REVISÃO
Atuação
da fisioterapia no acompanhamento de pacientes com hanseníase
Role of physical therapy in the follow-up of patients with leprosy
José Luís Paiva de
Mendonça Ferreira*, Denilson de Queiroz Cerdeira, Ft.,M.Sc.**,
Thaís Teles Veras Nunes, Ft.,M.Sc.***, Denis Frota Guimarães****, Francisca
Rocha Carneiro Liberato, M.Sc.*****
*Discente
do Curso de Fisioterapia do Instituto Superior de Teologia Aplicada (INTA),
**Doutorando em Biotecnologia RENORBIO-UFPB, Orientador, Docente dos Cursos de
Fisioterapia, Psicologia e Odontologia da Faculdade Católica Rainha do Sertão
(FCRS) e Fisioterapia do INTA, ***Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade
Católica Rainha do Sertão (FCRS), ****Especialista em Terapia Manual e Postural
(CESUMAR), Docente do Curso de Fisioterapia do INTA, *****Docente do Curso de
Fisioterapia do INTA
Recebido em 24 de
abril de 2014; aceito em 24 de maio de 2016.
Endereço
para correspondência:
Denilson de Queiroz Cerdeira, Rua das Cajazeiras, 501 Casa 39 Lagoa Redonda,
60831-310 Fortaleza CE, E-mail: denilsonqueiroz@hotmail.com, José Luís Paiva de
Mendonça Ferreira: joseluispaiva_@hotmail.com, Thaís Teles Veras Nunes: thaistvn@gmail.com,
Denis Frota Guimarães: denis.frota@hotmail.com, Francisca Rocha Carneiro
Liberato: franciscarocha18@hotmail.com
Resumo
A hanseníase é uma
doença crônica e infecciosa, causada por uma bactéria do tipo bacilo, cujo nome
científico é Mycobacterium leprae, que acarreta afecções físicas, motoras,
sensoriais e sociais. O presente estudo tem como objetivo descrever a atuação
da Fisioterapia no acompanhamento terapêutico de pessoas com hanseníase, com
base na produção científica brasileira divulgada em periódicos nacionais no
período de 2003 a 2012. Tratou-se de uma revisão, com abordagem qualitativa,
sendo a coleta de dados realizada no mês de dezembro/2013, nas bases de dados
Scielo, Lilacs, Medline e Portal de Periódicos CAPES. Com o refinamento do
material empírico, mediante aplicação de critérios de inclusão e exclusão,
foram selecionados 6 artigos que constituíram o
substrato de análise. Os resultados revelaram uma escassa produção científica
na temática, e na região Norte não houve divulgação de pesquisas nesse tema. A
maioria dos estudos são ensaios clínicos. Foi possível detectar que o
fisioterapeuta desenvolve intervenções junto aos pacientes como diagnóstico,
prevenção de incapacidades, tratamento e reabilitação. Para tanto, conta com um
conjunto de testes e protocolos de avaliação, bem como dispõe de recursos e
técnicas de tratamento e reabilitação. Contudo, reconhece-se a necessidade de
investimento em pesquisa com vistas à construção de novas evidencias
científicas na área.
Palavras-chave: hanseníase,
reabilitação, fisioterapia, modalidades de fisioterapia.
Abstract
Leprosy is a chronic infectious disease caused by a bacillus, whose
scientific name is Mycobacterium leprae, which causes
physical, motor, sensory and social disorders. The present study aimed to
describe the role of physical therapy in monitoring a therapeutic program for
patients with leprosy, based on scientific production published in national
journals in the period 2003-2012. This was a literature review with a qualitative
approach, with data collection conducted in December 2013, using Scielo, Lilacs, Medline and Portal CAPES
journal databases. With the refinement of the empirical material, by applying
inclusion and exclusion criteria, 6 studies that formed the substrate of
analysis were selected. The results revealed lack of scientific studies on this
theme, and no research related to leprosy was published in the North of Brazil.
Most studies are clinical trials. It was possible to detect that a
physiotherapist develops interventions to patients such as diagnosis,
prevention of disability, treatment and rehabilitation. He can use a set of
tests and evaluation protocols, and has the resources and techniques of
treatment and rehabilitation. However, we recognize the need to invest in
research in order to construct new scientific evidence in the area.
Key-words: leprosy,
rehabilitation, physical therapy, physical therapy modalities.
A hanseníase é uma
doença incapacitante, que tem sua história desde os primórdios da humanidade.
Antigamente conhecida como lepra e não se conhecia sua causa, nem a cura, muito
menos o meio de contágio. Acarretava, além das afecções físicas e neurológicas
que lhes são características, também a exclusão social. As pessoas portadoras
desta doença, que na época sem cura, eram obrigadas a deixar suas casas,
trabalho, família e se refugiar em cavernas e nunca ou até ficar curado por um
milagre poderiam retornar ao convívio da sociedade [1].
Esta enfermidade se
caracteriza como uma doença é infectocontagiosa, crônica, de evolução lenta,
com elevada magnitude, representando um sério problema de saúde pública.
Manifesta-se principalmente através de sinais e sintomas dermatológicos e
neurológicos, dentre estes: lesões na pele e nos nervos periféricos,
principalmente nos olhos, mãos e pés. O comprometimento dos nervos periféricos
é a característica principal da doença, dando-lhe um grande potencial para
provocar incapacidades físicas que podem, inclusive, evoluir para deformidades.
Estas incapacidades e deformidades podem acarretar alguns problemas, tais como
diminuição da capacidade de trabalho, limitação da vida social e problemas
psicológicos [1,2].
Na atualidade a
hanseníase tem cura e tratamento [3]. Contudo, seu diagnóstico deve ser precoce
com vistas a minimizar os riscos de sequelas. Nesse sentido, ao se considerar a
sua cronicidade, a natureza incapacitante, a baixa gravidade e o estigma
social, é expressivo o contingente de pessoas acometidas pela doença que
demandam necessidades de reabilitação ao longo de suas vidas [2].
Convém
assinalar que
existe um impacto social decorrente, sobretudo, da
discriminação que o doente
sofre, ao ser evitado e abandonado, visto que as pessoas em geral
não sabem que
esta é uma doença de difícil
contaminação. A educação e
informação a respeito
da patologia são importantes não somente como
estratégia para redução do
sentimento de rejeição aos pacientes, mas também
para a adoção de medidas
eficazes de prevenção obtidas através do
conhecimento sobre os primeiros sinais
e sintomas da doença [4].
A hanseníase não
teria a importância social que lhe é atribuída se fosse apenas uma doença de
pele contagiosa. Mas é a sua predileção pelos nervos periféricos causando
incapacidades e deformidades, que é responsável pelo medo, pelo preconceito e
pelos tabus que envolvem a doença [5].
Não obstante, alguns
autores apontam que se faz necessário subsidiar as ações de prevenção e
tratamento de deficiências e incapacidades, bem como a reabilitação dos
pacientes, inclusive no período pós-alta, numa perspectiva de longitudinalidade
e integralidade do cuidado. Tais ações devem ser desenvolvidas mesmo nos
cenários de alcance do controle da doença ou onde se tem boa qualidade dos
serviços de saúde referente ao diagnóstico precoce de casos [6,2].
Nesse contexto,
defende-se que os profissionais de Fisioterapia podem desempenhar papel
relevante no acompanhamento de pessoas com hanseníase, sobretudo, ao compor
equipes multiprofissionais de saúde que atuam no tratamento dessa doença, por
acumular conhecimento técnico-científico que os permitem intervir desde a
avaliação até as ações de prevenção e reabilitação.
Com base nessas
considerações, elegeu-se como objeto deste estudo a atuação do profissional
fisioterapeuta no tratamento da hanseníase. Assim, busca-se responder, com base
na produção científica brasileira publicada em periódicos indexados, a seguinte
pergunta norteadora da investigação: Quais as ações desenvolvidas pelo
fisioterapeuta, individualmente ou em equipe multiprofissional, no
acompanhamento terapêutico de pessoas com hanseníase?
A eleição do objeto
de estudo apresentado decorre da inserção do pesquisador no campo de estágio,
na condição de aluno do curso de Fisioterapia, desenvolvendo ações junto a
pessoas com hanseníase em tratamento. Embora tivesse embasamento teórico e
técnico da intervenção fisioterápica, deparou-se com a inexistência de
sistematização de condutas e/ou protocolos assistenciais que permitissem um
direcionamento mais uniforme dos casos, na perspectiva de evitar condutas
variadas a critério do profissional, gerando multiplicidade de intervenções sem
base em evidências científicas consistentes.
Outro aspecto que
justifica o interesse pela temática é a identificação de uma lacuna na produção
científica brasileira no concernente a atuação do fisioterapeuta no tratamento
da hanseníase. Esta foi evidenciada mediante uma rápida busca em bases de dados
como Scielo, Lilacs e Medline, onde são raras as publicações na área, sendo a
sua maioria com data de publicação superior a dez anos.
Por conseguinte, o
estudo mostra-se relevante pelo potencial de contribuir para a reflexão e
aprimoramento teórico, técnico e prático do profissional de Fisioterapia que
atua no acompanhamento terapêutico de pessoas com hanseníase. Além disso, por
se tratar de um estudo bibliográfico, contribuirá com a sistematização da
produção científica, bem como poderá gerar novos conhecimentos, permitindo a
redução da lacuna evidenciada no que se refere à divulgação científica nessa
área.
Material
e métodos
Tratou-se de uma
pesquisa do tipo revisão bibliográfica, com abordagem qualitativa. A pesquisa
constitui um procedimento racional e sistemático cujo objetivo é viabilizar a
solução dos problemas que são desenvolvidos por pesquisadores, com o intuito de
contribuir para o crescimento social, cultural e científico da sociedade.
Nesta revisão
bibliográfica, a coleta de dados se deu no mês de dezembro/2013. Contudo, o
período considerado para esta pesquisa compreendeu um lapso temporal de dez
anos, em virtude do pouco número de publicações nos últimos cinco anos. Assim,
foram considerados estudos publicados desde 2003 até 2012.
O material empírico
selecionado corresponde a artigos publicados em periódicos indexados,
disponíveis, inicialmente, nas seguintes bases de dados: Scielo, Lilacs e Medline.
Devido à escassa publicação nestas bases, a busca foi estendida para o Portal
de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES).
Para operacionalizar
a busca dos artigos, adotaram-se os seguintes descritores acompanhados do
marcador booleano: modalidades de fisioterapia and hanseníase e fisioterapia and hanseníase. Tal estratégia
permitiu resgatar estudos sobre o tema proposto nesta investigação, qual seja a
atuação da Fisioterapia no acompanhamento terapêutico de pessoas com
hanseníase.
Foram incluídos todos
os artigos publicados em periódicos brasileiros indexados, no período
2003-2012; publicados em língua portuguesa ou inglesa; disponíveis na íntegra,
com pelo menos um autor que fosse fisioterapeuta, e as publicações que
apresentavam os descritores selecionados. Foram excluídos artigos duplicados
(disponíveis em duas ou mais bases de dados) e artigos que embora coincidissem
com os descritores adotados permitiram responder a pergunta do estudo por não
tratar do tema em análise.
O material
bibliográfico selecionado para compor o substrato analítico do nosso estudo foi
submetido ao processamento, análise e discussão dos resultados com base na
técnica de conteúdo, modalidade temática, conforme proposto por Bardin [7],
cujos passos são os seguintes:
* Ordenação das informações:
primeiro contato com o material de análise, no qual se faz a leitura flutuante
e organização do conjunto de dados coletados.
* Classificação dos
dados: momento em que se processa a leitura exaustiva/analítica
procede-se a identificação das categorias empíricas na busca de responder as
questões e/ou objetivos da pesquisa.
* Análise final:
consiste no movimento, a partir da profunda inflexão sobre o material empírico,
na perspectiva de aprofundar a análise articulando os achados com a literatura específica
da área do estudo.
Logo após o
processamento do material empírico coletado, procedeu-se a análise crítica dos
artigos, a qual foi antecedida por uma leitura exaustiva do conteúdo dos
mesmos, sendo possível identificar os núcleos de sentidos e estruturar as
categorias temáticas apresentadas a seguir.
Caracterização
da produção científica brasileira sobre a atuação da Fisioterapia no tratamento
da hanseníase
No processo de
levantamento bibliográfico em relação à temática adotada neste estudo foi
possível identificar uma quantidade relativamente pequena de publicações. Vale
ressaltar que a busca sem restrição de período nas bases Scielo, Medline, Lilacs e Portal
Capes permitiu identificar 63 produções científicas e/ou técnicas, dentre
as quais se destacam teses, dissertações, artigos científicos e documentos
técnicos de órgão públicos.
Convém assinalar que a
maioria das publicações tem tempo de divulgação superior a dez anos,
aproximadamente 49 manuscritos. Tal fato evidencia que há pouco interesse no
investimento e desenvolvimento de pesquisa nessa área. Isto pode decorrer do
fato de que a hanseníase é considerada uma doença negligenciada, apesar do
enorme impacto que causa na saúde pública [8]. Por outro lado, tal situação
implica na qualidade do atendimento aos portadores de hanseníase, em virtude da
não produção e/ou divulgação de novos conhecimentos, técnicas e procedimentos
voltados ao tratamento da doença.
Após a leitura
criteriosa das publicações encontradas, aplicando-se os critérios de inclusão e
exclusão, foi delimitado o total de estudos a serem incorporadas nesta revisão,
perfazendo um quantitativo de 6 artigos. Verificou-se
que os artigos foram publicados nos periódicos: Hansenologia Internationalis – um artigo; Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical – um artigo; e
Fisioterapia e Pesquisa, acumulando a
maior proporção de artigos, totalizando 4 estudos.
Em relação à autoria
dos estudos, todos foram elaborados com a participação de fisioterapeutas.
Contudo, em três publicações houve a participação de outros profissionais, como
terapeuta ocupacional, médico ortopedista e dermatologista. Somente dois
artigos contaram com a participação de profissionais vinculados aos serviços de
saúde, demonstrando que as atividades de pesquisa ainda estão muito restritas
ao âmbito acadêmico, havendo dificuldade de produção do conhecimento nos
próprios cenários de práticas de saúde por aqueles que as executam.
A análise dos estudos,
componentes desta revisão, permitiu evidenciar que a maioria possui Qualis na
Saúde Coletiva, nos estratos B1 e B2. Quanto à instituição e/ou região dos
autores, identificou-se que duas publicações procedem de instituições situadas
no Nordeste, duas do Sul, uma do Centro Oeste e outra do Sudeste. Há, portanto,
ausência de produção cientifica sobre atuação da Fisioterapia no tratamento da
hanseníase procedente do Norte do Brasil, demonstrando desigualdades regionais
na produção do conhecimento, decorrente da dificuldade de formação e fixação de
pesquisadores nessa região do país [9].
No referente ao ano
de publicação, verificaram-se longos períodos sem publicações na temática, pois
foi encontrado um artigo em 2003 e após cinco anos voltou-se a ter trabalhos
publicados na área, com um trabalho em 2008, 2010 e 2011, respectivamente. Já
em 2012 ocorreram duas produções científicas na área.
Constata-se que os
objetos de estudo são diversificados, relacionado a aspectos como avaliação de
funcionamento físico, efeitos de técnicas terapêuticas aplicadas, comparação de
resultados de tratamentos e modalidades fisioterapêuticas aplicadas em
situações específicas. No relacionado ao delineamento do estudo, pode-se
verificar que maioria dos estudos selecionados, somando 04 pesquisas, o que
corresponde a 66,6%, representa pesquisas experimentais. Além destes, há uma
pesquisa com desenho transversal e uma revisão bibliográfica.
No que diz respeito
ao cenário e aos sujeitos do estudo, exceto a revisão bibliográfica, todas as
investigações foram realizadas com pacientes em tratamento em serviços onde
atuavam profissionais de Fisioterapia, entre estes: centros de dermatologia,
centro de especialidades médicas, centros de reabilitação, hospital das clínicas
e serviços de Fisioterapia.
A maior frequência de
estudos experimentais é um achado relevante na nossa investigação. Na pesquisa
em saúde há um delineamento adequado de estudo para cada tipo de pergunta que o
investigador deseja responder. Nesse sentido, defendem que as pesquisas
experimentais, também denominadas ensaios clínicos, são adequados para os casos
em que há intervenção. Caracterizam-se pela necessidade de se analisar dois
grupos: o de estudo e o grupo controle. O pesquisador assume a responsabilidade
pela exposição dos indivíduos, isto é, ele seleciona a melhor intervenção, que
pode ser uma medida preventiva ou uma técnica terapêutica, entre outras [10].
Ações
e/ou modalidades terapêuticas aplicadas pelo fisioterapeuta no tratamento de
pessoas com hanseníase
A análise do material
empírico selecionado para constituir o substrato da discussão no nosso trabalho
não apresenta de modo sistemático as modalidades de intervenção
fisioterapêutica junto aos portadores de hanseníase. Entretanto, a maioria dos
estudos por se tratar de ensaios clínicos apresenta a aplicação de testes e/ou
técnicas com vistas à detecção de sua resposta terapêutica. Assim, com base no
delineamento dos estudos e na descrição dos resultados obtidos e conclusões
expostas, podem-se empreender esforços no sentido de apontar ações e/ou
possibilidades de atuação desse profissional junto a esse segmento
populacional.
Avaliação/diagnóstico
fisioterapêutico precoce e prevenção de incapacidades
Os estudos inclusos
nesta revisão bibliografia são uníssonos em enfatizar a importância do
diagnóstico precoce como requisito fundamental para a prevenção de deficiências
e/ou incapacidades. Nesse sentido, asseguram que quanto mais cedo a enfermidade é diagnosticada e tratada adequadamente, menor
será a chance de desenvolvimento de sequelas.
Em relação à
avaliação/diagnóstico fisioterapêutico de pacientes com hanseníase, pode-se
identificar que:
* No estudo II foi
realizada avaliação física dos pacientes, em que a avaliação de sensibilidade
foi executada utilizando o monofilamento de Semmes-Weinstein. Considerando o
comprometimento distal da doença, foi procedida a avaliação de amplitude de movimentos( ADM), por meio do goniômetro.
* No estudo III foram
adotados os seguintes procedimentos para avaliação dos pacientes: anamnese,
inspeção e palpação de nervos periféricos, teste manual de força muscular,
testes isométricos de força de apreensão dos dedos (com dinamômetro Jamar),
testes das pinças polpa-polpa (com dinamômetro de Preston Pinch Gauge), teste de
limiar sensitivo (estesiômetro Sorri, Bauru/SP).
* No estudo IV houve
avaliação da dor com utilização da Escala Visual Analógica.
*
No estudo V, a
avaliação de incapacidade foi realizada com base no
protocolo de Avaliação
Simplificada da Função Neural e
Complicações, estabelecido pelo Ministério da
Saúde do Brasil. Além desta, feita
avaliação física (inspeção e
palpação); a
função muscular por meio de eletromiografia, utilizando
eletrodos de superfície
- eletromiografia Miotool 400, fabricado pela Miotec Equipamentos
Biomédicos
(Brasil), composto por um sistema de 4 canais, com uma
frequência de amostragem de 2000 Hz por canal, filtro, sensores de
matérias-primas e ativos; e avaliação da dor usando a Escala Visual Analógica.
* No estudo VI, a avaliação da tensão ulnar, foi procedida a goniometria
e fotometria dos membros superiores bilateralmente, evidenciando redução da
amplitude de movimentos nos hanseníanos quando comparados ao grupo controle.
Destaca-se que o
estudo I foi o único que não abordou a utilização de testes e avaliação de
pacientes, talvez por se tratar de revisão bibliográfica especifica sobre o
tratamento de úlcera plantar hansênica.
Pode-se inferir, com
bases nas investigações componentes do nosso estudo, que o profissional de
Fisioterapia, individualmente ou quando integra equipe multiprofissional, tem
como atribuição realizar testes e avaliações diagnósticas, com vistas à
detecção precoce de complicações e a intervenção de forma preventiva. Para
tanto, dispõe de diversos tipos de testes e protocolos de avaliação a serem
aplicadas a cada caso específico.
Tratamento
e reabilitação de pacientes com hanseníase
Conforme discutido na
seção Revisão de literatura, o profissional fisioterapeuta, com base na sua
formação generalista, desenvolve competências e habilidades para desenvolver
ações junto ao paciente com hanseníase, as quais vão desde o diagnóstico
clínico e funcional, prevenção de complicações, tratamento e reabilitação. Ao
integrar a equipe multidisciplinar no acompanhamento aos pacientes com
hanseníase, deve atuar no diagnóstico precoce das incapacidades motoras e
neurológicas, bem como na aplicação de recursos terapêuticos voltados a
reabilitação, além de educação em saúde [11].
Com base nos artigos
selecionados nesta revisão, é possível identificar modalidades da Fisioterapia
aplicadas aos casos específicos em pacientes com hanseníase, conforme descrito
a seguir.
No estudo I, os
autores, com base em revisão bibliográfica, apresentam intervenções fisioterapêuticas
para o tratamento de úlceras plantares causadas pela hanseníase. Reconhece-se
que tais lesões são secundárias ao comprometimento do nervo tibial posterior –
o principal acometido pelo bacilo de Hansen. Entre os recursos e/ou modalidades
de tratamento aplicadas estão: Massagem Manual Superficial, Radiação
Infravermelha, Radiação ultravioleta, Terapia ultrassônica, Laserterapia de
baixa intensidade e Eletroestimulação pulsada de baixa e alta voltagem.
A Fisioterapia tem
como objetivo principal nos processos ulcerativos, a redução no período de
cicatrização destes possibilitando aos indivíduos um retorno mais rápido às
suas atividades sociais e de vida diária trazendo uma melhora na qualidade de
vida de pessoas portadoras de úlceras cutâneas [3].
Em relação ao estudo
II, os autores desenvolveram a investigação junto a pacientes com sequelas de
hanseníase, nos quais aplicaram duas intervenções: Facilitação Neuromuscular
Proprioceptiva (FNP) (no grupo de estudo/intervenção); Alongamento Estático
Passivo (AEP) (no grupo controle).
Após a avaliação
final dos pacientes inclusos na pesquisa concluíram que a FNP melhora a
amplitude de movimento do tornozelo. Sendo método eficaz para ganho de
alongamento muscular e amplitude de movimentos do tornozelo e pulso.
Nos estudos IV e V,
foram aplicadas as seguintes modalidades de Fisioterapia [12,13]: Técnica de
Mobilização Neural (no grupo de estudo/intervenção) e Tratamento convencional,
através de exercícios de flexibilidade e de fortalecimento, com uso de
exercitadores de tornozelo ou recursos de eletroterapia (grupo controle). Os
resultados evidenciaram maior impacto positivo da técnica de mobilização neural
no alívio da dor, na função eletromiográfica e nos níveis de força muscular, reduzindo
grau de incapacidade.
Nestes termos,
pode-se assegurar que a técnica de mobilização neural representa uma opção de
tratamento não farmacológico para reduzir o grau de incapacidade e dor,
promovendo melhoria da qualidade de vida de pessoas com hanseníase.
Educação
em saúde voltada para o autocuidado
Somente o estudo III
sinaliza a atuação do fisioterapeuta no âmbito da educação em saúde voltada ao
autocuidado. Contudo, não relata a sua participação no desenvolvimento de ações
desta natureza, apenas avalia o impacto da utilização de um manual de autocuidado
no acompanhamento de pacientes com hanseníase. Tal situação indica que ainda é
tímida ou insipiente a prática deste profissional voltada à promoção da saúde.
Entende-se que as
ações de promoção da saúde podem ser desenvolvidas por qualquer profissional
integrante da equipe de saúde. Nesse contexto, deve-se ponderar que a concepção
de promoção da saúde sofreu mudanças no decorrer das últimas décadas. Assim,
partiu-se de uma concepção centrada nas ações voltadas às mudanças de hábitos e
comportamentos, pautadas nos aspectos biológicos do processo saúde-doença, para
a compreensão de promoção da saúde como um modo de interpretar as necessidades
cotidianas de saúde da população numa perspectiva coletiva e que compreende a
saúde como produção social, destacando a importância dos determinantes
socioeconômicos. Essa perspectiva reafirma o compromisso político quanto à
necessidade de atuar sobre os fatores biológicos, sociais, econômicos e
ambientais, a fim de desenvolver transformações sociais [14].
Assim, deve-se
entender que o trabalho em hanseníase deve ser compreendido como um processo
dinâmico e contraditório, o qual se articula a outras atividades do setor saúde
e da sociedade, transformando-se no atendimento das necessidades sociais de saúde
da população. Por conseguinte, o processo de trabalho, dentro das suas
dimensões técnicas e sociais, constitui-se a temática da tecnologia em saúde,
particularmente aquela voltada à eliminação da hanseníase enquanto área
estratégica de atuação do SUS [15].
Ao demarcar a atuação
do fisioterapeuta no tratamento da hanseníase como objeto de estudo, viabilizou
uma melhor compreensão acerca da temática. Nesse sentido, foi possível
caracterizá-la como uma doença infectocontagiosa, crônica, de curso lento, com
baixa gravidade e elevada magnitude, representando um sério problema de saúde
pública.
A hanseníase está
inclusa no grupo das doenças tropicais negligenciadas, segundo classificação da
Organização Mundial de Saúde, sendo endêmica no território brasileiro, onde a
região da Amazônia Legal apresenta taxas de detecção e de prevalência
preocupantes. Suas manifestações neurológicas acarretam, quando não há
intervenção precoce, deformidades e incapacidades que repercutem na vida dos
indivíduos, privando-os das atividades laborais e até mesmo da vida social, em
decorrência do estigma e discriminação. Porquanto, o seu quadro clínico requer
um tratamento em que haja intervenção de equipe multiprofissional incluindo o
fisioterapeuta. Este deverá atuar com intervenções que vão do diagnóstico
clínico e funcional até à reabilitação.
Reconhecendo as
possibilidades de tratamento, buscou-se descrever as modalidades de
Fisioterapia aplicadas aos indivíduos em tratamento de hanseníase, com base na
produção científica brasileira. O levantamento bibliográfico permitiu perceber
que há uma vasta produção acadêmica sobre a hanseníase no referente aos
aspectos epidemiológicos, como perfil dos pacientes, fatores associados e suas
complicações, processos diagnósticos e resultados de tratamentos, além de
dimensões clínicas. Contudo, no que se refere à atuação do fisioterapeuta nesse
campo visualizou-se uma lacuna, representada por escassa divulgação em
periódicos científicos de estudos nessa temática. Além disso, o maior volume de
artigos e outros manuscritos remontam as décadas de 1970 e 1980.
Diante desse achado,
tornou-se imperativo a ampliação da busca para varias bases de dados, além da
inicialmente selecionada, a Scielo. Assim, procedeu-se levantamento para a
Lilacs, a Medline e o Portal de Periódicos da CAPES. Tornou-se premente, ainda,
ampliar o período de busca na tentativa de encontrar maior volume de
publicações, o qual se estendeu de 2003 a 2012.
A aplicação dos
critérios de inclusão e exclusão definidos no estudo permitiu a inclusão apenas
6 artigos como material de análise desta revisão. No
processo de caracterização dos artigos constatou-se que em todos os estudos há
na autoria profissionais de Fisioterapia, o que
atendeu aos critérios de inclusão; a maioria adotou como delineamento
metodológico o ensaio clínico; dos seis manuscritos, 04 (66,6%) foram
divulgados em periódicos específicos da Fisioterapia, indexados e qualis na
área da Saúde Coletiva, conforme critérios da CAPES.
Em relação ao período
há um lapso temporal de cinco anos sem publicações, ou seja, encontrou-se uma
publicação em 2003 e as demais entre 2008 e 2012. Além disso, há regiões do
Brasil, como a Norte, por exemplo, que não há pesquisas publicadas na área.
Assim, considera-se que existe uma quantidade limitada de evidências
científicas, principalmente com publicações no Brasil, para que se estabeleça
posicionamento definitivo sobre a atuação da Fisioterapia na hanseníase,
através de ações dirigidas à população acometida por tal enfermidade.
Apesar desta
limitação é possível considerar que este constitui um campo de intervenção do
fisioterapeuta, sendo possível instrumentalizar sua prática profissional em
conjunto de testes e avaliações diagnósticas, no sentido de detectar e prevenir
complicações. Além disso, foi evidenciado a disponibilidades de diferentes
recursos e técnicas terapêuticas que aplicadas adequadamente permitem tratar e
reabilitar os pacientes em tratamento de hanseníase.
Não obstante,
reconhece-se que ainda se faz necessário investir no desenvolvimento de
pesquisa e inovação que permitam a construção de novas evidências cientificas
que balizem a atuação do fisioterapeuta junto a esse grupo populacional com
maior qualidade e resolutividade no tratamento. Contudo, acredita-se que este
estudo conseguiu sistematizar o conhecimento já produzido na temática em
questão, que pode subsidiar a atuação profissional, bem como o desenvolvimento
de novos projetos de pesquisa sobre a atuação da Fisioterapia na hanseníase.
Recomenda-se
a
realização de pesquisas na área da Fisioterapia,
visto que se trata de uma
enfermidade milenar, em que a Fisioterapia pode contribuir
significativamente
para a redução dos indicadores epidemiológicos da
doença em foco, mediante sua
atuação na promoção da saúde,
prevenção de doenças e tratamento e
reabilitação
dos enfermos.