Fisioter Bras. 2023;24(1):113-24

doi: 10.33233/fb.v24i1.5298

REVISÃO

Achados audiológicos na síndrome de Rubinstein-Taybi: revisão sistemática

Audiological findings in Rubinstein-Taybi syndrome: literature review

 

Otília Valéria Melchiors Angst1, Rafael Fabiano Machado Rosa1, Paulo Ricardo Gazzola Zen1, Pricila Sleifer2

 

1Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Porto Alegre, RS, Brasil

2Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil

 

Recebido em 6 de setembro de 2022; Aceito em 23 de janeiro de 2023.

Correspondência: Pricila Sleifer, E-mail: pricilasleifer@gmail.com

 

Como citar

Angst OVM, Rosa RFM, Zen PRG, Sleifer P. Achados audiológicos na síndrome de Rubinstein-Taybi: revisão sistemática. Fisioter Bras. 2023;2491):113-24 doi10.33233/fb.v24i1.5298

 

 

Resumo

Objetivo: Verificar os achados audiológicos em sujeitos portadores da Síndrome de Rubinstein-Taybi (SRT) através de uma busca sistemática na literatura. Métodos: Foram utilizados os descritores “Rubinstein Taybi Syndrome” AND “Hearing” nas principais bases de dados. O levantamento limitou-se a publicações realizadas até junho de 2020, sem limitação de idioma. Foram incluídos todos os estudos que envolvessem avaliações auditivas realizadas em sujeitos portadores da SRT. Foram excluídos da análise, estudos que envolvessem população não portadora de SRT, cartas ao editor e estudos nos quais não foram encontrados os artigos originais. Resultados: A pesquisa resultou na seleção de cinco artigos que evidenciaram que não há uma padronização nos testes audiológicos devido à heterogeneidade das características encontradas na SRT. A perda auditiva do tipo condutiva foi amplamente relatada, porém não foi possível verificar se há um perfil audiológico nesta população. Conclusão: Verificou-se que poucos estudos avaliaram a audição dos portadores de SRT. Além disso, foi possível observar que ainda não são padronizados os testes audiológicos. Recomenda-se que sejam realizados mais estudos com amostras maiores a fim de conhecer quais são as alterações audiológicas mais comuns de modo que se indique precocemente a intervenção terapêutica mais adequada.

Palavras-chave: audição; Síndrome de Rubinstein-Taybi; percepção auditiva.

 

Abstract

Aim: To verify the audiological findings in subjects with Rubinstein-Taybi syndrome (RTS) through a systematic literature search. Methods: The descriptors “Rubinstein Taybi Syndrome” AND “Hearing” were used in the main databases. The survey was limited to publications carried out until June 2020, without language limitation. All studies that involved auditory assessments performed in subjects with RTS were included. Studies involving a population without RTS, letters to the editor and studies in which the original articles were not found were excluded from the analysis. Results: The research resulted in the selection of five articles that showed that there is no standardization in audiological tests due to the heterogeneity of the characteristics found in the RTS. Conductive hearing loss was widely reported, but it was not possible to verify whether there is an audiological profile in this population. Conclusion: Few studies have evaluated the hearing of patients with RTS. In addition, it is possible to observe that audiological tests are not yet standardized. It is recommended that further studies be carried out with larger samples in order to know the most common audiological alterations, so that appropriate therapeutic intervention is early indicated.

Keywords: hearing; Rubinstein-Taybi Syndrome; auditory perception.

 

Introdução

 

Em 1963, sete crianças portadoras de deficiência mental, anomalias faciais e dígitos largos chamaram a atenção do médico pediatra norte-americano Jack Herbert Rubinstein e do médico radiologista Hooshang Taybi pelas semelhanças nas manifestações clínicas e dos traços físicos. Com a publicação desses casos, notificam sinal de uma síndrome nova, denominada Rubinstein-Taybi [1]. Após essas publicações iniciais, mais de 600 novos casos foram publicados nas décadas seguintes.

A síndrome de Rubinstein-Taybi (SRT) ainda é considerada rara, tendo sua incidência estimada em 1:100.000 a 1:125.000 nativivos, não havendo predomínio de sexo ou raça [2,3]. No Brasil, existe uma associação de familiares e amigos dos portadores da síndrome de Rubinstein-Taybi [4], que contabiliza, extraoficialmente 143 pessoas portadoras dessa síndrome.

Desde as primeiras publicações, os dismorfismos craniofaciais, polegares e háluces largos, múltiplas malformações, baixa estatura e deficiência intelectual foram amplamente relatados. Em consequências das diversas alterações craniofaciais presentes, muitos sujeitos portadores de SRT apresentam alterações relacionadas à área otorrinolaringológica, como obstrução nasal, infecções de repetição das vias aéreas superiores, hipertrofia adenoamigdaliana e otites de repetição [5].

Em casos de sujeitos sindrômicos, para realizar o diagnóstico e a intervenção terapêutica mais adequada, é fundamental que se conheçam as principais alterações e suas relações.

De acordo com a literatura compilada, são escassos os trabalhos que investigaram o sistema auditivo periférico e/ou central nos portadores da Síndrome de Rubinstein-Taybi. Entretanto, é de suma importância reunir as informações já existentes sobre as alterações mais comumente encontradas na avaliação auditiva em sujeitos com diagnóstico de SRT, com o objetivo de nortear os principais testes a serem utilizados na rotina clínica de avaliação auditiva, desses indivíduos.

 

Objetivo

 

O objetivo deste estudo foi verificar quais os achados audiológicos encontrados em indivíduos com Síndrome de Rubinstein-Taybi, por meio de uma busca sistemática na literatura.

 

Métodos

 

Trata-se de revisão sistemática de literatura, cuja busca foi realizada nas seguintes bases de dados: Medical Literature Library of Medicine (Medline), Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências de Saúde (IBECS) e Literatura Latino-Americana e do Caribe (Lilacs), Scientific Electronic Library (SciELO) e Cochrane Library. A busca dos artigos foi realizada por duas pesquisadoras, que analisaram, de modo independente, os resultados encontrados. A pesquisa incluiu todas as publicações até junho de 2020, sem restrição de data inicial.

Os descritores selecionados foram pesquisados no Medical Subject Headings (MeSH) e nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Elaborou-se uma estratégia de busca específica, utilizando as seguintes combinações e descritores: “Rubinstein Taybi Syndrome” OR “Syndrome, Rubinstein-Taybi” OR “Broad Thumb-Hallux Syndrome” OR “Broad Thumb Hallux Syndrome” OR “Broad Thumbs and Great Toes, Characteristic Facies, and Mental Retardation” OR “Rubinstein Syndrome” OR “Syndrome, Rubinstein” OR “Chromosome 16p13.3 Deletion Syndrome” OR “CREBBP protein, human” AND “Hearing” OR “Audition” OR “Hearing Disorders” OR “Hearing Disorder” OR “Dysacusis” OR “Paracousis” OR “Paracusis” OR “Distorted Hearing” OR “Hearing Loss” OR “Loss, Hearing” OR “Hypoacusis” OR “Hypoacuses” OR “Hearing Impairment”.

 

Critérios de elegibilidade

 

Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: estudos que envolvessem sujeitos portadores da SRT, sendo aceitos estudos transversais, estudos de caso controle, estudos de coorte e ensaios clínicos controlados, com o objetivo de relatar as principais características encontradas nas avaliações audiológicas da população portadora de SRT. Com o objetivo de incluir o maior número de estudos, não houve limitação de data inicial e foram incluídos estudos disponíveis em todos os idiomas.

Foram excluídos da análise, estudos que envolvessem população não portadora de SRT, cartas ao editor, estudos que não se vinculavam diretamente ao tema e estudos nos quais não foram encontrados os artigos originais, esgotando-se todas as formas de pesquisa.

O processo de seleção dos estudos incluídos nesta revisão sistemática, foram analisados pela recomendação Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses: The PRISMA Statement.

 

Análise dos dados

 

Após a busca inicial, duas pesquisadoras, de forma independente, realizaram a filtragem dos títulos e resumos de todos os estudos identificados pelas combinações dos descritores nas bases de dados utilizando o software EndNote, com o objetivo de selecionar trabalhos que atendessem aos critérios de elegibilidade. Após o rastreio inicial, os artigos que se enquadraram nos critérios de seleção previamente estabelecidos foram lidos na íntegra.

Os estudos selecionados foram organizados em uma tabela de caracterização para análise qualitativa compreendendo os seguintes aspectos: autor, ano de publicação, país de origem, objetivo do estudo, testes diagnósticos realizados e principais resultados encontrados.

 

Resultados

 

Na busca realizada nas bases de dados descritas, foram encontrados seis artigos. No total, foram incluídos cinco estudos que atendiam aos critérios propostos para a presente revisão sistemática. Um estudo foi excluído por não se vincular diretamente ao tema.

Para uma maior clareza dos estudos selecionados, optou-se por inicialmente descrever as principais informações, os testes realizados e os achados audiológicos, considerando que cada estudo realizou diferentes tipos de testes para a avaliação auditiva (Quadro 1).

 

Quadro 1 - Caracterização dos estudos selecionados para revisão

 

NE = Nível de Evidência; NA = número amostral; PEATE = Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico; OD= Orelha Direita; OE = Orelha Esquerda; dB= Decibél

 

Após a análise dos estudos incluídos na revisão sistemática, verificou-se a ocorrência de cinco estudos de relato de casos (nível de evidência 5). Todos os estudos, por apresentarem baixa evidência científica, foram desprovidos em suas recomendações quanto à necessidade de avaliação audiológica padronizada em indivíduos portadores da Síndrome de Rubinstein-Taybi.

 

Discussão

 

As caraterísticas audiológicas de sujeitos portadores da síndrome de Rubinstein-Taybi é uma temática ainda pouco explorada, visto a escassez de estudos na área, a raridade da síndrome e os variados níveis de comprometimento. Além da variabilidade de testes disponíveis para realização da avaliação audiológica, de acordo com a faixa etária e as principais comorbidades associadas [5].

Todos os estudos incluídos nesta revisão tratam-se de relato de caso que variaram de um a 13 sujeitos. As principais características dos estudos podem ser consultadas no quadro 1. Os artigos selecionados foram publicados entre os anos de 2003 e 2018, sendo dois deles publicados pelo mesmo grupo de pesquisa, mas com dois grupos de pacientes diferentes. O estudo realizado pelo grupo brasileiro foi o que melhor descreveu os testes de avaliação audiológica e os resultados obtidos.

Apesar dessas limitações, a inclusão destes estudos justifica-se pelo fato de que não foram encontrados outros estudos com níveis de evidência superior, o que ainda é uma realidade frequente para a temática da síndrome de Rubinstein-Taybi. Sendo assim, devido à heterogeneidade metodológica dos estudos incluídos, não foi possível realizar metanálise.

Algumas limitações deste estudo podem ser mencionadas. Há um número reduzido de estudos científicos acerca dessa temática. Ao mesmo tempo, observou-se que os resultados desta pesquisa foram bastante diversos, devido às variações metodológicas presentes nos estudos, o que foi evidenciado na análise dos resultados, que necessitou de uma discussão mais detalhada de cada item. A falta de padronização dos testes audiológicos realizados se justifica pelos diferentes níveis de retardo mental e atraso do desenvolvimento neuropsicomotor presentes nos pacientes nesta casuística, o que acaba dificultando a realização de alguns testes, como a audiometria tonal liminar [10].

Quanto aos achados na audiometria tonal liminar, dois estudos [5,6] realizaram este teste e encontraram predominância de perda auditiva do tipo condutiva de grau leve a severo. Esses achados podem ser explicados pela elevada ocorrência de alterações otorrinolaringológicas, por exemplo, as otites de repetição. Outros dois estudos [7,8] referem apenas que há predomínio de perda auditiva do tipo condutiva em seus sujeitos, não informando o grau de comprometimento auditivo e não expondo qual foi o procedimento utilizado para avaliar os limiares auditivos.

A oscilação da audição nos períodos de otites leva a uma estimulação sonora inconsistente do sistema nervoso auditivo central, dificultando principalmente a percepção dos sons de fala pela criança. Além disso, a presença de fluído na orelha média pode provocar um ruído junto à cóclea, distorcendo ainda mais a percepção sonora [11]. Os efeitos da privação auditiva ocasionada pelas otites médias na infância induzem a prejuízo nas habilidades auditivas e de consciência fonológica e, como consequência, o comprometimento do desempenho escolar [12].

Apenas um estudo [6] realizou audiometria vocal e descreveram os resultados como dentro dos padrões de normalidade. Os testes de fala são considerados procedimentos simples e importantes de serem realizados, visto que, através da audiometria vocal, é possível obter informações qualitativas sobre as habilidades de detecção e reconhecimento de fala [13].

Nas medidas de imitância acústica, dois estudos [5,6] descreveram predomínio de curva timpanométrica tipo C. A presença de obstruções nasais de várias etiologias, hipertrofia adenoideana, entre outros, predispõem o portador de SRT à disfunção tubária e consequentemente otites médias. São compatíveis com perda auditiva do tipo condutiva, encontrados na audiometria tonal liminar, como já foi descrito anteriormente.

As medidas de imitância acústica têm um papel de destaque na avaliação audiológica, principalmente, por ser um teste objetivo, de fácil realização e rápida obtenção de informações precisas. Devido ao comprometimento cognitivo dos sujeitos com SRT, a audiometria tonal liminar pode não ser suficiente, por ser um exame subjetivo [14]. A pesquisa do limiar do reflexo acústico fornece informações importantes sobre o funcionamento da via auditiva eferente no controle do estado mecânico na orelha média e permite a obtenção de informações das vias auditivas em nível do tronco encefálico [15,16]. Devido ao fato da contração dos músculos intratimpânicos e habilidades envolvidas no processamento auditivo central serem reguladas pela ação da mesma estrutura, o complexo olivar superior, é possível que alterações no reflexo acústico resultem em um distúrbio no processamento auditivo central [17,18].

O registro dos potenciais evocados auditivos de tronco encefálico (PEATE) foi realizado em dois estudos [5,6] que encontraram presença das ondas I, III e V com latências absolutas aumentadas, intervalos interpicos normais e limiares eletrofisiológicos em torno de 40dB. Os dados relatados são sugestivos de perda auditiva condutiva, entretanto nenhum desses estudos mencionou a realização da pesquisa de limiar eletrofisiológico por meio da via óssea (VO). Sabe-se que a realização do PEATE por VO fornece dados importantes para uma caracterização mais detalhada do tipo de perda auditiva [19]. Quando há uma alteração do limiar eletrofisiológico, faz-se necessário a pesquisa do PEATE por VO a fim de analisar a presença de gap e verificar e determinar o tipo de perda auditiva [20].

Dentre os estudos selecionados, nenhum realizou o registro das emissões otoacústicas evocadas e avaliações das habilidades auditivas centrais através dos potenciais evocados auditivos de média e longa latência ou por meio da avaliação comportamental do processamento auditivo. Sabe-se que uma avaliação audiológicas ampla propicia a quantificação e a qualificação dos vários mecanismos no sistema nervoso auditivo central (SNAC) envolvidos nas habilidades auditivas [21]. Em alguns casos, pode-se observar crianças com dificuldades de compreensão e com uma audição periférica dentro dos padrões de normalidade, mas com testes comportamentais e eletrofisiológicos demonstrando alterações no sistema auditivo central [22].

A avaliação eletrofisiológica permite a mensuração da atividade neuroelétrica ao longo de todo o sistema auditivo, fornecendo maiores informações sobre o funcionamento da SNAC e possibilitando a observação do processamento da informação auditiva no domínio do tempo [23]. As medidas eletrofisiológicas são amplamente empregadas para diagnósticos funcionais [24] e podem ser registrados em diferentes porções da via auditiva [25,26]. Ademais, são importantes na avaliação de crianças que não conseguem responder a exames subjetivos e comportamentais [27].

Frente às várias alterações e queixas otorrinolaringológicas e fonoaudiológicas presentes na SRT, os estudos reforçam a importância de avaliar o desempenho auditivo desses sujeitos. Além disso, acredita-se que seja importante coletar o maior número de informações, a fim de disseminar o conhecimento aos especialistas, para auxiliar no diagnóstico precoce e orientar os pacientes e seus familiares quantos aos cuidados necessários e às formas de tratamentos auditivo disponíveis [5,6,7,8,9]. Outra lacuna identificada na literatura cientifica é a ausência de pesquisas aplicando os potenciais evocados auditivos de longa latência em crianças com SRT.

Dessa forma, postula-se que a avaliação com os potenciais evocados auditivos de longa latência em crianças com SRT possa contribuir para a elucidação de alterações nas habilidades auditivas levando ao transtorno do processamento auditivo central, oportunizando um encaminhamento mais rápido e eficiente para a reabilitação e, consequentemente, melhor prognóstico audiológicos e intelectual para a criança.

Quanto à reabilitação auditiva, alguns estudos [7,8,9] relatam que os indivíduos diagnosticados com perda auditiva estavam utilizando aparelhos de amplificação sonora individual (AASI) e um sujeito utilizava implante coclear (IC). Sabe-se, que quanto mais precoce for o diagnóstico da perda auditiva e quanto mais cedo iniciar o processo de intervenção, melhor será o prognóstico, quanto ao desenvolvimento auditivo e de linguagem, com importantes implicações no desempenho comunicativo e no processo de inclusão social [28].

Para que as habilidades auditivas se desenvolvam conforme o esperado para cada faixa etária, é necessário que as crianças tenham acesso aos sons linguísticos orais. Assim, é fundamental que as crianças estejam expostas a ambientes de linguagem oral desde o nascimento, para que ocorra o desenvolvimento adequado das funções do sistema auditivo [29]. Sabe-se que sujeitos que apresentam otites de repetição podem apresentar alterações no sistema auditivo nervoso central [21,30]. Independente da etiologia e da lateralidade acometida pela infecção, as otites afetam primeiramente a via auditiva periférica [31], quanto mais prolongado o período que a criança permanecer em privação sensorial, mais morosa será a maturação das vias auditivas, mesmo quando já se realizou o tratamento adequado e a mesma encontra-se em condições normais de escuta [30].

Através dos testes eletrofisiológicos é possível avaliar os efeitos do histórico de otites médias na infância. Os PEALL demonstram como a energia acústica, em sujeitos com e sem alterações auditivas, é capaz de influenciar os padrões de atividade cerebral [32,33]. Assim, é de fundamental importância que os portadores da SRT tenham suas habilidades auditivas avaliadas por meio dos potenciais evocados auditivos, com o objetivo de coletar informações sobre o processo de neuromaturação da via auditiva, especialmente em crianças que passaram por longos períodos de privação sonora devido a otites de repetição.

 

Conclusão

 

      A presente revisão sistemática de literatura demonstra que são escassos os estudos que avaliaram a via auditiva periférica e central e as habilidades auditivas, tanto de forma comportamental como eletrofisiológica de sujeitos com o diagnóstico de SRT e, principalmente, com a avaliação. Outra lacuna identificada na literatura científica é a ausência de pesquisas aplicando os PEALL em crianças com SRT.

Salienta-se a importância de realizar mais estudos com essa população, a fim de conhecer quais são as alterações mais comumente encontradas na avaliação auditiva dos sujeitos portadores de SRT e, quando houver alterações nos resultados, que se tenha a intervenção terapêutica mais adequada.

 

Agradecimentos

Trabalho realizado no Núcleo de Estudos em Eletrofisiologia da Audição da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Agradecemos a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul pela possibilidade de realizar este estudo em suas dependências.

 

Conflito de interesses

Inexistente

 

Fonte de financiamento

Este estudo foi apoiado pela coordenação de aperfeiçoamento de pessoal e nível superior (CAPES, 001) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, 302931/2019-8).

 

Contribuição dos autores

Idealização do estudo, coleta, interpretação dos dados e elaboração do artigo: Angst OVM, Rosa RFM, Zen PRG; Análise e interpretação dos dados e revisão do artigo: Sleifer P

 

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