Fisioter Bras 2022;23(5);718-34
REVISÃO
Diástase dos retos
abdominais pode levar a disfunções do assoalho pélvico?
Can rectus abdominis diastasis cause pelvic floor dysfunction?
Michele Portal da Silveira*,
Yasmin Podlasinski da Silva**, Magda Patrícia Furlanetto***
*Graduanda do Curso Fisioterapia,
Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter),
**Graduada do Curso de Medicina, Universidade Luterana do Brasil (ULBRA),
***Docente da Disciplina de Fisioterapia Urogenital, Centro Universitário
Ritter dos Reis (UniRitter)
Recebido em 15 de maio de
2022; Aceito em 12 de julho de 2022.
Correspondência: Yasmin Podlasinski
da Silva, Rua Amadeu Fagundes de Oliveira Freitas, 80, bloco B6/402, 91260010
Porto Alegre RS
Michele
Portal da Silveira: micheleportal@hotmail.com
Yasmin Podlasinski da Silva: yasminpodlasinski97@gmail.com
Magda
Patrícia Furlanetto: magdafurlanetto@hotmail.com
Resumo
Introdução: A disfunção do assoalho pélvico é
definida como qualquer desvio da função normal dos músculos do assoalho
pélvico: prolapsos, incontinência, dor pélvica, disfunções sexuais. Dentre as
diversas condições, a diástase dos retos abdominais é recorrente, definida como
um comprometimento com a separação da linha média dos dois músculos retos
abdominais ao longo da linha alba. Objetivo: Revisar a literatura dos
estudos dos últimos 10 anos, a fim de responder se a diástase dos retos pode
estar envolvida em alguma disfunção do assoalho pélvico. Métodos:
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura realizada através de busca em
artigos científicos publicados no período compreendido entre os anos de 2011 e
2021, nas bases de dados eletrônicas Pubmed, BVS e
Google Acadêmico. Resultados: Majoritariamente os estudos foram
realizados em mulheres até 12 meses pós-parto e não encontraram relação das
disfunções de assoalho pélvico associadas à presença de diástase dos retos
abdominais. Contudo, um estudo realizado em mulheres na pré
e pós-menopausa descreve que a diástase mostrou ser um fator preditivo para
disfunção do assoalho pélvico. Conclusão: A variabilidade entre os
protocolos aplicados dificultou a comparação entre os estudos, sendo
necessários estudos com maior qualidade metodológica a fim de preencher as
lacunas do conhecimento.
Palavras-chave: diástase muscular; reto do abdome;
distúrbios do assoalho pélvico.
Abstract
Introduction: The pelvic floor dysfunction is defined as any
deviation from the normal function of the pelvic floor muscles: prolapses,
incontinence, pelvic pain, sexual dysfunctions. Among the many conditions,
rectus abdominis diastasis is a recurrent condition defined as an impairment of
the midline separation of the two rectus abdominis muscles along the linea alba. Objective: To review the literature of studies
from the last 10 years, in order to answer whether rectal diastasis may be
involved in any pelvic floor dysfunction. Methods: This is an
integrative literature review carried out through a search in the period from
2011 to 2021, in the electronic databases Pubmed, BVS
and Academic Google. Results: Most studies have been carried out in
women up to 12 months postpartum and did not find a relationship between pelvic
floor dysfunctions associated with the presence of rectus abdominis diastasis.
However, a study carried out in pre and
post-menopausal women describes that diastasis proved to be a predictive factor
for pelvic floor dysfunction. Conclusion: The variability between data made
comparisons between studies difficult, so studies with higher methodological
quality are needed in order to fill knowledge gaps.
Keywords: diastasis, muscle; rectus abdominis; pelvic floor
disorders.
Introdução
A
disfunção do assoalho pélvico (DAP) é um problema ginecológico que corresponde
a diversas doenças que afetam negativamente a qualidade de vida e o bem-estar
geral da mulher [1]. A DAP é definida pela Sociedade Internacional de
Continência como qualquer desvio da função normal dos músculos do assoalho
pélvico (MAP) que incomoda a paciente e tem um sinal associado e/ou um achado
de uma investigação que sugere um desvio da estrutura ou função normal [2].
Como DAP são considerados os prolapsos de órgãos pélvicos (POP), incontinência
urinária (IU), dor pélvica, disfunções sexuais (DS) e disfunções anorretais
[3].
Wu et
al. [4] demostraram que 25% das mulheres americanas relataram um ou mais
distúrbios do assoalho pélvico. A incontinência urinária (IU) foi o distúrbio
mais comumente relatado, com uma prevalência de 17,1%. A prevalência combinada
foi de 9,4% para incontinência fecal e 2,9% para prolapso de órgãos pélvicos.
Mundialmente, 200 milhões pessoas sofrem com a IU, em mulheres de 20 a 89 anos
com prevalência de 14% a 57%. Evangelista et al. [5] estimaram que 37%
da população feminina adulta era incontinente e que em mulheres idosas podia
chegar até 72%.
Dentre as
diversas condições que podem afetar o assoalho pélvico (AP), a diástase dos
retos abdominais (DRA) é uma condição recorrente, visto que a parede abdominal
é essencial para a função lombopélvica por vários
mecanismos, incluindo a transmissão de forças por meio da tensão das fáscias
[6]. Inserções tendíneas dos músculos transverso,
oblíquos externo e interno do abdome se mesclam às bainhas do reto, criando a
malha de tecido conjuntivo que compreende a linha alba (LA) fornecendo
estrutura e estabilidade ao tronco e à parede abdominal que estão em um
contínuo fascial com as estruturas do pavimento
pélvico [7].
A DRA é
definida como a separação da linha média dos dois músculos retos abdominais ao
longo da linha alba [8]. Acredita-se que esteja associada a condições que
enfraquecem a LA, como gestações múltiplas, obesidade devido à pressão
intra-abdominal (PIA) elevada, ou mesmo respectivo à cirurgia abdominal prévia
[9]. O padrão feminino de DRA é centrado no nível do umbigo, mas pode se
estender e abranger a região supra ou infra umbilical [10]. Esta condição pode
afetar entre 30% a 70% das mulheres grávidas, podendo a LA permanecer afastada
no pós-parto imediato em 35% a 60% dos casos. No entanto, também foi encontrada
em 39% das mulheres mais velhas, paridas, submetidas à histerectomia por via
abdominal e em 52% das pacientes com sintomas uro-ginecológicos
decorrentes da menopausa [11].
O
diagnóstico e tratamento das DAPs e da DRA devem ser
realizados por profissionais capacitados através de uma avaliação ampla e
completa. Visto que frequentemente estão relacionadas a causas multifatoriais,
a avaliação e a condução do tratamento devem ser, preferencialmente, guiadas
por uma equipe multidisciplinar, incluindo o fisioterapeuta. No que tange a
avaliação da DRA, o valor e a forma de mensuração a serem considerados são
especialmente importantes para o diagnóstico fisioterapêutico, uma vez que a
funcionalidade deve estar em primeiro plano, muito além da questão estética
[12].
Diversos
trabalhos vêm buscando demonstrar como a relação entre a DRA pode afetar o
assoalho pélvico (AP). A literatura atual tem apresentado a hipótese de que uma
fraqueza na parede abdominal pode criar uma deficiência na força e resistência
dos músculos do AP. A sugestão é que se a parede abdominal não se pode co-contrair efetivamente durante a contração do assoalho
Pélvico, a contração do AP será menos eficaz em suas funções uroginecológicas [13].
Em
revisão sistemática, Bø et al. [14]
demonstraram que há evidência de que ocorra a co-contração
do músculo transverso abdominal (TrA) durante a
contração da MAP. Sabe-se que, no mecanismo normal de continência, a MAP deve
se contrair automaticamente no momento adequado a fim de neutralizar o impacto
da PIA durante a contração abdominal. Sendo assim, uma co-contração
da MAP em sinergia com a contração do TrA em mulheres
continentes é prevista. Corroborando esses resultados, Thompson e O'Sullivan [15] constataram que durante a contração
abdominal em mulheres incontinentes, a musculatura abdominal foi mais ativa que
a MAP e a PIA foi bastante elevada, porém o oposto foi
observado em mulheres continentes.
Visto a
relevância do tema e a falta de consenso quanto à determinação das questões
relativas em que as DAPs podem decorrer de problemas
relacionados a DRA, o presente trabalho buscou revisar a literatura dos estudos
dos últimos 10 anos, a fim de responder se a diástase dos retos pode estar
envolvida em alguma disfunção do assoalho pélvico.
Métodos
Trata-se
de uma revisão integrativa de literatura realizada através de busca
bibliográfica digital em artigos publicados em revistas impressas e
eletrônicas, estudos transversais, coorte e observacionais, no período
compreendido entre os anos de 2011 a 2021, nas bases de dados eletrônicas Pubmed, BVS e Google Acadêmico. Foram selecionados estudos
com idioma de publicação em português e inglês em diferentes estratégias para
assegurar uma busca abrangente (Tabela I). Pesquisas manuais também foram
realizadas com base nas referências dos estudos incluídos. A questão norteadora
deste estudo buscou responder se a diástase dos retos abdominais pode estar
envolvida na gênese de disfunções do assoalho pélvico.
Tabela I - Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e operadores booleanos utilizados nas buscas em bases
de dados
As buscas
foram realizadas por dois avaliadores independentes que selecionaram os estudos
potencialmente relevantes a partir dos títulos e resumos dos resultados obtidos
nas bases de dados. Quando essas seções não forneceram informações suficientes
para serem incluídas, o texto completo foi verificado. Posteriormente, os mesmos
revisores avaliaram independentemente os estudos completos e realizaram a
seleção de acordo com os critérios de elegibilidade, ou seja, o uso de uma
metodologia que tenha envolvido estudos de mulheres com diástase dos retos
abdominais e análise de possíveis disfunções do AP. Os casos discordantes foram
resolvidos por consenso. Autores, ano de publicação, participantes, tipo de
intervenção e resultados das variáveis de interesse foram obtidos de forma
independente pelos dois revisores, utilizando um formulário padronizado. A
análise dos dados foi realizada de forma descritiva, procedendo-se a
categorização dos dados extraídos em grupos temáticos a partir das variáveis de
interesse.
A
avaliação da qualidade dos estudos foi realizada através da escala Downs and Black que foi desenvolvida com intuito de validar a
qualidade e a força dos estudos selecionados. Esta escala inclui 5 subitens
relacionados com: I) a forma de reportar os resultados (se a informação
apresentada no estudo permite ao leitor interpretar os dados e resultados sem
enviesamento), II) a validade externa, III) os vieses, IV) os fatores de
confusão, e a V) potência do estudo. Para corresponder a estes subitens estão
listados 27 critérios que pode chegar ao escore total de 28 pontos, devido ao
item V da escala que pode ter resultados de 0 a 2. Caso o avaliador os
identifique, serão pontuados com o valor de “1 (um)” e a ausência de critério
corresponde a avaliação “0 (zero)”. Esta escala é reconhecida como
metodologicamente forte e é mais flexível que outras, já que permite avaliar de
forma verossímil, um maior leque de tipos de estudos. Também possui a vantagem
de possibilitar a avaliação e o destaque de potenciais forças e fraquezas dos
estudos avaliados [16]. Foram considerados metodologicamente fortes os
trabalhos que apresentassem escores igual ou superior a 80% da pontuação
máxima, escores entre 60% e 80% como moderados e aqueles inferiores a 60% foram
considerados de metodologia insatisfatória (fracos). Para o presente estudo, as
questões referentes a ensaios clínicos (8,9,14,15,23,24,26,27) não foram
utilizadas em outros delineamentos. Deste modo, nestes casos foram utilizados
19 itens da escala original, fornecendo uma pontuação máxima de 20 pontos, já
que a pergunta 5 permite pontuação de 0 a 2 [17].
Na busca
realizada, 1.905 referências foram localizadas, sendo que 4 foram encontradas
através de busca manual nos estudos incluídos por meio da seleção inicial.
Destes, 6 artigos foram oriundos na base de dados Pubmed,
2 desses artigos foram excluídos pois não se aplicava ao objetivo de análise.
Na base de dados BVS foram encontrados 5 artigos, 5 foram excluídos por
duplicidade. Por fim, na base de dados Google Acadêmico, foram localizados
1.890 artigos, dos quais 5 estavam duplicados e 1.879 foram excluídos pois não
se aplicavam ao tema e faziam parte dos critérios de exclusão. Após a triagem
inicial, 11 estudos foram selecionados como objetos de análise, por
apresentarem aspectos que respondiam à questão norteadora. Após a leitura na
íntegra, um estudo foi excluído por não apresentar os desfechos estudados,
restando 10 artigos para análise qualitativa. A Figura 1 representa o
fluxograma de pesquisa, que demonstram que dos dez artigos selecionados, todos
em língua inglesa, seis foram estudos transversais, três estudos de coorte
prospectivos e um estudo de coorte retrospectivo.
Figura 1 - Fluxograma de pesquisa. PRISMA,
2009 [18]
Características dos
estudos e dos pacientes incluídos
As
características dos estudos selecionados quanto aos desfechos são apresentadas
na Tabela II. Os artigos incluídos tiveram como objetivo investigar a
prevalência de DAPs em pacientes com DRA. Dentre os
artigos selecionados cinco apresentaram o uso do ultrassom para avaliar a DRA e
os questionários ICIQ-SF e POP-Q, para investigar as DAPS, no período de 6 a 12
meses de pós-parto. Outros quatro artigos avaliaram a DRA através de palpação e
largura dos dedos e utilizaram os questionários HerQles
e o FPFQ online. Por fim, um estudo utilizou o paquímetro digital e as queixas
de POP foram avaliadas utilizando o questionário de consulta internacional
sobre incontinência (ICIQ-VS). Entre os estudos, o número de participantes
variou de 36 a 310 e apresentaram indivíduos na sua maioria mulheres.
Tabela II - Fontes bibliográficas
identificadas, local de realização do estudo, tipo de estudo, características
de amostra, tipo de disfunção estudada e danos
DAP =
Disfunção do Assoalho Pélvico; DRA = Diástase dos Retos Abdominal; FMAP = Força
Muscular do Assoalho Pélvico; IU = Incontinência Urinária; IUE = Incontinência
Urinária Esforço; MAP = Músculos do Assoalho Pélvico; POP = Prolapsos de Órgão
Pélvicos; PVR = Pressão Vaginal em Repouso
Avaliação do risco de
viés dos estudos
No que se
refere às pontuações obtidas por meio da Escala Metodológica Downs and Black, os seis estudos transversais obtiveram média de
76%, os três estudos de coorte prospectivo apresentaram média de 87% e o estudo
de coorte retrospectivo com média de 90% considerando a pontuação máxima de 20
pontos (100%). Os critérios metodológicos que mais apresentaram lacunas na
descrição foram nos aspectos relativos ao reportar dados como os fatores de
confusão, assim como se houve ou não efeitos adversos. No quesito de validade
externa foi a representatividade dos participantes quanto a população, tal como
se os locais onde foram executadas as intervenções/avaliações eram centros de
referências. Na categoria de viés metodológico, os critérios que mostraram
maiores falhas foram no cegamento das equipes (tanto as que aplicaram o
tratamento quanto dos avaliadores), o tipo de intervenção recebida e o processo
de randomização dos pacientes. Dos dez trabalhos analisados, três destes
obtiveram uma pontuação entre 60% e 80% e foram considerados metodologicamente
moderados, seis obtiveram pontuação maior do que 80% e foram considerados
metodologicamente satisfatórios, conforme demonstrado no Gráfico 1.
Gráfico 1 – Avaliação do risco de viés através
da Escala Downs and Black [16]
Análise dos desfechos
Os
resultados obtidos em relação aos métodos de avaliação, grupos de intervenção,
frequência, intensidade e duração do programa de reabilitação e as principais
conclusões estão dispostos na Tabela III.
Tabela III - Resultados obtidos em relação aos
métodos de avaliação, análise dos desfechos, resultados e principais conclusões
Foram
selecionados para esta revisão dez artigos que buscaram investigar a relação da
diástase dos retos abdominais com as disfunções do AP feminino. Os mesmos
apresentaram grande variabilidade com relação aos parâmetros de avaliação
utilizados na detecção da DRA e quanto aos desfechos analisados. Alguns estudos
demonstraram correlação positiva entre a paridade e DRA em mulheres jovens
[20,22,24]. Relatos de que a incidência de diástase foi significativamente
maior em mulheres que se submeteram à cesária foram
encontrados em quatro estudos [20,22,24,25]. Além disso, o estudo de Fei et al. [20]
demonstrou associação dos fatores de
risco para DRA com história de cesariana e partos
múltiplos. A maior parte dos
estudos foram realizados em mulheres no período puerperal
até 12 meses
pós-parto e não encontraram relação das
disfunções de AP associadas à presença
de DRA [19,20,21,22,25,26,27,28]. No entanto, o estudo de Harada et
al. [23] descreveu que a diástase mostrou ser um fator preditivo para DAP
em mulheres na pré e pós-menopausa.
Em
relação à qualidade metodológica dos estudos selecionados, conforme o Check list Downs and Black, dos dez artigos avaliados, seis obtiveram escore
acima de 80% sendo considerados metodologicamente fortes, três com escore
moderado e, apenas um foi considerado fraco. No que se refere aos indicadores
de qualidade que não foram atendidos estão a ausência de representatividade da
população estudada e os locais onde aconteceram os estudos não eram
representativos do tratamento que a maioria dos pacientes recebe.
Vários
métodos foram utilizados na avaliação da DRA, entre eles, fita métrica,
paquímetro digital, ultrassonografia e largura dos dedos. A escolha do método
de medição deve ter propriedades sólidas com o intuito de prever, discriminar e
monitorar a DRA, no entanto não há um consenso internacional sobre qual método
de medição deve ser utilizado [29]. A tomografia computadorizada (TC) e a
ressonância magnética (RM) são atualmente consideradas os métodos de escolha
padrão ouro, para examinar a parede abdominal. No entanto, esses métodos são
caros e a TC expõe o paciente à radiação impossibilitando o uso em mulheres
grávidas. Portanto, a ultrassonografia foi proposta como uma técnica segura e
não invasiva que pode ser repetida várias vezes [30]. Da mesma forma, Van de Water e Benjamin concluíram que paquímetro e US eram
ferramentas adequadas para esta finalidade [29]. Embora o posicionamento do
paciente e dos dedos possam ser padronizados, outras variáveis, como diferença
na largura dos dedos entre os avaliadores e a interpretação subjetiva da
pressão, comprometem a confiabilidade [31].
As DAPs representam um conjunto de desordens funcionais que
incluem incontinência urinária e fecal, prolapsos de órgãos pélvicos,
disfunções sexuais e dor [20]. De forma geral, dentre os estudos elencados
nesta revisão, não houve significância estatística na relação da DRA com
disfunções do AP em uma série de resultados contraditórios. Apesar da
prevalência de IU e POP se mostrarem ligeiramente maiores em pacientes com DRA
no estudo de Wang [25], Bø et al. [26]
relataram maior índice de POP em mulheres sem DRA. Em contrapartida, Volkan et al. [24] ao estudar mulheres jovens com
DRA descreveram, em frequências combinadas, a prevalência de 57% de prolapsos
de parede anterior, 50% em parede posterior, 52% com descenso uterino e não
encontraram nenhum tipo de IU. No entanto, encontrou-se uma correlação positiva
entre DRA e paridade (p < 0,001). Cabe salientar que estes estudos foram, em
sua maioria, realizados em mulheres durante o puerpério ou até 12 meses após o
parto. Em contraponto aos achados demostrados, o estudo de Harada
et al. [23] foi o único realizado em mulheres na peri
e pós-menopausa e relatou aumento de 2,6 vezes no risco de DAP assoviado à DRA
(p = 0,01). Fede et al. [32] corroboraram este achado ao afirmar
que o desequilíbrio hormonal lesa o tecido miofascial, levando a mudanças
drásticas em sua constituição nas fibras colágenas e elásticas, modificando
assim suas propriedades biomecânicas.
Apesar de
a maioria dos estudos não correlacionarem a dor lombopélvica
com DRA [33], os músculos abdominais estão em continuidade com a fáscia
toracolombar e AP, e trabalham sinérgica e simultaneamente e, por isso, a dor
lombar também pode ser atribuída a fraqueza da MAP [23]. A DRA trata-se de uma
disfunção do tecido conjuntivo, e não está relacionada apenas a fatores
perinatais, como muitas vezes é assumido [23]. Uma vez que volume e pressão
intra-abdominal são elevados cronicamente pela obesidade e temporariamente pela
gravidez [9]. De acordo com Wu et al. [34], os fatores de risco para a
DRA são múltiplos e incluem idade, índice de massa corporal, diabetes,
obesidade, PIA elevada, cirurgia abdominal, paridade e tipos de parto. As
diferenças raciais no tecido conjuntivo podem ser outro aspecto para explicar
as diferenças por faixa etária como um fator de risco para a DRA [4]. Da mesma
forma, para Gitta et al. [34], a DRA pode
prejudicar a contração da musculatura do assoalho pélvico, levando ao aparecimento
de IU.
Finalmente,
corroborando os dados obtidos por Harada et al.
[23] que, nesta revisão, mostrou relação da DRA com os desfechos de DAPs em mulheres com alterações hormonais, um trabalho
recente demonstrou que fibroblastos vaginais isolados de mulheres na
pós-menopausa com prolapso de órgãos pélvicos apresentam maior sensibilidade e
menor tolerância ao alongamento mecânico em relação aos fibroblastos normais. O
enrijecimento da matriz extracelular, induzido pelo aumento da deposição de
colágeno, especialmente colágeno-I e reticulação,
interrompe a morfogênese do tecido normal [23,32]. Desta forma, torna-se
imprescindível a realização de pesquisas da influência da DRA na gênese das DAPs ampliando o escopo amostral que incluam mulheres na peri e pós-menopausa.
A
maioria
dos estudos foram realizados em mulheres no período puerperal
até 12 meses
pós-parto e não encontraram relação das
disfunções de AP associadas à presença
de DRA. No entanto, o estudo realizado em mulheres na pré
e pós-menopausa descreve que a diástase mostrou ser um fator preditivo para
DAP. Houve grande variabilidade entre os protocolos aplicados, dificultando a
comparação entre os estudos. Desta forma, torna-se necessário que estudos com
maior qualidade metodológica, prospectivos com maior tempo de acompanhamento
sejam realizados a fim de preencher as lacunas do conhecimento.
Conflitos
de interesse
Os autores
não apresentam conflitos de interesse nessa pesquisa.
Fontes
de financiamento
A pesquisa
não possui fonte de financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa: Silveira MP, Furlanetto MP;
Coleta de dados: Silveira MP, Furlanetto MP; Análise
e interpretação dos dados: Silveira MP, Furlanetto
MP; Redação do manuscrito: Silveira MP, Silva YP, Furlanetto
MP; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante:
Silveira MP, Silva YP, Furlanetto MP