REVISÃO
Avaliação
da força muscular, da atividade muscular e das alterações metabólicas de
amputados transtibiais
Assessment of muscle strength, muscle activity and metabolic changes of
patients with transtibial amputation
Bruna da Silva Sousa*,
Thanyze Alice Vicentini Zoccoli**, Camila Cadena de Almeida***, Leonardo Petrus
da Silva Paz****, Vera Regina Fernandes da Silva Marães****
*Graduada
em Fisioterapia da Universidade de Brasília/Faculdade de Ceilândia, **Programa
de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica – Universidade de Brasília/Faculdade
do Gama, ***Mestre em Engenharia Biomédica – Universidade de Brasília,
****Professor Adjunto do Curso de Fisioterapia da Universidade de
Brasília/Faculdade de Ceilândia
Recebido em 21 de
julho de 2015; aceito em 15 de setembro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Bruna da Silva Sousa, QR 402, conjunto 29, casa 12, Samambaia Norte, 72318-030
Samambaia DF, E-mail: sousabrunadasilva@gmail.com; Thanyze Alice Vicentini
Zoccoli: thanyzezoccoli@hotmail.com; Camila Cadena de Almeida:
cadenacamila@gmail.com, Leonardo Petrus da Silva Paz: leopetruspaz@gmail.com;
Vera Regina Fernandes da Silva Marães: vrmaraes@gmail.com
Resumo
Objetivo: Reunir os achados
na literatura sobre eletromiografia, força muscular e alterações metabólicas em
amputados transtibiais. Métodos: Revisão da literatura, realizada
no período de janeiro a março de 2014, com pesquisa nas bases de dados
eletrônicas: Pubmed, Scielo, Lilacs, BVS, Dedalus e BCE; utilizando-se as palavras-chave:
amputado transtibial, EMG, abaixo do joelho, amputados, força muscular, gasto
energético e frequência cardíaca, além de seus correspondentes na língua
inglesa. Resultados: Foram
identificados 144 artigos. Após análise e avaliação, 33 artigos foram
selecionados. A demanda metabólica apresenta-se maior durante a marcha de
indivíduos amputados em comparação a não amputados. Para o estudo
eletromiográfico nessa população são utilizados, principalmente, os músculos
bíceps femoral e reto femoral. O torque foi a variável mais descrita por sua
relação direta com a força muscular. Conclusão:
Os sinais EMG estão fortemente relacionados ao modo como o amputado transtibial
irá se locomover. A escolha correta da prótese pode reduzir a demanda
metabólica.
Palavras-chave: amputação
transtibial, eletromiografia, gasto energético, força muscular.
Abstract
Objective: To assemble
findings in the literature regarding electromyography, muscle strength and
metabolic alterations in patients with transtibial amputations. Methods: Literature review from January to March of 2014 in Pubmed,
Scielo, Lilacs, BVS, Dedalus and BCE databases; the following key
words were used: transtibial amputee, sEMG, below the knee, amputees, muscle
strength, energy expenditure and its Portuguese equivalents. Results: 144 articles were identified.
After subsequent analysis and evaluation, 33 were selected. Metabolic demand
appears to be increased during amputees gait in comparison to non-amputees
subjects. Concerning EMG studies, the main muscles used in this population are
both biceps femoris and rectus femoris. Torque was the most described variable
for its directly relation with muscle strength. Conclusion: EMG signals are strongly related to the transtibial
amputee locomotion. The proper prosthesis selection may reduce metabolic
demand.
Key-words: transtibial
amputation, electromyography, muscle strength, energy expenditure.
A amputação
transtibial é caracterizada pela desarticulação do tornozelo e a preservação da
articulação do joelho; é uma das amputações mais ocorrentes na atualidade e
causa alterações físicas, psicológicas e fisiológicas nos amputados [1].
Podendo ser realizada no terço proximal, distal ou medial da perna, que serão
definidos visando uma melhor funcionalidade da articulação do joelho. O coto
torna-se diferente de acordo com os níveis de amputação, e os níveis mais
distais e mediais apresentam vantagens quando comparados aos proximais devido a
menor demanda energética durante a marcha, facilidade de colocação de prótese,
e manutenção da articulação do joelho [2].
Ainda não existem
dados oficiais a respeito da incidência das amputações de membros inferiores no
Brasil, no entanto, ao analisar os dados da Finlândia, utilizados como referência
para o Brasil, o cenário não é diferente dos EUA, sendo as doenças vasculares
as mais prevalentes (72,90%), seguidas de infecções (6,50%), diabetes (4,80%),
traumas (1,60%), e tumores (1,10%). Vale ressaltar que as causas são um dos
fatores que influenciam na protetização e cicatrização do coto residual [3].
A reabilitação de
amputados possui foco principalmente no reestabelecimento da independência e
funcionalidade da marcha. Na amputação transtibial há perda dos flexores
plantares, musculatura responsável pela geração de 80% da energia mecânica
necessária para o ciclo de marcha. Esse fato ocasiona um recrutamento da
musculatura remanescente para suprir a nova demanda funcional [4], ou seja, as
forças necessárias de que o corpo precisa gerar a fim de se locomover à frente
são geradas principalmente pelos músculos da coxa e do quadril (no caso do
membro amputado). Na reabilitação é necessário um conhecimento das capacidades
dos músculos remanescentes desta população, realizando uma estimação dos mecanismos
compensatórios que são necessários para o suporte do corpo e propulsão à
frente. A fim de promover uma melhora nos dispositivos auxiliares, como a
prótese, fica clara a necessidade de se entender as forças que o corpo deve
gerar para locomover-se adequadamente e buscar uma redução do esforço
necessário para a marcha do amputado [5].
Nesse sentido, a
utilização de instrumentos como a eletromiografia (EMG), que permite o estudo
da função muscular por meio da captação do sinal elétrico que emana do músculo,
tem mostrado sucesso para a avaliação da atividade muscular durante a marcha
[6]. Para uma avaliação mais completa, é recomendada a realização da EMG no
dinamômetro isocinético, um equipamento que permite o estudo da função dinâmica
dos músculos através da avaliação quantitativa do arco de movimento, da força e
de variáveis do desempenho muscular, sendo caracterizado pela velocidade
angular constante e resistência dependente do esforço [7,8].
A
demanda energética
pode ser definida como a utilização de energia para
realizar atividades ou
exercer trabalho [9], esta apresenta diferenças de acordo com as
condições
físicas e ou posições cinéticas. A
frequência cardíaca é definida como o número
de batimentos cardíacos por unidade de tempo [10], sua
variação acompanha o
trabalho exercido pelo indivíduo e o seu estudo garante
informações específicas
a respeito das modulações das atividades
parassimpática e simpática de
regulação do sistema cardiovascular, em que a
frequência cardíaca apresenta-se
variável de acordo com as condições
fisiológicas [11].
Apesar dos avanços a
respeito da reabilitação de amputados e dos métodos de avaliação, esses
assuntos continuam pouco explorados na literatura. Assim, entende-se a
necessidade de realização de novos estudos que abordem essa população, para que
as peculiaridades desses indivíduos sejam entendidas diante do processo de
reabilitação.
Neste contexto, o
presente estudo buscou reunir na literatura os achados sobre eletromiografia, força
muscular e alterações metabólicas no processo de reabilitação em amputados
transtibiais.
Este estudo se
constitui em uma revisão da literatura a respeito da avaliação da
atividade muscular por meio da eletromiografia, a força muscular e as
alterações metabólicas em amputados transtibiais. Durante o período de janeiro
a março de 2014, realizou-se a pesquisa nas bases de dados eletrônicas Pubmed,
Scielo (Scientific Electronic Library Online), Lilacs (Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), BVS (Biblioteca Virtual em
Saúde), Dedalus (Bancos de Dados Bibliográficos da USP) e BCE (Banco de Dados
Bibliográficos da UNB). Para a pesquisa bibliográfica foram utilizadas as
seguintes palavras-chave: amputado transtibial, EMG, abaixo do joelho,
amputados, força muscular, gasto energético e frequência cardíaca, além de seus
correspondentes na língua inglesa.
Os critérios de
seleção foram, além de leituras críticas do material encontrado, os trabalhos
de maior relevância para o tema, estudos em humanos, de resultados mais
objetivos e os mais citados. Os artigos identificados pela estratégia de busca
foram avaliados, obedecendo rigorosamente aos critérios de inclusão: texto na
íntegra, ano de realização (preferencialmente após 2000), população-alvo
(amputados transtibiais), método utilizado e idioma (português, inglês e
espanhol). Tais estratégias foram tomadas com o intuito de maximizar os
resultados da pesquisa, uma vez que foi constatada escassez de literatura. Após
leitura dos títulos, resumos e texto na íntegra, foram excluídos os estudos que
não foram considerados relevantes à pesquisa ou que apresentaram poucas
informações ou informações incompletas. Foram utilizados estudos publicados
anteriormente a 2000 por serem considerados fundamentais a pesquisa.
Análise
dos dados
Os dados foram
agrupados de acordo com os instrumentos e objetivos buscados, que auxiliam no
processo de reabilitação:
1) Demanda metabólica
– permite a avaliação do nível de comprometimento ou alteração do metabolismo
do amputado, quando em uso de apoios de ambulação ou prótese durante repouso e
marcha;
2) Eletromiografia –
permite a avaliação da atividade elétrica muscular;
3) Força muscular –
permite o estudo da função muscular.
Foram selecionados 33
artigos. A figura 1 apresenta o processo de revisão dos dados.
A amputação
transtibial causa alterações na demanda energética, correlacionadas à marcha e
materiais de próteses, estas evidenciadas na literatura (Quadro I).
Foram encontrados 12
artigos a respeito da eletromiografia como forma de avaliação de amputados
transtibiais (Quadro II). De acordo com os achados, para o estudo
eletromiográfico de amputados transtibiais são utilizados, principalmente, os
músculos: bíceps femoral, reto femoral, vasto lateral e gastrocnêmio; sendo o
primeiro e o segundo os músculos mais estudados. O eletrodo mais utilizado foi
o de superfície e a frequência de amostragem adotada pelos autores variou entre
500 e 1200 Hz. A maioria dos estudos foi realizada com homens amputados
transtibiais unilaterais, que foram avaliados durante a marcha.
Sobre a avaliação da
função muscular de amputados transtibiais, 10 artigos foram selecionados
(Quadro III). O torque, relação entre a força realizada e a distância percorrida,
foi a variável mais descrita dentro desta população por sua relação mais direta
com a força muscular. A velocidade angular constante mais utilizada nos estudos
encontrados foi a de 60°/s, variando entre contrações concêntricas, excêntricas
e isométricas. Todos os estudos utilizaram o dinamômetro isocinético para
avaliação de força dos extensores e dos flexores da coxa de amputados
transtibiais.
Figura
1 - Processo de revisão da literatura.
Quadros I, II, III – (ver PDF em anexo)
A amputação
transtibial gera consequências estruturais, fisiológicas e mecânicas que afetam
o metabolismo, devido a uma necessidade de compensações (processos morfológicos
e funcionais) para realização de atividades diárias. No quadro I (descrição de
resultados), foram discutidas e analisadas nos artigos utilizados, em que a
demanda energética apresenta-se maior em comparação a indivíduos não amputados,
apresentando alternâncias de valores quando estudada em comparação as
variáveis: marcha, nível de amputação, uso de apoios para locomoção, e material
das próteses. Os estudos citados nessa tabela que realizaram pesquisa em
indivíduos utilizaram técnicas de calorimetria indireta para verificação de
taxa metabólica e estimativa de consumo de oxigênio, ergometria, testes de
esforço de pedalagem, verificação de pressão arterial e exames laboratoriais.
A demanda energética
em amputados transtibiais apresenta-se maior do que em indivíduos não
amputados, devido a maior consumo energético e esforço exercido a fim de
compensar a perda funcional e estrutural. O uso de determinados tipos de
próteses pode reduzir em até 10% o nível de consumo de oxigênio, visto que amputados
transtibiais consomem entre 10% a 30% de energia a mais que não amputados,
quando analisados em marcha, pois as próteses são aplicadas como objetivo de
compensar a perda funcional e permitir uma função adequada [12,13].
Alguns fatores
biomecânicos podem influenciar positivamente ou negativamente na locomoção, o
que afeta indiretamente o consumo energético. A prótese, se possível, deve ser
escolhida a fim de reduzir o consumo energético e respiratório, visto que
próteses hidráulicas consomem mais energia devido a maior força e esforço
exercido e ao peso da prótese ser extremamente maior que o do membro não
amputado. As próteses com microprocessador apresentam-se mais leves e facilitam
a locomoção, o que resulta em uma diminuição da demanda energética e menor
força exercida pelo membro residual [14].
Os amputados
transtibiais, de forma geral, apresentam melhor adaptação e consumo energético
do que amputados transfemorais [15]. Próteses mais leves, funcionais e
sofisticadas asseguram um menor consumo energético independentemente do nível
de amputação e braço de alavanca [12].
Segundo Pastre [1] e
Nunes [16], a obtenção de equilíbrio muscular no membro residual deve ser a
mesma para o membro não amputado, a fim de proporcionar um maior
desenvolvimento da marcha, melhorando a locomoção e impedindo o consumo
energético de forma inadequada. Apenas com o uso da prótese há aumento
inadequado no padrão energético do amputado e, quando comparado ao uso de
muletas, o padrão pode ser aumentado em até duas vezes [17].
Independente de
amputação, o consumo máximo de oxigênio, o limiar anaeróbico, a ventilação
pulmonar e a frequência cardíaca apresentam relação direta com a demanda
energética. Em indivíduos amputados, quando em atividade, ocorre um aumento da
frequência cardíaca de aproximadamente 30% a mais do que em não amputados,
visto que ao exercerem uma maior atividade e força para realizar o movimento
com uso de suportes ou prótese, o aumento da ventilação pulmonar para captação
de O2 aumenta consideravelmente a frequência cardíaca destes indivíduos,
principalmente se a causa da amputação for traumática ou cardiovascular [18].
Existem fatores
intrínsecos importantes em relação à amputação e que acabam influenciando na
demanda energética e frequência cardíaca, como a velocidade e continuidade de
deambulação (devido ao deslocamento do centro de massa) e aumento do potencial
de energia exercido por esses indivíduos que acabam por elevar o consumo
energético para suprir as demandas ao iniciar a adaptação corporal dos mesmos
[19].
Em estudos de casos e
de amostras significativas, amputados transtibiais apresentam um aumento da
pressão arterial e frequência cardíaca nas posições ortostática e supino,
apresentando a primeira maior alteração em comparação à segunda, visto que o
volume de oxigênio obtido é consideravelmente maior. Os amputados transtibiais
traumáticos apresentam alterações cardiovasculares e metabólicas que
influenciam na pressão arterial negativamente quando em marcha, repouso e
atividades aeróbicas que não utilizem membros inferiores [20].
Em relação à força
muscular, Moirenfeld et al. [21]
ressaltam que a dinamometria isocinética é um método de avaliação efetivo e
confiável no exame do paciente amputado transtibial para estabelecer as
diferenças das forças musculares, permitindo a avaliação objetiva e direta dos
componentes de desempenho muscular. No dinamômetro isocinético a resistência é
ajustada para o esforço do sujeito pelo mecanismo de medição do dispositivo, ou
seja, quando fatores limitantes, como dor ou desconforto, são subitamente
introduzidos, a resistência é imediatamente ajustada para o esforço do
paciente, o que minimiza o risco de lesões.
Isakov et al. [22] realizaram um estudo com 18
amputados transtibiais, comparando um
grupo de amputados recentes com outro de amputados que realizam estudos
isocinéticos há mais de 7 anos. Nesse estudo, o isocinético foi utilizado nas
formas concêntricas, excêntricas e isométricas da musculatura de extensores e
flexores do joelho. Nos achados houve diminuição no pico de torque e na média
máxima de torque em ambos os grupos, porém os amputados mais antigos não
apresentaram diferenças significativas, inferindo-se que a maior perda de força
vem nos primeiros anos da amputação. Em um estudo realizado por Klingenstierna et al. [23], o isocinético foi utilizado
em um protocolo de treinamento de 8 a 10 semanas, com 8 pacientes amputados em
decorrência de doença vascular. A análise do músculo vasto lateral foi
utilizada como parâmetro e demonstrou o aumento da área de secção transversa no
membro amputado, principalmente nas fibras do tipo II após o treinamento
(contração rápida). O pico de torque aumentou em todos os ângulos na extensão e
180º na flexão, em ambos os membros.
A amputação
traumática transtibial acarreta mudanças musculares, principalmente no déficit
muscular, que apresentam diminuição no período pós-protético, principalmente
quando em altas velocidades e durante o pico de torque. Observa-se, porém, que
homens apresentam maior força e déficit muscular que as mulheres,
independentemente do período de amputação [24]. Em relação à força e
resistência muscular, os grupamentos quadríceps e isquiotibiais apresentaram
maior pico de torque e menor índice de fadiga nos membros não amputados,
demonstrando a maior força e resistência muscular desse membro [21].
A variável mais
analisada em artigos sobre avaliações isocinéticas foi o pico de torque que,
segundo Nolan [25], apresenta-se na maioria das vezes semelhante entre
amputados transtibiais ativos e não amputados (ativos), variando entre 8 e 14%,
caracterizando que os que realizam atividades estimulam os grupamentos
musculares a manterem-se equivalentes ao membro não amputado. Os amputados
sedentários apresentam perda funcional com relação ao pico de torque, devido a
maior assimetria em comparação aos amputados ativos. Os amputados transtibiais
ativos apresentam melhor equilíbrio e propriocepção, o que influencia
positivamente no consumo energético. No entanto, não se pode afirmar se a perda
funcional ocorre devido às atividades realizadas ou por atrofia residual [26].
Ao analisar a
variável pico de torque associada à força muscular e densidade mineral óssea,
observa-se que amputados com grande perda óssea (de etiologia incerta), resulta
em pico de torque reduzido, padrões de marcha alterados, diminuição da carga de
peso, desuso e atrofia, que influenciam tanto na isocinética muscular quanto na
demanda energética [27].
Ao
trabalhar o membro
amputado de forma semelhante ao membro não amputado, pode-se
melhorar a funcionalidade
geral do indivíduo, de forma que exercícios de
resistência muscular melhoram os
picos de torque, índices de fadiga, força,
equilíbrio muscular, movimento de
marcha (principalmente nas posições de
flexão/extensão,
adução/abdução de
quadril e joelho), influenciando assim positivamente na demanda
energética.
Além disso, é de suma importância trabalhar com o
paciente no leito o
posicionamento do coto, a fim de evitar predisposições de
colágeno em regiões
estáticas, melhorando o deslizamento e a efetividade motora [1].
Segundo Huang et al. [28], projetos recentes de
próteses para membro inferior oferecem menor demanda energética aos pacientes
durante a marcha e melhor estabilidade. Porém, a maioria dos protótipos
desenvolvidos utiliza o controle mecânico, o que torna a prótese pesada e não
permite a realização do movimento de forma suave. Nesse sentido, os autores
afirmam que a eletromiografia de superfície (EMG) é uma das principais fontes
de controle neurais para próteses de membros superiores, órteses motorizadas
experimentais e robôs de reabilitação. No entanto, quando se trata de próteses
para membro inferior, os estudos sobre o controle neural são escassos. Seyedali
et al. [29] afirmam a necessidade do desenvolvimento de próteses para membro
inferior com controle neural e ressaltam que a EMG pode ser utilizada para
auxiliar no controle de próteses para amputados de membros inferiores. O
controle da atividade mioelétrica oferece vantagens potenciais, como a captação
da intenção do movimento e a correta ativação dos músculos responsáveis pela
ação. Huang & Ferris [30] afirmam que, por ainda ser pouco explorados, um
dos inconvenientes inerentes a esses dispositivos é que o controle com base na
detecção intrínseca não é muito efetivo em tarefas motoras variáveis, com
obstáculos e superfícies instáveis.
Estudos que
investigam a atividade mioelétrica de amputados transtibiais por meio da EMG
têm se centrado sobre os músculos intactos do quadril e joelho, ou seja, nos
músculos que não foram afetados pela amputação [31]. Isakov et al. [32] investigaram a atividade
eletromiográfica de amputados transtibiais durante a marcha e demonstraram que
durante a primeira metade da marcha a atividade EMG dos isquiotibiais na perna
amputada é três vezes maior do que a atividade do quadríceps. Ao compararem com
a perna sadia, também houve uma atividade maior por parte dos isquiotibiais,
porém menos de o dobro da do quadríceps. Winter & Sienko [33] explicam a
diferença de ativação muscular com a hipótese de que o sistema nervoso do
amputado reconhece sua nova assimetria e compensa a perda da função motora.
Isakov et al. [34] afirmam que a utilização de
prótese em amputados transtibiais requer maior atividade do bíceps femoral durante
o período de manutenção da postura para melhorar o suporte da articulação do
joelho da perna amputada. Powers et al.
[35] também revelaram que indivíduos com amputações transtibial exibiram
aumentos significativos na atividade EMG do quadríceps e isquiotibiais durante
a fase de apoio da marcha. Os autores explicam este maior recrutamento muscular
como um indicativo de maior demanda mecânica. A co-contração substancial sobre
o joelho parece ser um mecanismo para estabilizá-lo e controlar a flexão durante
a resposta à carga.
Segundo Centomo et al. [36] e Centomo et al. [37], a falta de co-contração
pode predispor à instabilidade do joelho, resultando em tensão adicional sobre
às estruturas internas do joelho. O estudo realizado com crianças com amputação
transtibial revelou que elas executam tarefas com cinemática semelhantes a
crianças não amputadas, porém elas usaram diferentes agonistas do joelho e a
coordenação muscular antagonista para atingir os mesmos resultados que crianças
não amputadas [37]. Centomo et al.
[36] realizaram um estudo com crianças amputadas transtibiais e analisaram sua
co-contração do joelho comparando com crianças sem deficiência durante a
marcha. Os autores afirmam que crianças com amputação transtibial possuem
padrões musculares modificados em seu membro amputado e produzem menor
co-contração quando comparadas a crianças sem deficiência. Ambos os estudos
sugerem que as crianças com uma amputação transtibial têm seus padrões
musculares alterados para realizar a locomoção.
A revisão
bibliográfica realizada por Soares et al.
[4] mostrou que a estratégia desenvolvida pelo amputado unilateral transtibial
durante a marcha é influenciada pela velocidade de movimento, lateralidade e pé
protético. Nesse sentido, Fey et al.
[38] identificaram as mudanças na atividade muscular por meio da
eletromiografia em amputados transtibiais em resposta ao aumento da velocidade
de caminhada em estado estacionário. Os autores afirmam que a maioria dos
padrões EMG dos amputados foram quase sempre semelhantes entre as pernas e
aumentaram de acordo com a velocidade. No entanto, as diferenças foram
observadas na perna residual nos músculos bíceps femoral e reto femoral, que
mostraram aumento da atividade desde o início em relação à perna intacta. Estas
compensações são consistentes com a necessidade de adaptação da fase de
propulsão na ausência dos flexores plantares. Em concordância, Viton et al. [39] analisaram as estratégias de
controle de equilíbrio e movimento em amputados transtibiais e concluíram que a
reduzida capacidade para estabilizar o membro relaciona-se com a limitação de
mobilidade da articulação do tornozelo no lado da prótese e com a falta de
músculos ativos.
Conforme citado
anteriormente, Huang et al. [28]
afirmam que a eletromiografia de superfície (EMG) é uma das principais fontes
de controle neurais para próteses. Segundo Peeraer et al. [40], o uso de microcomputadores como controle inteligente
para próteses abre uma variedade de possíveis estratégias de controle para
articulações artificiais, porém ressaltam que ainda é preciso desenvolver
estudos sobre como driblar a necessidade de alto nível de amplificação do sinal
mioelétrico, visto que alguns músculos são incorporados em considerável camada
de gordura. Além disso, os autores destacam o abaulamento dos músculos durante
a amputação, que frequentemente resulta em deslocamentos musculares que
influenciam no sinal da EMG. Ainda, é imprescindível o posicionamento correto
dos eletrodos sobre os músculos do coto.
Dentro do processo de
reabilitação e protetização, surge a necessidade de um olhar mais amplo e menos
focado somente no membro que sofreu a amputação. É importante ressaltar que
dentre todos os estudos, nenhum obteve amostra suficiente para que os dados
fossem extrapolados para a população de amputados transtibiais, sendo
recomendável a realização de novos estudos com amostras maiores.
Nesta revisão
sistemática de literatura, pode-se destacar que os parâmetros da avaliação
isocinética demonstram que sujeitos com amputação transtibial possuem um
déficit de força muscular tanto do membro amputado em relação ao membro não
amputado quanto do membro não-amputado em relação a população normal. O
presente estudo mostrou que uma maior ênfase durante a reabilitação de grupos musculares
principais, como os extensores de joelho, pode resultar em uma melhor
habilidade de deambulação de indivíduos com amputação transtibial. Os padrões
de atividade muscular analisados por meio da eletromiografia (EMG) estão
fortemente relacionados com o modo em que o amputado transtibial irá se
locomover, tornando o método uma das principais fontes de controle neurais para
próteses. A escolha de próteses de fácil adaptação, mais leves e sofisticadas
que facilitem a locomoção é de extrema importância, pois podem reduzir o
consumo energético que influenciará na diminuição da frequência cardíaca,
ventilação respiratória, consumo e captação de oxigênio e pressão arterial.
Sugere-se a
realização e publicação de novos estudos sobre as alterações metabólicas,
atividade muscular e força muscular em amputados transtibiais, buscando ampliar
as evidências científicas sobre os assuntos para que o desenvolvimento de
próteses baseadas no controle neural e a prática clínica sejam fundamentadas
corretamente.