Fisioter Bras 2022;23(5);659-71
ARTIGO ORIGINAL
A eficácia de um programa
de exercícios terapêuticos via telemonitoramento em
pessoas com doença de Parkinson
The effectiveness of a therapeutic exercise program via telemonitoring
in patients with Parkinson's disease
Alanna Veras Brito Fontenele*, Tatiane Araújo
dos Santos*, Thalita Maciel de Matos*, Alessandra Tanuri
Magalhães**
*Acadêmica do curso de
Fisioterapia da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar),
Parnaíba, PI, **Docente do curso de Fisioterapia na Universidade Federal do
Delta do Parnaíba (UFDPar), Parnaíba, PI
Recebido em 18 de maio de
2022; Aceito em 15 de agosto de 2022.
Correspondência: Alessandra Tanuri
Magalhães, Av São Sebastião, 2819, 64202-020
Alanna Veras Brito
Fontenele: alannaveras9@gmail.com
Tatiane
Araújo dos Santos: tatiannesanttos130@gmail.com@gmail.com
Thalita
Maciel de Matos: thalitammatos18@gmail.com
Alessandra
Tanuri Magalhães: alessandra@ufpi.edu.br
Resumo
Introdução: A doença de Parkinson é uma doença
neurológica, progressiva e degenerativa associada a mudanças na qualidade de
vida dos indivíduos acometidos. Exercícios terapêuticos são amplamente
empregados na tentativa de retardar ou minimizar a progressão da doença. No
entanto, devido à pandemia da COVID-19, restrições foram impostas com o objetivo
de diminuir riscos de contaminação, o que interrompeu o acesso dessa população
aos centros de reabilitação. Objetivo: Verificar a eficácia de um
protocolo de exercícios via telemonitoramento na
marcha, equilíbrio, capacidade funcional e qualidade de vida em pessoas com a
doença de Parkinson. Métodos: Foram realizados exercícios terapêuticos durante
33 sessões em um período de dezesseis semanas por meio de telemonitoramento.
Os desfechos clínicos foram coletados antes e após o protocolo. Resultados:
Observou-se significância estatística nas variáveis PDQL, TUG e 10M, mostrando
melhora na qualidade de vida, equilíbrio e velocidade da marcha,
respectivamente. As variáveis DGI, FGA e BERG, escalas funcionais de marcha e
equilíbrio não apresentaram resultados significativos, porém foi observada
melhora na pontuação da maioria dos pacientes. Conclusão: O programa de
exercícios mostrou-se uma opção eficaz apresentando melhora na marcha,
equilíbrio, capacidade funcional e qualidade de vida da população estudada.
Palavras-chave: doença de Parkinson; telemonitoramento; exercício.
Abstract
Introduction: Parkinson's disease is a neurological, progressive
and degenerative disease associated with changes in the quality of life of
affected individuals. Therapeutic exercises are widely used in an attempt to
slow or minimize the progression of the disease. However, due to the COVID-19
pandemic, restrictions were imposed in order to reduce the risk of
contamination, which interrupted the access of this population to rehabilitation
centers. Objective: To verify the effectiveness of an exercise protocol
via telemonitoring in gait, balance, functional capacity and quality of life in
people with Parkinson's disease. Methods: Therapeutic exercises were performed
during 33 sessions in a period of sixteen weeks through telemonitoring.
Clinical outcomes were collected before and after the protocol. Results:
Statistical significance was observed in the variables PDQL, TUG and 10M,
showing improvement in quality of life, balance and gait speed, respectively.
The variables DGI, FGA and BERG, functional gait and balance scales, did not
present significant results, but improvement was observed in the scores of most
patients. Conclusion: The exercise program proved to be an effective
option, showing improvement in gait, balance, functional capacity and quality
of life of the population studied.
Keywords: Parkinson's disease; telemonitoring; exercise.
A doença
de Parkinson (DP) é uma doença crônica e progressiva do Sistema Nervoso Central
caracterizada por uma combinação de sintomas motores e não motores [1]. Os
sintomas não motores envolvem alteração do sono, humor e cognição. Os sinais
motores frequentes são os tremores de repouso, rigidez, bradicinesia, andar
arrastado e instabilidade postural [2,3].
As
desordens da marcha são uma das causas mais comuns de incapacidade funcional em
pessoas com a DP. Os movimentos tornam-se mais lentos e associados à diminuição
de rotação do tronco, da amplitude de movimentos e da dissociação de membros
superiores, justificam a diminuição da velocidade da marcha e o aumento da
ocorrência de quedas [4].
Estudos
revelam que as pessoas com DP têm maiores riscos de quedas comparados com
idosos saudáveis, já que um terço das quedas ocorrem por instabilidade postural
[2]. Essa é ocasionada por alterações das estratégias do controle postural
durante as tarefas, e podem ocorrer quando há uma perturbação desestabilizadora
inesperada, ou mesmo na realização de movimentos voluntários [5].
Evidências
demonstram que a fisioterapia convencional proporciona melhora em diversos
aspectos da DP como: marcha, força e amplitude de movimento [6,7]. Como uma
tentativa de aumentar a qualidade das taxas de vida e sobrevida dos pacientes
com DP, durante as últimas décadas tem havido um crescimento de estudos
relacionados a exercícios terapêuticos. As abordagens investigam quais as
características dos exercícios, a duração e a frequência que geram melhores
resultados. Em geral, os programas incluem exercícios aeróbicos e treino de
resistência [2,8].
Devido ao
risco de contaminação pelo coronavírus, as autoridades de saúde mundiais
orientaram as populações a permanecerem em suas casas como forma de promover o
achatamento da crescente curva de contaminação. As restrições impostas
interromperam ou limitaram a realização de atividades de vida diária das
pessoas, impactando, inclusive, no cotidiano daquelas que necessitavam
deslocar-se até centros de reabilitação especializados, como as pessoas com DP
[9]. Considerando a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) que
declarou em março de 2020 situação de pandemia ao coronavírus – COVID-19, o
Conselho Federal de Fisioterapia (COFFITO) concedeu a permissão para o
atendimento não presencial nas modalidades de teleconsulta,
teleconsultoria e telemonitoramento
[10].
Sabe-se
que a falta de exercícios pode agravar as condições de saúde dessa população,
levando à piora da sintomatologia da doença e ao declínio funcional. Assim,
justifica-se a importância dessa proposta de acompanhamento online, uma vez que
se faz necessário essa forma de atendimento para a manutenção de aspectos
importantes do tratamento e quando não seja realizado, resultará em
consequências potencialmente deletérias [11]. Essa estratégia vem sendo
utilizada de forma recorrente durante a atual pandemia [9]. Embora diversos
estudos tenham investigado o efeito do exercício terapêutico na DP, poucos
investigaram a eficácia do exercício por telemonitoramento.
Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo verificar a eficácia de um
protocolo de exercícios via telemonitoramento na
marcha, equilíbrio, capacidade funcional e qualidade de vida em pessoas com a
doença de Parkinson.
Trata-se
de um estudo clínico experimental não controlado. O estudo foi aprovado no
comitê de ética sob parecer de número 4.796.048. Foram recrutados 10
participantes, de ambos os gêneros. No entanto, destes, 07 participaram do
estudo, uma vez que três participantes desistiram devido à falta de disponibilidade
de tempo. Foram elegíveis os participantes que atenderam os seguintes
critérios: (1) idades acima de 50 anos, (2) diagnóstico médico de Parkinson
idiopático presente há pelo menos 12 meses, (3) em acompanhamento clínico e
tratamento farmacológico por um médico responsável, (4) classificação de
Parkinson até o estágio 3 de acordo com a escala Hoehn
e Yahr (5) ausência de doenças cardiovasculares e
musculoesqueléticas.
Foi
realizado contato via telefone e após o cumprimento de elegibilidade e assinatura
do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), os pacientes foram
submetidos à avaliação presencial, no setor de fisioterapia da clínica escola
da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar).
O estudo foi dividido em avaliação (inicial/final) e programa de exercícios.
Durante as avaliações, foram coletados por meio de uma entrevista estruturada
os dados pessoais, história clínica e características antropométricas dos
participantes. Os pacientes foram submetidos às seguintes avaliações: Mini
Exame do Estado Mental (MEEM) para realizar a avaliação cognitiva [12]; UPDRS
para avaliar a condição clínica do paciente, com uma pontuação máxima de 180
pontos; Escala de Hoehn e Yahr
(HY) com a finalidade de identificar os estágios da DP; A Qualidade de Vida foi
avaliada por meio da Escala de Qualidade de Vida na Doença de Parkinson (PDQL)
[13]; Escala de Equilíbrio Funcional de Berg (EEFB), para avaliar o equilíbrio
funcional dos pacientes [14]; Timed Up and Go (TUG) para avaliar a
mobilidade funcional básica [15]. Para avaliar a marcha, foram utilizados: Dynamic Gait Index (DGI), Teste
de Caminhada de 10 metros (10M) e Functional Gait Assessment (FGA) [15,16,17].
Todos os participantes e os seus respectivos cuidadores receberam instruções
detalhadas sobre o presente estudo, bem como instruções voltadas aos cuidadores
quanto à necessidade de supervisão durante a realização dos exercícios para
garantir a segurança dos pacientes.
A
viabilidade do programa de exercício foi analisada por três componentes:
retenção do participante, adesão à intervenção e eventos adversos. A adesão foi
registrada durante o tratamento por meio do número de sessões realizadas pelos
participantes. Foi monitorado se os pacientes realizaram os exercícios em casa,
com base no percentual do número total de dias recomendados para execução dos
exercícios por telemonitoramento [18]. Nos casos em
que houve dúvidas sobre a informação prestada, os cuidadores ou cônjuges dos
participantes foram questionados. O cálculo da aderência ao programa de
exercícios, com base nas frequências semanais, foi feito da seguinte forma:
razão entre o número de dias da semana nos quais os exercícios foram realizados
(DR) e o número recomendado de dias da semana para a realização dos exercícios
[9].
O
protocolo foi realizado via telemonitoramento e teve
a duração de 3 meses, totalizando 33 sessões com frequência de 3 vezes
semanais. Foi criado um canal na plataforma digital Youtube intitulado
“Parkinson em Movimento”, onde foi postado um vídeo a cada dia de sessão,
contendo os exercícios que seriam realizados no presente dia. Adicionalmente,
criou-se um grupo no WhatsApp com todos os participantes, no qual foram
encaminhados os links de acesso para os exercícios. O acompanhamento de cada
participante acontecia de forma individual, 1 vez na semana, realizando-se o
contato com cada paciente, via ligação de telefone, para saber se conseguiram
realizar os exercícios, suas dificuldades e ouvir suas sugestões. Foi feita a
elaboração de um diário de atendimento, registrando todas essas informações.
Além disso, a cada semana os indivíduos foram convidados a nos enviar um vídeo
no Whatzapp mostrando a execução dos exercícios.
Os
exercícios terapêuticos foram elaborados de acordo com a realidade dos pacientes
e divididos em três fases: (1) Exercícios de aquecimento com duração de 10 a 12
minutos, com exercícios de alongamento e de amplitude de movimento envolvendo a
musculatura de tronco e membros, realizados na postura ventral, dorsal, sedestação e em bipedestação; (2)
Exercícios dinâmicos com duração de 30 a 50 minutos. Nesta fase foram
realizados estímulos para a marcha, o equilíbrio, agilidade, autocuidado, ganho
de força e amplitude de movimento envolvendo a musculatura do tronco e membros,
realizados na postura ventral, dorsal, sedestação e bipedestação; (3) Exercícios de retorno com duração de 10
minutos com exercícios de alongamento e relaxamento [1,2,3,5,8].
Todos os
dados foram inseridos em uma planilha Excel e a análise estatística foi realizada
por meio do Software GraphPad Prism versão 5.01. Foi
utilizado o teste de Shapiro Wilk para verificar a normalidade das variáveis
analisadas. Após a verificação da normalidade dos dados, foram utilizados o
teste t de Student para as variáveis normais (P <
0,05) e o teste de Wilcoxon para as variáveis não
normais (P > 0,05).
Nos dados
verificaram-se as características quanto a identificação, condição clínica e
cognitiva da amostra dos 7 participantes estudados, com diagnóstico de Parkinson,
dos quais 71% são do gênero feminino e 29% do gênero masculino. Esses têm
idades entre 55 e 72 anos, sendo a média geral de aproximadamente 64,71 anos.
Em relação às variáveis de condição clínica, para Hoehn
e Yahr, a média geral aproximada foi de 1,14. Em
relação ao total de participantes, os dois do sexo masculino se classificam
como doença unilateral. Já em relação ao sexo feminino, duas não apresentam
nenhum sinal da doença, uma se classifica como doença unilateral e axial, outra
como doença bilateral sem déficit de equilíbrio e uma última como doença
bilateral leve, sendo essa a mais grave dentre os participantes. No que diz
respeito ao UPDRS, a média geral foi de aproximadamente 34,71. Já em relação ao
MEEM, 2 dos participantes não alcançaram o resultado esperado para eles e a
média geral foi de aproximadamente 25,71.
Tabela I - Expressa os dados de identificação
Gênero;
Idade em anos; Hoehn & Yahr
= Escala modificada de Hoehn & Yahr; MEEM = Mini exame do estado mental; UPDRS = Escala
Unificada de Avaliação da Doença de Parkinson
Dos
resultados analisados, as variáveis PDQL, TUG e 10M foram estatisticamente
significativas p < 0,05 e classificadas como normais (Tabela II e III). No
PDQL, quando comparado antes e depois, apenas 2 participantes não apresentaram
melhora nos resultados. Quanto ao TUG, apenas 1 participante não conseguiu
melhorar os resultados do tempo registrado. Já no que diz respeito ao teste de
10M, 4 participantes melhoraram no quesito velocidade. Em relação ao número de
passos, 5 dos participantes conseguiram melhorar sua pontuação, ou seja,
reduziram a quantidade de passos. Quanto à assistência, após o protocolo de
exercícios, 3 dos participantes realizaram as tarefas de forma independente,
enquanto os outros 4 realizaram de forma independente, porém sob supervisão.
Tabela II - Valores expressos pela média e
desvio padrão (DP)
PDQL = Parkinson Disease Quality of Life; TUG = Timed
Up & Go; *Valores para teste de t-student
Tabela III - Valores expressos pela média e desvio
padrão (DP), pela mediana em Assistência
10M =
Teste de caminhada de 10 metros; *Valores para teste de t-student;
valores para teste de Wilcoxon
As
variáveis DGI, FGA e BERG não apresentaram significância estatística p > 0,05,
classificando-se como não normais (Tabela IV). Apesar desse resultado, os
participantes em sua maioria conseguiram melhorar a pontuação em todas essas
escalas, nas quais quanto maior a pontuação, melhor a capacidade de o indivíduo
realizar as tarefas motoras. Em específico ao DGI, 6 participantes apresentaram
melhora em sua pontuação, representando melhora na condição física desses
pacientes. Na avaliação de tarefas motoras durante a caminhada (FGA), 5
indivíduos tiveram aumento de suas pontuações, o que indica melhora na execução
de tarefas.
Tabela IV - Valores expressos pela mediana,
primeiro quartil e terceiro quartil
BERG =
Escala de equilíbrio de Berg; DGI = Dynamic Gait Index; FGA = Avaliação Funcional da Marcha; P valor
para teste de Wilcoxon
Os
resultados da aderência dos participantes ao protocolo mostraram que foi
possível observar uma variação do percentual entre os participantes.
Entretanto, a taxa de aderência aos exercícios permaneceu acima de 70% para a
maioria dos participantes, com média de 71% entre todos.
Levando-se
em consideração que as complicações relacionadas à DP levam a perdas
progressivas comprometendo a locomoção e a qualidade de vida [1], o presente
estudo teve como objetivo verificar a eficácia de um programa de exercícios
baseado em telemonitoramento sobre a marcha,
equilíbrio, capacidade funcional e qualidade de vida em pessoas com Parkinson,
além de sua aderência ao programa de exercícios realizados durante um período
de isolamento social. A fim de testar a eficácia do programa de exercícios,
foram aplicados testes para comparar os resultados de antes e depois da
intervenção.
Foi
verificado no presente estudo que a marcha apresentou uma melhora
estatisticamente significativa em relação à velocidade, assim como na
quantidade de passos. Os resultados mostraram que 4 dos participantes
conseguiram diminuir a média de velocidade final quando comparada a média da
velocidade inicial, obtendo assim uma melhora no desempenho da marcha. Dados
esses que corroboram estudo [19] no qual houve uma melhora significativa tanto
para a quantidade de passos quanto para a velocidade da marcha.
Segundo a
Organização Mundial da Saúde, é recomendado pelo menos 150 minutos de atividade
física aeróbica de intensidade moderada durante a semana [20]. No entanto,
pesquisas revelam que as pessoas com DP não atendem a essa diretriz e quando
comparado com grupo controle de faixas etárias idosas e saudáveis, estas se
tornam menos fisicamente ativas com o passar do tempo [21,22,23]. Somado a isso, a
pandemia restringiu ainda mais a realização de atividades físicas, levando a um
estilo de vida sedentário e consequentemente a uma piora da sintomatologia
desses pacientes, além de desenvolverem estresse psicológico [24].
Estudos
verificaram uma relação entre a redução da atividade física e o estresse
psicológico prejudicando assim a qualidade de vida dessa população [25,26].
Adicionalmente, o isolamento social agrava a sintomatologia de pessoas com a DP
[25]. Outros estudos demonstraram que 10-28% dos pacientes com DP relataram
piora de seus sintomas, o que estava relacionado às restrições impostas pela
pandemia, como o isolamento social, que os impossibilitaram de se manterem
fisicamente ativos [27,28,29,30].
Portanto,
levando-se em consideração as repercussões da pandemia sobre a sintomatologia
clínica de pessoas com DP, como verificado nos estudos supracitados, e que
estas pessoas foram distanciadas dos serviços de saúde, a manutenção do
exercício físico deve ser enfatizada mesmo em situações como a pandemia de COVID-19.
No entanto, os participantes incluídos neste estudo já estavam há mais de um
ano sem realizar quaisquer tipos de atividade física devido à pandemia. Assim,
destaca-se a importância desse estudo com a execução de um programa de
exercícios por meio do telemonitoramento, uma vez que
o uso dessa ferramenta reduz os riscos de propagação do vírus e mantém essa
população fisicamente ativa [29].
É
importante considerar que os valores relacionados às escalas de avaliação
funcional da marcha, DGI e FGA, não obtiveram diferença estatística, porém os
valores médios do grupo aumentaram, e considerando que a DP é progressiva, a
manutenção ou melhora de parâmetros é muito importante para esta população,
conforme sugerido por estudo [31]. Em relação ao DGI, dentre os 7 participantes
que realizaram o protocolo, 6 deles conseguiram aumentar suas pontuações,
constatando dessa forma uma melhora na resposta das tarefas que envolvem a
marcha nos diferentes contextos sensoriais, e apenas 1 indivíduo manteve a mesma
pontuação tanto no início quanto ao término do protocolo, demonstrando aos
autores que o protocolo de exercícios pode ter sido efetivo para manutenção e
melhora das habilidades na marcha com este grupo.
Do mesmo
modo, para o equilíbrio não se obteve diferença de valores estatisticamente
significativos na escala BERG. Apesar disso, foi observado um aumento na
pontuação desta escala em 5 participantes, constatando uma melhora na avaliação
funcional do equilíbrio, considerando a população estudada. Essa melhora também
pode ser observada em um estudo, o qual afirma que o telemonitoramento
é uma opção viável para o treino de equilíbrio em pessoas com DP mostrando
benefícios similares ao da fisioterapia convencional [32].
Na
avaliação da capacidade funcional (TUG) foi observada uma melhora
estatisticamente significativa ao final do protocolo, em que 6 participantes
conseguiram diminuir o tempo de teste, indicando assim um melhor desempenho na
mobilidade e menor risco de quedas. Resultados como esse também foram
constatados em um estudo clínico randomizado controlado em que pacientes com a
DP melhoraram a mobilidade do membro superior e mobilidade funcional após um
curso de telerreabilitação com duração de 3 meses,
enquanto o equilíbrio e a mobilidade funcional do grupo controle deterioraram
[18].
No que se
refere à qualidade de vida, o presente estudo revelou uma melhora significativa
no PDQL. Dos 7 participantes avaliados, 5 deles conseguiram aumentar suas
pontuações demonstrando uma melhor percepção de qualidade de vida. Esses
resultados demonstram que um programa de telemonitoramento
pode melhorar a qualidade de vida. Esse achado também foi observado em estudo
recente, o qual constatou que o telemonitoramento é
capaz de motivar o paciente, já que este é responsável por gerir o horário que
irá realizar os exercícios, e que diante disso há uma relação positiva entre
mudanças na saúde mental e física, gerando melhoria na qualidade de vida de
pacientes que adere ao programa em casa [18], conforme visto pelo autor
[9].
É
importante ressaltar que por meio desse estudo foi possível observar que a
maioria dos desfechos analisados tiveram resultados positivos após o programa
de exercícios via telemonitoramento, uma vez que a
maioria dos pacientes tiveram potenciais melhorias nos parâmetros analisados
para marcha, equilíbrio, capacidade funcional e qualidade de vida.
Além
disso, é importante correlacionar os resultados significativos encontrados
neste estudo com tempo de execução do protocolo de exercício utilizado, sendo
este com duração de > 150 min/semana, o que está de acordo com um estudo da National Parkinson Foundation que relataram que o exercício
regular foi associado a um declínio mais lento na mobilidade e qualidade de
vida e também foi associado a menor declínio cognitivo, progressão mais lenta
da doença [20].
Nossos
resultados demonstraram que o programa de exercício terapêutico via telemonitoramento mostrou-se eficaz e válido, o que
corrobora um ensaio piloto randomizado realizado com quarenta pessoas com
doença de Parkinson leve a moderada, no qual revelou que o exercício domiciliar
monitorado usando telessaúde para pessoas com doença
de Parkinson é viável e aceitável [33].
Estudos
apontam a adesão ao programa de exercícios como uma problemática para pessoas
com DP, principalmente a população mais idosa [34]. O presente estudo mostrou
que os participantes, em sua maioria, obtiveram acima de 70% da taxa de
aderência, considerado pelos autores como uma alta taxa de aderência ao programa
de exercício. Diante disso, pode-se sugerir que essa taxa de aderência esteja
fortemente relacionada com os resultados positivos deste estudo. Como limitação
deste estudo, aponta-se a quantidade da amostra. Portanto sugerem-se novos
estudos com uma amostra maior para obtenção de maiores resultados.
O
presente estudo revelou que um programa de exercícios terapêuticos via telemonitoramento neste grupo de pessoas com doença de
Parkinson mostrou-se eficaz, com resultados favoráveis nas variáveis
analisadas, evidenciando uma melhora significativa na redução do tempo de
velocidade da marcha e diminuição de passos, assim como na percepção da
qualidade de vida. Enquanto o equilíbrio e a capacidade funcional apresentaram
apenas melhora clínica, mostrando que a maioria dos pacientes conseguiu
diminuir o tempo de teste, apresentando baixo risco para quedas e melhora nas
tarefas relacionadas ao dia a dia.
Conflitos
de interesse
Os autores
declaram não existir conflitos de interesse de qualquer natureza.
Fontes
de financiamento
Não houve
fonte de financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa, análise e interpretação dos dados, análise estatística,
redação do manuscrito:
Fontenele AVB, Santos TA, Matos TM; Coleta de dados: Fontenele AVB, Santos
TA, Matos TM, Magalhães AT; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo
intelectual importante: Magalhães AT