Fisioter Bras 2022;23(6):853-67
ARTIGO ORIGINAL
Efeito da massagem e do kinesio taping na dismenorreia
primária
Effect of massage and kinesio taping on
primary dysmenorrhea
Isabella Santana Garcia*,
Eduarda Coutinho de Carvalho*, Bárbara Valente de Oliveira*, Gisela Rosa Franco
Salerno, D.Sc.**
*Fisioterapeuta formada
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo/SP, **Professor do Curso
de Fisioterapia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo/ SP
Recebido em 29 de julho de
2022; Aceito em 28 de novembro de 2022.
Correspondência: Isabella Santana Garcia, Avenida
Ômega, 219/33, Barueri SP
Isabella
Santana Garcia: bella_caze@hotmail.com
Eduarda
Coutinho de Carvalho: fisio.dudacoutinho@gmail.com
Bárbara
Valente de Oliveira: barbara.fxf@outlook.com
Gisela
Rosa Franco Salerno: gisela.franco@mackenzie.br
Resumo
Introdução: A dismenorreia é caracterizada por
dores na região lombar e abdominal inferior e está associada ao ciclo menstrual
sendo frequente em jovens mulheres e afetando suas atividades de vida diária e
a qualidade de sono. Objetivo: Verificar o efeito da massagem do tecido
conjuntivo (MTC) e do Kinesio Taping na dismenorreia primária nas variáveis dor,
influência da dor nas atividades de vida diária e qualidade do sono. Métodos:
Participaram do estudo 63 mulheres entre 18-26 anos e que referiam dor igual ou
superior a 5 na Escala Visual Analógica (EVA). Destas, apenas 21 participaram
efetivamente do estudo, e foram divididas em 3 grupos: Grupo Controle (7) que
não recebeu intervenção, Grupo MTC (6) tratado com massagem terapêutica e grupo
Kinesio Taping
(8) que recebeu aplicação do recurso em baixo ventre e lombar. Para avaliação
foi utilizada a EVA para dor; questionário para influência da dor nas AVDs, e as Escalas Visuais Análogas do Sono para qualidade
de sono. Resultados: Os grupos que receberam intervenção apresentaram
melhora significativa da dor em relação ao grupo controle em todos os momentos
avaliados (p < 0,05) e melhora da influência da dor nas AVDs
em todos os dias do ciclo quando comparado o mês
controle e o mês da intervenção (p < 0,05). A avaliação do sono não
demonstrou diferença estatística entre o mês controle e tratamento, mas na
análise entre grupos, o Kinesio Taping demonstrou-se superior (p = 0,03). Conclusão:
Houve redução do quadro álgico nos grupos que receberam intervenção, e o Kinesio Taping demonstrou-se mais
efetivo na melhora da qualidade do sono.
Palavras-chave: dismenorreia; reabilitação; massagem;
fita atlética.
Abstract
Introduction: Dysmenorrhea is characterized by pain in the lumbar
and lower abdominal region and is associated with the menstrual cycle, being
frequent in young women and affecting their activities of daily living and
sleep quality. Objective: To verify the effect of connective tissue
massage (CTM) and Kinesio Taping on primary dysmenorrhea in the variables pain,
influence of pain on activities of daily living and sleep quality. Methods:
Participated in the study 63 women between 18-26 years old who reported pain
equal to or greater than 5 on the Visual Analogue Scale (VAS). Of these, only
21 effectively participated in the study, and were divided into 3 groups:
Control Group that did not receive intervention (7), MTC Group (6) treated with
therapeutic massage and Kinesio Taping group (8) that received application of
the resource in the lower abdomen and low back. For evaluation, the VAS for
pain was used, questionnaire for the influence of pain on ADLs, and the Visual
Analog Sleep Scales for sleep quality. Results: The groups that received
intervention showed significant improvement in pain compared to the control
group at all evaluated moments (p < 0.05) and improvement in the influence
of pain on ADLs on all days of the cycle when comparing the control month and
the month of the intervention (p < 0.05). There was no statistical
difference in sleep assessment between the control and treatment months, but in
the analysis between groups, Kinesio Taping was superior (p = 0.03). Conclusion:
We observed reduction in pain in the groups that received intervention, and
Kinesio Taping proved to be more effective in improving sleep quality.
Keywords: dysmenorrhea; rehabilitation; massage; athletic
tape.
A
dismenorreia primária é caracterizada como um dos distúrbios ginecológicos mais
frequentes, que ocorre na maioria das mulheres durante a menstruação. É
definido por dor pélvica ou no baixo ventre que pode ser irradiada para as
coxas e parte inferior e superior da coluna vertebral. Geralmente os sintomas
se iniciam antes do ciclo menstrual, e se intensificam no primeiro dia do
ciclo, com duração de aproximadamente de 1 a 3 dias. Comumente a dor é
acompanhada por sintomas como náuseas, vômitos, fadiga e cefaleia [1],
caracterizando as manifestações primárias [2].
Esta
condição apresenta alta prevalência e recorrência em mulheres jovens e
estima-se que pelo menos 60% sofrem ao menos um episódio de dor nos primeiros
dias de fluxo menstrual, e dessas cerca de 15% têm graves episódios de dor, acarretando
um impacto negativo sobre o desempenho funcional diário. Alguns autores
acreditam que a dismenorreia primária está associada a maior liberação de
prostaglandinas durante o fluxo menstrual [2].
Durante
muito tempo foram estudadas diversas teorias para explicar a dismenorreia e
consagrou-se a teoria das prostaglandinas, ou seja, quando o endométrio uterino
se desintegra para que ocorra a menstruação, ocorre liberação de grandes
quantidades de prostaglandinas que provocam contrações da musculatura uterina.
Essas contrações são intensas e levam à compressão do plexo vascular e nervoso
do útero, o que provoca a dor [3].
Sendo
assim, quanto menor for o útero, maior a produção e concentração de
prostaglandinas, consequentemente, mais intensa a dor. Todavia, como a
dismenorreia é mais comum e frequente nas jovens adultas que possuem menor
volume uterino, com o crescimento, amadurecimento e gestação, o útero e o colo
uterino se distendem diminuindo a concentração de prostaglandinas e consequentemente
a dismenorreia [3].
Dessa
forma, existem tratamentos medicamentosos para dismenorreia primária, como o
uso de analgésicos ou anti-inflamatórios que atuam na redução da atividade da
via da cicloxigenase, inibindo a síntese de
prostaglandinas [2], porém seu uso é limitado devido aos efeitos colaterais que
podem gerar irritação estomacal ou úlcera. O uso prolongado também pode se
associar a problemas cardiovasculares, hepáticos, renais e o uso contraceptivo
se relaciona a ganho de peso e riscos basais, como tromboembolismo venoso. Em
vista disso, se mostra a necessidade e a eficácia de investir nos métodos
alternativos e conservadores fisioterapêuticos de forma não invasiva e segura
[4]. Os tratamentos incluem massagem do tecido conjuntivo (MTC), bandagem
elástica funcional, cinesioterapia, eletroestimulação nervosa transcutânea
(TENS), crioterapia, termoterapia e acupuntura, os quais têm apresentado bons
resultados na dor e nos sintomas associados a dismenorreia [5].
Sendo
assim, foi objetivo desta pesquisa verificar o efeito da MTC e da Kinesio Taping na
dismenorreia primária nas variáveis, dor, influência da dor nas AVDs e qualidade do sono.
Foi
realizado um estudo prospectivo longitudinal, que teve início após a aprovação
do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiterana Mackenzie (CAAE:
01456418.7.0000.0084) e Registro nos Ensaios Clínicos Randomizados Brasileiros
(REBEC RBR-4nghh7/U1111-1252-0805), respeitando todos os princípios éticos que
norteiam a pesquisa, bem como a privacidade de seus conteúdos, como preconizam
os documentos internacionais e a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde
do Ministério da Saúde. A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de
Habilidades do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, Campus Higienópolis, SP.
Participaram
deste estudo 63 estudantes universitárias, com idade entre 18 e 26 anos, que
apresentassem quadro de dismenorreia primária cujo nível de dor referida fosse
igual ou superior a 5 na Escala Visual Analógica (EVA). Foram excluídas as que
não puderam participar ou que faltaram em alguma das propostas, as que já
tinham realizado outras modalidades terapêuticas, fizessem uso de
anticoncepcional ou que apresentassem patologias pélvicas secundárias. Dessa
forma, os grupos foram divididos em:
G1 (Grupo
MTC): 6 participantes que receberam Massagem do Tecido Conjuntivo e foram
posicionadas em decúbito ventral com travesseiro abaixo dos tornozelos e
rolinho no abdome, utilizando trajes íntimos que deixassem as costas expostas
[6].
Para a
técnica da MTC, utilizamos os segundo e terceiro dedo de uma mão em um ângulo
de aproximadamente 45 graus em relação ao tecido conjuntivo, seguido de tração
tecidual evitando aumento da pressão exercida. Foram realizados tracejamentos
manuais, divididos em curtos e longos ‘’cada conjunto de traços da seção básica
era repetido três vezes, primeiro do lado direito e depois do lado esquerdo da
região lombo-sacra da mulher, na sequência proposta por EBNER, que consistia em
um conjunto de seis traços diferentes’’ [6], e utilizando inicialmente o
tratamento de base, que continha 7 manobras distintas (circundução
do sacro, contorno no eixo maior da pelve, contornos curvos na coluna lombar
L5-L1, leque, contorno do último arco costal, traços na região glútea, traços
curtos caudo-craniais) e em seguida, realizando o
rolamento na área específica da menstruação [6].
Zona das
regras – área da menstruação [7]
Figura 1 - Relação das áreas para o
tratamento com a massagem do tecido conjuntivo (MTC)
G2 (Grupo
Kinesio): 8 participantes que receberam Kinesio Taping da
marca Ciex do Brasil®, de cor rosa ou bege, sendo aplicadas
duas fitas na região inferior do abdômen e uma fita na região lombar. A
aplicação segue a técnica explicada por Sijmonsma et
al. [8] para a dismenorreia. Durante a aplicação abdominal, a participante
permanecia em decúbito dorsal, para que o tronco estivesse relaxado e em
posição neutra. Para medir a faixa que ia sob o abdômen, mediu-se desde a
cicatriz umbilical até a região superior do púbis. Ela era orientada a fazer
uma inspiração máxima para aderir essa primeira fita, com 20 a 30% de tensão. A
região central da segunda fita era colocada sobre a zona média da primeira,
perpendicularmente, com tensão de 20 a 30%. Depois, colavam-se as extremidades
dessa fita sem tensão, cobrindo toda a zona entre os ovários [8]. Não existe
consenso na literatura referente à necessidade da aplicação de uma fita na
região lombar, porém, para influenciar o útero desde a região posterior,
optamos por colocar uma fita nesta região. Para essa aplicação, foi traçada uma
linha imaginária entre as duas espinhas ilíacas póstero superiores (EIPS) e a
região central da fita foi colada na região média entre esses dois pontos.
Depois, as extremidades da fita foram posicionadas com tensão de 20 a 30%.
Trata-se de uma técnica de ligamento descrita para aplicação sobre o dermátomo de T12. A inervação simpática do útero começa
desde T10 até T12/L1 e a inervação parassimpática vai desde S2 até S5 [8].
Figura 2 - Aplicação do Kinesio
Taping na região anterior e posterior
G3 (Grupo
Controle): 7 participantes que não receberam nenhuma forma terapêutica para
compor o Grupo Controle, mas que posteriormente à finalização do estudo
receberam a que demonstrou a melhor efetividade.
As participantes foram
acompanhadas por dois meses: no primeiro mês (controle) foi realizada a
aplicação dos instrumentos avaliativos para qualidade de sono e influência da
dor, que se deu nos 3 primeiros dias do ciclo, e no segundo mês (intervenção)
os recursos terapêuticos foram empregados nas primeiras 24 horas do ciclo, com
reaplicação dos critérios de avaliação [9].
A
avaliação da dor foi realizada pela EVA antes da aplicação das técnicas,
imediatamente depois de sua aplicação, 2, 6 e 24h após o seu término. Foi
solicitado ainda que não fizessem uso de medicamentos para dor antes e até 72h
após a intervenção.
A
avaliação da qualidade do sono foi feita por meio das Escalas Visuais Análogas
de Sono, preenchidas na primeira, segunda e terceira noite do ciclo menstrual.
Este instrumento é autoaplicado e composto por 16
itens, que geram 3 escalas: distúrbio, efetividade e suplementação. Para a
avaliação da influência da dor nas atividades de vida diária, os parâmetros
empregados foram: 0 = não interfere, 1-3 = interfere pouco, 4-6 = interfere
significativamente e de 7-10 = incapaz de desempenhar atividades cotidianas
[9].
Para a
análise dos dados, foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov
(KS) para verificação da normalidade da amostra, em seguida realizou-se o teste
anova para idade e IMC, teste Anova com pós-teste de Tukey para a dor, qualidade de sono e, por fim, Teste t-Student para interferência da dor nas AVD, considerando
nível de significância de p < 0,05.
Das 63
participantes, 21 concluíram o estudo e apresentaram média geral da idade de 21
± 2,7 anos, peso médio geral de 70 ± 4,9 kg, altura média geral de 1,64 ±
0,017 m e IMC médio geral de 26,1 ± 2,4 kg/m², não demonstrando diferenças
significantes quanto a essas variáveis nos grupos investigados, ressaltando a
homogeneidade da amostra (p ≥ 0,05) (Tabela I).
Tabela I - Informações referentes aos dados
demográficas das participantes
MTC =
massagem do tecido conjuntivo
As
participantes relataram não realizar tratamento específico para dismenorreia.
No grupo controle (7), 100% afirmaram fazer uso de analgésico; no grupo MTC,
(5) 85%; e no grupo Kinesio, (6) 84,6%. Em relação ao
conhecimento da atuação da fisioterapia para dismenorreia, no grupo controle,
(1) 14% tinham conhecimento; no grupo MTC, (3) 23%; e no grupo Kinesio, (1) 12,5%. No que se refere ao uso do
anticoncepcional, 100% das participantes intragrupos relataram não fazer uso.
Em
relação à dor, na análise estatística pré-intervenção
comparando os grupos entre si, não ocorreram diferenças significantes (p ≥
0,05). Quando comparado Grupo Controle com MTC e Kinesio,
ocorreram diferenças significativas comparando os momentos 2h, 6h e 24h entre
os grupos, sendo significante a redução da dor no Grupo MTC e Kinesio em relação ao Controle (p = 0,000). Quando
comparados os grupos Kinesio e MTC, as diferenças foram
significantes nos momentos pós e 2h (p = 0,000), apresentando a melhora maior
para o Grupo MTC (Tabela II).
Tabela II - Valores de EVA antes e após os
tratamentos nos respectivos grupos avaliados
Além
disso, considerando os principais locais de desconforto relatados pelas
participantes, a dor no baixo ventre foi referida por (4) 57% no Grupo
Controle, (3) 100% no Grupo MTC, e (6) 100% no Grupo Kinesio;
e dor no segmento lombar foi relatada por (3) 42% no Grupo Controle, (2) 33% no
Grupo MTC, e (3) 37,5% no Grupo Kinesio.
Quando
observamos os sintomas associados, a presença da cefaleia foi referida por 3
(42,86%) participantes do Grupo Controle, 4 (66,67%) no Grupo MTC e 7 (87,5%)
no Grupo Kinesio; náusea referida por 1 (14,29%)
participante do Grupo Controle, 3 (50%) participantes no grupo MTC e 5 (62,5%)
no grupo Kinesio; diarreia presente em 4 (57,14%)
participantes no Grupo Controle, 3 (50%) no Grupo MTC e 3 (37,5%) no Grupo Kinesio; e vertigem referida por 0 (0%) participantes do
Grupo Controle, 3 (50%) do Grupo MTC e 3 (37,5%) no grupo Kinesio.
Analisando
a influência da dor nas AVDs, quando comparado os
grupos entre si na avaliação inicial, não obtivemos diferenças significativas
entre eles (p = 0,42), demonstrando a homogeneidade da amostra, todavia, todos
apresentaram interferência da dor nas atividades de vida diária. Quando
comparamos o pré e o pós-intervenção, os grupos MTC e
Kinesio apresentaram redução desses sintomas com
significância estatística nos três dias avaliados respectivamente (p ≤
0,05) e o Grupo de Kinesio se mostrou mais efetivo,
apresentando impacto 0 nas AVDs (Tabela III).
Tabela III - Influência da dor nas AVD no mês
pré-tratamento e pós-tratamento nos respectivos grupos avaliados
Com
relação à qualidade de sono, quando comparados os grupos entre si, no momento
de avaliação, não ocorreu diferença estatística, demonstrando a homogeneidade
da amostra (p ≥ 0,05).
Quando
considerada a variável “Distúrbio”, não observamos significância estatística
comparados antes e depois das intervenções intragrupos (p ≥ 0,05),
todavia, quando comparados os grupos entre si, ocorreu significância
estatística entre Grupo Kinesio e Controle no momento
após a intervenção no 1º dia (p = 0,03).
Já na
variável “Efetividade”, observa-se significância estatística no Grupo Kinesio comparando antes e após a intervenção no 1º dia (p
= 0,005) e quando comparamos os grupos entre si, a Kinesio
apresentou melhora em relação a MTC (p = 0,03).
Por fim,
considerando a variável “Suplementação”, não observamos significância
estatística comparados antes e depois das intervenções intragrupos (p ≥
0,05), e quando comparados os grupos entre si, ocorreu significância
estatística entre MTC e Controle após a intervenção no 3º dia (p = 0,027)
(Tabela IV).
Tabela IV - Qualidade
do sono antes e após
tratamento, para a variável ‘Distúrbio’,
‘Efetividade’ e “Suplementação”
A
dismenorreia é descrita pela literatura por dores em região abdominal inferior,
causada por contrações uterinas anteriormente e posteriormente aos primeiros
dias de menstruação, sendo uma condição ginecológica comum e frequente em
jovens mulheres, e associada a sintomas como cefaleia, vômitos, sudorese, dor
em baixo ventre, entre outros, interferindo em atividades laborais [10].
Este
estudo descreve duas metodologias aplicadas no tratamento da dismenorreia, que
teve como objetivo analisar o efeito da MTC e da Kinesio
Taping nas variáveis dor, qualidade do sono e
influência da dor nas AVD, no qual mostrou a eficácia dos dois recursos quando
comparados ao grupo controle. Os recursos da fisioterapia podem ser
considerados efetivos e alternativos na prevenção dos sintomas durante e após o
ciclo menstrual, prevenindo a automedicação e complicações futuras, causadas
pelos fármacos [5].
A Kinesio Taping como
descreve Figueiredo et al. [11]
tem a capacidade de promover a
normalização da função muscular, por meio
da inibição ou facilitação da
contração, melhora da circulação
sanguínea e linfática, promovendo redução
de edema
local; ajuste dos fluxos eletromagnéticos que estimulam
indiretamente músculos
ou órgãos reduzindo o desconforto álgico. Os
autores Celenay
et al. [12] Boguszewki [13] e Dogan [14] concordam com a aplicação da fita, já que o
método se mostrou eficaz na diminuição da dor, nível de ansiedade e algumas
queixas menstruais.
Outro
recurso bastante utilizado pela fisioterapia é a terapia manual. A massagem no
tecido conjuntivo se dá pelo estímulo do reflexo cutâneo-visceral, que começa
em receptores sensitivos na pele, e promove respostas medulares e nervosas que
atuam nos órgãos e músculos referente à dismenorreia, amenizando a dor [6].
Reis et
al. [7] relatam que por meio das técnicas de massagem é possível atingir
pontos ou zonas reflexas correspondentes às áreas dolorosas. Acredita-se que,
quando o toque entra em contato com a pele, promove um estímulo no sistema
nervoso autônomo, que age no aumento da circulação sanguínea dos órgãos
internos, melhorando a oxigenação e tensão dos tecidos, que, consequentemente,
melhora a liberação das prostaglandinas em excesso no organismo. Fae e Pivetta [15] descrevem em
seu estudo que observaram retração do tecido conjuntivo e que a aplicação da
MTC foi importante para a redução dessa retração, melhorando, assim, a cólica
no baixo ventre, dor lombar e cefaleia, apresentado também como sintomas em
nosso estudo. Isso pode ser explicado pela liberação de opioides endógenos.
Segundo Ozgul et al. [16] e Dogan et
al. [14], tanto a MTC como a aplicação do Kinesio
Taping se mostraram eficazes para a redução dos
sintomas da dismenorreia que normalmente se acentuam anteriormente ou no
primeiro dia do ciclo menstrual. Além disso, estudo [17] descreve que após a
aplicação da Kinesio Taping
os mecanorreceptores são ativados promovendo analgesia, essa condição é
explicada por meio da teoria das comportas medulares, reduzindo sintomas,
contribuindo na melhora da ativação no sistema linfático e sanguíneo. Ressalta
ainda que o mesmo processo de analgesia pela modulação da dor se aplica aos
dois métodos abordados nesse estudo, MTC e Kinesio Taping, corroborando assim os nossos achados.
Todavia,
a técnica Kinesio Taping
exerce algumas vantagens sobre a técnica MTC, como menor intensidade da dor,
menor influência da dor nas AVD e aumento da consciência corporal, pela
aplicação da fita ser em fibras musculares. Os autores [17] relatam que pode
ser um meio facilitador para ganhos musculoesqueléticos posteriormente,
pensando no trabalho de prevenção a longo prazo na saúde da jovem mulher, já o
MTC apresenta uma abordagem a curto prazo, assim como encontramos em nossos
achados. Assim, ambas as técnicas promovem melhora da dor, AVD e qualidade de
sono, mas com destaque para a Kinesio Taping.
Outros
dois recursos analgésicos que são utilizados com a mesma linha de mecanismo no
controle da dor, fácil acesso, não invasiva é a termoterapia, o calor que
auxilia na tensão muscular e o frio na diminuição da velocidade e percepção da
dor. Segundo Santos [18], vinte minutos de aplicação atinge a analgesia, mas a
estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), segundo Bai
[19], é pioneira nos estudos científicos, pois a corrente provoca
despolarização dos nervos sensoriais e motores, reduzindo assim a condutividade
e a transmissão dos impulsos dolorosos das pequenas fibras de dor (fibras C)
para o Sistema Nervoso Central (SNC). Teoria apoiada por Tugay
et al. [20] que estudaram o uso do tens e correntes, e concluíram que
houve redução dos sintomas.
Já Gabyson [21] questiona o tempo de efetividade de duração do
tens, mesmo que tenha redução rápida da dor, o quanto o efeito pode ter de
durabilidade, considerando que a intensidade de cada indivíduo varia, tanto na
dor, quanto na sensação/tolerância aplicada pela corrente. O mesmo pode variar
com a aplicação do MTC, visando a contratilidade muscular, intensidade do
sintoma do indivíduo e profundidade aplicada sobre o tecido [7].
O Grupo
MTC apresentou efeito imediato mais rápido comparado o pré
e o pós em dor e AVD aos demais grupos. Já o grupo Kinesio
Taping, nota-se que seu efeito é prolongado e
reduzido de forma “limítrofe”, o que não acontece no Grupo MTC quando
analisamos a média do pré e pós entre os grupos,
portanto, a Kinesio Taping
se destaca em dor, AVD e qualidade de sono por apresentar menor pontuação
nessas variáveis. Isso pode ser explicado pelo efeito de modulação da dor nessa
forma terapêutica, promovendo resultado prolongado mais efetivo, considerando
que as participantes ficaram até 72h com a aplicação da fita diferente do que
ocorre na massagem do tecido conjuntivo.
Os
recursos analgésicos são recomendados durante a fase dolorosa, já a
cinesioterapia é outro recurso utilizado no tratamento fisioterapêutico que
precisa vir acompanhada de forma regular e a longo prazo, porém não é
recomendada a contração abdominal durante a fase aguda, pois pode gerar um
processo doloroso na fase pré-menstrual e menstrual. É utilizada durante a fase
ativa, no intuito de trabalhar exercícios de mobilidade, fortalecimento, alongamento
dos músculos do assoalho pélvico, consciência corporal e propriocepção
perineal, associada com exercícios respiratórios visando liberar endorfinas
pela hipófise anterior para diminuir a ação da prostaglandina [22].
Alves et
al. [2] relatam que a dismenorreia tem alta prevalência e recorrência em
mulheres. Estima-se que 60% sofrem episódios de intensidade de dor ou sintomas
associados como cefaleia e náusea, o que acarreta um impacto negativo
significativo sobre o desempenho das atividades de vida diária e laboral,
corroborando os achados deste estudo.
Oliveira et
al. [9] descrevem que outros fatores podem interferir na qualidade do sono,
como sociais, psicológicos, comportamentais e ambientais e não somente fatores
dolorosos. Shrestha et al. [23] relatam que,
em seu estudo, das 110 mulheres avaliadas, 43% apresentaram sintomas
pré-menstruais com diminuição deles após o decorrer do fluxo menstrual, ou
seja, naturalmente os fatores inflamatórios começam a reduzir a sensação da dor
com o passar dos dias e automaticamente a melhora na qualidade do sono, como
visualizado no presente trabalho. Com o passar dos dias, os valores encontrados
em todos os grupos estudados por este estudo, apesar de não encontrarmos
diferenças significantes, foram reduzindo nos domínios distúrbio, efetividade e
suplementação.
Destacamos
ainda como pontos fortes deste trabalho a identificação do efeito de abordagens
terapêuticas que ainda não são amplamente reconhecidas e estudadas na
literatura, como a Massagem do Tecido Conjuntivo e Kinesio
Taping. Muitas são as discussões relevantes sobre
as vantagens dessas intervenções no tratamento dismenorreico, diminuindo o uso
excessivo de analgésicos, porém a literatura continua escassa.
Ressaltamos
ainda pontos negativos e limitações deste estudo, pois o alcance da população
para essa intervenção com grandes amostras torna-se ainda um desafio. Este
trabalho contou inicialmente com um grupo muito maior de mulheres, todavia, por
se tratar de uma pesquisa com jovens e adolescentes, o perfil de desistência é
muito grande, mesmo para uma intervenção tão promissora. Sendo assim, sugerimos
a estruturação de trabalhos com amostras maiores, de forma randomizada, adoção
de novas escalas e questionários que envolvam outras variáveis, tentando
diminuir as interferências na qualidade do sono.
Houve
redução do quadro álgico em todos os grupos avaliados, sendo a MTC e Kinesio Taping
superior ao controle. Kinesio Taping se destacou na melhora da qualidade do sono,
mais efetivo na redução da dor e influência da dor nas AVD comparado aos demais
grupos.
Conflito
de interesses
Os autores
negam conflitos de interesse.
Fontes
de financiamento
Os autores
negam fontes de financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Salerno GRF; Coleta de dados: Garcia IS; Carvalho EC; Análise e
interpretação dos dados: Garcia IS; Carvalho EC; Salerno GRF; Análise
estatística: Garcia IS; Carvalho EC; Salerno GRF; Redação do manuscrito:
Salerno GRF; Oliveira BV; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo
intelectual importante: Salerno GRF; Oliveira BV