REVISÃO
Marcadores
bioquímicos no diagnóstico da lesão muscular
Biochemical markers diagnostic in injury muscle
Natália Ferraz
Mello*, Janne Claia Vichetti*, Alecsandra Pinheiro Vendrusculo, M.Sc.**
*Acadêmica
do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano, Santa Maria/RS,
**Docente Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano, Santa
Maria/RS
Recebido em 7 de agosto de 2014; aceito em 11 de agosto de 2015.
Endereço
para correspondência:
Alecsandra Pinheiro Vendrusculo, Rua Daltro Filho, 397,
97015-280 Santa Maria
RS, E-mail: alec@unifra.br, natalia.ferraz.mello@gmail.com, janneclaia@hotmail.com
Resumo
O exercício físico
vem sendo evidenciado, pois proporciona significativos benefícios para a saúde,
porém a realização sem orientação pode aumentar a suscetibilidade a lesões.
Recentemente, pesquisadores têm avaliado diferentes tipos de marcadores
bioquímicos a fim de compreender os mecanismos envolvidos no desencadeamento de
uma lesão musculoesquelética. Por esse motivo, faz-se necessário revisar a
utilização de marcadores bioquímicos como instrumentos no diagnóstico da lesão,
a fim de reconhecer quais são os marcadores mais utilizados atualmente. O
levantamento bibliográfico foi realizado nos bancos de dados Lilacs, Medline,
Pubmed e Scielo. Os critérios de inclusão foram artigos que relatavam a
utilização de marcadores bioquímicos para diagnosticar lesões, idiomas inglês e
português, anos de publicação de 2007 a 2013. Após a busca, foram selecionados
16 estudos para a análise. É possível concluir que o marcador mais utilizado é
a Creatina Kinase (CK) e seu comportamento pode variar em diversos fatores,
porém associação de biomarcadores demonstra ser mais eficiente. Por fim os
marcadores bioquímicos são utilizados principalmente para a área desportiva,
pois permitem diagnóstico precoce.
Palavras-chave: exercício físico,
lesão muscular, biomarcadores.
Abstract
Physical exercise has been evidenced once it provides meaningful health
benefits; however, its performance without orientation may increase the
susceptibility to lesions. Recently, researchers have evaluated different types
of biochemical markers to understand the mechanisms involved in the onset of a
musculoskeletal injury. For this reason, it is necessary to review the use of
biochemical markers as a tool in the diagnosis of lesions in order to recognize
which are the most widely used. The literature survey was conducted in Lilacs,
Medline, Pubmed and Scielo
databases. The inclusion criteria were articles that reported the use of
biochemical markers for diagnosing injuries, in English and Portuguese
languages, publishing from 2007 to 2013. After the research, 16 studies were
selected for the analysis. It is possible to conclude that the most widely used
marker is the Creatine Kinase (CK) and its behavior
can vary in many factors, but the association of biomarkers was more efficient.
Finally, the biochemical markers are used primarily for the sports area as they
allow early diagnosis.
Key-words: physical
exercise, muscle injury, biomarkers.
Cada vez mais se fala
sobre qualidade de vida e, por conseguinte, a atividade física vem sendo
evidenciada, pois proporciona significativos benefícios para a saúde [1].
Segundo um estudo do IBGE de 2008 [2], 41,4 milhões de pessoas, de 14 anos ou
mais de idade, praticaram exercício físico no Brasil nos 3
meses anteriores ao estudo. A frequente realização de exercícios físicos de
alta intensidade ou exaustivos pode aumentar a suscetibilidade a lesões,
promover a fadiga e overtraining
[3]. Lesões musculares, segundo Jarvinen [4], ocorrem principalmente nos
esportes, sua frequência varia de 10% a 55% de todos os danos musculares,
podendo ser causadas por contusão, estiramento ou laceração.
Por esse motivo,
fazem-se necessários o diagnóstico precoce e a orientação adequada de possíveis
danos musculares. A prescrição do exercício e treinamento envolve vários
fatores incluindo a necessidade da avaliação da intensidade do treino por
profissionais da área [3].
Atualmente,
pesquisadores têm avaliado diferentes tipos de marcadores bioquímicos a fim de
compreender os mecanismos envolvidos no desencadeamento de uma lesão
musculoesquelética. Dentre os objetivos destes estudos, pode ser mencionada a
prevenção ou a diminuição da interrupção do treinamento físico, de forma a
melhorar a qualidade de vida e desempenho. O diagnóstico da lesão muscular por
biomarcadores, afirma Lisbôa [5], permite resultados precoces comparado com os
exames de imagem por fazer um rastreamento generalizado no organismo, podendo
indicar possíveis lesões.
Dentre esses
marcadores, podem ser citados os valores séricos de determinadas enzimas, tais
como a creatine kinase (CK), a lactato desidrogenase (LDH), mioblobulina (MB),
fragmentos da cadeia pesada de miosina, troponina-I, Alanina Aminotransferase
(ALT), aldolase, anidrase carbônica e Aspartato Aminotransferase (AST).
Brancaccio et al. [6] postulam que estas enzimas são
utilizadas como marcadoras de dano musculotendíneo por serem citoplasmáticas e
impermeáveis à membrana plasmática, apresentando aumento de seus valores
séricos. Níveis aumentados dessas moléculas no líquido extracelular podem
indicar uma alteração da permeabilidade da membrana ou rompimento desta, sendo
provocada pelo exercício físico [3].
Este estudo tem por
objetivo revisar a utilização de marcadores bioquímicos como instrumentos no
diagnóstico da lesão, a fim de reconhecer quais são os marcadores mais
utilizados atualmente, para facilitar o diagnóstico e consequentemente auxiliar
no tratamento da lesão muscular.
Trata-se de um
trabalho observacional do tipo bibliográfico, cuja metodologia apoia-se na
leitura exploratória e seletiva de material referente aos marcadores bioquímicos
utilizados no diagnóstico de lesão muscular. Os descritores para toda a
pesquisa bibliográfica foram: lesão muscular, marcadores bioquímicos e seus
correspondentes em inglês.
O levantamento
bibliográfico foi realizado nos bancos de dados Lilacs, Medline, Pubmed e
Scielo. Os critérios de inclusão utilizados para o desenvolvimento deste
trabalho foram artigos que relatavam a utilização de marcadores bioquímicos
para diagnóstico lesão, idiomas inglês e português,
anos de publicação de 2007 a 2013.
Após a pesquisa,
foram encontrados 32 artigos relacionados com o tema pesquisado, destes 18
artigos foram excluídos da pesquisa por não se enquadrarem nos critérios de
inclusão, ou seja, não contemplar os principais tópicos abordados neste estudo
como a utilização de marcadores bioquímicos para diagnóstico de lesão muscular
e foram publicados anterior a 2007, restando14
estudos, os quais foram descritos ao longo deste trabalho.
No que diz respeito a Ck foram encontrados 5 estudos, listados nas tabelas I e
II, os quais foram divididos para melhor compreensão em colunas autor e ano,
objetivo, método e resultado.
Tabela
I – Estudos que utilizaram Creatina Kinase (CK)
como marcador bioquímico na lesão.
Tabela
II -
Estudos que utilizaram Creatina Kinase
(CK) como marcador bioquímico na lesão.
Já a estudos
referentes à combinação de biomarcadores foram encontrados 7,
listados nas tabelas 3, 4 e 5, igualmente divididos em colunas autor e ano,
objetivo, método e resultado.
Tabela
III
– Estudos que utilizaram combinação de
biomarcadores para diagnóstico de lesão muscular.
Tabela
IV –
Estudos que utilizaram combinação de
biomarcadores para diagnóstico de lesão muscular.
Tabela
V – Estudos que utilizaram combinação de
biomarcadores para diagnóstico de lesão muscular.
Por não se
enquadrarem nos critérios de divisão das tabelas acima, dois outros estudos
serão discorridos a seguir. Brancaccio et al. [17],
revisando biomarcadores de lesão muscular, afirmam que os níveis séricos de
enzimas do músculo esquelético ou proteínas são marcadores do estado funcional
do tecido muscular, que variam amplamente em ambas as condições patológicas e
fisiológicas. Discorrem ainda que Creatina qKnase,
lactato desidrogenase, aldolase, mioglobina, troponina, aspartato
aminotransferase, e anidrase carbônica são os marcadores séricos mais úteis de
lesão muscular, mas a apoptose em tecidos musculares subsequentes para o
exercício extenuante também pode ser desencadeada por aumento do estresse
oxidativo, recomendando-se a utilização de mais de um para fornecer uma melhor
estimativa de estresse muscular.
Segundo revisão de
literatura sobre CK realizada por Brancaccio et al. [6], os níveis totais desta enzima dependem da idade, gênero,
raça, massa muscular, atividade física e condição climática. Os autores afirmam
ainda que altos níveis de CK em indivíduos aparentemente saudáveis podem estar
correlacionados com o treinamento físico status, como eles dependem de danos do
sarcomêro, como exercício extenuante que leva danos as células musculares
esqueléticas resultando em aumento da CK total no soro. O pico de CK é maior em
exercícios que utilizam contrações excêntricas e 24 h após a sessão de
exercício.
As contrações geram
tensões na fibra muscular, podendo levar a micro rupturas no sarcolema e lamina
basal, os quais constituem a lesão muscular. A fase excêntrica se comparada à
concêntrica proporciona maior quantidade de micro lesões musculares e também é
nesse tipo de contração que a formação de radicais livres é maior [5]. Cruzat et al. [3] acrescenta ainda que o dano
muscular em exercícios excêntricos é decorrente da ruptura de tecidos
conectivos ligados a miofibrilas adjacentes, podendo ser componentes da célula
muscular, da lâmina basal adjacente, da membrana plasmática muscular, do
sarcômero, do retículo plasmático, ou ainda de uma combinação desses.
Para o diagnóstico
precoce de dano muscular os marcadores bioquímicos são amplamente utilizados,
pois permitem um rastreamento generalizado do organismo, sendo a área
desportiva a mais evidenciada [5,18].
O biomarcador mais
utilizado para diagnóstico de lesão é a Creatina Kinase, pois é o marcador que
mais apresenta variações pré e pós-exercício, sobretudo após o exercício de
força ou outros exercícios que exijam ações excêntricas [1;20].
Também segundo Foschini et al. [1] pela facilidade de coleta e,
sobretudo, pelo baixo custo quando comparado aos métodos diretos. Porém a
associação dele com outro marcador tem se mostrado mais eficiente, pelo fato
que minimiza as limitações desse biomarcador. Contudo, para o rastreamento de
lesões localizadas os métodos de diretos/imagens são mais fidedignos [21].
A análise de creatina
kinase é realizada através de coleta sanguínea antes e depois de um treino
especifico e o índice de CK muda de acordo com diferentes protocolos,
intensidade e variações fisiológicas, como gênero, idade, massa muscular,
condição climática, tipo de exercício realizado e etnia [1,9]. Brancaccio et al. [17] afirmam que os diferentes
níveis de CK estão relacionados com a massa corporal, atividade física e com
níveis de repouso após treinamento. Os autores ainda sugerem que estudo de CK
na medicina desportiva permite a obtenção de informação sobre o estado do
músculo e os altos níveis de CK em indivíduos aparentemente saudáveis pode ser
correlacionado com treinamento físico extenuante.
Seu maior pico varia
entre 24 h e 72 h após a realização do exercício, porém já pode ser percebido o
aumento imediatamente após a realização da atividade. Segundo Cruzat et al. [3], isto ocorre devido a lesão
tornar-se mais extensiva durante este período. Machado e Coertjens [10] afirmam
ainda que a intensidade que o esporte está sendo praticado irá influenciar no grau
de elevação e na duração em que esses marcadores permanecerão na corrente
sanguínea.
Os esportes mais
utilizados para as análises são o futebol e maratona, no primeiro Ck apresenta
pico maior imediatamente após, 24 h, 48 h e 72 h depois do jogo [7,8,15,16]. Em maratonas o nível maior de CK pode ser visto
15min após a prova e até 72 h depois [12,13].
Dessa forma, é
possível concluir que o marcador mais utilizado é a Ck, porém associação de
biomarcadores demonstra ser mais eficiente. O comportamento da Ck pode variar
ao longo do tempo, tipo de contração muscular, intensidade e tipo de exercício
executado, condições climáticas, raça e gênero. Os marcadores bioquímicos são
utilizados principalmente para a área desportiva, pois permitem diagnóstico
precoce, porém métodos de imagens apresentam resultados mais fidedignos se
utilizados para análise regional.