Fisioter Bras.
2023;24(4):385-97
ARTIGO
ORIGINAL
Efeitos
da utilização da música como fator ambiental facilitador durante o atendimento
fisioterapêutico de crianças e adolescentes com paralisia cerebral
Effects of the use of music as a facilitating
environmental factor during the physiotherapeutic care of children and
adolescents with cerebral palsy
Júlia
Masiero Cardoso1, Kamilly Noronha da Silva1,
Carla Skilhan de Almeida2, Renata
D`Agostini Nicolini-Panisson1
1Centro Universitário da Serra Gaúcha, Caxias do
Sul, RS, Brasil
2Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, RS, Brasil
Recebido
em: 26 de julho de 2022; Aceito em: 14 de julho de 2023.
Correspondência: Renata D’Agostini Nicolini-Panisson,
dagostinirenata@hotmail.com
Como citar
Cardoso JM, Silva KN, Almeida CS, Nicolini-Panisson RA. Efeitos da utilização da música como fator ambiental facilitador durante o atendimento fisioterapêutico de crianças e adolescentes com paralisia cerebral. Fisioter Bras. 2023;24(4):385-97. doi: 10.33233/fb.v24i4.5272
Resumo
Objetivo: Verificar a eficácia do enriquecimento
da fisioterapia a partir da utilização da música como fator ambiental
facilitador no contexto da reabilitação de crianças e adolescentes com
paralisia cerebral (PC). Métodos: Série de três casos de crianças e
adolescentes com PC, classificados no Gross Motor Classification
System (GMFCS) nos níveis I, II e III, em que a música foi utilizada como
facilitador na sessão de fisioterapia. Realizou-se a avaliação das
características sociodemográficas e clínicas, além da avaliação com três
instrumentos de avaliação padronizados para essa população: GMFCS, Functional Mobility Scale (FMS) e Sistema de Classificação da Habilidade
Manual (MACS). Resultados: Verificou-se melhora na função motora grossa
dos indivíduos através do escore do GMFM pré- e
pós-intervenção, atingindo e/ou ultrapassando o valor da mínima diferença
clinicamente importante. Referente à qualidade vida, notam-se melhoras nos
escores de todas as variáveis avaliadas para os indivíduos de GMFCS I e III.
Contudo, a variável transferência e mobilidade do indivíduo GMFCS II obteve
redução de escore em 4 pontos. Conclusão: A música associada ao
atendimento fisioterapêutico, nos três casos com PC relatados foi um
facilitador motivacional, com a capacidade de modificar positivamente a função
motora grossa, a qualidade de vida e a participação em diferentes ambientes.
Palavra-chave: Fisioterapia; paralisia cerebral;
música; classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde.
Abstract
Objective: To verify the effectiveness of
enriching physical therapy from the use of music as a facilitating
environmental factor in the context of rehabilitation of children and
adolescents with cerebral palsy (CP). Methods: Series of three cases of
children and adolescents with CP, classified in the Gross Motor Classification
System (GMFCS) at levels I, II and III, in which music was used as a
facilitator in the physical therapy session. The assessment of sociodemographic
and clinical characteristics was carried out, in addition to the assessment
with three standardized assessment instruments for this population: GMFCS,
Functional Mobility Scale (FMS) and Manual Skill Classification System (MACS). Results:
There was an improvement in the gross motor function of the individuals through
the GMFM score before and after the intervention, reaching and/or exceeding the
value of the minimum clinically important difference. Regarding quality of
life, there are improvements in the scores of all variables evaluated for
individuals from GMFCS I and III. However, the transfer and mobility variable
of the individual GMFCS II had a score reduction of 4 points. Conclusion:
Music associated with physical therapy care, in the three cases with CP
reported, was a motivational facilitator, with the ability to positively modify
gross motor function, quality of life and participation in different
environments.
Keywords: Physiotherapy; cerebral palsy;
music; international classification of functioning, disability and health.
A
música compõe, integra e associa os contextos sociais e educativos do sujeito,
gerando significados provenientes da coordenação, do objeto sonoro e de seu
meio social e cultural [1], tendo um efeito de sensibilização, resultando na
mobilização corporal [2]. O trajeto sensorial, a partir do momento que se ouve
a música, inicia nas estruturas subcorticais (núcleos
cocleares, tronco cerebral e cerebelo) e após, avança para o córtex auditivo
bilateralmente. E, quando o indivíduo ouve uma música que já conhece, mobiliza
também o hipocampo (centro da memória) e subseções do lado frontal,
especialmente o córtex frontal inferior [3].
Pesquisas
apontam para a existência de um elo entre o movimento muscular, o cérebro e a
música, uma vez que as mesmas ramificações que saem do tronco cerebral e do
cerebelo em direção aos lobos frontais têm a capacidade de se unir com as
experiências sensoriais, com os movimentos coordenados, assim como com a arte,
justificando a inserção de instrumentos musicais no tratamento fisioterapêutico
[3].
Enriquecer
o ambiente fisioterapêutico durante o atendimento de crianças e adolescentes
com paralisia cerebral (PC) com a música e seus instrumentos, tornaria a sessão
mais lúdica, interessante e divertida. Um estudo prévio mostrou que a música é
um grande aliado no fator motivacional para as crianças [4]. Esse
enriquecimento seria um facilitador nos fatores ambientais, conforme o conceito
teórico da Classificação Internacional de Incapacidade, Funcionalidade e Saúde
(CIF). Pouco se tem evidência sobre o uso de instrumentos musicais nos
atendimentos fisioterapêuticos.
Partindo
do exposto acima e amparado no conceito teórico-prático da CIF [5], torna-se
necessário verificar a eficácia do enriquecimento da fisioterapia a partir da
utilização da música como fator ambiental facilitador no contexto da
reabilitação de crianças e adolescentes com PC.
Este
estudo está sob parecer do Comitê de Ética e Pesquisa nº 4.616.738, CAAE:
42945821.4.0000.5668 em 28 de março de 2021 e contempla série de três casos de
crianças e adolescentes com PC, classificados no Gross Motor Classification System (GMFCS) nos níveis I, II e III,
em que a música foi utilizada como facilitador na sessão de fisioterapia. A
figura 1 apresenta o fluxograma da seleção da amostra do estudo.
Como
critérios de inclusão: indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 4 e 18
anos e com diagnóstico clínico de PC. Além disso, os responsáveis assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos os que não
completassem o protocolo da pesquisa, aqueles que já tivessem realizado
estímulos musicais anteriormente ao estudo, deficientes auditivos, pacientes
com alteração cognitiva, assim como em pós-operatório há menos de 6 meses.
GMFCS
= Gross Motor Function System
Figura
1 - Fluxograma da
seleção da amostra dos participantes.
Foi
realizada avaliação das características sociodemográficas e clínicas, além da
avaliação com três instrumentos de avaliação padronizados para essa população:
GMFCS,6-8 Functional Mobility
Scale (FMS) [9,10] e Sistema de Classificação da
Habilidade Manual (MACS) [11,12].
Os
desfechos principais do estudo foram: a função motora grossa - Medida de Função
Motora Grossa (GMFM) [13,14], que compõe o componente atividade da CIF; a
qualidade de vida - Instrumento para Avaliação de Resultados de Reabilitação em
Pediatria (IARRP) [15,16,17,18], que compõe os componentes atividade e participação
da CIF e a medida da participação e do ambiente, avaliada pela Participation and Environment Measure for Children and Youth
(PEM-CY) [19,20], que compõe os componentes participação e fatores ambientais
da CIF.
O
GMFM tem por objetivo avaliar a evolução motora grossa, com 66 itens, agrupados
em cinco dimensões (A: Deitar e rolar, B: Sentar; C: Engatinhar e ajoelhar; D:
Ficar em pé e, E: Andar, correr e pular). Para compilação dos resultados das
avaliações motoras, utilizou-se o Gross Motor Ability
Estimator (GMAE) [13].
O
IARRP avalia a qualidade de vida [15]. É validado para crianças com distúrbios
musculoesqueléticos moderados a graves [15,16]. Faz uso de 108 questões e gera
seis domínios: Extremidade Superior, Transferência e Mobilidade Básica,
Esportes e Função Física, Dor e Conforto, Felicidade e Função Global [18].
A
PEM-CY avalia a participação de crianças e adolescentes, com ou sem
deficiência, além dos fatores ambientais (facilitadores e barreiras) em casa,
na escola e na comunidade [19,20]. Destinada para crianças e adolescentes de 5
a 17 anos [20]. Avalia participação (atividades de vida diária), frequência
(escala de sete pontos correspondem 0 = nunca, 1 = uma vez nos últimos 4 meses,
3 = uma vez por mês, 5 = uma vez por semana, 7 = diariamente), envolvimento
(escala de cinco pontos sendo 1 = minimamente envolvido, 3 = um pouco
envolvido, 5 = muito envolvido) e desejo de mudança dos pais ou responsáveis (escores
de zero a 100%). A segunda subdivisão refere-se ao ambiente, sendo, portanto,
avaliado por suas características, pela disponibilidade de serviços e recursos
(escores de zero a 100%) [19].
Para
análise dos resultados do GMFM, utilizou-se a Minimally
Clinically Important Difference (MCID), considerando para o GMFCS nível I
valores de 1,7 a 2,7; GMFCS II de 1,0 a 1,5; e GMFCS III de 0,7 a 1,2 [21].
A
intervenção da pesquisa durou uma hora, duas vezes por semana, durante 3
semanas. Os dez minutos iniciais com ambientação do instrumento musical de
aspecto lúdico, de troca e criação de vínculo com as terapeutas. Os trinta
minutos consecutivos foram fisioterapia convencional, que envolveu a elaboração
de circuitos de atividades que continham estações de treino de marcha,
equilíbrio estático, subida e descida de degraus, trocas de decúbito,
atividades de dupla tarefa e fortalecimento muscular, sendo finalizado com
alongamentos musculares, sempre adequando à necessidade de cada paciente e visando
a independência funcional de forma divertida como prioridade. E, por fim, os
vinte minutos restantes foram utilizados para integração da cinesioterapia
associado ao estímulo musical para realização de atividades propostas tendo em
vista a necessidade de cada indivíduo.
A
música utilizada era a de preferência de cada indivíduo, assim como sua
ambientação com o instrumento musical a fim de proporcionar vivência lúdica e
confortável para cada um deles.
A
tabela I apresenta a caracterização da amostra do estudo. Os resultados do
desfecho da função motora grossa pré e
pós-intervenção estão apresentados na tabela II. Observam-se melhoras na função
motora grossa dos indivíduos através do escore do GMFM pré
e pós-intervenção, com mínima diferença clinicamente importante grande em dois
casos e média em um.
Ao realizar o mapa da função motora
grossa, calculado pelo GMAE e fazendo relação com as curvas de prognóstico é
possível avaliar a capacidade motora grossa das crianças em relação à média
para sua idade e nível de GMFCS. Dessa forma, foi possível observar que o Caso
I apresentava na avaliação pré-intervenção uma
porcentagem de 80,93, chegando no pós-intervenção a 86,52%, porém, ficando
abaixo do que seria o prognóstico estimado para sua idade, ou seja, 95.3%. Já
no Caso II, o indivíduo teve pontuação acima do prognóstico estimado pelas
curvas de percentil (66.5%), com pré-intervenção de
63,63% e pós-intervenção de 69,22%. Por fim, o Caso III apresentou o pior
escore na função motora grossa quando comparado aos seus iguais em relação ao
prognóstico (73.4%), atingindo apenas 53,38% no pré e
54,15% do pós-intervenção.
A
tabela III apresenta os resultados do desfecho qualidade de vida, pré e pós-intervenção. Notam-se melhoras nos escores de
todas as variáveis avaliadas para os indivíduos de GMFCS I e III. Contudo, a
variável transferência e mobilidade do indivíduo GMFCS II obteve redução de
escore em 4 pontos.
A
tabela IV apresenta os resultados do desfecho participação relacionando
ambientes específicos: casa, escola e comunidade, pré
e pós-intervenção. De uma forma geral, interações sociais foram favorecidas e
relatadas na tabela abaixo. No Caso 1, observa-se aumento do envolvimento em
eventos na comunidade e no âmbito relacionado a estar junto com amigos, apesar
da redução da frequência desses eventos sociais, além da redução do
envolvimento em atividades físicas e religiosas. No Caso 2, houve redução de
frequência de passeios na vizinhança, atividade física e aumento nos quesitos
eventos na comunidade, socialização e aulas extracurriculares. No Caso 3,
nota-se redução da frequência de passeios na vizinhança, viagens e estar
próximo de amigos, além de eventos religiosos e atividades físicas. O
envolvimento em eventos na comunidade aumentou.
Tabela
I - Caracterização
da amostra de duas crianças e uma adolescente com paralisia cerebral,
participantes do estudo
*paciente
adotada com 4 meses; GMFCS = Gross Motor Function
System; FMS = Functional Mobility
Scale; MACS = Manual Ability
Classification System. Os dados da FMS são
apresentados em: cinco m/50 m/500 m
Tabela
II - Medida de
Função Motora Grossa, GMFM-66, pré e pós-intervenção
com utilização da música como fator ambiental facilitador durante o atendimento
fisioterapêutico de duas crianças e uma adolescente com paralisia cerebral
GMFCS
= Gross Motor Classification System; GMFM = Medida da
Função Motora; MCID = Minimally Clinically
Important Difference; Dados
de GMFM expressos em porcentagem
Tabela
III - Qualidade de
vida, avaliada pelo IARRP, pré e pós-intervenção com
utilização da música como fator ambiental facilitador durante o atendimento
fisioterapêutico de duas crianças e uma adolescente com paralisia cerebral
IARRP
= Instrumento para Avaliação de Resultados de Reabilitação em Pediatria; GMFCS =
Gross Motor Classification System. Dados expressos em
porcentagem para cada dimensão
Tabela
IV – Participação em
casa, escola e comunidade, avaliada pelo PEM-CY, pré
e pós-intervenção com utilização da música como fator ambiental facilitador
durante o atendimento fisioterapêutico de duas crianças e uma adolescente com
paralisia cerebral
GMFCS = Gross Motor Classification
System; PEM-CY = Participation and Environment Measure for Children and Youth. Dados de frequência e
envolvimento expressos em médias e dados de escore final expressos em
porcentagem
O
enriquecimento da fisioterapia a partir da utilização da música como fator
ambiental facilitador no contexto da reabilitação melhorou a função motora
grossa acima da MCID, porém abaixo do prognóstico predito em dois dos três
casos e acima da curva de percentil relacionando nível de GMFCS e idade em
apenas um dos indivíduos. Além disso, houve melhora na qualidade de vida na
participação dos três jovens com PC avaliados neste estudo.
No
presente estudo, houve melhora da função motora grossa nos três casos avaliados
após a intervenção, com valores acima da MCID descrita na literatura para essa
variável. Os resultados parecem mostrar uma relação de melhoras expressivas com
os indivíduos mais jovens ou com níveis de maior independência funcional, GMFCS
I e II, como já mencionado anteriormente. Estudos anteriores a este ressaltam a
relação direta entre o grau de comprometimento e expectativas de desempenho
funcional entre os níveis de GMFCS, justificando as boas respostas a
tratamentos alternativos, principalmente nos níveis I e II em relação ao III
[22].
Ainda,
pode-se levar em consideração as curvas de percentis como ferramenta de
monitorização da função motora grossa relacionando a idade e o nível de GMFCS
[23]. As mudanças positivas na função motora grossa podem-se justificar pelo
processo de neuroplasticidade [24], dessa forma, quando a criança recebe
estímulos adequados e corretos, seu sistema nervoso tem possibilidade de rearranjar
circuitos neuronais relacionados com as funções perceptivas, motoras e
cognitivas, traduzindo as informações recebidas e integrando-as com outras
áreas sem lesão do cérebro [25].
Um
estudo também avaliou a eficácia da inserção de música associada ao atendimento
fisioterapêutico e observou melhora na função motora grossa, utilizando o GMFM
[26]. Além da função motora grossa, perceberam outras evidências na resposta
que a música pode proporcionar aos pacientes como: o comprimento do passo, velocidade,
simetria, cadência, força de extensão do joelho, equilíbrio, e estágios
locomotores. Poucos estudos foram encontrados que possam corroborar os nossos
resultados relacionados à função motora grossa, mas, uma revisão sistemática
atual sobre o tema relata essa dificuldade em encontrar embasamento teórico
sobre a interação entre a música e a fisioterapia [27].
Com
relação ao desfecho qualidade de vida, pré e
pós-intervenção, nota-se uma melhora em todos os escores das variáveis
avaliadas para os indivíduos Caso 1 e Caso 3. Contudo, a variável transferência
e mobilidade, do indivíduo Caso 2 obteve redução de escore em 4 por cento.
Sugere-se que a melhora da qualidade de vida esteja relacionada com o aumento
motivacional dos pacientes, assim como com a criação de vínculo com terapeuta,
propiciados pelo ambiente estimulado pela música. Outro autor também ressalta a
importância da inserção musical a fim de criar um ambiente mais lúdico e
prazeroso, aumentando consequentemente a motivação dos indivíduos submetidos
[26]. A música, quando associada à terapêutica, aumenta a concentração, reduz
estímulos indesejáveis do ambiente e consequentemente causa alívio emocional ao
paciente [2]. Além disso, quando uma criança com PC é inserida em um local que
propicie sua expressão corporal ela é capaz de melhorar a imagem que tem de si,
melhorando a sua motivação [2].
Com
relação ao desfecho da participação relacionando ambientes específicos: casa,
escola e comunidade, pré e pós-intervenção,
percebe-se que os indivíduos possuíam participação satisfatória e integral em
ambiente doméstico, seguido por uma menor participação no ambiente escolar e na
comunidade. Após a intervenção, os Casos 1 e 3 aumentaram, em 10%, sua
participação na comunidade, enquanto o indivíduo Caso 2 teve aumento da
participação escolar em 20%. Corroborando outro estudo que refere que quanto
maior o nível do GMFCS, menor a participação e menos independência nas
atividades escolares, sendo fator importante para restrição de participação
desse público específico [28] e justificando o mesmo escore participativo pré e pós-intervenção no Caso 3. Ainda, torna-se importante
ressaltar que o fator que mais restringe a participação nas atividades de
rotina escolar das crianças com PC são os aspectos motores e não os cognitivos
[29].
A
comunidade científica tem voltado o seu olhar para a participação social,
principalmente com a chegada da CIF e seu aprofundamento nesse modelo teórico.
Muito precisa-se saber sobre o quanto as intervenções realizadas e propostas
realmente conseguem modificar a participação social para os pacientes.
Brasileiro et al. [30] relatam em seu estudo que a PC interfere na
interação da criança em contextos de relevância social e esta influência vai
além dos efeitos prejudiciais na aquisição das atividades motoras,
estendendo-se para as atividades de vida diária. Além disso, no Brasil ainda
existe uma propensão ao protecionismo em relação às crianças realizarem tarefas
de rotina diária, e, no que tange a crianças com PC, há um empenho de toda uma
equipe multidisciplinar em orientar e estimular a autonomia funcional.
Além
disso, ter conhecimento das atividades de lazer que a criança tem acesso
auxilia na identificação de quais aspectos pressupõem melhoria nas condutas
realizadas, potencializando o desenvolvimento de habilidades sociais, visto que
proporciona maior interesse participativo da criança na terapêutica. As
famílias dos participantes do estudo relatam que perceberam maior independência
funcional, melhora no comportamento e na autoestima de seus filhos após as
intervenções.
Os
resultados apresentados parecem promissores, porém, a pequena amostra do mesmo
é uma limitação. Assim, sugerem-se novos estudos, com metodologias mais
robustas, podendo nortear de forma mais clara este tipo de intervenção.
A
música associada ao atendimento fisioterapêutico, nos três casos com PC
relatados, foi um facilitador motivacional com a capacidade de modificar
positivamente a função motora grossa, a qualidade de vida e a participação em
diferentes ambientes sociais. Os pacientes possuíam participação satisfatória e
integral em ambiente doméstico, seguido por uma menor participação no ambiente
escolar e na comunidade. Após a intervenção, dois dos três casos tiveram
aumento de sua participação na comunidade enquanto um de três casos teve
aumento de participação escolar.
Ademais,
até o momento da publicação deste artigo percebe-se a escassez na literatura de
artigos que utilizaram a música como fator facilitador e que tenham avaliado os
aspectos já citados. Desta forma e pensando no modelo conceitual da CIF, se
torna de suma importância a verificação quantitativa de cada intervenção
associado ao que atinge os componentes motivacionais e de participação do indivíduo
e não apenas suas funções corporais de forma isolada, podendo assim respaldar o
raciocínio clínico para tomada de decisões dos profissionais que prestam
assistência a esses pacientes, bem como nortear políticas públicas para a
promoção da qualidade de vida dessa população.
Conflito
de interesses
Os
autores negam conflitos de interesses.
Fontes
de financiamento
Não
houve fonte financiadora.
Contribuições
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Cardoso JM, Silva KN, Almeida CS, Nicolini-Panisson
RD; Obtenção de dados: Cardoso JM, Silva KN, Almeida CS, Nicolini-Panisson RD; Análise e interpretação dos dados:
Cardoso JM, Silva KN, Almeida CS, Nicolini-Panisson
RD; Análise estatística: Cardoso JM, Silva KN, Almeida CS, Nicolini-Panisson RD; Redação do manuscrito: Cardoso
JM, Silva KN, Almeida CS, Nicolini-Panisson RD; Revisão
crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Cardoso
JM, Silva KN, Almeida CS, Nicolini-Panisson, RD