ARTIGO
ORIGINAL
Desenvolvimento
neuropsicomotor de crianças nascidas pré-termo, segundo teste Denver II
Neuropsychomotor development of preterm children according to Denver II test
Mariana de Souza Bomfim,
Ft.*, Gislene Lopes Bonin, Ft.**, Luciana Novaes Rosa, Ft.**, Luanda Collange
Grecco, Ft., M.Sc.***, Marina Ortega Golin***
*Graduação
em Fisioterapia FMABC, **Fisioterapeuta, ***Universidade Nove de Julho,
****Disciplina de Fisioterapia Aplicada em Neuropediatria da Faculdade de
Medicina ABC
Recebido em 23 de
fevereiro de 2015; aceito em 20 de maio de 2015.
Endereço
para correspondência:
Mariana De Souza Bomfim, Rua Auriflama, 291, Jardim do Estádio, Santo André SP,
E-mail: maribomfimsb@gmail.com, Gislene Lopes Bonin: gibonin@hotmail.com,
Luciana Novaes Rosa: luciananrosa@ig.com.br, Luanda Collange Grecco:
luandacollange@hotmail.com, Marina Ortega Golin: maortegagolin@gmail.com
Resumo
Introdução: Os programas de
acompanhamento do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) possibilitam a
identificação precoce de sinais de lesão neurológica. Objetivos: Descrever os
resultados do acompanhamento do DNPM de recém-nascidos pré-termo, segundo o
Teste de Desenvolvimento Denver II. Métodos:
Foram analisados 48 prontuários de lactentes do Hospital Mário Covas de Santo
André/SP. A pontuação final do teste foi classificada como normal,
suspeito e atraso do desenvolvimento. Também foram analisados fatores de
risco para esse atraso. Resultados:
Apenas 35 (72,9%) foram avaliados até o quarto mês, e oito (16,6%) realizaram o
acompanhamento até o final. Dentre os primeiros (n = 35), dez (28%)
apresentaram atraso no desenvolvimento nas duas primeiras avaliações e apenas
cinco (14%) persistiram na última. Levando-se em consideração todos os
participantes (n = 48), cinco (10,4%) foram encaminhados para intervenção
fisioterapêutica. Quanto aos fatores de risco analisados, obtiveram associação
significante com atraso a presença de lesão cerebral no ultrassom
transfontanela, peso ao nascimento ? 1500 g e idade
gestacional inferior a 32 semanas. Conclusão:
Conclui-se que o perfil de desempenho no Teste Denver II dos participantes do
programa de acompanhamento aqui delimitado é similar ao descrito em diversas
publicações, principalmente em âmbito nacional.
Palavras-chave: prematuro,
fisioterapia, desenvolvimento infantil, fatores de risco.
Abstract
Introduction: The neurodevelopment monitoring programs in preterm (NMPP) enable the
early identification of signs of neurological damage. Objectives: To describe the results of following-up NMPP, according
to Denver II Development Screening Test. Methods: We analyzed 48 babies’
medical records of Mário Covas
Hospital in Santo André/SP. The final score of the test was classified as normal,
suspicious and developmental delay. They were also analyzed risk factors for
this delay. Results: Only 35 (72.9%)
were evaluated by the fourth month, and only eight (16.6%) underwent follow-up
until the end. Among the first (n = 35), ten (28%) showed delayed development
in the first two evaluations and only five (14%) persisted in the latter.
Taking into account all participants (n = 48), five (10.4%) were referred to
physical therapy intervention. Among the risk factors analyzed, significant
association with delay, the presence of brain injury at the transfontanelar
ultrasound, birth weight? 1500 g and gestational age of 32 weeks were observed.
Conclusion: We concluded that the
performance profile in the Denver II Test of participants of this study is
similar to that described in many publications, especially at national level.
Key-words: premature,
physical therapy, child development, risk factors.
Os recém-nascidos
pré-termo (RNPT) são aqueles nascidos antes de completar 37 semanas de idade
gestacional [1,2]. O interesse de profissionais da área da saúde por essa
população tem crescido, uma vez que a imaturidade do sistema nervoso central
(SNC) torna essas crianças mais vulneráveis a lesões neurológicas decorrentes
da grande diversidade de fatores de risco a que comumente estão expostos [3,4].
Dentre tais fatores,
são frequentemente citados na literatura: baixo peso ao nascimento,
prematuridade; idade, desnutrição e doenças maternas; tabagismo e drogas
durante a gestação; alterações placentárias; histórico de partos prematuros;
baixos valores de Apgar; infecções e hipóxia neonatais e quadros de hemorragias
cerebrais [1,5].
As lesões
neurológicas que mais acometem os RNPT são as hemorragias peri
e intraventriculares (HPIV) e consequentemente a paralisia cerebral (PC). A
ocorrência desses eventos é inversamente proporcional ao peso e idade
gestacional ao nascimento [6,7]. Suas sequelas podem ser graves, principalmente
as motoras, com possibilidades de acarretar também em déficits cognitivos e de
aprendizagem [4,6].
Diante de tal
panorama, a estratégia mais efetiva para minimizar as consequências deletérias
no desenvolvimento dessas crianças seria a implementação
de um programa de acompanhamento que identificasse anormalidades o mais
precocemente possível [1,6]. Como dito por Formiga e Linhares [1], os estudos
apontam para a efetividade do monitoramento das aquisições do desenvolvimento
neuropsicomotor (DNPM) desde os primeiros dias de vida, possibilitando
diagnóstico e tratamento precoces e prevenindo ou
reduzindo sequelas.
Esses programas de
acompanhamento de DNPM (follow-up) são realizados por equipes multi e
interdisciplinares, nas quais o fisioterapeuta está incluso. Consistem na
identificação de sinais patológicos em RNPT por meio de testes e escalas de
desenvolvimento padronizadas, como o Teste de Desenvolvimento Denver II [3].
Essa versão é
resultado da repadronização do Teste de Denver, feita em 1992. É de simples e
rápida aplicação, possibilitando a detecção de atraso no desenvolvimento em
crianças de zero a seis anos. Também analisa distúrbios de aprendizagem e
emocionais, totalizando 125 itens que avaliam quatro áreas do desenvolvimento
neuropsicomotor: motricidade grossa e fina adaptativa, comportamento
pessoal-social e linguagem [3,8].
Apesar da nítida
relevância do estabelecimento desses programas, ainda são escassas as pesquisas
nacionais relacionadas aos projetos de follow-up. Dessa forma, a
disponibilização de dados acerca de sua empregabilidade poderá contribuir para a
solidificação da necessidade de intervenção precoce, visando prevenir e reduzir
as implicações derivadas de lesões neurológicas no futuro de RNPT.
O objetivo do
presente estudo foi descrever os resultados de um programa de acompanhamento do
desenvolvimento de RNPT durante os primeiros 12 meses de vida, segundo o Teste
de Desenvolvimento Denver II, assim como, verificar se desempenhos abaixo do
esperado para a normalidade possuíam associação com fatores de risco para
disfunções do desenvolvimento.
Casuística
Trata-se de estudo
retrospectivo com coleta prospectiva. Inicialmente, foram consultados 150
prontuários dos lactentes pré-termo avaliados pelo programa de acompanhamento
do DNPM no Ambulatório de Fisioterapia do Hospital Mário Covas de Santo
André/SP, no período de 2007 a 2009. Após a triagem inicial dos prontuários,
apenas 48 continham os registros das avaliações e dos fatores de risco e foram
incluídos neste estudo.
Os procedimentos para
a avaliação dos lactentes foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
FMABC, protocolo número 217/2007. A análise dos resultados do programa obteve
nova aprovação no mesmo Comitê, número 224.208.
Para inclusão no
programa de acompanhamento foram adotados os seguintes critérios: idade gestacional
ao nascimento igual ou menor que 37 semanas e assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Já os de exclusão foram
presença de anomalias genéticas e diagnóstico de más formações do Sistema
Nervoso Central (SNC).
Os lactentes
incluídos no estudo deveriam ter participado de quatro momentos diferentes de
avaliação, aos 2\3 meses, 5\6 meses, 8\9 meses e aos 11\12 meses de idade
corrigida, porém como em todo acompanhamento longitudinal, a amostra não obteve
participação uniforme. Assim, na análise dos dados aqui proposta, via consulta
a prontuários, a amostra foi caracterizada inclusive quanto à proporção de
abandono e alta do programa e encaminhamento para intervenção fisioterapêutica.
Também foram
analisados os dados que compuseram o protocolo de avaliação que seguem:
pontuação da escala em cada momento da avaliação; idade gestacional, peso e
estatura ao nascimento; tipo de parto; apgar do quinto minuto; necessidade de
reanimação; permanência e duração de ventilação mecânica; necessidade de
fototerapia; presença de convulsão; tempo de internação; resultado de ultrassom
transfontanela; idade e doenças gestacionais maternas.
O instrumento de
avaliação aplicado foi o Teste Denver II (1992) [9], que consiste na
repadronização do Teste de Denver desenvolvido em 1967 [10] e possibilita a
classificação do desenvolvimento em normal, suspeito, atraso do desenvolvimento
e não testável.
Possui 125 itens
distribuídos em quatro áreas do DNPM: motricidade ampla, motricidade fina-adaptativa, comportamento pessoal-social e linguagem.
Os itens são registrados a partir de observação direta da criança e, em alguns
itens, é pedido para a mãe responder se o filho é ou não capaz de realizar
determinada tarefa.
Cada item é
classificado como adequado, quando a criança realiza o item na idade prevista;
risco, quando a criança não consegue fazer o teste ou se recusa a fazê-lo em
uma idade em que 75 a 90% das crianças realizam; e atraso, quando há falha ou
recusa na realização de um item em que 90% das crianças o fazem. A
classificação final pode ser normal, quando não há atraso nos itens da
avaliação, suspeito, quando há dois ou mais itens de risco e atraso do
desenvolvimento, em caso de dois ou mais itens com atraso.
Para caracterizar os
lactentes acompanhados pelo programa de avaliação do desenvolvimento, as
variáveis categóricas foram expressas em formas de frequência relativa e
absoluta. Os dados foram organizados e tabulados pelo programa SPSS v.17.0. O
teste qui-quadrado (X2) foi utilizado para comparar as frequências entre os
grupos analisados e o teste V de Cramer para avaliar a associação entre as
variáveis categóricas. Os valores de p ? 0.05 foram
considerados significantes.
A Tabela I apresenta
as principais características dos lactentes participantes do acompanhamento do
desenvolvimento. O programa consistia em avaliações repetidas, pelo teste
Denver II, num intervalo aproximado de dois meses até a idade corrigida de 12
meses, ou seja, em quatro momentos distintos: avaliação 1
(2\4 meses); avaliação 2 (5\6 meses); avaliação 3 (8\9 meses) e avaliação 4
(11\12 meses).
Tabela
I - Características dos 48 lactentes estudados.
No entanto, apenas 35
(72,9%) destes foram avaliados até o quarto mês de idade corrigida, e oito
(16,6%) realizaram o acompanhamento até os doze meses de idade corrigida.
Dentre os primeiros (n = 35), dez (28,5%) apresentaram atraso do
desenvolvimento neuropsicomotor e apenas cinco (14%) persistiram com atraso na
avaliação 4. Levando-se em consideração todos os
participantes (n = 48), cinco (10,4%) foram encaminhados para intervenção
fisioterapêutica.
Na Tabela II é
possível visualizar a proporção de lactentes (n = 35) que apresentou atraso em
cada uma das áreas do teste nos diferentes momentos de avaliação. Já a tabela
III delimita as áreas em que cada uma das dez crianças com atraso do
desenvolvimento apresentou itens alterados.
Tabela
II -
Proporção de lactentes com itens
alterados nas diferentes áreas do Teste Denver II.
Tabela
III
- Áreas do Denver II com itens alterados em
cada uma das avaliações das crianças classificadas com atraso do
desenvolvimento.
Com
objetivo de verificar possíveis fatores de risco associados ao atraso do
desenvolvimento foram analisados os dados do protocolo de avaliação
identificados nos prontuários. Para tal, os valores de referência adotados
foram os da avaliação 1 categorizados como normal,
suspeito ou atraso, conforme mostrado na tabela IV
Tabela
IV -
Associação de fatores de risco com atraso
do desenvolvimento.
*Valores
probabilísticos do teste qui-quadrado e teste V de Cramer, adotando nível de
significância de 95%.
O presente estudo
constatou que as crianças avaliadas pelo Teste de Triagem do Desenvolvimento Denver
II não obtiveram significativas alterações no desenvolvimento neuropsicomotor,
quando comparadas a participantes de diversos estudos similares publicados. Os
fatores de risco associados ao atraso do desenvolvimento foram apenas presença
de lesão cerebral na ultrassonografia transfontanela, peso ao nascimento
inferior a 1500 gramas e idade gestacional inferior a 32 semanas.
Segundo Magalhães
[11], o baixo peso ao nascer é um dos principais fatores de risco para
alterações no desenvolvimento infantil. Em seu estudo, foram comparados grupos
de crianças de muito e extremo baixo peso e foi observado pior desempenho no
teste Denver II de crianças com menor peso ao nascimento. Outro estudo [12]
também aponta a relação entre baixo peso e maiores índices de atraso no teste
Denver II, aumentando o risco para anormalidades neurológicas e atraso no
desenvolvimento.
Uma revisão de
literatura [13] apontou uma pesquisa realizada com 1 363 crianças, das quais
178 eram pré-termo nascidas com baixo ou muito baixo peso. Todas que nasceram
com menos de 2 000 g apresentaram quatro vezes mais risco de apresentar
alteração no teste Denver II, quando comparadas com as nascidas com peso
adequado. Os RNPT apresentaram 60% de maior chance de atraso no teste e 20,8%
de todas as crianças participantes apresentaram atraso no desenvolvimento. Já
outro estudo, realizado na Universidade Federal de Londrina [12], encontrou
37,9% dos RNPT com resposta alterada no teste Denver II, aos 12 meses de idade
corrigida.
Na amostra de um
estudo realizado na cidade de São Paulo [14] foram avaliados 30 lactentes com
idade gestacional ao nascimento média de 31 semanas e peso abaixo de 1 500 g.
Na faixa de 5 a 7 meses de idade corrigida, 20% apresentou risco no
desenvolvimento, segundo teste de Denver II. Na faixa de 10 a 14 meses de idade
corrigida, o índice aumentou para 27%.
Estudo realizado na
Índia analisou 427 recém-nascidos pré-termos, dos quais 134 apresentaram atraso
no desenvolvimento. Foram correlacionados fatores de risco como baixo peso ao
nascer, como também foi encontrado neste estudo, porém também foi
correlacionada a presença de crises convulsivas, que não foi encontrado no
presente estudo [30].
Segundo Silveira e
Prociany [7], 7 a 26% dos RNPT com peso inferior a 1 500 gramas podem evoluir
com lesão encefálica e PC. O risco dessas lesões é inversamente proporcional ao
peso de nascimento e a idade gestacional. Já Formiga e Linhares [1] concluem
que crianças nascidas com menores idades gestacionais e com anormalidades
neurológicas neonatais apresentam maiores proporções de alterações no
desenvolvimento.
Em um estudo
realizado no Rio de Janeiro [23], foram analisados programas de follow-up
realizados em 1993 e 2004, incluindo 1 364 crianças em 1993 e 3 907 em 2004. O
teste de desenvolvimento de Denver II também foi utilizado para avaliar o
atraso no desenvolvimento dessas crianças. Em 1993, a prevalência de suspeita
de atraso no desenvolvimento era de 37,1%. Essa proporção caiu para 21,4% em
2004, uma redução de 42%. O baixo peso ao nascer foi inversamente associado com
suspeita de atraso no desenvolvimento em ambas as coortes, correlacionando-se
com o presente estudo.
No estudo feito por
Veleda et al. [24], foram analisadas 220 crianças com
idade entre 8 e 12 meses. Entre os fatores de risco ao nascer, que foram
analisados, o baixo peso ao nascer, idade gestacional abaixo de 36 semanas,
índice de apgar no 5º minuto menor que 7 e a idade
materna também foram correlacionados com o atraso no desenvolvimento. Da
população analisada, 20,5% das crianças apresentavam suspeita de atraso,
segundo o teste de Denver II. Não houve diferença significativa entre as
crianças que apresentavam fatores de risco ao nascer e
as que não os apresentavam, o que difere deste estudo que encontrou correlação
entre os fatores baixo peso ao nascer e idade gestacional abaixo de 37 semanas
com o atraso no desenvolvimento. No estudo feito na cidade de Beijing e Turkey
[26,28], foram analisadas 3.182 e 169 crianças, respectivamente, e entre os
fatores de risco analisados foram correlacionados o baixo peso ao nascer no
primeiro estudo, e idade gestacional abaixo de 32 semanas no segundo estudo,
que também foi encontrado neste trabalho, e a estatura ao nascimento que foi
encontrado no primeiro estudo, e duração da ventilação mecânica no segundo
estudo, que difere deste trabalho.
Dessa forma, baixo
peso ao nascer, idade gestacional inferior a 32 semanas e lesão encefálica são
fatores de risco que se associados, podem trazer ainda maiores riscos ao
desenvolvimento neuropsicomotor.
Em relação ao
desempenho das crianças aqui avaliadas, 10 (20,8%) apresentaram alterações no
desenvolvimento. Proporção menor, quando comparada aos dados de um estudo
realizado na cidade de Canoas/RS e no Paquistão [15,27], no qual foram
analisadas 197 crianças e 27% apresentaram suspeita de
atraso no mesmo teste no primeiro estudo, e 110 crianças, das quais 32% também
apresentaram alteração do desenvolvimento no teste de Denver II.
Quanto às dimensões
da avaliação, este estudo apresentou maior proporção de atraso e risco na
dimensão motora grossa e linguagem, considerando-se todas as avaliações. Esses
dados se relacionam com a literatura. Como visto em um estudo que analisou
lactentes com 12 meses de idade corrigida [12] e encontrou maior porcentagem (33,3%)
de alteração na dimensão motora grossa. E outro estudo [11] revelou pior
desempenho de crianças pré-termo comparadas com as termo,
principalmente na mesma área, também aos 12 meses.
Uma revisão publicada
acerca das produções científicas nacionais sobre a aplicação do teste [13]
relata que o baixo peso ao nascer e principalmente a idade gestacional estão
associados com atraso na aquisição da linguagem. Porém, segundo Magalhães [11],
o pior desempenho nessa dimensão pode ocorrer pela falta de estimulação
adequada para o desenvolvimento de padrões linguísticos.
Os dados encontrados
por Sabatés e Mendes [19] são similares. Analisaram 44 crianças, dentre elas
27,3% apresentaram alteração no teste Denver II. As dimensões com maiores
índices de alteração foram linguagem, com 84% e motora grossa, com 75%. Já
Sebastião et al. e HSU [17,25] encontrou percentuais
elevados de alteração nos aspectos motor fino e grosso, e pessoal/social e
motor grosso, respectivamente.
No presente estudo,
das 10 crianças que apresentaram atraso no desenvolvimento neuropsicomotor
inicialmente, duas obtiveram boa evolução durante o primeiro ano de vida. Tal
desfecho, provavelmente, foi decorrente da estimulação precoce, possibilitada
pelas orientações fornecidas pelas fisioterapeutas integrantes do projeto, no
período de maior plasticidade neuronal [20].
Dessa forma, os
resultados do programa aqui analisado reiteram as afirmativas veiculadas
largamente na literatura científica de que a estratégia mais efetiva de
intervenção precoce é a implementação de programas de follow-up, nos quais
diversos aspectos da saúde da criança, desde condições físicas, cognitivas e
comportamentais podem ser monitoradas [1,3,15,21,22].
Dentro desse
contexto, o fisioterapeuta tem um papel fundamental na avaliação e
identificação de anormalidades, auxiliando no diagnóstico e intervenção precoce
em distúrbios do desenvolvimento.
Conclui-se que o
perfil de desempenho no Teste Denver II dos participantes do programa de
acompanhamento aqui delimitado é similar ao descrito em diversas publicações,
principalmente em âmbito nacional. Destacando o predomínio de alterações nas
áreas da linguagem e motricidade grossa.
No tocante aos
fatores de risco associados ao atraso do desenvolvimento, observou-se lesão
cerebral, peso ao nascimento inferior a 1500 gramas e idade gestacional
inferior a 32 semanas. Fato que reafirma a importância de implantação de
programas de follow-up, com adoção de escalas de avaliação padronizadas, mesmo
perante elevados índices de abandono do acompanhamento.