13,20] e 10 [17,19] e 12 sessões [14].
Os intervalos foram semanais [10,13,14,20], quinzenais [9,11,12,16,17], e por duas
vezes na mesma semana [18,19].
Para
avaliação dos parâmetros adotados foram considerados além da temperatura, a potência
em Watts (W) e tipo de aplicador (handpiece). As potências
variaram entre 20W [13] e 200W [9,11], representando uma grande variação, todavia
a potência do equipamento pode não ser fator determinante para geração de resultados
biológicos sobre o tecido cutâneo, mas pode interferir na velocidade e qualidade
do aquecimento gerado, juntamente com a qualidade e características da pele como
hidratação e vascularização. Uma vez que o equipamento apresente potência maior,
e a pele boas condições de hidratação e circulação, o aquecimento é gerado mais
facilmente.
A
diferença entre o handpiece deve ser considerada conforme
o tamanho da área (cm2) de aplicação, e pode não ser fator principal,
no entanto, na prática clínica, aplicadores maiores são indicados para regiões maiores,
e vice-versa. Esta escolha favorece melhor acoplamento, e melhor distribuição da
energia geradora de calor, desta forma a temperatura a ser atingida pode ser obtida
com maior facilidade. O tamanho da área aplicada deve ser considerado com vistas
à qualidade e manutenção do aquecimento gerado. As áreas de aplicação variaram de
7 [11] a 200 cm2 [18], e não mencionam se houve alguma subdivisão da
área total tratada [10,12,14,15,20]. Este é um fator relevante para aplicação da
radiofrequência, uma vez que, além de ser necessário atingir o aquecimento, faz-se
necessária, ainda, a manutenção desta temperatura por alguns minutos [5] fato este
que, quando aplicado recurso em grandes áreas de uma única vez interfere na qualidade
e manutenção do aquecimento gerado.
O
tipo de handpiece utilizado no tratamento não é citado
em dois estudos [13,19], enquanto que houve estudo que, além de não citarem o tipo
de handpiece empregado, não mencionam monitoramento da
temperatura [12,17].
A
temperatura atingida está intimamente relacionada com o sucesso terapêutico, porém
no FEG ainda é contraditória a faixa de temperatura ideal a ser aplicada. Com temperaturas
mais baixas, uma pesquisa [17] aplicou entre 5 e 6°C acima da temperatura inicial
da pele, o que equivaleu a cerca de 37°C em FEG do tipo compacta, o que equivale,
segundo a classificação subjetiva de calor [2] ao G3 (37 a 38°C) que leva ao aumento
da distensibilidade do colágeno. É importante ressaltar que tanto nos trabalhos
nos quais foram utilizadas temperaturas mais elevadas (39 a 43°C), quanto no trabalho
que se utilizou temperaturas mais baixas (cerca de 37°C) os resultados são descritos
como satisfatórios na melhora do FEG.
A
maioria dos autores aplicaram temperatura entre 40 e 42°C [12,13,14,15,18], porém existe
outro que cita que baixas temperaturas como 37 a 38°C [5] são mais indicadas, uma
vez que altas temperaturas podem desencadear um processo fibrótico e piorar o aspecto
do FEG principalmente quando esta é classificada como dura. Todavia, uma das limitações
verificadas nos trabalhos publicados é que estes não citam a classificação clínica
do FEG (dura, edematosa, flácida ou mista), adicionando outra dificuldade a eleger
qual a melhor temperatura. O uso de baixas temperaturas é mais indicado para refinar
os septos fibrosos, como no caso da FEG compacta, que é mais comum em indivíduos
jovens típicos de pessoas latinoamericanas, enquanto altas
temperaturas seriam mais interessantes em indivíduos que apresentam FEG do tipo
flácida, mais comum em pessoas mais velhas, sedentárias, e com fototipos mais baixos, a fim de aumentar a rigidez do colágeno
[17].
Conforme
Ronzio e Meyer [5] temperaturas de 37 a 38°C mantidas
por cinco minutos são as mais indicadas em casos de FEG compacta e edematosa, enquanto
para FEG flácida o ideal é atingir temperaturas entre 41 e 43°C. Nos estudos aqui
analisados, dois ensaios clínicos não citam a temperatura aplicada [10,20]. Ademais,
pode-se apresentar a janela de temperatura que pode apresentar resultados, pois
considera-se ainda que dos estudos aqui reunidos, os dois de maior nível de evidência
apresentam diferenças quanto à temperatura aplicada, um com temperatura entre 40
e 43oC [9], e o outro que não descreveu qual a temperatura foi atingida [10].
Contudo,
nos artigos analisados, os autores não citam a classificação clínica do FEG estudado,
ou seja, se esta era flácida ou compacta, sendo, portanto, uma limitação que deve
ser levada em consideração para o desenvolvimento de futuros trabalhos científicos.
Quanto
aos resultados no FEG, mesmo que os estudos tenham aplicado diferentes formas de
aplicação e metodologia, nos resultados descritos pelos pesquisadores foi possível
observar redução do grau do FEG. Há demonstração de resultados quanto a melhora
na densidade e a distribuição de depressões do FEG com melhora de 11,25% e 10,75%
(região anterior da coxa) e de 8,25% e 7,42% na região posterior [9], melhora de
2,9 segundo a classificação da Escala de 1 a 4 definida por Goldman [23], sendo
que 1 representa nenhuma melhora enquanto 4 melhor avaliação [12] e melhora clínica
de 50% no grau [13].
De
forma qualitativa a satisfação das participantes foi
apresentada como “muito bom”
e “bom” em 76%, e as avaliações dos
especialistas como “muito bom” e “bom” em 66%
[14]. Outro estudo [10] aponta redução de 89,28% no grau da disfunção, melhora quanto
ao número e profundidade das ondulações na superfície da pele [18] e melhora de
80% no grau do FEG [19], enquanto houve 60% de melhora na aparência quando avaliada
por especialistas [20] e redução de 24,66% nas fibras colágenas [17], perfazendo
melhora da fibrose.
Encontrou-se
ainda melhor organização fibrosa em 53% dos casos e aumento na espessura das fibras
na fáscia de Camper em 57% dos casos [11], redução na
espessura da epiderme e derme com aumento da ecogenicidade
(relacionado a reconstrução do colágeno), redução no comprimento de bandas do tecido
subcutâneo que cresceram na derme e redução no edema [10].
Quanto
aos métodos adotados para avaliação dos resultados, foram encontradas análises quantitativas,
qualitativas, exames laboratoriais e de imagem. Observou-se que em sete trabalhos
[10,11,12,13,16,17,20], foram realizadas biópsia, fotografias ou palpação para avaliação
do grau de FEG.
De
acordo com Mlosek et al. [10], as avaliações da
progressão do estágio da FEG por palpação, por técnicas fotográficas, e por recursos
para medir a elasticidade e nível de umidade da pele, são limitantes e apresentam
desvantagens, não sendo possível obter conclusões válidas, sendo o monitoramento
por imagem, como tomografia computadoriza, ressonância magnética e ultrassom métodos
mais objetivos para verificar o progresso e efeitos do recurso no FEG. Enquanto
que descrevem que a biópsia também é limitante, pois esta pode causar trauma ao
tecido alterando a morfologia histológica da zona de estudo, podendo modificar as
próximas amostras que serão retiradas. Vale ressaltar que diferentes métodos de
avaliação eleitos em um mesmo estudo podem contribuir para as conclusões dos reais
efeitos do recurso sobre a disfunção, a fim de elucidar com maior veracidade as
modificações observadas.
Apesar
de os estudos objetivarem o tratamento do FEG muitos resultados são voltados a alterações
do tecido adiposo. Goldberg et al. [12]
relatam não haver alteração de peso
e lipídeos no sangue e nem alterações na
biópsia e ressonância magnética, já outra
pesquisa [16] adiciona não haver alterações nos níveis de colesterol ou triglicérides
e na espessura da derme. Em análise histológica, foi descrita separação de fibras
na derme devido ao edema, sem alterações na epiderme ou material lipídico fora dos
adipócitos, a biópsia após 2 meses mostrou epiderme mais grossa, colágeno da derme
mais abundante e mais organizado e imagens 3-D com melhora de 42 a 55% na textura
cutânea [14]. Outros achados são de redução da camada de queratina, adipócitos com
perda da forma arredondada passando para formato poliédrico, degeneração da membrana
da célula, alguns adipócitos com menor teor lipídico e vacuolização. Sendo encontrado
ainda adipócitos necrosados, sem lipídeos (fora da célula na forma de detritos)
[15].
Além
disso, há artigos científicos que não mencionam se
houve ou não orientações ou exigências
adotadas pelos autores quanto ao hábito alimentar e a
prática de atividade física
das participantes, tais hábitos podem influenciar nos resultados
obtidos nos estudos
[9,10,11,12,14,15,19].
Quanto
ao nível de evidência, a perda de pontuação no rigor metodológico dos estudos foi
em virtude de não haver grupo controle e randomização/cegamento. Com vistas à prática
clínica no que diz respeito à temperatura de aplicação, o nível de evidência pode
não ser algo limitador para as conclusões desta revisão, no entanto reforça-se a
necessidade de estudos com maior rigor metodológico no futuro.
É
dispendioso ao profissional da área adequar resultados de
pesquisas à prática clínica
quando as lacunas são amplamente encontradas. Portanto,
além do nível de evidência,
devem ser consideradas a composição das amostras, grau e
tipo de FEG investigado,
número de aplicações, restrição
alimentar ou prática de atividade física. Além
disso,
em muitos trabalhos são utilizados recursos metodológicos
de avaliação subjetiva
ou limitante, o que torna necessária avaliação
crítica do profissional da área.
Dessa forma, torna-se importante o desenvolvimento de futuros trabalhos
científicos
com uma maior padronização nos parâmetros
avaliados, e um rigor metodológico mais
apurado para se averiguar se há uma única temperatura
adequada ou se a aplicação
de uma faixa de temperatura pode mesmo ser o mais indicado para o
tratamento, independente
do grau de comprometimento e tipo de FEG.
Diante
dos estudos levantados, não é possível afirmar a exata temperatura ideal para o
tratamento do FEG, entretanto pode-se dizer que a faixa mais utilizada está entre
40 e 42oC para os diferentes graus da disfunção, não considerando a forma clínica.
Quanto
ao nível de evidência, os estudos aqui reunidos apresentam
nível moderado, porém
há limitações e vieses quanto a
composição das amostras, cegamento,
randomização
e grupo controle.
Limitações
como diferentes amostras e metodologia amplamente diversa, assim como
os diferentes
métodos de avaliação do FEG dificultam a
padronização dos parâmetros de
aplicação,
além das diferenças entre as tecnologias de
radiofrequência nacionais e importadas.
Conflitos
de interesse
Não
há conflitos de interesse.
Financiamento
Não
houve financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Assunção FFO; Coleta de dados: Tressino AABC, Sartarelli B, Corassari DM; Análise
e interpretação dos dados: Tressino AABC, Sartarelli B, Corassari DM, Assunção
FFO; Redação do manuscrito: Tressino AABC, Sartarelli B, Corassari DM; Revisão
crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Assunção FFO