Fisioter Bras. 2023;24(6):868-82
ARTIGO
ORIGINAL
Promoção
de saúde no climatério: uma proposta fisioterapêutica
Health promotion in climacteric period: a physical
therapy proposal
Sophia Baraldi Boscolo1, Mariana Nishiyama1,
Nicolle Tammy Sominami1, Marcelo Antonini2,
Gisela Rosa Franco Salerno1
1Universidade Presbiteriana Mackenzie,
São Paulo, SP, Brasil
2Hospital do Servidor Público Estadual
Francisco Morato de Oliveira (HSPE-FMO), São Paulo, SP, Brasil
Recebido
em: 30 de abril de 2023; Aceito em: 20 de agosto de 2023.
Correspondência: Gisela Rosa Franco Salerno, giselafranco@yahoo.com
Como citar
Boscolo SB, Nishiyama M, Sominami NT, Antonini M, Salerno GRF. Promoção de saúde no climatério: uma proposta fisioterapêutica. Fisioter Bras. 2023;24(6):868-82. doi: 10.33233/fb.v24i6.5436
Resumo
Introdução: O climatério é definido como um
período de transição entre os anos reprodutivos e não reprodutivos da mulher,
que acontece na meia-idade. Objetivo: Verificar e comparar os efeitos da
aplicação de protocolo de exercícios presencial e via teleatendimento nas
variáveis; qualidade de vida, qualidade de sono e satisfação sexual, em
mulheres no período climatérico. Métodos: Estudo prospectivo
comparativo, com 20 mulheres, idade entre 47-62 anos, sedentárias e com
sintomas de climatério, divididas em Grupo Exercício Presencial (G1) e Grupo
Exercício Teleatendimento (G2). Todas receberam o mesmo protocolo de exercícios
progressivos, por 12 semanas, tendo duração de 45 minutos cada atendimento. No
início e ao final do protocolo foram avaliadas por meio do WHOQOL-bref (qualidade de vida), Female
Sexual Function Index (desempenho sexual) e Escala de
Pittsburgh (qualidade de sono). Para análise estatística, foi aplicado o teste
de KS, seguido de teste paramétrico anova, considerando p ≤ 0,005. Resultados:
Foi observado ao comparar as variáveis avaliadas que os grupos eram semelhantes
antes das intervenções (p > 0,05). Após as intervenções, com relação a
qualidade de vida, os dois grupos obtiveram alterações positivas sendo que o G1
apresentou diferença estatística em relação ao G2 (p = 0,0002), na satisfação
sexual (p ≤ 0,05) e qualidade de sono, apenas o G1 apresentou alteração
positiva nos seus domínios. Conclusão: O protocolo de exercícios, de
forma presencial e online, alterou de forma positiva a qualidade de vida, vida
sexual e qualidade de sono, todavia o Grupo Exercício Presencial obteve
melhores resultados.
Palavras-chave: climatério; exercício; Fisioterapia.
Abstract
Introduction: The
climacteric is defined as a transitional period between a woman's reproductive
and non-reproductive years, which occurs in middle age. Aim: To verify
and compare the effects of the application of physical exercise protocol and
tele-care in the variables;life
quality, quality of sleep and sexual satisfaction in women in the climacteric
period. Methods: Prospective comparative study with 20 women, aged 47-62
years, sedentary and with climacteric symptoms, divided into Face-to-Face
Exercise Group (G1) and Telecare Exercise Group (G2). All received the same
protocol of progressive exercises, for 12 weeks, lasting 45 minutes each
session. At the beginning and end of the protocol, the participants were
evaluated through the WHOQOL -bref (life quality)
Female Sexual Function Index (sexual performance) and Pittsburgh Scale (sleep
quality). For statistical analysis, the KS test was applied, followed by a
parametric Anova test, considering p ≤ 0.005. Results:
When comparing the evaluated variables, it was observed that the groups were
similar before the interventions (p > 0.05). After the interventions,
regarding quality of life, both groups obtained positive changes, and G1
presented statistical difference in relation to G2 (p = 0.0002), in sexual
satisfaction (p ≥ 0.05) and sleep quality, only G1 showed a positive
change in their domains. Conclusion: The face-to-face and online
exercise protocol positively changed the quality of life, sex life and sleep
quality, however the Face-to-Face Exercise Group obtained better results.
Keywords: climacteric; exercise; Physical
therapy.
O
climatério é um período caracterizado pela transição da fase reprodutiva para a
fase não reprodutiva feminina, ele vem acompanhado por variações hormonais que
levam a flutuações menstruais e que futuramente resultarão na menopausa. A
menopausa é definida por amenorreia, ou seja, ausência da menstruação por 12
meses a partir da data da última menstruação, o que ocorre normalmente entre 40
e 55 anos. O período que se estende da menopausa até os 65 anos de idade é
chamado de pós-menopausa [1].
De
acordo com o estudo de Silva et al. [2], a depressão e a falta de
vontade nas atividades cotidianas se associam a um sono não reparador, em
consequência dos despertares noturnos levando à fadiga, cansaço, dores e falta
de ânimo. Além disso, a ansiedade, falta de concentração e falta de memória são
bastante comuns neste período da vida da mulher.
Outras
mudanças que a mulher tem que lidar devido à menopausa são; ressecamento das
mucosas e pele, alterações cognitivas, diminuição da libido, disfunções uroginecológicas, como a incontinência urinária, baixa
densidade óssea e riscos cardiovasculares, podendo impactar a vida das mulheres
de forma negativa [3].
As
interferências vivenciadas no período do climatério na sexualidade envolvem
aspectos psicossociais e biológicos, trazendo prejuízo e fragilidade para a
mulher [4].
É
sabido que 25% a 33% das mulheres entre 35 e 59 anos apresentam disfunções
sexuais, podendo chegar a 75% entre os 60 e 65 anos [5].
Segundo
Salles e Oliveira, o treino da musculatura do assoalho pélvico é benéfico para
o tratamento das incontinências urinárias (IU) mais comuns, já que ele é
essencial no tratamento das disfunções sexuais femininas, podendo alterar
positivamente a vida sexual das mulheres [6].
O
sedentarismo é definido como a falta ou a grande diminuição de atividade
física. É possível dizer que a atividade física regular estimula a função dos
sistemas cardiovascular, respiratório e musculoesquelético, assim como promove
motivação psicológica e sensação de bem-estar [7].
Mulheres
sedentárias têm maior chance de apresentar sintomas quando comparadas àquelas
que realizam exercícios físicos numa frequência superior a 3 vezes por semana,
o que reforça a importância da adoção de uma prática de atividade física
regular tanto na menopausa como após a menopausa [8]. Já que a prática de
exercício físico contínuo influencia na secreção de β-endorfinas
hipotalâmica, aliviando as ondas de calor e melhorando o humor durante o
climatério. O estudo de Probo et al. [9] mostrou que a prática de
atividades físicas regulares pode contribuir positivamente para a redução dos
sintomas climatéricos de mulheres de meia idade.
A
fisioterapia junto com uma equipe multidisciplinar tem um papel relevante na
prevenção e no tratamento dos sintomas provenientes do climatério, por meio da
aplicação de recursos terapêuticos podendo melhorar seu condicionamento físico,
prevenir complicações futuras e proporcionar benefícios psicológicos [10].
Sendo
assim, tendo em vista as comprovações científicas sobre as alterações no
climatério, que podem desencadear vários sintomas vasomotores, psicológicos,
urogenitais, sexuais e outros, advindos do hipoestrogenismo,
que prejudicam a qualidade de vida, são necessárias mais pesquisas que
comprovem a relação entre o exercício físico e o climatério.
Portanto
foi objetivo do presente estudo verificar o efeito de
um protocolo de exercícios de forma presencial e no sistema de
telemonitoramento voltado à promoção da saúde em mulheres no período
climatérico, avaliando a qualidade de vida, qualidade de sono e satisfação
sexual.
Foi
realizado um estudo longitudinal prospectivo comparativo com amostra por
conveniência. Participaram dessa pesquisa 20 mulheres, com idade entre 45-55
anos, sedentárias, e com disponibilidade para o programa de exercícios. Foram
critérios de inclusão a idade das mulheres e o sedentarismo. Foram critérios de
exclusão mulheres que praticavam algum tipo de atividade física ou que já
estavam na menopausa (sem a menstruação por pelo menos 6 meses).
O
projeto foi previamente aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da
Universidade Presbiteriana Mackenzie via Plataforma Brasil (CAAE:
80676517.6.0000.0084) e após o consentimento livre esclarecido das participantes,
iniciamos a coleta de dados.
Para
a avaliação e reavaliação foi utilizada uma ficha de avaliação com dados
pessoais, dados demográficos, além de acompanhamento médico, medicamentos em
uso, tabagismo e patologias gerais.
A
qualidade de vida foi avaliada pelo WHOQOL-bref,
questionário constituído por 26 questões, sendo as duas primeiras relacionadas à
qualidade de vida em geral (autopercepção e saúde) e as outras 24 questões
divididas em 4 domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente
[11].
A
avaliação da vida sexual foi realizada pelo FSFI (Female
Sexual Function Index), escala breve que avalia a
função sexual em mulheres por meio de 19 questões, divididos em 5 domínios da
resposta sexual: desejo/estímulo subjetivo, lubrificação, orgasmo, satisfação e
dor/desconforto [12].
Para
a avaliação da qualidade de sono foi utilizada a Escala de Pittsburgh (PSQI): o
instrumento é constituído por 19 questões em autorrelato
e 5 questões direcionadas ao cônjuge ou acompanhante de quarto. As últimas 5
questões são utilizadas apenas para a prática clínica, não contribuindo para a
pontuação total do índice. As 19 questões são categorizadas em 7 componentes,
graduados em escores de 0 (nenhuma dificuldade) a 3 (dificuldade grave). Os
componentes do PSQI são: C1; qualidade subjetiva do sono, C2; latência do sono,
C3; duração do sono, C4; eficiência habitual do sono, C5; alterações do sono,
C6; uso de medicamentos para dormir C7; disfunção diurna do sono [13].
A
avaliação especifica dos componentes do PSQI ocorre da seguinte forma: o C1 se
refere à percepção individual a respeito da qualidade do sono; o C2 é
correspondente ao tempo necessário para iniciar o sono; o C3 avalia quanto
tempo permanece dormindo; o C4 indica a eficiência habitual do sono; o C5
remete aos distúrbios do sono; o C6 analisa o uso de medicação para dormir; o
C7 é inerente à sonolência diurna e aos distúrbios durante o dia [14].
Todas
as avaliações citadas acima foram entregues às participantes antes e após os
programas de exercícios, tanto no teleatendimento, quanto no atendimento
presencial.
Para
a intervenção, foram criados 2 grupos de 10 participantes, Grupo Exercício
Presencial (G1) e Grupo Exercício Teleatendimento (G2).
O
G1 recebeu a intervenção de forma presencial 2 vezes na semana, constando de um
protocolo de exercícios acompanhado por 12 semanas. A intervenção do G1 foi
realizada antes da pandemia, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, com o
acompanhamento de estudantes da Fisioterapia e o professor supervisor. Todas as
mulheres eram estimuladas a praticar as atividades por pelo menos 3 vezes na
semana.
O
G2 aconteceu no período da pandemia, por isso as participantes receberam
orientações dos exercícios por meio de Plataformas online de forma síncrona e
vídeos por grupos de WhatsApp, sendo 2 vezes por semana, constando de um
protocolo de exercícios acompanhado por 12 semanas. As participantes recebiam
vídeos previamente preparados com as orientações de cada exercício de forma
clara, incluindo como realizar cada postura, quantas respirações e contrações
do períneo deveriam ser realizadas, além do número de repetições dos
exercícios. Os exercícios eram atualizados semanalmente, assim como o grupo
presencial, estimulando também para que as atividades fossem realizadas em casa
por pelo menos 3 vezes na semana.
A
intervenção do G2 foi realizada durante a pandemia, sendo que a ideia inicial
deste estudo era comparar o atendimento presencial com o teleatendimento, e o
cenário pandêmico acabou favorecendo o teleatendimento, já que as participantes
passavam mais tempo dentro de casa e estavam disponíveis para realizar os
exercícios de forma síncrona.
O
protocolo de intervenção foi composto por 4 Programas de Exercícios, com
exigências progressivas e pré-programadas para as mudanças a cada 3 semanas.
Ambos os grupos realizaram inicialmente a avaliação e em seguida foram
iniciados; Programa 1, Programa 2, Programa 3 e Programa 4. Ao finalizar o
último programa, as participantes foram reavaliadas pelas mesmas avaliações
iniciais.
Inicialmente
o protocolo de exercício foi constituído por 15 minutos
de alongamentos,
prosseguindo com 30 minutos de exercícios aeróbicos, e
finalizando com 15
minutos de exercícios de equilíbrio,
concentração e respiração, com
duração
total de 60 minutos de atividade.
Os
exercícios foram escolhidos com objetivo de ativar os principais grupos
musculares, sendo eles os músculos abdominais e do tronco, músculos do assoalho
pélvico, músculos da coxa e do quadril, além de exercícios de coordenação
motora e equilíbrio.
Como
a amostra foi realizada por conveniência, não houve cálculo amostral específico
para estabelecimento das investigações. Após a coleta dos dados, estes foram
analisados inicialmente pelo teste de KS para determinação da normalidade da
amostra, em seguida foi utilizado o teste paramétrico ANOVA para comparação dos
resultados.
Participaram
do presente estudo, 20 mulheres com média de idade de 53±3,9 anos, peso médio
de 73,3 ± 13,3 kg e IMC médio de 27,6 ± 5,77 kg/m². Das 20 participantes, 10
foram do Grupo Exercício Presencial (G1) e 10 do Grupo Exercício
Teleatendimento (G2). Em relação ao peso e IMC das participantes, foi possível
observar que o peso e consequentemente o IMC no G2 são maiores do que no G1
(Tabela I).
Tabela
I - Dados
demográficos das participantes do presente estudo
Quanto
à qualidade de vida, é possível dizer que no escore geral e em todos os
domínios, o Grupo Exercício Presencial (G1) mostrou melhores resultados quando
comparado ao Grupo Exercício Teleatendimento (G2), ocorrendo diferenças
significativas entre eles.
Considerando
o Grupo Exercício Presencial (G1), quando comparamos o antes e depois, no
escore geral, houve aumento de 85 para 111 pontos, resultando em 31% de
aumento, e com significância estatística (p = 0,000). Em relação aos domínios;
no “físico”, houve um aumento de 29 para 41 pontos, resultando em 41% de
aumento e com significância estatística (p = 0,0001), no “psicológico”, houve
aumento de 31 para 40, resultando em 29% de aumento e com significância
estatística (p = 0,003), nas “relações sociais”, houve aumento de 37 para 46
pontos, resultando em 24% de aumento e com significância estatística (p =
0,05), no “meio ambiente”, houve aumento de 35 para 44 pontos, resultando em
26% de aumento e com significância estatística (p = 0,05).
Já
em relação ao G2, os resultados foram positivos, porém com uma porcentagem
menor que o G1; no escore geral, houve um aumento de 87 para 91 pontos,
resultando em 5% de aumento, não tendo significância estatística (p = 0,23).
Em
relação aos domínios, no “físico”, houve um aumento de 33 para 36 pontos,
resultando em 9% de aumento, tendo uma tendência para significância (p = 0,56),
no “psicológico”, houve um aumento de 32 para 34 pontos, resultando em 6% de
aumento, não tendo significância estatística (p = 0,76), no “meio ambiente”
houve um aumento de 34 para 36 pontos, resultando em 6% de aumento, não tendo
significância estatística (p = 0,7), e nas “relações sociais”, houve uma
redução de 32 para 30, resultando em 7% de redução com o p = 0,6 (Tabela II).
Tabela
II - Valores obtidos
nos grupos antes e após a intervenção quanto à qualidade de vida (WHOQOL-BREF)
QV
= Qualidade de vida; A = Antes, P = Após
Ao
avaliarmos a satisfação sexual, observamos diferenças significativas apenas no
Grupo Exercício Presencial (G1), tanto no escore final (p = 0,013) quanto nos
domínios; desejo (p = 0,018) e dor (p = 0,03). No Grupo Exercício
Teleatendimento (G2), não houve diferença em nenhum dos domínios e nem no
escore final (p ≤ 0,05).
Ao
compararmos o G1 com o G2, percebemos que antes dos atendimentos os grupos eram
semelhantes entre si (p = 0,48) e após os atendimentos, não ocorreram mudanças
estatisticamente significantes entre eles (p = 0,18). Quando analisado o escore
final, na comparação do domínio “desejo”, existem alterações estatisticamente
significante no G1 em relação ao G2 (p = 0,003) (Tabela III).
Tabela
III - Avaliação da
satisfação sexual considerando os grupos avaliados antes e após a intervenção
(FSFI)
Em
relação a qualidade de sono, quando comparamos os dois grupos, encontramos as
seguintes alterações; o G1, antes dos exercícios, apresentou 60% sono ruim, 30%
de distúrbio de sono e 10% referente ao sono bom. Após os exercícios, 10% das
pacientes continuaram com a presença de distúrbio de sono, sendo ele um sintoma
presente e característico do climatério, porém 90% das participantes
apresentaram sono bom.
Já
no G2, antes dos exercícios, 50% das pacientes apresentaram sono bom, e após os
exercícios a quantidade subiu para 60%; além disso, antes dos exercícios 10%
apresentaram distúrbio do sono e após os exercícios, nenhuma paciente
apresentou distúrbio do sono. Portanto, é possível dizer que a diferença maior
foi no Grupo Exercício Presencial (G1) em relação ao sono bom, o qual aumentou
80% após as intervenções (Tabela IV).
Tabela
IV - Resultado da
Escala de Pittsburgh; antes e após intervenções nos respectivos grupos
O
climatério é definido pela transição entre o período reprodutivo e o não
reprodutivo da mulher. A faixa etária das mulheres acometidas pelo climatério é
de 35 a 65 anos. A menopausa é reconhecida após 12 meses consecutivos de
ausência de menstruação, e assim ela é considerada um evento dentro do
climatério. Esta passa, então, a ser delimitada por duas fases: pré-menopausa e pós menopausa [15].
Para
muitas mulheres, o climatério traz uma imagem negativa em comparação com as
outras fases da vida, já que esta fase compromete a autoestima e interfere na
qualidade de vida. De acordo com uma pesquisa realizada com 42 mulheres por
Mota et al. [16], a instabilidade do humor representa uma queixa mensal
de 42,9% das mulheres entrevistadas e as alterações do sono atingem diariamente
54,8% desse público. Isso ocorre devido aos sintomas neuropsíquicos que ocorrem
nessa fase, além do aumento da síntese de cortisol advindo das situações de
estresse presentes na vida das mulheres climatéricas [17].
Estudos
apontam que a prática de atividade física é eficaz para combater o estresse,
depressão, manter a massa muscular e óssea, função cardiocirculatória e
consequentemente melhorar a autoestima e diminuição da sintomatologia do
climatério [18]. De acordo com Peixoto et al. [19], em uma revisão
sistemática sobre a qualidade de vida e a importância da atividade física na
melhora dos sintomas do climatério, constataram por meio de análise de artigos
científicos, a relevância dos exercícios físicos neste período do climatério.
Como
já citado anteriormente, no questionário do WHOQOL-bref,
foi possível observar que o Grupo Exercício Presencial (G1) mostrou melhores
resultados quando comparado ao Grupo Exercício Teleatendimento (G2),
corroborando os dados de Silva e Souza [20], os quais apontaram em seu estudo
as seguintes barreiras do teleatendimento: dificuldade de conexão com a
internet tanto do fisioterapeuta como do paciente, dificuldade de compreensão
do atendimento por parte do paciente, e falta de contato físico para correções
necessárias durante o atendimento. O presente estudo também enfrentou essas
barreiras com as mulheres climatéricas, além da dificuldade que elas
apresentaram em posicionar a câmera do celular para que pudessem serem vistas e
avaliadas durante os exercícios.
O
fato de que o IMC das participantes do G2 foi maior que do G1, provavelmente
pode ser explicado já que os dados do G2 foram coletados durante a pandemia, e
as mulheres passavam a maior parte do seu tempo dentro de casa, com menos
disponibilidade de tempo para realizar exercícios físicos.
Dentre
os sintomas já citados anteriormente, os mais comuns durante a fase do
climatério são; irregularidade dos ciclos menstruais, ressecamento vaginal e dispareunia a qual é definida por dor durante as relações
sexuais, esse sintoma foi relatado por meio do questionário FSFI (Female Sexual Function
Index) por grande parte das mulheres que participaram deste estudo. Outros
sintomas incluem aspectos psicológicos, como a depressão e o desânimo [15].
Nesse
projeto observamos que os resultados do FSFI mostraram diferenças
significativas apenas no Grupo Exercício Presencial (G1) nos domínios desejo e
dor, e no Grupo Exercício Teleatendimento (G2), não houve diferença em nenhum
dos domínios e nem no escore final. O fato de que apenas os domínios desejo e
dor mostraram resultados positivos comparado aos outros domínios pode ser
relacionado com o artigo de Barreiros et al. [21], o qual avaliou a
função sexual em mulheres climatéricas e menciona que esses domínios são os
mais afetados, pontuando também que o tipo de resposta sexual se torna mais
lenta e menos intensa, como resultado da diminuição de estrogênio, o que
favorece a disfunção sexual.
Com
o avançar da idade, é possível perceber que as características corporais da
mulher se modificam e o processo de senilidade junto com a imposição da
sociedade pode levar a inseguranças que muitas vezes se agravam pelos sintomas
climatéricos, além disso o órgão sexual feminino sofre alterações como atrofia
da vulva e da vagina, causadas pelas mudanças hormonais [22].
O
motivo das mulheres deste estudo relatarem presença de dor e falta de desejo
sexual relaciona-se ao estudo de Fonseca et al. [23], o qual aponta que
no climatério, as relações sexuais se tornam desconfortáveis em razão da secura
vaginal decorrente da diminuição da lubrificação vaginal, podendo ser
indicativo da estimulação de dor, além de citar que mesmo apresentando o
orgasmo durante a relação, a ausência do desejo inibe a satisfação sexual.
Embora
na mulher climatérica a resposta sexual se torne mais lenta e menos intensa,
ela ainda existe e nem sempre é menos prazerosa ou satisfatória, porém quando a
resposta sexual é alterada significativamente, isso pode impactar negativamente
a vida sexual da mulher. Portanto, é importante que a mulher se conheça e se
respeite para desenvolver de forma saudável e prazerosa a sua sexualidade
durante a fase do climatério [22].
Os
distúrbios do sono são altamente comuns em mulheres que se encontram no
climatério especialmente nas fases pré e pós-menopausais, em que os sintomas vasomotores causados pela
diminuição dos níveis de estrogênio são responsáveis por episódios de ondas de
calor na região do rosto e região torácica, acompanhadas de suor excessivo.
Esses eventos duram em média 3 minutos e se intensificam durante a noite,
fazendo com que a mulher se desperte frequentemente, prejudicando assim a
qualidade do seu sono [17].
No
presente estudo, os resultados encontrados ao aplicar a Escala de Pittsburgh
(PSQI) mostraram que a diferença maior foi no Grupo Exercício Presencial (G1)
em relação ao sono bom, o qual aumentou 80% após as intervenções, além do que
no Grupo Exercício Teleatendimento (G2), o sono bom aumentou 10% após as
intervenções. Comparando com o estudo de Portela et al. [24], observa-se
que os distúrbios do sono são queixas comuns durante essa fase de vida para as
mulheres climatéricas e o exercício físico regular está associado a menos
descargas de calor. O treinamento de resistência promove efeitos benéficos
sobre vários órgãos e sistemas, principalmente, nos tecidos muscular, ósseo e
adiposo, permitindo uma melhor qualidade de vida. Portanto, é possível afirmar
que os programas de exercícios aplicados foram eficazes para a melhora na
qualidade de sono das participantes deste estudo.
Em
relação à prática de atividade física no climatério, sendo ela realizada por
exercícios de força/aeróbicos, é possível afirmar que ela melhora o controle e
prevenção de algumas doenças bastante comuns no período de declínio hormonal, como
coronariopata, obesidade, hipertensão arterial,
osteoporose e diabetes mellitus. Além de amenizar os fogachos e sintomas de
humor como a depressão. Assim como o restante da população, as mulheres
climatéricas devem praticar pelo menos 30 minutos diários de atividade física,
a qual irá beneficiar em diversos fatores como a diminuição do risco de
demência vascular, alívio de estresse, melhora dos aspectos cognitivos da saúde
mental, diminuição da gordura corporal, melhora da capacidade cardiorrespiratória,
diminuição das ondas de calor e alterações de humor. Sendo assim, a prática de
atividade física pode melhorar o desempenho cognitivo e bem-estar geral,
aumentando também a autoestima dessas mulheres [25].
Portanto,
de acordo com os fatores citados acima, o presente estudo, tanto no atendimento
presencial como no teleatendimento, baseou-se nos programas de exercícios com
duração de 60 minutos com objetivo de ativar os principais grupos musculares,
sendo eles os músculos abdominais e do tronco, músculos do assoalho pélvico,
músculos da coxa e do quadril, além de exercícios de coordenação motora e
equilíbrio.
Os
atendimentos foram realizados semanalmente com duração de aproximadamente 60
minutos, compostos por alongamentos iniciais, exercícios de fortalecimento
pélvico associados à respiração, sendo eles em diferentes posições, tanto no
solo como na posição ortostática, e por fim um relaxamento final. Os exercícios
eram atualizados semanalmente de acordo com a necessidade do grupo, focando
sempre em exercícios para a saúde em geral, e não para uma patologia
específica.
Diversos
vídeos explicativos eram enviados para as participantes ao longo da semana,
antes do dia do atendimento, para que elas pudessem entender as posturas e as
tarefas que seriam realizadas posteriormente. Durante os teleatendimentos, uma
fisioterapeuta comandava a sessão com comando de voz e vídeo para que as
participantes pudessem realizar os exercícios de forma síncrona, sendo
interrompido quando necessário para correções posturais delas. Sempre era
reforçado que elas fizessem os exercícios da semana por pelo menos mais 2 vezes
e em caso de dúvidas que entrassem em contato pelos grupos sociais.
Quando
comparamos os grupos G1 e G2, observamos que o Grupo Exercício Teleatendimento
(G2) apresentou resultados inferiores do que o Grupo Exercício Presencial (G1),
isso provavelmente ocorreu não só pelo fato de nós, fisioterapeutas não
estarmos em contato direto com as pacientes para corrigi-las durante os
exercícios e orientá-las da melhor forma possível, mas também pela influência
da pandemia na vida dessas mulheres.
De
acordo com Souza et al. [26], há uma maior prevalência de sintomatologia
para estresse, ansiedade e depressão na população feminina durante a pandemia
da COVID-19. Os medos e inseguranças criados no período do climatério são
extremamente acentuados em tempos de pandemia e incertezas em relação ao corpo
e aos aspectos psicossociais, e com as limitações do atendimento na atenção
primária, há um risco de interrupção dos tratamentos com terapia de reposição
hormonal para mulheres com sintomas do climatério, agravando assim esses
sintomas [27].
Outro
fator que possivelmente influenciou nos resultados do presente estudo é o fato
de as atividades que melhoram a qualidade de vida e previnem transtornos
mentais, como exercícios físicos e atividades de lazer, no momento estarem
menos prevalentes entre as mulheres, em decorrência, especialmente, da
sobrecarga de funções associadas à dupla jornada de trabalho, sendo agravada na
pandemia [26].
Sendo
assim, embora o grupo teleatendimento tenha recebido o mesmo protocolo de
exercícios e mostrado alguns resultados positivos, a ausência do contato físico
nos direciona para um ponto a ser discutido. Apesar de ter sido uma das
propostas deste estudo, essa estratégia ocorreu juntamente ao momento
pandêmico, acreditamos assim que outras variáveis possam ter interferidos nos
resultados para esse grupo.
Portanto,
quando pensamos nos atendimentos no formato remoto, torna-se relevante atuarmos
com mulheres que não apresentem queixas importantes para a atuação da
Fisioterapia. Nesse sentido, quando o principal foco é o formato preventivo,
essa estratégia parece ser viável.
Apesar
de que o cenário pandêmico favoreceu a coleta das participantes do Grupo
Exercício Teleatendimento (G2), não podemos nos esquecer dos desafios
encontrados nessa pesquisa para esse formato intervencionista; aspectos como a
conexão com a internet e posicionamento de câmeras, prejudicaram o tempo dos
atendimentos, além disso, a grande dificuldade na realização de avaliação
física mais detalhada. Ressalta-se ainda a necessidade de uma primeira
abordagem/avaliação ser presencial, e que essa modalidade não se encaixaria em
todo o perfil de participante, deixando a oportunidade aberta para aquelas que
apresentem boa consciência corporal e conhecimento dos exercícios propostos.
O
protocolo de exercícios de forma presencial e online, alterou de forma positiva
a qualidade de vida, vida sexual e qualidade de sono, levando benefícios para
as participantes e auxiliando na diminuição dos sintomas do climatério.
O
Grupo Exercício Presencial obteve melhores resultados e estatisticamente
significantes comparados ao Grupo Exercício Teleatendimento na qualidade de
vida e qualidade de sono.
Conflitos
de interesse
Não
há
Fontes
de financiamento
Apoio
Pibic Mackenzie
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Salerno GRF; Coleta de dados: Boscolo SB,
Nishiyama M, Sominami NT; Análise
e interpretação dos dados: Salerno GRF; Análise estatística: Salerno
GRF, Antonini M; Redação do manuscrito: Boscolo
SB, Salerno GRF; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo
intelectual importante: Boscolo SB, Salerno
GRF, Antonini M