Fisioter
Bras 2022;23(1):62-72
ARTIGO ORIGINAL
Incidência de alterações posturais em
indivíduos participantes de ação social no município de Nova Iguaçu, RJ
Incidence of
postural changes in individuals participating in social action at Nova Iguaçu
City, RJ
Fábio Augusto d´Alegria Tuza*,
Thais Silva Rodrigues Dionisio**, Davi Mendes da
Costa**, Paulo Henrique de Moura***, Marco Orsini****,
Adalgiza Moreno Mafra*****
*Docente do curso de Fisioterapia da
Universidade Iguaçu, Mestrado em Fisiopatologia Clínica e Experimental pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, **Discente do curso de Fisioterapia
da Universidade Iguaçu, ***Docente do curso de Fisioterapia da Universidade
Iguaçu, Mestrado em Cardiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,
****Docente do curso de Medicina da Universidade Iguaçu. Doutorado em
Neurologia pela Universidade Federal Fluminense, *****Docente do curso de
Fisioterapia da Universidade Iguaçu, Doutorado em Ciências Cardiovasculares
pela Universidade Federal Fluminense
Recebido 30 de novembro de 2021; aceito 15 de janeiro de
2022
Correspondência: Fábio Augusto d´Alegria Tuza, Rua Senador Correa, 247, 26286-010 Nova Iguaçu, RJ,
Brasil
Fábio Augusto d´Alegria Tuza: fabiotuza@gmail.com
Thais Silva Rodrigues Dionisio: thais.srdionisio@gmail.com
Davi Mendes da Costa:
davi_cascata@hotmail.com
Paulo Henrique de Moura:
paulohdemoura@gmail.com
Marco Orsini: orsinimarco@hotmail.com
Adalgiza Moreno Mafra:
adalgizamoreno@hotmail.com
Resumo
O presente estudo tem como objetivo principal estimar a
incidência de alterações postural em indivíduos participantes da ação social
UNIG Portas Abertas, ocorrida no campus da Universidade Iguaçu, novembro de
2018 e maio de 2019. É um estudo transversal e descritivo. Foram avaliados 75
indivíduos. A avaliação postural foi realizada através do posturógrafo,
com os participantes em posição ortostática, com os pés descalços e cabelos
presos. As análises foram feitas na vista anterior, posterior e lateral. Os
resultados mostraram que 89,5% da amostra apresentou algum tipo de alteração
postural. As principais alterações posturais encontradas foram: desvio na
altura das mãos (52,6%), hiperlordose lombar (47,3%), desvio na altura da
crista ilíaca, gibosidade torácica, ombro retraído e joelho recurvatum
(36,8%).
Palavras-chave: incidência alterações posturais;
adultos.
Abstract
The main
objective of this study was to estimate the incidence of postural changes in
individuals participating in the social action UNIG Portas
Abertas, which took place on the campus of the Iguaçu
University, November 2018 and May 2019. It is a cross-sectional and descriptive
study. 75 individuals were evaluated. The postural assessment was performed
using a posturograph, with the participants in an
orthostatic position, with bare feet and hair tied. Analyzes were performed in
the anterior, posterior and lateral views. The results showed that 89.5% of the
sample had some type of postural change. The main postural alterations found were:
deviation in the height of the hands (52.6%), lumbar hyperlordosis
(47.3%), deviation in the height of the iliac crest, thoracic deformity,
retracted shoulder and knee recurvatum (36.8%).
Keywords: incidence
postural changes; adults.
A postura é definida como a posição ou a
atitude do corpo em disposição estática ou o arranjo harmônico das partes
corporais a situações dinâmicas [1,2]. A capacidade física é um dos elementos
mais importantes da boa saúde, bem como do desenvolvimento biológico [3].
Apesar da desaceleração na velocidade de
crescimento ósseo com os anos, vários aspectos relacionados às posturas e
hábitos das crianças passam a ser determinantes para o desenvolvimento muscular
e esquelético [1]. Uma postura equilibrada protege as estruturas corporais
contra lesões ou deformidades [2].
As alterações posturais são consideradas
um problema de saúde pública, especialmente aquelas que afetam a coluna
vertebral, pois podem predispor condições degenerativas da coluna vertebral na
idade adulta [4]. Muitos problemas posturais têm sua origem no período de
crescimento e desenvolvimento corporais, ou seja, na infância e na adolescência
[5].
Cerca de 68% das curvaturas escolióticas maiores de 30° na maturidade esquelética
tendem a progredir a uma taxa linear, independentemente do tipo de padrão de
curvatura da escoliose. A carga gravitacional assimétrica nos elementos da
coluna e do disco leva a degeneração assimétrica. Esse processo cíclico faz com
que a escoliose adulta progrida e afete negativamente a qualidade de vida mais
tarde [6].
Uma das consequências das alterações
posturais é a dor lombar. As lombalgias podem ser agudas, subagudas ou
crônicas, sendo esta última classificada como dor na região lombar, sacral ou lombossacral que é contínua, por mais de três meses, mas de
baixa intensidade, e pontuada pela exacerbação dos sintomas [2,7].
Essas alterações trazem consequências
prejudiciais à função de sustentação e mobilidade e, portanto, seu diagnóstico
precoce permite uma intervenção eficiente [1]. A única maneira de melhorar o
ambiente degenerativo assimétrico é promover a simetria da coluna global,
removendo assim a carga gravitacional assimétrica [6].
As avaliações posturais nas quais os
indivíduos são submetidos a testes não invasivos tornam-se uma opção viável
para estudos das alterações da postura corporal em populações [5]. Nestas
avaliações, é comum utilizarmos o posturógrafo (simetrógrafo) (Figura 1) para análise da postura no plano
sagital. Este equipamento permite observar a simetria dos segmentos corporais a
partir de um quadro de referência [8].
Neste contexto, a educação postural tem
como finalidade possibilitar à pessoa ser capaz de proteger ativamente seus
segmentos móveis de lesões dentro das condições de vida diária e profissional,
seja no plano estático ou dinâmico [9].
Monticone et al. [10], sugerem que um
programa de exercícios de autocorreção ativa e orientada para tarefas supera os
exercícios tradicionais de redução de deformidades da coluna vertebral e
aumento da qualidade de vida relacionada a saúde em pacientes com escoliose
leve. Os efeitos duraram pelo menos 1 ano após o término da intervenção.
Em outro estudo, evidências de qualidade
moderada sugerem que um programa de exercícios é superior ao controle na
redução do ângulo de Cobb, ângulo de rotação do
tronco, ângulo da cifose torácica, ângulo da lordose lombar e melhora da
qualidade de vida em pacientes com escoliose idiopática do adolescente; e
as evidências de baixa qualidade sugerem que um programa de exercícios é
superior ao controle na redução do desvio lateral médio em pacientes com
escoliose idiopática do adolescente [11].
A literatura sugere um efeito no
objetivo primário de prevenir a progressão dos desvios posturais através de
exercícios terapêuticos [12].
A maioria dos estudos relacionados à
desvios posturais envolvem crianças e adolescentes em idade escolar. Ficando
uma lacuna do conhecimento nos estudos de alterações posturais na fase adulta.
Assim, o objetivo principal deste
trabalho é estimar a incidência de alterações posturais em indivíduos
participantes da ação social UNIG Portas Abertas, ocorrida no campus da
Universidade Iguaçu, em novembro de 2018 e maio de 2019 e identificar os
desvios posturais presentes no grupo estudado.
As avaliações foram realizadas na
Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Iguaçu - Campus Nova Iguaçu/RJ,
durante a ação social UNIG Portas Abertas realizada em novembro de 2018 e maio
de 2019.
O estudo foi do tipo transversal e
descritivo. Os participantes foram 75 voluntários da ação social, com ou sem
queixas álgicas e posturais, com idade superior a 18 anos, ambos os sexos, que
assinaram o termo de consentimentos formal ao estudo, com ou sem história de
acompanhamento fisioterapêutico prévio. O protocolo obedeceu às orientações da
declaração de Helsinki e Resolução n° 196/96, foi aprovado pelo Comitê de Ética
(CEP) da Universidade Iguaçu - CAAE: 13972619.5.0000.8044.
Foram realizadas coletas de dados gerais
dos indivíduos, anamnese, aplicação de questionário de variáveis posturais,
avaliação da estatura e massa corporal além de avalição postural corporal.
A avaliação postural foi realizada
através do posturógrafo, com os participantes em
posição ortostática, com os pés descalços e cabelos presos.
Os dados coletados foram organizados em
planilhas e as análises estatísticas foram realizadas por meio do programa OriginLab Origin® 8.0 (USA).
Durante a Ação Social UNIG PORTAS
Abertas em novembro de 2018 e maio de 2019 foram realizadas 75 avaliações
posturais. O grupo foi composto por 23 homens (31%) e 52 mulheres (69%). As características
antropométricas estão descritas na Tabela I.
Tabela I - Medidas antropométricas dos
indivíduos estudados
Com relação à procedência dos indivíduos
avaliados, 84% residiam em Nova Iguaçu e 16% residiam em outros municípios
(Tabela II).
Tabela II - Municípios de origem dos
indivíduos estudados
Dentre os indivíduos avaliados, 19 (25%)
eram praticantes de atividade física regular e 56 (75%) eram sedentários.
A avaliação postural foi realizada em 03
planos: vista anterior, vista lateral e vista posterior. As alterações
posturais encontradas então descritas nas Tabelas III, IV, V.
Tabela III - Alterações posturais encontradas
na vista anterior
Na vista anterior (Tabela III),
identificamos que 47% dos avaliados apresentaram alterações posturais na
cabeça, sendo 36% de inclinação e 11% de rotação. 25% dos indivíduos apresentou
lateralização da mandíbula. No tronco foram encontradas 21% de rotação a
direita e 12% de rotação a esquerda. No ângulo de Tales encontrou-se alteração
em 17% dos indivíduos avaliados, 13% tiveram desvio da cicatriz umbilical. Além
disso, 69% dos indivíduos avaliados apresentou desvio na altura das mãos e 49%
tiveram desvio na altura da crista ilíaca. Nos joelhos 29% varo, 19% valgo totalizando
48% dos indivíduos com alterações nos joelhos, nos pés 34% são cavo e 49%
plano.
Tabela IV - Alterações posturais encontradas
na vista posterior
Na tabela IV (vista posterior)
encontramos alterações nas escápulas com 27% elevadas e 25% protraídas com um
total de 52% dos indivíduos com alterações escapular, 38% com gibosidade
torácica, 11% com concavidade torácica, 19% com concavidade lombar e 27% dos
avaliados apresentaram escoliose, já nos tornozelos 28% apresentaram varo e 36%
valgo totalizando 64% de alterações.
Tabela V - Alterações posturais encontradas
na vista lateral
Na tabela V estão distribuídas as
alterações posturais encontradas na vista lateral, sendo que 53% dos indivíduos
apresentaram Antero pulsão da cabeça e 07% Retro pulsão da mesma com total de
60% de alterações, 24% com mandíbula Antero e 13% Retro num total de 37%, na
avaliação da cervical 13% apresentou retificação e 12% hiperlordose. 04% com
retificação torácica, 04% com hipercifose torácica e
54% com hiperlordose lombar, no tronco 32% apresentou rotação, 31% com ombros protusos, 28% retraídos com total de 59% dos avaliados com
alterações nos ombros na vista lateral, 47% com abdome protuso,
na pelve 47% apresentaram anteversão e 28%
retroversão totalizando 75% de alterações na pelve, nos joelhos 28% com flexum e 35% recurvatum, total de
63% de alterações nos joelhos.
Na tabela VI estão descritas as
principais queixas álgicas relatadas pelos indivíduos avaliados.
Tabela VI - Principais queixas álgicas
Encontrou-se um percentual de 89,5%
indivíduos que apresentaram algum tipo de alteração postural.
A literatura indica um conjunto de
fatores associados ás dores crônicas de coluna, como
os sociodemográficos (idade, sexo, renda e escolaridade), estilos de vida
considerados fatores de riscos (fumo e baixa atividade física, ou trabalho
físico extenuante) e fatores metabólicos (obesidade e outras doenças crônicas)
[13].
Analisando os indivíduos estudados,
através das características antropométricas (Tabela I), notamos que a maioria
dos indivíduos são do sexo feminino, com idade média de 33,8 ± 14,0 anos,
índice de massa corporal de 24,6 ± 4,2 kg/m2 e sedentários (75%).
De acordo com Ferronatto
et al. [14] padrões posturais inadequados assumidos durante a fase
escolar podem se tornar permanentes na idade adulta, caso não haja intervenção
durante a fase de crescimento e estruturação óssea.
O corpo humano trabalha em blocos em que
unidos e com harmonia entre as articulações consegue suportar toda carga, e que
alterações presentes em uma dessas estruturas tem consequências no
funcionamento das outras, como por exemplo alterações de joelhos tem
implicações com alterações na crista ilíaca e posteriormente na coluna
vertebral [15].
No estudo de Fabian & Rozek-Piechura (2014), mulheres jovens que sofrem de
escoliose torácica e lombar (20-40°) demonstraram disfunção respiratória, pela
diminuição da ventilação voluntária máxima (VVM). Um programa de
exercícios de acordo com o método de Dobosiewicz
trouxe um grau de melhoria significativamente maior na VVM. Além disso, o
regime fisioterapêutico administrado às meninas jovens com escoliose melhorou
significativamente a força motora e a tolerância ao exercício. Particularmente
na força dos músculos abdominais, que desempenham um papel importante na
manutenção da função respiratória e da postura corporal [3].
Segundo Anderson [16], independente das
causas a dor lombar atinge níveis epidêmicos, acometendo de 70% a 85% dos
indivíduos ao menos uma vez na vida.
O pé cavo pode estar correlacionado com
quadro álgico mais intenso na região lombar. Em nosso estudo, a maioria dos
indivíduos apresentaram pés planos e hiperlordose, corroborando com os
resultados de Borges et al. [15].
A cintura escapular é uma estrutura
anatômica comumente acometida por alterações posturais, visto que é
extremamente móvel [17]. Mais da metade da população avaliada nesse trabalho
apresentou alterações nas escápulas. Sendo a alteração mais comum elevação da
escápula (27%). Diferentemente, numa análise em 20 universitários com idade
entre 18 e 26 anos onde a alteração mais encontrada foi a protrusão de ombros
(90%) [17].
A principal queixa álgica encontrada foi
a lombalgia (16%). Essa prevalência é considerada semelhante às encontradas no
estudo de Ferreira et al. [18].
Segundo Cotallorda
et al. [19], os fatores de risco reconhecidos para dor na coluna são:
sexo feminino, saúde debilitada, histórico familiar de dor nas costas, padrões
psicológicos específicos, tempo sentado assistindo televisão, histórico de
trauma na coluna, atividade física intensa, prática de esportes de competição e
idade (mais frequente em adolescentes do que crianças). Estudos anteriores
mostraram associações entre dor na coluna e postura, especialmente em torno da
dor lombar crônica [20].
Geralmente, os padrões posturais
adotados estão associados à dor musculoesquelética, e a correção de uma postura
antálgica requer consciência postural para levar a melhorias clínicas
[20].
A incidência de alterações postural em
indivíduos participantes da ação social UNIG Portas Abertas foi de 89,5%. As
principais alterações posturais encontradas foram: desvio na altura das mãos
(52,6%), hiperlordose lombar (47,3%) e desvio na altura da crista ilíaca,
gibosidade torácica, ombro retraído e joelho recurvatum
(36,8%). É necessário ampliar o conhecimento sobre as alterações posturais em
indivíduos jovens e adultos.
Agradecimentos
A Universidade Iguaçu -
UNIG. A equipe do grupo de pesquisa "Ciências da Saúde e Ambiente: da
Bancada à Pesquisa Clínica"
Fonte de financiamento
Universidade Iguaçu -
UNIG, por meio do Programa de Iniciação Científica (PIC)
Conflito de interesse
Não há conflito de
interesse
Contribuição dos autores
Orientação: Tuza FAD; Execução: Dionisio
TSR, Costa DM, Tuza FAD; Elaboração do
manuscrito: Tuza FAD, Moura PH; Revisão
do manuscrito: Orsini M, Mafra AM