RELATO
DE CASO
Avaliação
da força muscular do assoalho pélvico em profissionais do sexo na cidade de
Fortaleza/CE
Assessment of muscle strength of pelvic floor in sex
workers in the city of Fortaleza/CE
Maria Mercês Miranda
Barbosa de Souza, Ft.*, Thiago Brasileiro de Vasconcelos**, Juliana Lerche
Vieira Rocha Pires***, Raimunda Hermelinda Maia Macena****, Vasco Pinheiro
Diógenes Bastos*****
*Centro
Universitário Estácio do Ceará, Fortaleza/CE,**Mestrando em Farmacologia pela
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza/CE,***Docente do Centro Universitário
Estácio do Ceará, Fortaleza/CE,****Enfermeira, Docente da Universidade Federal
do Ceará, Fortaleza/CE,*****Docente do Centro Universitário Estácio do Ceará,
Fortaleza/CE
Recebido em 15 de
novembro de 2016; aceito em 7 de dezembro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Vasco Pinheiro Diógenes Bastos, Rua Monsenhor Catão, 1200/502, 60175-000
Fortaleza CE, E-mail: vascodiogenes@yahoo.com.br, Maria Mercês Miranda Barbosa
de Souza: mamercesdesouza@yahoo.com.br; Thiago Brasileiro de Vasconcelos:
thiagobvasconcelos@hotmail.com; Juliana Lerche Vieira Rocha Pires:jharmonia@gmail.com;
Raimunda Hermelinda Maia Macena: lindamacena@gmail.com
Resumo
Este estudo teve como
objetivo geral avaliar a força muscular do assoalho pélvico nas profissionais
do sexo na cidade de Fortaleza/CE. O presente estudo foi realizado no
Laboratório de Diagnóstico e Tratamento do Centro Universitário Estácio do
Ceará. A amostra foi selecionada a partir das profissionais do sexo cadastradas
na Associação das Prostitutas do Ceará, sem fixação de idade e que de forma
voluntária aceitaram participar da pesquisa. A amostra constituiu-se de 6 mulheres com média de idade de 33,83 (± 3,03) anos.
Evidenciamos que 100% das profissionais do estudo contraíam a musculatura
vaginal de forma simétrica. Durante a avaliação da palpação bidigital 50% da
amostra apresentou grau 5 com um tempo médio de
contração de 12 (± 2,86) segundos. Na avaliação utilizando o perineômetro, os
valores médios foram: 29,16 ± 4,16 cm H2O na contração de repouso;
36 ± 5,37 cm H2O contração das fibras tipo I e 45 ± 6,70 cm H2O
fibras tipo II. Ao se verificar o tempo de contração com o perineômetro,
constatou-se que 33% contraíam entre 20 e 30 segundos e 33% ≤ a 10 segundos, com média de contração de 19 (± 5,27)
segundos. Concluímos que as profissionais do sexo pesquisadas possuem boa força
de contração e sustentação muscular do assoalho pélvico, e isto foi evidenciado
tanto pela palpação bidigital como pelo uso do perineômetro, em que a maioria
das pesquisadas apresentaram valores condizentes com o padrão de normalidade.
Palavras-chave: diafragma pélvico,
avaliação em saúde, profissionais do sexo.
Abstract
This study aimed to assess the muscle strength of the pelvic floor in
sex workers at the city of Fortaleza/CE. This study was conducted at the
Laboratory for Diagnosis and Treatment Center, University Center Estácio of Ceará. The sample was
selected among sex workers registered with the Association of Prostitutes of Ceará, without fixing age and who voluntarily agreed to
participate. The sample consisted of 6 women, with a mean of age of 33.83 (±
3.03) years old. It was evidenced that 100% of the professionals contracted the
vaginal muscles in a symmetrical way. During assessment by bidigital
palpation 50% showed degree 5 and mean time of contraction of 12 (± 2.86)
seconds. In the assessment using the perineometer the
mean values were 29.16 ± 4.16 cm H2O in rest contraction, 36 ± 5.37
cm H2O contraction of type I fibers and 45 ± 6.70 cm H2O
type II fibers. While determining the contraction with the perineometer,
we found that: 33% contracted between 20 and 30 seconds and 33% ≤ 10
seconds, with a mean contraction of 19 (± 5.27) seconds. We concluded that the
sex workers surveyed have adequate force of contraction and support of the
pelvic floor muscles, and this was evidenced both by bidigital
palpation and perineometer, where majority presented
values
consistent with the normal
pattern.
Key-words: pelvic
floor, health evaluation, sex workers.
O prazer sexual
depende basicamente do atrito entre o pênis e o canal vaginal, gerado pela
pressão da musculatura do assoalho pélvico (MAP) sobre o pênis, o que diminui
com o passar dos anos. Com essa musculatura enfraquecida, ocorre a diminuição
desse atrito, reduzindo, assim, o prazer sexual, tanto da mulher quanto do
parceiro [1].
A MAP tem por
objetivo realizar a sustentação e suporte dos órgãos internos, principalmente o
útero, a bexiga e o reto e proporcionar ação esfincteriana para a uretra, a
vagina e o reto, controlando a saída de urina, fezes e gazes, além da função
sexual, na contração durante o ato, aumentando as sensações vaginais, e
permitir a passagem do feto, por ocasião do parto [1-3].
Segundo alguns
autores [4-6] aproximadamente 40% das mulheres não executam corretamente a
contração do assoalho pélvico, além disso, cerca de 50% das mulheres não
procuram auxílio médico, mascarando um problema constrangedor, com perdas
involuntárias de urina, gazes ou fezes de diversos graus, momentâneas ou não
[7-8]. Além da diminuição significativa e progressiva do prazer sexual da
mulher, como no caso das profissionais do sexo.
As profissionais do
sexo têm como o principal instrumento de trabalho o assoalho pélvico, sendo
assim, sofrem um grande risco, pois se tornam expostas a adquirir as doenças
sexualmente transmissíveis (DST), Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS)
e violência sexual, além de outras patologias tais como: infecções frequentes
do trato urinário, corrimento vaginal e retal ocasionados pelo enfraquecimento
da MAP [9-10].
A necessidade desse
trabalho surgiu no interesse de verificar a força da musculatura do assoalho
pélvico em um grupo de profissionais que possui a mesma como instrumento de
trabalho. A partir deste estudo as profissionais do sexo poderão conhecer a
relação entre atividade sexual e a musculatura do assoalho pélvico, tendo como
premissa o favorecimento da conscientização e informação para as mesmas, fase
essencial da reeducação perineal.
Assim, o objetivo
desse estudo foi avaliar a força muscular do assoalho pélvico nas profissionais
do sexo na cidade de Fortaleza/CE e relacionar a atividade sexual ou prazer ao
grau de força da musculatura do assoalho pélvico do grupo de estudo.
A metodologia do
trabalho consistiu em um estudo de casos, de caráter descritivo, exploratório e
transversal com estratégia de análise quantitativa dos resultados.
O presente estudo foi
realizado na Unidade de Reabilitação dos Distúrbios do Assoalho Pélvico
(UREDAPE), projeto de responsabilidade social do Centro Universitário Estácio
do Ceará, Fortaleza/CE, durante o período de fevereiro a abril de 2008 conforme
aprovação pelo comitê de ética em pesquisa do Centro Universitário Estácio do
Ceará (Protocolo nº: 121/07).
Foram incluídas as
profissionais do sexo com capacidade mental absoluta (compreendiam as
perguntas, não apresentaram déficit de memória e não estavam sob
efeitos de substâncias psicoativas), sem fixação de idade, raça,
escolaridade ou status socioeconômico, as quais apresentaram situação conjugal
solteira, cadastradas na Associação das Prostitutas do Ceará (APROCE) e que
aceitaram participar voluntariamente da pesquisa mediante a assinatura do termo
de consentimento livre e esclarecido.
Foram excluídas as
profissionais do sexo apresentando situação conjugal casada, que tiveram filhos
e que não aceitaram participar da pesquisa mediante a recusa da assinatura do termo
de consentimento livre e esclarecido. Além disso, não fizeram parte do estudo
as profissionais portadoras de sequelas neurológicas, diabetes, hipertensão,
doença do colágeno, fibromialgia, patologias inflamatórias, infecção
ginecológica ou urinária, lesões irritativas, escoriações, eritemas ou qualquer
ocorrência que interfira direta ou indiretamente na pesquisa.
Inicialmente foi
realizada uma visita à APROCE onde foi feita uma escolha aleatória das
profissionais do sexo cadastradas nesta associação que se enquadravam nos
critérios de inclusão. Em seguida, foi obtido o contato com a população em
estudo para fins de esclarecimento dos objetivos da pesquisa e convidá-las a
participar da mesma, de forma voluntária, e após terem aprovado sua
participação, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Foi utilizada uma
ficha de avaliação que continha espaço para o registro dos dados pessoais, um
questionário estruturado com perguntas relacionadas ao assunto desta pesquisa
(média de parceiros por dia; presença de prazer sexual durante as relações e
orgasmos; apresenta perda urinária, fecal, flatos; já adquiriu algum tipo de
DST; utiliza preservativo para prevenção de DST) e orientação para o exame
físico que foi realizado na UREDAPE.
A variável de estudo
foi avaliada por meio de exame físico, de inspeção e mensuração da contração
dos MAP e da avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA) a partir do toque
bidigital [11] utilizando a tabela de Oxford (1- esboço de contração muscular
não sustentada; 2 - contração muscular de pequena intensidade com sustentação;
3 - presença de contração com pequena elevação da parede vaginal posterior; 4 -
contração satisfatória; 5 - contração forte) 1,11 e perineômetro (PERI) de
pressão [12-14] marca PeritronTM®
(Austrália), que
avalia a pressão da contração muscular do Assoalho
Pélvico (AP) em cmH2O (0 –
não há indicação numérica; 1 –
contração leve, com indicação
numérica nos
intervalos de 1,6 a 16,0 cm H2O; 2 – contração moderada, não
sustentada por seis segundos, nos intervalos de 17,6 a 32,0 cmH2O e
3 – contração normal sustentada por seis segundos, no intervalo de 33,6 a 46,4
cm H2O).
A aferição da força
muscular do assoalho pélvico foi realizada em salas individuais, na posição
ginecológica adaptada para o teste, obedecendo à padronização (decúbito dorsal,
quadris abduzidos, joelhos fletidos e pés apoiados). A examinadora introduziu
os dedos indicador e maior na genitália da paciente, solicitando que contraísse
e relaxasse e, após um breve repouso, mantivesse a contração da vagina ao redor
dos dedos da examinadora, evitando contrair a musculatura glútea, abdominal e
anal, até seis segundos [15,16].
Para coleta dos dados
quantitativos foi seguido o protocolo de Beuttenmüller et al. [3]: Decorridos cinco minutos, foram colhidos os dados
relacionados ao tônus e à pressão da contração muscular do AP através de um
perineômetro, introduzindo-se uma sonda intracavitária vaginal recoberta por
preservativo não lubrificado. Inicialmente, o aparelho registrava pressão
aproximada de 10 cmH2O para mensurar tônus
de repouso; em seguida, a pressão foi zerada, e aumentada a superfície de
contato do MAP, com intuito de melhor reproduzir a variação entre o estado de
repouso e a contração. Após este procedimento o aparelho foi zerado, estando
apto para o início do teste. Foram avaliadas tanto as fibras de contração
rápida (Fibras II) quanto a lenta (Fibras I) paras
ambos os testes.
Os dados foram
submetidos à estatística inferencial através do programa SigmaPlot
versão 11.0.
A amostra foi
constituída por seis mulheres, estado civil solteira, sendo 50% (n = 3) de cor
branca e 50% (n = 3) de cor morena. As mulheres pertenciam a uma variação da
idade de 25 a 43 anos obtendo uma média de 33,83 (± 3,32) anos, exercendo
exclusivamente a atividade de profissional do sexo.
Quando questionadas
sobre o tempo de profissão foi evidenciado que o tempo médio de trabalho foi de
13,33 (± 2,82) anos de serviço. Em relação à presença de DST’s, todas as
profissionais que compuseram a amostra afirmaram que nunca haviam sido
acometidas por estas intercorrências. Quanto à utilização de preservativo
masculino 67% (n = 4) das mulheres questionadas responderam que sempre
utilizavam o mesmo desde que houvesse o consentimento do parceiro, enquanto que
33% (n = 2) disseram que às vezes utilizam.
Ao serem interrogadas
sobre a presença de orgasmo durante as relações sexuais encontramos que 83% (n
= 5) afirmaram sentir orgasmo, em relação ao prazer sexual durante as relações
50% (n = 3) da amostra afirmaram que sentiam prazer e 50% (n = 3) sentiam
prazer às vezes.
Em relação à perda
urinária, fecal e flatos intestinal/vaginal um percentual de 33% (n = 2)
afirmaram que possuem, sendo apenas perda de flatos vaginal em determinadas
posições sexuais e 67% (n = 4) destacaram que não havia nenhum outro tipo de
perda.
Durante a entrevista
foram feitas algumas considerações pelas profissionais nas quais se destacou
que todas as entrevistadas realizam acompanhamento ginecológico, 33% (n = 2)
afirmaram sentir prazer com parceiro carinhoso, a
mesma proporção afirmou que sentiam prazer com o primeiro cliente (Tabela I).
Tabela
I - Distribuição dos dados de acordo com as
considerações realizadas pela amostra.
N = Número de sujeitos
e F = Frequência relativa.
Durante o exame de
inspeção no grupo em estudo foi evidenciado que 100% (n = 6) da amostra não
apresentaram alterações como aderência, sensibilidade, cicatrizes internas,
dores na região e distopias na vagina. Ao serem examinadas em relação à
contração voluntária, 100% (n = 6) das profissionais do estudo contraíam a
musculatura vaginal de forma simétrica.
Durante a avaliação
da palpação bidigital 50% (n = 3) da amostra apresentou grau 5,
enquanto que 33% (n = 2) grau 3 e 17% (n = 1) realizou contração classificada
como grau 2.
Quanto ao tempo de
contração na palpação bidigital foi bem diversificado sendo agrupado em
intervalos de tempo: ≥ 20 segundos, entre 11 e 19 segundos e ≤ 10
segundos, obtendo-se um tempo médio de contração de 11,66 (± 3,13) segundos (Tabela
II).
Tabela
II -
Distribuição dos dados de acordo com o
tempo de contração na palpação bidigital.
Seg = segundos, N =
Número de sujeitos e F = Frequência relativa.
Na tabela III estão
relacionados os dados mensurados com o perineômetro na contração de repouso e
nas contrações das fibras Tipo I e II. Os parâmetros foram divididos em: ≥
a 40 cmH2O, entre 31 e 39 cmH2O e ≤
30 cmH2O. Os valores médios de contração foram: 29,16 ± 4,16 cmH2O no repouso; 36 ± 5,37 cmH2O
fibras tipo I e 45 ± 6,70 cmH2O fibras tipo II. A comparação entre
os grupos não apresentou diferenças estatisticamente significativas.
Tabela
III -
Distribuição dos dados de acordo com o
nível de contração de repouso, fibras tipo I e II através do uso do aparelho
perineômetro.
N = Número
de sujeitos e F = Frequência relativa.
Ao se verificar o
tempo de contração com o perineômetro, dividimos os intervalos em: contração
sustentada ≥ 30 a segundos; entre 20 e 30 segundos; entre 10 e 20
segundos e ≤ 10 segundos; obtendo-se um tempo médio de contração de 19 (±
5,76) segundos (Tabela IV).
Tabela
IV -
Distribuição dos dados de acordo com o
tempo de contração utilizando o aparelho perineômetro.
Seg = segundos, N =
Número de sujeitos e F = Frequência relativa.
Relacionado à
verificação de contração sinergista, evidenciou-se sua ausência em 67% (n = 4)
da população de estudo, 17% (n = 1) utilizaram a musculatura abdominal
adicionado com apneia no momento da contração e 17% (n = 1) fez uso da
musculatura abdominal com auxílio de adutores, glúteos e apresentou apneia.
Quanto ao questionamento
da compreensão dos exercícios perineais 33% (n = 2) das profissionais
apresentaram uma classificação boa e 67% (n = 4) uma classificação ótima de
compreensão.
A população estudada
foi classificada como sendo adultas jovens, que exercem exclusivamente a
atividade de profissional do sexo, com diversidade no número de parceiros por
dia, estando, portanto, sujeitas diariamente a disfunções sexuais pela
quantidade elevada de parceiros, no entanto, não foram observadas alterações na
força de contração dos MAP nas voluntárias pesquisadas.
Apesar de o presente
estudo ter sido de extrema importância para as profissionais do sexo, houve
muita dificuldade quanto à aceitação das mesmas, principalmente pelo motivo da
falta de conhecimento sobre o assunto em estudo, já que a musculatura do
assoalho pélvico é o seu principal instrumento de trabalho. Ao realizarem o
exame físico, passariam a ter uma noção básica sobre anatomia e funcionalidade
do corpo humano, além de prevenir o surgimento de patologias futuras e melhora
do desempenho sexual.
Outro ponto
importante não abordado no presente estudo foi relação entre idade, paridade,
tipos de via de parto, biótipo e sedentarismo, pois são alguns fatores que podem
influenciar a contração muscular do assoalho pélvico [2].
É importante destacar
que as mulheres pesquisadas nunca possuíram DST, porém, em relação à utilização
de preservativo masculino, 67% das mulheres questionadas responderam que sempre
utilizavam o mesmo desde que houvesse o consentimento do parceiro. Os dados
apresentados por Oliveira et al. [17] vêm ao encontro do presente
estudo, pois o preservativo masculino é utilizado como um método de prevenção
de DST/Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e proteção anticoncepcional, no
entanto, os autores destacam que existe uma limitação desse método para as
mulheres nas quais muitas encontram-se na dependência do uso pelo parceiro,
afetando o direito de livre escolha quando o mesmo não aceita utilizá-lo.
Oltramari e Camargo
[9] acrescentam que a incidência do HIV está aumentando no sexo feminino e que
as profissionais do sexo apresentam características próprias que necessitam de
maiores cuidados, devido a falta de acesso à rede de
atendimento social, bem como pela exclusão na qual as mesmas se encontram.
Nesse contexto
Benzaken et al. [18], que realizaram um estudo com
as profissionais do sexo no município de Manacapuru/AM, afirmaram que a
prevalência de DST é elevada (42,9%) nessa população, entretanto, esse achado
pode ser explicado pela idade precoce da sua população, pois ocorreu uma
variação de 12 a 54 anos, sendo assim, é sabido que as adolescentes são mais
vulneráveis para adquirir DST em comparação com as mulheres mais maduras.
Em relação à sensação
de orgasmo, a grande maioria das profissionais do sexo pesquisadas afirmou que
sentem orgasmo durante as relações sexuais, já em relação ao prazer sexual,
essa afirmação ficou divida, metade afirmou que normalmente sente e a outra
metade afirmou que somente às vezes sente prazer, e que o parceiro muitas vezes
influencia na sensação de prazer. Fato esse destacado por Menezes e Brito [19]
quando afirmam que a experiência do prazer sexual é muito variada no universo
feminino podendo vir ou não acompanhada pelo orgasmo, ou seja, a mulher para
ter sensações privadas de prazer sexual não necessariamente deverá experimentar
um orgasmo durante a relação sexual.
Todavia, Moreno [20]
afirma que o orgasmo é um clímax, um estado de graça, o qual pode ser atingido
após momentos de trocas afetivo-sexuais. Tem início no cérebro e, para
consegui-lo, a mulher precisa de uma forte excitação e também de um desejo de
se entregar a essas sensações e ao parceiro. Para Medeiros, Braz e Brongholi
[21], as mulheres possuem sexualidade mais difusa, uma vivência mais espiritual
e sensualidade maior que a genitalidade, entretanto, os homens possuem
sexualidade mais focalizada na genital e uma vivência mais objetiva.
Uma pequena parcela
da amostra estudada afirmou perceber flatos vaginais em determinadas posições
sexuais, indo ao encontro dos dados apresentados por Frade et al. [22], quando os mesmos destacam que os flatos vaginais são
gases que saem da vagina durante uma relação sexual e, dependendo da posição do
casal, há uma entrada maior de ar ocorrendo na penetração um barulho parecido
com o de ar comprimido. Isso acontece apenas em um número reduzido de mulheres
que apresenta maior tendência a produzir os sons.
Na avaliação
funcional do assoalho pélvico, todas as pesquisadas contraíam a musculatura
vaginal de forma simétrica com um tempo médio de contração de aproximadamente
12 segundos, e apenas uma das profissionais apresentou a contração classificada
como sendo de grau 2.
Medeiros et al. [21] e Baracho [1] destacam que
para que um estímulo efetivo, que pode ser tátil, visual, olfativo ou psíquico,
seja realmente adequado para a resposta sexual, a pessoa deve percebê-lo como
sendo bom e positivo e, havendo condições adequadas, a mesma decorrerá desse
estímulo.
Frade et al. [22] acrescentam que a palpação
bidigital é um método simples e barato, tendo por função em primeiro momento
uma observação das paredes vaginais e a integridade dos músculos do assoalho
pélvico onde é verificado a simetria, presença de cicatrizes, áreas atróficas
ou lacerações, além de avaliar a força e a funcionalidade dos músculos do
assoalho pélvico que dependem da contração muscular voluntária e da cooperação
da paciente, sendo necessário um conhecimento do terapeuta.
Em relação à
contração avaliada através do perineômetro, foi constatado nas profissionais
que existe uma maior predominância de força muscular das fibras tipo II,
entretanto, não foi observada diferenças estatísticas na força de contração
muscular entre os grupos repouso, fibras tipo I e tipo II.
Oliveira [23] e
Baracho [1] afirmam que o trabalho com as fibras musculares tipo I consiste na
manutenção das contrações. Essas fibras caracterizam-se por tônicas,
resistentes e de pouca fatigabilidade, possibilitando a medição da resistência,
sendo realizada uma contração mantida durante 10 a 20 segundos, com um tempo de
repouso de mesma duração. Baracho [1] acrescenta que o trabalho das fibras
musculares tipo II é realizado através de contrações isoladas, pois são fibras
potentes, mas que realizam contrações breves, possuindo pouca resistência e
grande fatigabilidade podendo-se quantificar o valor dessas contrações
utilizando contrações musculares rápidas e breves de 2 a 3 segundos, com um
tempo de repouso duas vezes maior do que o tempo de trabalho.
Bianco e Braz [24]
destacam que a força perineal mensurada através do cone, perineômetro e do
toque bidigital são equivalentes, e ainda acrescentam que são métodos
complementares eficazes como instrumentos de avaliação.
Segundo Arruda et al. [25], o biofeedback de pressão, ou
seja, o perineômetro é um aparelho utilizado para medir a intensidade das
contrações da musculatura do assoalho pélvico, fazendo com que a paciente possa
observar com precisão e evolução a sua capacidade de contração de acordo com os
parâmetros normais ou não. Possui a funcionalidade de exercitar a musculatura
vaginal além de outros benefícios para o assoalho pélvico.
Corroborando os dados
do presente estudo, Bianco e Braz [24] afirmam que existe uma correlação entre
um bom desenvolvimento muscular e a intensidade orgásmica. Mulheres com uma
pressão vaginal menor que 30 mmHg podem apresentar
disfunção sexual, o que não foi observado nas profissionais do sexo avaliadas
no presente estudo. Os mesmos autores destacam que a questão sexual desempenha
um papel fundamental na saúde e qualidade de vida tanto para o sexo feminino
como para o masculino.
A especialidade
Fisioterapia Urogineco-Funcional tem como premissa a prevenção, detecção e
tratamento das disfunções dos MAP [26]. Diversos estudos [3,14,27-30]
comprovam a eficácia do treinamento funcional dos MAP, na promoção da percepção
e consciência corporal da região pélvica, tonicidade e força muscular,
prevenindo, portanto, os problemas que surgem com o enfraquecimento destes
músculos, tendo influência direta na melhora da qualidade de vida.
É necessária a
avaliação, detecção precoce e tratamento das disfunções sexuais, pois elas
interferem diretamente na qualidade de vida, prazer sexual e socialização.
Apesar de serem bastante conhecidas, muitas disfunções deixam de ser
diagnosticadas, ou por inibição da paciente, que se sente constrangida e não
apresenta a queixa, ou pelo profissional que não as investiga [31].
Sugere-se a
elaboração de estudos com número maior de sujeitos, delineamento longitudinal
como forma de aprofundar as investigações acerca da influência da profissão na
musculatura do assoalho pélvico.
O estudo demonstrou
que as profissionais do sexo pesquisadas possuem boa força de contração e
sustentação muscular do assoalho pélvico, e isto foi evidenciado tanto pela
palpação bidigital como pelo uso do perineômetro, apresentando, a maioria das
pesquisadas, valores condizentes com o padrão de normalidade.