Fisioter Bras 2022;23(4):508-23
ARTIGO
ORIGINAL
Percepção
de profissionais de saúde sobre mecanismos de transmissão e contenção das
infecções hospitalares
Perception of health professionals about transmission
and containment mechanisms of hospital infections
Sabrynna Brito Oliveira, D.Sc.*,
Luan Nascimento da Silva, M.Sc.**, Jefferson Carlos Araujo Silva, M.Sc.***, Alessa Vieira Mariano****, Mara Dayanne Alves Ribeiro*****
*Centro
Universitário Isabela Hendrix, Belo Horizonte/MG, **Hospital Escola da
Universidade Federal de Pelotas, Pelotas/RS, ***Hospital Brasília, Brasília/DF,
****Universidade Católica de Pelotas (UCPEL), Pelotas/RS, *****Hospital
Regional do Norte, Sobral/CE
Recebido
em 13 de novembro de 2021; Aceito em 21 de junho de
2022.
Correspondência: Luan Nascimento da Silva, Rua Gomes
Carneiro, 1, 96010-610 Pelotas RS
Sabrynna Brito Oliveira: sabrynnabrito@gmail.com
Luan
Nascimento da Silva: luan.nascimento2222@gmail.com
Jefferson
Carlos Araujo Silva: jeffcasilva@gmail.com
Alessa Vieira Mariano: alessavmariano@gmail.com
Mara
Dayanne Alves Ribeiro: mara_dayanne2@hotmail.com
Resumo
Introdução: A Infecção Hospitalar (IH) é uma
infecção adquirida após a internação do paciente, podendo se manifestar mesmo
após a alta. A prevenção da IH perpassa pela qualificação da equipe
multiprofissional, bem como a dispensação de insumos para sua prevenção. Objetivo:
Conhecer a percepção de profissionais de um hospital escola no Sul do país
sobre mecanismos de transmissão e contenção das infecções hospitalares. Métodos:
Trata-se de um estudo de caráter descritivo, qualitativo e fenomenológico, no
qual profissionais das mais diversas categorias responderam a um questionário
contendo 15 questões objetivas e 4 subjetivas. As questões objetivas foram
baseadas na escala de Likert, por sua vez, as
questões subjetivas foram analisadas por meio do discurso de Bardin. Resultados:
17 profissionais (4 enfermeiras, 5 técnicas de enfermagem, 4 fisioterapeutas e
4 médicos) compuseram a amostra, apenas 3 eram homens. A maioria concordou que
o hospital disponibiliza sabão antimicrobiano (n = 10) e álcool 70% (n = 14),
os participantes da pesquisa foram unânimes ao apontar a etiologia de origem
hospitalar e que a prevenção da IH tem íntima relação com aspectos
organizacionais. Conclusão: Os profissionais entrevistados demonstram
conhecer os mecanismos de controle das IH, no entanto, ressaltam o
comprometimento deficitário da equipe multiprofissional para tal controle.
Palavras-chave: infecção hospitalar; profissionais de
saúde; prevenção.
Abstract
Introduction: Nosocomial
Infection (NI) is an infection acquired after the patient's hospitalization,
which can manifest even after discharge. The prevention of NI involves the
qualification of the multidisciplinary team, as well as the provision of
supplies for its prevention. Objective: To understand the perception of
professionals from a teaching hospital in the South of the country about the
mechanisms of transmission and containment of hospital infections. Methods:
This is a descriptive, qualitative and phenomenological study, where
professionals from the most diverse categories answered a questionnaire
containing 15 objective and 4 subjective questions. The objective questions
were based on the Likert scale, in turn, the subjective questions were analyzed
using Bardin's speech. Results: 17 professionals (4 nurses, 5 nursing
technicians, 4 physiotherapists and 4 physicians) comprised the sample, only 3
were men. Most agreed that the hospital provides antimicrobial soap (n = 10)
and 70% alcohol (n = 14), there search participants were unanimous in pointing
out the etiology of hospital origin and that the prevention of NI is closely
related to organizational aspects. Conclusion: The professionals
interviewed demonstrate that they know the control mechanisms of the HI,
however, they emphasize the deficient commitment of the multidisciplinary team
for such control.
Keywords: cross infection; health
personnel; disease prevention.
Segundo
a Portaria nº 2.616 de 12 de maio de 1998 do Ministério da Saúde (MS), Infecção
Hospitalar (IH) ou nosocomial é qualquer infecção adquirida após a internação
do paciente e que se manifesta durante a internação ou mesmo após a alta,
quando relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares [1].
As
medidas de prevenção e controle envolvem qualificação da assistência
hospitalar, vigilância sanitária e epidemiológica, dentre outras [2]. Dentro
deste contexto, a higiene das mãos é o método de prevenção mais importante de
IH associada à assistência da saúde, além de proporcionar proteção aos próprios
profissionais, atua também na prevenção da contaminação do ambiente hospitalar
por ser determinante no risco de infecção cruzada. Além disso, é necessária a
frequente revisão dos dispositivos invasivos que podem potencializar o
desenvolvimento de IH, como os associados à ventilação mecânica, cateter venoso
central e cateter vesical [3].
Os
profissionais da saúde vivenciam diferentes práticas profissionais no contexto
hospitalar; enquanto uns se apresentam conformados com a existência da IH,
outros lutam por uma prática eficaz e segura, que possa transformar essa
situação, adotando mudanças comportamentais. Para isso são necessários
recursos, materiais de trabalho, treinamento de pessoal, educação em saúde e
uma postura preventiva adequada por parte dos profissionais para o controle das
infecções hospitalares [4,5].
Mas
a problemática da IH não envolve apenas os profissionais envolvidos na
assistência à saúde, deve-se observar também a conduta e postura dos
acompanhantes e cuidadores externos ao hospital frente ao tema. Por
apresentarem contato direto com o paciente, muitas vezes eles podem participar
da cadeia de transmissão como portadores assintomáticos, pondo em risco a saúde
do paciente [6]. Baseado nisso, este estudo objetivou conhecer a percepção de
profissionais de um hospital escola no Sul do país sobre mecanismos de
transmissão e contenção das infecções hospitalares.
Trata-se
de estudo de caráter descritivo, qualitativo e fenomenológico, realizado no
Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas/RS (HE-UFPel),
onde a coleta de dados ocorreu entre os meses de outubro de 2017 a janeiro de
2018. Os voluntários da amostragem compreenderam médicos, enfermeiros, técnicos
de enfermagem e fisioterapeutas que apresentaram contato direto com os
pacientes no período da coleta de dados.
Os
profissionais incluídos no estudo estavam em atividade nos setores de Clínica
Médica do HE-UFPel. Os participantes foram convidados
formalmente pelo pesquisador responsável e, após aceite, assinaram um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) mostrando que concordam em participar
da pesquisa. Os dados foram coletados por meio de entrevista com questionário
sobre a percepção do seu papel como profissional na prevenção e contenção de
IH.
Os
profissionais responderam a um questionário contendo 15 questões objetivas e 4
subjetivas sobre aspectos gerais da IH e seu papel na prevenção e controle
dessas infecções. As questões objetivas foram baseadas na escala de Likert, e os entrevistados tiveram como opções de
respostas: 1) Discordo Totalmente, 2) Discordo, 3) Nem discordo e nem concordo,
4) Concordo e 5) Concordo Totalmente.
A
análise dos dados objetivos foi descrita e apresentada em tabelas para melhor
observação das respostas, enquanto as respostas subjetivas foram ponderadas
através da Análise de Conteúdo descrita por Bardin [7]. A análise dos dados
subjetivos visou categorizar as informações oriundas de sentimentos e
percepções dos participantes. Dessa forma os resultados foram obtidos em quatro
categorias: Definição de IH, Papel do Profissional, Medidas adotadas e
dificuldades encontradas. A identidade dos pesquisados foi reconhecida por
letras iniciais e números de acordo com a categoria profissional: Med, Enf, Tec
e Fisio.
O
estudo seguiu as normas da Resolução MS/CNS Nº 466/2012 que regula as pesquisas
com seres humanos e o estudo recebeu aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) do HE-UFPel com o Parecer Nº 2.240.406.
Descrição
dos participantes e respostas objetivas
Participaram
do estudo 17 profissionais: 4 enfermeiras, 5 técnicas de enfermagem, 4
fisioterapeutas e 4 médicos, destes somente 3 eram homens. A idade média foi de
33 anos, sendo a idade mínima 24 e a máxima 64 anos. A maioria (11
participantes) tinha menos de dois anos de experiência profissional em ambiente
hospitalar.
A
tabela I, mostra as respostas dos profissionais sobre o controle de IH
relacionadas às propostas e condições do hospital.
Tabela
I - Controle de
infecção hospitalar: medidas propostas pela instituição, Hospital Escola da
Universidade Federal de Pelotas/RS, 2017
IH
= infecção hospitalar
Ao
analisar os dados relacionados às questões apresentadas na Tabela I,
percebeu-se que a maioria concordou que o hospital disponibiliza sabão
antimicrobiano, (n = 10) e álcool 70% (n = 14). Foi identificada a existência
de orientações e fiscalização quanto à assepsia dos procedimentos executados
por 09 dos entrevistados.
É
consenso na literatura que os gestores de hospitais também tenham interesse no
controle das IH. Por isso, é obrigatório que todos contem com as Comissões de
Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), pois se sabe que através das ações de
prevenção podem-se evitar gastos adicionais, maiores períodos de internação por
agravamento de quadros e dar qualidade no tratamento do paciente evitando-se
pioras em seu estado de saúde e piores índices de mortalidade para a
instituição [8,9].
A
tabela II mostra as respostas dos profissionais sobre seu conhecimento e
condutas frente ao controle de IH. Para essas perguntas, também foi usada a
mesma escala de concordância (enumerada de 1 a 5).
Tabela
II – Controle de
infecção hospitalar: conhecimento e conduta dos profissionais, Hospital Escola
da Universidade Federal de Pelotas/RS, 2017
IH
= infecção hospitalar; *Fisioterapeutas não foram incluídos nessa questão pois
não trabalham com perfurocortantes
A
maioria das questões tratadas acima tiveram como respostas as alternativas:
concordo totalmente e concordo. A questão referente à intenção do hospital em
informar os profissionais sobre o tema, somente 2 profissionais reconheceram
que acompanham os relatórios, e 9 relataram não acompanhar essas publicações.
Este último aspecto ressalta a necessidade de despertar o engajamento dos
profissionais no acompanhamento das informações da instituição. A reflexão
crítica associada ao incentivo para o aperfeiçoamento favorece a mudança
comportamental e interação entre a equipe, melhorando a qualidade da
assistência como um todo [10].
Definição
de infecção hospitalar
Os
participantes da pesquisa foram unânimes ao apontar a etiologia de origem
hospitalar, como o próprio nome sugere, porém nem todos citaram a especificação
com relação às horas após admissão e alta e, quando apontada, houve uma
divergência quanto ao tempo como mostrado nos exemplos abaixo:
Tec: “é a
infecção adquirida em ambiente hospitalar em até 30 dias após a alta do
paciente.”
Med: “Uma
infecção que se manifeste em até 72 horas após internação hospitalar”
Med:
“Infecção causada por germe hospitalar, após permanência de 48 horas no
hospital em até 72 horas após a alta.”
Enf:
“Infecção adquirida no ambiente hospitalar durante sua permanência até 30 dias
de alta”
Isso
mostra que há uma divergência com relação à definição, especialmente sobre o
tempo, talvez seja por diferentes visões observadas na literatura. Para alguns
autores as IH são definidas como adquiridas em ambientes hospitalares cujos
sintomas se manifestem após 72h de internação, porém também são encontradas
definições que consideram 48 horas, ou dentro de 30 dias após a alta ou até 90
dias após a realização certos procedimentos cirúrgicos [11,12]. Neste sentido,
podemos inferir que esse tema ainda precisa ser colocado em questão para melhor
definição e compreensão dos profissionais.
Papel
do profissional na prevenção e controle da IH
A
partir da definição de IH citada acima, percebemos que se trata de processo
infeccioso desencadeado por fatores evitáveis, como, pela lavagem inadequada
das mãos, manuseio de materiais e realização de técnicas desrespeitando os
princípios de assepsia e falta de controle rigoroso no processamento dos
materiais esterilizados, desde a lavagem até armazenamento e distribuição dos
mesmos. Os profissionais trouxeram um pouco destas recomendações em suas
respostas:
Fisio:
“Fazer assepsia de mãos, materiais utilizados e uso de equipamento de proteção
individual.”
Além
disso trouxeram sua a importância de serem conscientizadores de boas condutas
no ambiente hospitalar na orientação de pacientes e familiares:
Fisio:
“Evitar a contaminação de pacientes através da utilização de materiais
higienizados corretamente, assepsia das mãos, orientações aos pacientes e
familiares para auxílio na propagação de infecções.”
Uma
das enfermeiras entrevistadas trouxe em seu discurso a importância da
enfermagem também com a função educativa na temática de prevenção de IH:
Enf: “O
papel da enfermagem na prevenção é de educação, seja com a equipe de trabalho,
pacientes e acompanhantes, orientando, esclarecendo dúvidas, implantando
protocolos e ser o exemplo da unidade no que tange ao uso de adornos.”
Esse
reconhecimento acerca da importância da enfermagem também foi observado no
estudo de Moura et al. [13], observaram que a equipe de enfermagem tinha
a compreensão sobre seu papel diante da temática de IH, todavia o conhecimento
dos profissionais da saúde sobre as ações de prevenção e controle das infecções
ainda necessita ser aprimorado.
O
ambiente hospitalar é um local onde há um grande fluxo de pessoas e de
enfermidades que regem uma diversidade de abordagens tanto terapêutica como as
formas de proteção individual. Um dos médicos trouxe a importância da
identificação precoce do diagnóstico do paciente. A relevância disso, refere-se
à possibilidade de se conduzir a assistência direcionada à fisiopatologia da
doença, por exemplo, quando se trata de uma patologia infecciosa de
contaminação por aerossóis há cuidados específicos a serem considerados:
Med:
“Identificação precoce para o início de tratamento e proteção necessários. Uso
de EPI, lavagem de mãos, orientar os colegas colaboradores, pacientes e
familiares.”
Medidas
de prevenção e controle da IH adotadas pelos profissionais
Os
profissionais devem estar atentos às recomendações propostas pela instituição
para estabelecer os cuidados de precauções padrão, como uso dos equipamentos de
proteção individual, higienização das mãos e manuseio adequado de materiais
perfurocortantes. Os profissionais trazem essa consciência:
Fisio:
“Fazer a higienização das mãos antes e depois dos atendimentos e manejo com os
pacientes uso de EPI e cuidados com o manejo de pacientes com isolamento aéreo
e de contato.”
Fisio: Lavar
as mãos, higienizar os materiais, descartar materiais contaminados
corretamente.”
Foi
reforçada como atitude de controle e prevenção a necessidade de realizar
orientações seja direcionada aos acompanhantes e familiares dos pacientes, seja
para os profissionais:
Tec:
“Lavagem das mãos antes e após manuseio de materiais contaminados e
procedimentos com pacientes, orientações aos familiares e acompanhantes, não
usar adornos.”
Enf: “Usar
equipamento de proteção individual adequadamente, fazer a assepsia das mãos antes
e após as condutas, estar atento quanto ao risco de ocorrência de infecção
cruzada entre os pacientes, observar se a postura da equipe está adequada e
orientar quando necessário.”
Vários
estudos pontuam a educação sobre higienização das mãos, uma das mais relevantes
no que se diz respeito à prevenção [6,14,15]. A educação dos profissionais
relacionada à utilização de dispositivo somente quando necessário usando
técnicas assépticas e a remoção correta dele contribuem também para prevenção
de IH. A implementação de um grupo de intervenções baseadas em evidências
conhecidas como bundle, apresenta reduções drásticas
nas taxas de infecções em comparação com uma intervenção implementada
isoladamente [16].
Uma
das formas de infecção comuns no ambiente hospitalar é a Pneumonia Associada à
Ventilação Mecânica (PAV), resultando em prolongamento do tempo de internação,
resistência aos antimicrobianos entre outros agravos [17]. Já é consenso que
alguns cuidados podem ser tomados para minimizar a PAV, somente um
fisioterapeuta trouxe essa observação, talvez por essa categoria atuar de forma
mais próxima ao contexto do suporte ventilatório artificial e a todas às
particularidades relacionadas a ele e a interação com o paciente:
Fisio:
“Lavagem de mãos, uso de EPIs, uso de aventais em pacientes que possuem
isolamento de contato, observação dos procedimentos recomendados na aspiração
traqueal, elevação da cabeceira, higiene oral, dentre outros.”
Esse
fisioterapeuta citou algumas das medidas adotadas para prevenção e ocorrência
de infecção do trato respiratório. Esses cuidados são bem estabelecidos na
literatura e visados na prática clínica, são eles: manter decúbito de 30 a 45°,
checar se há refluxo do resíduo gástrico, não compartilhar entre pacientes
dispositivos assistenciais respiratórios, realizar troca dos circuitos
ventilatórios frequentemente, realizar aspiração em técnica asséptica rigorosa,
realizar fisioterapia respiratória, higiene oral e manter o fixador do
ventilador mecânico limpo e seco [18].
Dificuldades
na implementação das medidas de prevenção de IH
As
medidas de prevenção e controle de IH regem aspectos organizacionais, materiais
e estruturais. O conteúdo trazido pelos profissionais refletiu essa
configuração, a partir dessa reflexão sobre os empecilhos para se conseguir um
ambiente favorável para uma menor ocorrência de IH.
Uma
das demandas trazidas pelos profissionais foi a necessidade de capacitação. A
fala abaixo tem muita relevância, tendo em vista que as pesquisas apontam que
para a redução nos índices de IH é necessário investir em capacitação dos
profissionais e demais envolvidos na assistência ao paciente [19,20] cabendo à
instituição oferecer educação continuada a sua equipe:
Med:
“Lembrança constante de sua importância. Medidas de atualização para que todos
os funcionários do hospital compreendam a importância de se prevenir de
infecções hospitalares.”
Para
Alves et al. [14], a intervenção educativa proporciona maior
conhecimento, atitudes positivas por parte dos profissionais da saúde e índices
melhores no cumprimento das medidas gerais de prevenção de IH. Barros et al.
[21] reforça que a educação permanente em saúde é um dos instrumentos de
transformação dos profissionais, construindo um espaço de reconhecimento e
abrindo os caminhos para a melhoria da qualidade das ações e dos serviços de
saúde.
O
investimento em educação em saúde e estratégias para o gerenciamento e controle
de IH trazem repercussões não só para diminuir a morbidade e mortalidade dos
pacientes, mas também um impacto econômico significativo, reduzir o tempo de
internação e os gastos com cuidados de saúde que requerem os pacientes que são
acometidos por alguma infecção [12].
A
partir da capacitação, os profissionais tornam-se aptos para compreender os
mecanismos etiológicos de surgimento das infecções e adquirem uma maior
percepção dos comportamentos de risco, como não seguir os protocolos
operacionais padrão estabelecidos, aspecto observado na fala deste fisioterapeuta:
Fisio:
“...uma das dificuldades é a não padronização dos procedimentos realizados
entre os profissionais.”
Neste
contexto, percebeu-se nas falas como situações geradoras de ambiente de risco
para ocorrência de IH: a grande carga de trabalho, demandas emergenciais e
deficiência no quantitativo da equipe para o gerenciamento de atividades,
engajamento de todos os membros da equipe multiprofissional, aspectos que podem
comprometer a execução criteriosa de procedimentos o que é corroborado por
alguns autores [22,23] e pode ser identificado na fala da técnica de
enfermagem:
Tec2:
“Excesso de tarefas e atribuições que muitas vezes impedem o procedimento
correto.”
A
disponibilidade de material adequado para o uso foi uma das questões observadas
nas falas dos profissionais, esse aspecto afeta tanto a segurança individual do
trabalhador como pode ser um fator gerador de maior risco ao paciente:
Fisio: “Os
aventais disponibilizados para o atendimento de pacientes em isolamento de
contato são muitos finos, não protegem adequadamente. Quando os de melhor
qualidade são disponibilizados, os profissionais compartilham entre si. Não há
oxímetro disponibilizado para esses pacientes, logo temos que usar esse mesmo
oxímetro em outro paciente.”
Trazendo
a contextualização do hospital em questão, durante as entrevistas, inferiu-se
que havia uma certa discussão sobre a qualidade do avental usado para precaução
de contato, quando havia um de melhor qualidade, este não era descartado a cada
procedimento no turno, havendo uma reutilização e consequentemente um aumento
potencial do risco de haver contato com microorganismos
do ambiente infectado. O compartilhamento de dispositivo entre os pacientes,
mesmo com a higienização, também pode aumentar o risco para infecção cruzada
[24].
Os
problemas estruturais foram outra dificuldade trazida pelos profissionais.
Podemos observar essa questão na fala desta enfermeira:
Enf: “
Falta de materiais e equipamentos, exemplo: ausência de pias nas enfermarias
para os próprios pacientes/acompanhantes realizarem higiene, disponibilidade de
álcool gel na unidade toda (corredor, quartos, posto de enfermagem), papel
toalha de péssima qualidade, além do suporte que não funciona tendo assim que
deixar o papel toalha sobre o balcão.”
A
entrevistada acima faz a observação sobre a inexistência de pia na enfermaria,
fato que dificulta a higienização dos pacientes e acompanhantes. Normalmente,
há a presença de resíduos biológicos infectantes nesses ambientes, pois muitos
pacientes portam dispositivos invasivos e realizam exames laboratoriais no seu
próprio leito. Na enfermaria em questão não há banheiro no quarto, o
disponibilizado é coletivo, sendo este utilizado por pacientes e acompanhantes.
Essa foi uma problemática trazida pelos profissionais:
Tec: “A
falta de reposição de álcool gel nos recipientes, pacientes em isolamento na
mesma enfermaria que os demais pacientes, compartilhamento de banheiros."
Med: “Não
há disponibilidade de álcool gel nos leitos, bem como há pouco controle de
cuidados em pacientes com isolamento nos banheiros e quartos.”
Tec:
“Pacientes em isolamento em quarto coletivo.”
Med:
“Falta de material e estrutura física e conscientização de profissionais,
pacientes e familiares.
Enf:
”Há poucos quartos disponíveis para isolamento.”
O
enfermeiro pode ser considerado um elo entre os profissionais, ele tem uma
importante participação nesse processo de prevenção da IH, pois gerencia sua
equipe e tende a coordenar as rotinas assistenciais. Um grande fato que
consolida sua relevância se refere à constituição da CCIH, o enfermeiro precisa
estar integrado a ela [25]. Entretanto, o perfil seguido pelo hospital, as
condutas, as informações presentes nos relatórios não devem ser atribuídas
apenas à equipe de enfermagem, todos participam desse processo e se faz
necessário comprometimento e envolvimento de todas as partes. O comprometimento
dos profissionais foi uma das dificuldades apontadas por este fisioterapeuta:
Fisio: “A
adesão dos profissionais é algo que afeta o controle de infecção hospitalar.
Alguns têm comprometimento, outros não, precisa haver mais conscientização.”
O
ambiente hospitalar tem uma atuação multidisciplinar, apesar disso ainda há
comportamentos hierárquicos de relação de poder instalados de forma inadequada,
principalmente associados à categoria profissional médica. O contexto trazido
para este tema se refere àqueles profissionais que realizam condutas
inadequadas e não são receptivos à correção, ou possuem resistência para a não
adesão dos protocolos de prevenção de IH [26]. Essa temática foi trazida por
uma enfermeira, além de relatar dificuldade também na orientação dos
acompanhantes:
Enf: “Há
dificuldade de comunicação com a equipe médica, muitos não seguem as
orientações, não seguem os protocolos, usam adornos… São orientados, porém
continuam com o mesmo comportamento. Também é difícil orientar os
acompanhantes, pois repetem os erros quando não estão sendo fiscalizados e
mudam as pessoas constantemente."
O
foco central deste artigo foi no profissional, mas o sucesso das ações de
prevenção e controle de infecção também contempla o envolvimento de todos
pacientes e familiares [6]. Neste sentido é importante estabelecer uma boa
comunicação entre todos aqueles que transitam no ambiente hospitalar.
A
necessidade de tratarmos deste tema refere-se à evidência
de que a maioria das
infecções nosocomiais são evitáveis
através da implementação de estratégias de
monitoramento e prevenção. Os resultados encontrados em
um estudo como o nosso
podem mapear problemas encontrados no cotidiano que interferem na
eficácia do
controle e prevenção de IH.
Os
profissionais entrevistados demonstram conhecer os mecanismos de controle das
IH, apesar de mostrar algumas dificuldades como o comprometimento da equipe
multiprofissional como um todo, acompanhamento das discussões sobre o assunto
na instituição. Em comparação a estudos realizados em outras instituições,
apontados em nossas discussões, são dificuldades comuns que sugerem a
necessidade de destaque a esse assunto pelos gestores e comissões de controle
de infecção hospitalar.
Conflitos
de interesse
Não
há conflitos de interesse.
Fontes
de financiamento
Não
recebeu financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Silva LN, Oliveira SB, Silva JCA, Ribeiro MDA; Coleta de dados: Silva
LN; Análise e interpretação dos dados: Silva LN, Mariano AV; Análise
estatística: Silva LN; Mariano AV; Redação do manuscrito: Silva LN,
Oliveira SB, Silva JCA, Mariano AV, Ribeiro MDA; Revisão crítica do
manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Silva LN, Oliveira
SB, Silva JCA, Mariano AV, Ribeiro MDA