ARTIGO
ORIGINAL
Quedas
e frequência de internação e mortalidade em idosos no Brasil e Rio Grande do
Sul
Falls and rate of hospitalization and mortality of elderly in Brazil and
Rio Grande do Sul
Ana Paula Ziegler
Vey, Ft*, Jéssica Franco Dalenogare**, Alyssa Conte da Silva, Ft***, Cláudia
Mirian de Godoy Marques, D.Sc.****
*Mestranda
em Gerontologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa
Maria/RS,**Estetocosmetóloga (ULBRA), mestranda em Farmacologia pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, ***Mestranda em
Fisioterapia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC),
Florianópolis/ SC,***Professora Adjunta, Departamento de Ciências da Saúde
(DCS), Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (CEFID), Universidade do Estado
de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis/ SC
Recebido em 20 de
setembro de 2015; aceito em 7 de dezembro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Cláudia Mirian de Godoy Marques, Universidade do Estado de Santa Catarina –
UDESC – CEFID, Rua Paschoal Simone 358, 88080-350 Florianópolis SC, E-mail:
claudia.marques@udesc.br, Ana Paula Ziegler Vey: aninhaziegler@hotmail.com;
Jéssica Franco Dalenogare: jessicafrancodalenogare@yahoo.com.br; Alyssa Conte
da Silva: alyssa.conte@hotmail.com
Resumo
Introdução: O envelhecimento
causa perda de equilíbrio e alterações na massa muscular e óssea, aumentando o
risco de quedas. Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar a taxa de
internações e a taxa de mortalidade por quedas em idosos no Estado do Rio
Grande do Sul (RS) e no Brasil. Material
e métodos: Pesquisa descritiva retrospectiva baseada na coleta de
informações a partir do Banco de Dados e Estatísticas do
Portal on-line no Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de Políticas
do Idoso (SISAP), correspondentes aos dados cadastrais dos anos de 2009-2011,
levando em conta a última atualização do site. A amostra foi composta
por idosos de ambos os sexos (maiores de 60 anos), residentes no Estado do Rio
Grande do Sul e no Brasil, que foram entrevistados e cadastrados no censo do
IBGE. Resultados: A partir desta
pesquisa foi possível evidenciar as tendências de aumento no número de
internações e óbitos de idosos por quedas, tanto no estado no RS quanto no
Brasil. Conclusão: Idosos estão sendo
acometidos por quedas, que são associadas ao aumento progressivo de óbitos.
Dessa forma, ações e adaptações são recomendadas para prevenção de tais
eventos.
Palavras-chave: acidentes por
quedas, idoso, Fisioterapia.
Abstract
Introduction: Aging causes loss of balance and changes in muscle and bone mass,
increasing the risk of falls. Objective: The aim of this study was to evaluate
the rate of hospitalization and mortality caused by falls in the elderly in the
State of Rio Grande do Sul (RS) and Brazil. Methods: Retrospective descriptive study
based on gathering information from the database and Portal statistics online
of Health Indicators System and the Senior Policy Monitoring (SISAP),
corresponding to the registration data for the years 2009-2011, taking into
account the last update of the site. The sample consisted of elderly men and
women (over 60 years) living in the State of RS and in Brazil, who were
interviewed and registered in the IBGE census. Results: Based on this research, we observed a significant
increasing trend in the number of hospitalizations and deaths from falls of
elderly, both in the State of RS and Brazil. Conclusion: Senior citizens are affected by falls associated to
progressive increase of death. Thus, actions and adjustments are recommended
for prevention of such events.
Key-words: accidental
falls, elderly, Physical Therapy Specialty.
Estimativas para os
próximos 20 anos indicam que a população idosa poderá exceder 30 milhões de
pessoas ao final deste período, chegando a representar quase 13% da população
total do Brasil [1]. Com base nessa avaliação, estudar o envelhecimento
tornou-se não só uma curiosidade, mas também uma necessidade devido ao aumento
da população idosa, suas doenças, suas necessidades e suas peculiaridades.
O envelhecimento pode
ser compreendido como um conjunto de alterações estruturais e funcionais
desfavoráveis do organismo que se acumulam de forma progressiva,
especificamente em função do avanço da idade [2]
Durante a fase de
envelhecimento, fatores biológicos, doenças e causas externas podem influenciar
a forma em que este processo ocorre. Um dos concomitantes do envelhecimento são
as quedas. De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), a
queda constitui uma causa externa. O tema é muito discutido pela gerontologia e
uma fonte de preocupação aos pesquisadores dessa área, principalmente quando
pessoas denominam esse evento como sendo normal e próprio do processo de
envelhecimento [3].
Desse modo a queda
pode ser definida como um deslocamento não-intencional
do corpo para um nível inferior à posição inicial, com incapacidade de correção
em tempo hábil, determinado por circunstâncias multifatoriais que comprometem a
estabilidade [4]. Constitui assim a principal causa de morbidade e mortalidade
entre os adultos mais velhos [5]. Fraturas estão associadas a essas, que por
sua vez levam a internações hospitalares prolongadas, aumentando a taxa de
mortalidade. A mortalidade após uma fratura de quadril, por exemplo, é de
aproximadamente de 20% [6].
Com base no exposto,
o objetivo deste estudo foi avaliar a taxa de internações e a taxa de
mortalidade de quedas em idosos no estado do Rio Grande do Sul e no Brasil.
Trata-se de uma
pesquisa descritiva retrospectiva desenvolvida no segundo semestre de 2014 ao
primeiro semestre de 2015. O percurso metodológico apresentou, primeiramente, a
coleta de informações a partir do Banco de Dados e
Estatísticas do Portal on-line no Sistema de Indicadores de Saúde e
Acompanhamento de Políticas do Idoso (SISAP) [7], correspondentes aos dados
cadastrais dos anos de 2009-2011.
Para a obtenção das
informações relativas ao momento da coleta, foram desenvolvidas as seguintes
etapas: acesso ao site do SISAP http://www.saudeidoso.icict.fiocruz.br/. Em
seguida, essa busca orientada incluiu como critério de identificação e seleção
dos indicadores para compor este estudo as palavras: “idosos”; “quedas”; “taxa
de internações”; “taxa de mortalidade”; “Rio Grande do Sul”; “Brasil”.
Os dados foram
agrupados em três anos: 2009, 2010 e 2011. Ressalta-se
que não foram realizadas buscas com anos mais atuais devido ao site ainda não
ter atualizado estes dados do IBGE.
A amostra foi
composta por idosos de ambos os sexos (maiores de 60 anos), residentes no
estado do Rio Grande do Sul e no Brasil, que foram entrevistados e cadastrados
nos sensos do IBGE.
Como se trata de
relato de experiência cujos dados encontram-se disponíveis ao domínio público,
este estudo dispensa submissão a um Comitê de Ética em Pesquisa em Seres
Humanos. Todavia, as pesquisadoras seguiram todos os preceitos éticos
necessários para a análise e divulgação dos dados da pesquisa.
A partir dos dados
apurados, evidenciou-se uma tendência de crescimento nos números de internações
de idosos por quedas, tanto no Brasil, quanto no estado do RS separadamente. No
Brasil durante o ano de 2009 foram evidenciadas 69.880 internações. No ano de
2010 o número aumentou para 81.293 e finalizou em 2011 com 85.945 internações
(Figura 1).
No estado do RS em
2009 foram registradas 4.638 internações de idosos por quedas. Esse número
também aumentou de forma crescente nos anos seguintes, estando com 6.029
internações em 2010 e com 6.829 em 2011 (Figura 1).
Figura
1 - Número de internações de idosos por quedas
no Brasil e no RS.
Outro fato constatado
foi um aumento crescente na mortalidade de idosos por quedas nos anos
analisados. No ano de 2009, no Brasil, foram registrados 6.243 óbitos; no ano
de 2010 esse número cresceu para 7.427; e no ano de 2011 para 7.722. (Figura
2).
No RS esta tendência
no aumento da mortalidade de idosos por quedas, embora mais discreta, também
foi evidenciada. Em 2009 ocorreram 391 óbitos de idosos pela causa descrita. Já
em 2010 foram 398 óbitos e em 2011 foram 502 (Figura 2).
Figura
2 - Número de mortalidade de idosos por quedas
no Brasil e RS.
O estudo também
demonstra a relação crescente de internações e mortalidade de idosos por quedas
no Brasil, separadamente. No ano de 2009 foram internados 69.880 idosos por
quedas e destes, 6.243 foram a óbito. Em 2010, foram registradas 81.293
internações, e destas, foram evidenciadas 7.427 mortes. No ano de 2011 a
tendência crescente continuou, havendo 85.945 internações e 7.722 óbitos
(Figura 3).
Figura
3 - Relação entre internações e mortalidade de
idosos por quedas no Brasil.
No RS, também foi
evidenciado um aumento crescente nos números de internações e mortalidade de
idosos por quedas. Em 2009 foram registrados 4.638 internações e 391 óbitos. Em
2010, o número de internações elevou-se para 6.029 e no número de óbitos houve
um discreto aumento, sendo finalizado com 398. Já em 2011 o número de
internações aumentou para 6.829 e de óbitos para 502 (Figura 4).
Figura
4 - Relação entre internações e mortalidade de
idosos por quedas no RS.
O envelhecimento
causa perda de equilíbrio e alterações na massa muscular e óssea, resultando em
maior probabilidade de quedas [8].
No presente estudo
foi possível verificar um aumento no número de internações por quedas no Brasil
e no RS, separadamente. Um estudo realizado por Reyes Ortiz et
al. [9] mostrou que a prevalência de quedas tem uma grande variação de acordo
com os países investigados. Na cidade de Bridgetown, capital de Barbados, as
quedas corresponderam a 21,6% e 34,0% em Santiago, capital do Chile. Naquele
mesmo estudo, a cidade de Montevidéu apresentou uma prevalência de quedas entre
idosos de 27,0%.
Para esses eventos
algumas causas são apontadas. Fatores como sexo feminino, função neuromuscular
prejudicada, história prévia de quedas, prejuízos psicocognitivos,
polifarmácia, uso de benzodiazepínicos, presença de ambiente físico inadequado,
incapacidade funcional e hipotensão postural conspiram para um risco maior de
quedas. [10].
Outro fator que pode
influenciar o número de quedas em idosos está relacionado com o uso de
medicamentos, constituindo um fator de risco tanto para quedas quanto para a
ocorrência de fraturas. Em uma revisão sistemática objetivou-se analisar
estudos brasileiros publicados que faziam a relação do uso de medicação como um
fator de risco para quedas ou fraturas em idosos. Do total de 340 artigos
apresentando dados sobre prevalência, incidência e fatores de risco associados
à medicação e cair ou cair relacionadas com fraturas, apenas 6
estudos farmacoepidemiológicos foram examinados, porque eles foram conduzidos
especificamente em amostras brasileiras. As principais classes de medicamentos
associados ao aumento do risco de quedas foram antidepressivos, sedativos,
ansiolíticos e diuréticos [11].
Elevados números de
quedas com consequente números de internações se dão com frequência nos idosos,
uma vez que nesse período da vida as reações reflexas estão comprometidas
devido ao declínio lento e progressivo dos sistemas nervoso e muscular. As
respostas dos idosos quanto à velocidade e à precisão são mais lentas e, ao se
desequilibrarem, atrasam-se na seletividade dessas respostas, inibindo as
reações automáticas de equilíbrio. Para contrabalançar os efeitos do
desequilíbrio, utilizam reações de proteção com pequenos passos, como se
andassem em busca do seu centro de gravidade, sem efetivamente conseguir
alcançá-lo. O idoso, frente aos obstáculos, não levanta os pés o suficiente
durante a marcha, pois há limitação da amplitude de movimentos dos pés e
diminuição da força muscular, aumentando a probabilidade de tropeçar e cair
[12].
Com as quedas, a
fratura do fêmur proximal é a causa mais comum e importante de mortalidade e
perda funcional [13,14]. É mais comumente relacionada com idosos moradores nas
áreas urbanas, de sexo feminino e institucionalizados
[15,16]. O histórico prévio de fraturas, ao lado de mais cinco outras variáveis
(sexo feminino, morar só, pouca atividade física, posicionamento em altura e
problemas visuais), fazem parte do perfil de risco
para quedas que tem como resultado uma fratura [17-19].
Além das quedas
causarem altos índices de internações com possíveis perdas funcionais, ainda
podem ser causas de morte. O presente estudo revelou aumento na mortalidade de
idosos por quedas no Brasil e no estado do RS, porém neste último de maneira
mais sutil.
Comorbidades também
aumentam o risco de queda ou fratura, tais como hipotensão postural, doença de
Parkinson, diabetes, osteoporose, acidente vascular cerebral ou deficiências
cognitivas. Outros fatores de risco, como, por exemplo, incontinência
urinária, deficiência visual, consumo de álcool e calçado devem ser
avaliados [20].
Para redução do
número de quedas entre idosos algumas ações são recomendadas. Indivíduos que
apresentam prejuízo da marcha ou equilíbrio, a opção mais segura é usar sapatos
de lona [21]. Ainda, sob condições de umidade do chão,
utilizar sapatos antiderrapantes, uma vez que esses têm mostrado reduzir quedas
e, portanto, são recomendados aos idosos que estão andando ao ar livre durante
condições climáticas não favoráveis [22].
Quanto às adaptações
nas residências: retirar tapetes soltos, instalar corrimãos nas escadas e
faixas nas bordas dos degraus; providenciar iluminação adequada para a noite
(principalmente nas escadas e nos corredores). No banheiro, instalar barras de
apoio próximas à banheira, ao chuveiro e ao vaso sanitário, tapetes
preferencialmente devem ser antiderrapantes, entre outros cuidados. Além disso,
o ideal relatado nos estudos é a prática de exercício físico o qual inclui três
níveis de abordagem: primária, secundária e terciária. Em sua abordagem
primária, a prática regular do exercício físico pode prevenir o surgimento de
diferentes doenças e deficiências que podem levar a incapacidades e a maior risco para quedas. No nível secundário, a finalidade
é retardar a progressão da deficiência causada pela doença. No nível terciário,
o objetivo reside na restauração da funcionalidade para um nível que permita
maior autonomia possível no desempenho das atividades cotidianas, para aqueles
idosos que tenham atingido um nível de comprometimento que não possa ser revertido
[23,24].
A partir desta
pesquisa descritiva retrospectiva é possível evidenciar as tendências de
aumento no número de internações e óbitos de idosos por quedas, tanto no estado
do RS como no Brasil. A correlação dos números mostra que, seguido do aumento
de internações, há o aumento de óbitos pela causa descrita. Ou seja, mais
idosos estão sendo acometidos por quedas, da mesma forma que, cada vez mais,
também estão indo a óbito por esse motivo.
Esses dados são de
extrema relevância para pesquisadores da área da gerontologia e saúde do idoso,
apontando a importante necessidade na atenção a internações e óbitos por causas
evitáveis, como a queda. Além disso, se faz interessante e fundamental um
planejamento na prevenção de quedas e tratamento especializado para
circunstâncias oriundas desta.