REVISÃO
Aspiração
endotraqueal de adultos intubados: evidências para boas práticas
Endotracheal suctioning of the adults intubated: evidence for best
practice
Pablo Costa Cortêz, Ft.*, Roberta Lins Gonçalves, Ft., D.Sc**, Daniel Crespo Lins,
Ft.***, Fernanda Figueirôa Sanchez, Ft., D.Sc. ****, Jerônimo Correia Barbosa Neto, Ft.*****, João
Paulo Ribeiro, Ft., M.Sc.******
*Fisioterapeuta,
Mestrando em Ciências da Saúde, UFAM, **Docente da FEFF/UFAM, Coordenadora da
Residência em área profissional da saúde: Fisioterapia em Terapia Intensiva
Neonatal, Coordenadora Científica da Regional do AM da Assobrafir,
Docente da Pós-graduação em Ciências da Saúde/UFAM, ***Fisioterapeuta,
Faculdade de Educação Física e Fisioterapia/FEFF da Universidade Federal do
Amazonas/UFAM, ****Docente da FEFF/UFAM, *****Mestrando em Ciências da Saúde,
UFAM, ******Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva, Fisioterapeuta
da UTI geral do Hospital Santa Júlia/AM e do Hospital da Aeronáutica do Amazonas
Recebido 19 de
fevereiro de 2017; aceito 15 de novembro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Prof. Dra. Roberta Lins Gonçalves, E-mail: betalinsfisio@yahoo.com.br; Pablo
Costa Cortêz: p.c_c@outlook.com;
danielcrespolins@hotmail.com; Fernanda Figueirôa
Sanchez: fersanchez1@hotmail.com; Jerônimo Correia Barbosa Neto:
jeronimocbarbosa@hotmail.com; João Paulo Ribeiro: ribeiro.fisio@gmail.com
Resumo
Introdução: A aspiração
endotraqueal é o procedimento invasivo mais realizado em indivíduos intubados
em unidades de terapia intensiva. Contudo, existem poucos estudos nacionais de
boa qualidade metodológica sobre o assunto, não havendo no Brasil consenso da
literatura e/ou padronização da técnica. Objetivos:
Estabelecer recomendações baseadas em evidências científicas sobre a aspiração
endotraqueal em adultos intubados. Métodos:
Revisão sistemática de estudos secundários: diretrizes, guidelines
e revisões sistemáticas em inglês e português, pesquisada nas bases de dados PubMed, Cochrane, Cochrane Review, Cochrane Library, Scielo Org, Scielo Brasil, PEDro, Clinical Evidence e Evidence Based Medicine. Resultados:
Foram incluídos cinco artigos com classificação entre C e D pelo R-Amstar. Conclusão:
A aspiração endotraqueal deve ser realizada em adultos intubados por pessoal
qualificado, assepticamente, sempre que necessária. Não deve exceder 15
segundos por aspiração e nem ser realizada rotineiramente, e sim, na presença
de secreções – grau de recomendação A. A sonda de aspiração deve ter um
diâmetro menor que 50% do tubo endotraqueal e a hiperoxigenação
com fração inspirada de oxigênio a 100% no ventilador deve ser utilizada – grau
de recomendação A. A pressão de sucção não deve exceder 150 mmHg
negativos – grau de recomendação B. É recomendada a aspiração subglótica, especialmente naqueles indivíduos com mais de
72 horas de ventilação mecânica invasiva – grau de recomendação A.
Palavras-chave: sucção, aspiração
mecânica, drenagem por sucção.
Abstract
Introduction: Endotracheal aspiration is the most accomplished invasive procedure in
intubated individuals in intensive care units. However, there are few national
studies of good methodological quality on the subject, and there is no
consensus in the literature and / or standardization of the technique. Aims: To
establish recommendations based on scientific evidence on endotracheal
aspiration in intubated adults. Methods:
Systematic review of secondary studies: guidelines, guidelines and systematic
reviews in English and Portuguese, searched in the databases PubMed, Cochrane,
Cochrane Review, Cochrane Library, Scielo Org, Scielo Brazil, PEDro, Clinical
Evidence and Evidence Based Medicine. Results:
Five articles with classification between C and D by R-Amstar were included. Conclusion: Endotracheal aspiration
should be performed in adults intubated by qualified personnel, aseptically,
whenever necessary. It should not exceed 15 seconds per aspiration and should
not be performed routinely, but in the presence of secretions - degree of
recommendation A. The aspiration probe should have a diameter of less than 50%
of the endotracheal tube and hyperoxigenation with
inspired fraction of oxygen at 100% in the ventilator should be used - degree
of recommendation A. The suction pressure should not exceed 150 mmHg negative -
degree of recommendation B. Subglottic aspiration is recommended, especially in
those individuals with more than 72 hours of invasive mechanical ventilation -
degree of Recommendation A.
Key-words: suction,
mechanical aspiration, suction drainage.
Indivíduos intubados
são incapazes de eliminar adequadamente suas secreções pulmonares [1-3]. A
aspiração endotraqueal é necessária para prevenir o acúmulo de secreções e a
obstrução da via aérea reduzindo o risco de consolidações e atelectasias que
podem causar ventilação inadequada [4].
A aspiração
adequadamente indicada e realizada em indivíduos intubados melhora os sons
respiratórios e as trocas gasosas diminuindo a resistência das vias aéreas, o
pico de pressão inspiratória (PIP) do ventilador, melhora a complacência
dinâmica, aumenta o volume corrente (VC) liberado quando em modo ventilatório
limitado a pressão, melhora os valores da gasometria arterial e da saturação
periférica de oxigênio (SpO2) [4,5].
Os principais efeitos
adversos da aspiração endotraqueal referem-se à redução da complacência
dinâmica e do VC expirado, hipoxemia, bradicardia (Frequência cardíaca < 50
batimentos/minuto, bpm), hipotensão (queda da pressão
arterial (PA) < 80 mmHg) e dessaturação
da hemoglobina (diminuição >5% do valor mensurado anteriormente), trauma da
mucosa e atelectasia [3,5-10].
Muitas instituições,
contudo, no intuito de manter a via aérea pérvia, adotam protocolos de
aspiração endotraqueal de rotina, baseados no ritual da assistência, prática
institucional ou decisão do profissional e não em evidências clínicas da
necessidade do procedimento, o que pode causar mais prejuízo do que benefício
[14]. Por outro lado, aspiração ineficiente ou a ausência de aspiração pode
resultar em obstrução do TET com necessidade de reintubação,
atelectasias, redução da ventilação e da oxigenação [15].
Apesar da relevância
do tema, poucos são os estudos nacionais de boa qualidade metodológica sobre o
assunto, não havendo consenso na literatura científica brasileira e nem
padronização clínica a respeito de vários pontos da técnica de aspiração
endotraqueal em indivíduos intubados. Em virtude do exposto, o objetivo dessa
revisão sistemática de estudos secundários foi integrar evidências científicas
através da criteriosa busca e análise metodológica dos estudos incluídos, a fim
de estabelecer recomendações baseadas em evidências científicas para a boa
prática da aspiração endotraqueal em adultos intubados.
Revisão sistemática
de estudos secundários: diretrizes, guidelines e
revisões sistemáticas publicadas entre os anos 2000-2015 em inglês e português.
A escolha dos artigos foi baseada na seguinte questão: paciente adulto intubado
submetido à aspiração endotraqueal em sistema aberto, abordando as seguintes
variáveis: frequência, duração, diâmetro da sonda, hiperoxigenação,
hiperinsulflação, pressão de sucção, instilação de
solução salina, número de repetições, decisão de quando aspirar,
contraindicação absoluta e normas de biossegurança. Foram pesquisadas as bases
de dados PubMed, Cochrane,
Cochrane Review, Cochrane Library, Scielo Org, Scielo
Brasil, PEDro, Clinical Evidence e Evidence Based Medicine, no período de 24/11/2014 a 11/8/2015,
utilizando o descritor Suction
e os correlatos específicos identificados no Medical Subject Headings
(MESH): Suction, Suctions, Aspiration, Mechanical, Aspirations, Mechanical, Mechanical Aspiration, Mechanical Aspirations, Drainage, Suction, Drainages, Suction Drainage, Suction Drainages, e o descritor sucção e os correlatos
específicos identificados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Aspiração Mecânica, Drenagem por sucção, em
português e inglês. A busca dos artigos em língua inglesa e portuguesa foi
realizada separadamente.
Para a pesquisa nas
bases de dados PubMed,
Cochrane, Cochrane Review, Cochrane Library, Scielo Org, Scielo
Brasil e Clinical Evidence,
os seguintes termos foram combinados entre si através dos operadores booleanos:
“AND” e “OR”: Suctions OR Aspiration, Mechanical OR Aspirations, Mechanical OR Mechanical Aspiration OR Mechanical Aspirations OR Drainage, Suction OR Drainages, Suction OR Suction Drainage OR Suction Drainages, Sucção OR Aspiração Mecânica OR Drenagem por
Sucção. A base de dados PEDro
não admitiu o uso dos dois operadores booleanos ao mesmo tempo, de maneira que
as pesquisas nesta base foram feitas pela combinação individual dos termos e
seus correlatos: Suction AND Mechanical Aspiration; Suction AND Suction Drainage; Mechanical Aspiration AND Suction Drainage. Na base de
dados Evidence Based Medicine,
o uso dos operadores booleanos não retornava resultados significativos, sendo
utilizados os termos e correlatos independentemente. Quando possível os
seguintes filtros foram utilizados: ano, pesquisa em seres humanos em área
temática da saúde, com os seguintes desenhos metodológicos: diretrizes, guidelines e
revisões sistemáticas com ou sem metanálise. Quando
não foi possível utilizar a opção de filtro, a seleção foi realizada através da
leitura dos títulos dos artigos.
A busca dos artigos
em inglês resultou em: PubMed
(8.334 artigos), Cochrane (2.523 artigos), Cochrane Review
(1.451 artigos), Cochrane Library (64 artigos), Scielo
Org (533 artigos), Scielo
Brasil (207 artigos), PEDro (13 artigos), Clinical Evidence (156 artigos) e
Evidence Based Medicine
(131 artigos). Foram excluídos através de filtro os artigos que não
contemplavam os desenhos metodológicos propostos e publicados antes do ano
2000, tipo de estudo metodológico e área temática da saúde, os artigos das
bases de dados nas quais não foram permitidos filtros de pesquisa (Cochrane Review, Scielo Brasil, PEDro, Clinical
Evidence e Evidence Based Medicine) seguiram para a seleção de leitura de
títulos e resumo, após a exclusão, restou 43 artigos que foram selecionados e
lidos na íntegra. Desses, 38 foram excluídos por não
abordarem as questões clínicas de interesse ou cujo foco foi o sistema fechado
de aspiração. Para esta revisão foram incluídos cinco artigos em inglês (2 Guidelines e 3 revisões
sistemáticas).
A busca dos artigos
em português resultou em: PubMed
(0 artigo), Cochrane (76 artigos), Cochrane Review (1
artigo), Cochrane Library (0 artigo), Scielo Org (0 artigo), Scielo Brasil
(243 artigos), PEDro (0 artigo), Clinical
Evidence (4.290 artigos) e Evidence
Based Medicine (3.409 artigos). Foram excluídos os
artigos que não contemplavam os desenhos metodológicos propostos e aqueles
publicados antes do ano 2000, tipo de estudo metodológico e área temática da
saúde, os artigos das bases de dados nas quais não foram permitidos filtros de
pesquisa (Cochrane Review, Scielo
Brasil, PEDro, Clinical Evidence e Evidence Based Medicine) seguiram
para a seleção de leitura de títulos e resumo, após a exclusão, restando seis
artigos selecionados e lidos na íntegra. Destes, todos foram excluídos por não
abordarem as questões clínicas de interesse ou por só abordarem o sistema
fechado de aspiração. Portanto nenhum artigo em português foi incluído.
Um revisor extraiu os
artigos selecionados e outro repetiu a busca para melhorar a acurácia. As
análises foram realizadas por três revisores independentemente. Todos os
revisores discutiram o nível de evidência sendo as recomendações resolvidas por
consenso. Quando necessário, os autores dos estudos foram contatados para mais
informações. Os estudos excluídos estão listados na tabela I. Outros estudos
além dos cinco revisados foram utilizados para a discussão, não servindo como
base para a recomendação baseada na evidência.
Tabela
I - Estudos excluídos com o motivo da exclusão.
Avaliação
da qualidade metodológica e análise da evidência
A avaliação da
qualidade metodológica dos artigos incluídos foi baseada no Preferred Reporting Items
for Systematic reviews and Meta-Analyses (PRISMA) e
no Revised Assessment of Multiple Systematic
Reviews (R-AMSTAR) realizada por três revisores
independentemente [16,17]. Qualquer desacordo foi resolvido através de
discussão entre os revisores. O grau de recomendação e a sugestão da prática foi baseada no United States Preventive Services Task Force (USPSTF) [18].
O PRISMA Checklist 2009 é uma evolução do QUOROM guidelines
(desenvolvido em 1996) utilizado para avaliar revisões sistemáticas com
intervenções em saúde [16]. O R-AMSTAR é um instrumento validado para avaliar a
força da evidencia científica de revisões sistemáticas através da análise
metodológica [17]. Possui onze domínios, sendo a pontuação máxima 44 pontos
[17]. É classificado como: Qualidade A
– melhor evidencia possível – 100-90% - nota: 44-40 pontos; Qualidade B – de 89-80% - nota: 39-36
pontos; Qualidade C – de 79-70% -
nota: 35-31 pontos; Qualidade D –
menor que 69% - nota menor que 31 pontos [17].
O USPSTF é uma escala de recomendações baseada em critérios explícitos avaliados ponto a ponto, facilitando a tomada de decisão pelo profissional baseada na melhor evidência disponível, permitindo a revisão das evidências e estimando a magnitude dos benefícios e malefícios [18]. O grau de força da evidência é avaliado como: "A" (Recomendada. Existe certeza de que o beneficio é grande), "B" (Recomendada. Existe certeza de que o beneficio é moderado ou há moderada certeza de que o conjunto de benefícios é de moderado a substancial), "C" (Recomendado que este procedimento não seja utilizado rotineiramente. Há considerações que suportam a utilização deste procedimento para pacientes de maneira individualizada. Há de moderada a alta certeza de que o conjunto de benefícios é pequeno), "D" (Recomendado que este procedimento não seja utilizado. Há moderada ou alta certeza de que o procedimento não ocasione um conjunto de benefícios ou de que os malefícios superam os benefícios), ou "I" (Não há evidencias suficientes para avaliar o balanço entre o benefício e o prejuízo associado a este procedimento. As evidências são poucas, de baixa qualidade metodológica ou conflitantes, de maneira que o balanço entre e o benefício e o prejuízo não pode ser avaliado) [5,18]. Para cada questão clínica os resultados foram analisados e discutidos ponto a ponto, sendo a recomendação baseada na evidência conforme o USPSTF [4,18].
Extração e análise dos dados
Os dados foram
extraídos por desfechos e separados por estudo. As características relevantes
de cada artigo foram apresentadas de maneira descritiva no quadro 1.
Quadro
1 - Aspectos relevantes dos artigos avaliados.
(ver PDF em anexo)
Os dados foram
extraídos por desfechos e separados por estudo. As características relevantes
de cada artigo foram discriminadas de acordo com: autores, ano e resultados
principais, e foram apresentadas de maneira descritiva no Quadro I. As
avaliações metodológicas dos estudos incluídos segundo o PRISMA e R – AMSTAR
estão descritas na Tabela II.
Tabela
II -
A avaliação da qualidade metodológica dos
estudos incluídos segundo PRISMA e R-AMSTAR.
A aspiração
endotraqueal é uma técnica mecânica manual utilizada para a remoção de
secreções em indivíduos que não conseguem remover adequadamente as secreções
pulmonares, traqueobrônquicas e/ou orofaríngeas [1,4,20-22].
Ela é um dos componentes do procedimento de ressuscitação e da terapia de
higiene brônquica [3,24,25]. É um procedimento
realizado rotineiramente em UTI por Fisioterapeutas, Médicos, Enfermeiros e, no
Brasil, também por técnicos de enfermagem.
Descrição da técnica de aspiração endotraqueal: A aspiração
endotraqueal de adultos intubados em sistema aberto consiste na introdução de
uma sonda através da via aérea artificial e aplicação de pressão negativa no
momento da retirada da sonda, para a sucção de secreções [1,19,20,23,26].
Os equipamentos e materiais necessários à
realização da técnica são: uma fonte
de vácuo calibrada e com regulador ajustável, um frasco
coletor, tubos de
conexão, luvas estéreis descartáveis para a
aspiração em sistema aberto, sonda
de aspiração estéril descartável,
solução salina estéril, óculos de
proteção,
máscara, fonte de O2 com uma unidade de dispositivo de medição
calibrada, oxímetro de pulso, artificial manual breathing unit (ambu) equipado com um
dispositivo de fornecimento de O2 e estetoscópio. Alguns
equipamentos são considerados opcionais como o eletrocardiograma e o material
coletor estéril para a cultura de secreção. Cada passagem da sonda de aspiração
na via aérea artificial consiste em uma aspiração [20].
Indicação do momento de aspirar: Foi consenso na
literatura que a aspiração endotraqueal é uma técnica mandatória, ou seja, que
deve ser realizada todas as vezes que se fizer necessária, uma vez que o
acúmulo de secreções traqueobrônquicas pode prejudicar a ventilação, a
oxigenação e levar a oclusão do TET, causar atelectasias, aumento do trabalho
respiratório e predispor a infecção pulmonar [2,6,20,21,26].
Contudo, um dos pontos mais polêmicos sobre a aspiração endotraqueal trata
exatamente do momento e da frequência que a técnica deva ser realizada em
indivíduos intubados.
A
maioria dos estudos
considerou como indicativo da necessidade de aspiração
à presença de secreções
audíveis; sons respiratórios grosseiros (roncos) ou
ausentes; secreções
visíveis no TET; aumento da PIP durante a
ventilação por volume-controlado ou
diminuição de VC durante a regulação da
ventilação por pressão; redução da SpO2 e/ou alteração dos valores da gasometria
arterial; incapacidade do paciente para gerar uma resposta de tosse espontânea;
angústia respiratória aguda; suspeita de aspiração gástrica ou das secreções
das vias aéreas superiores e aumento do trabalho respiratório [19,21].
Recomendação: É recomendado que a
aspiração endotraqueal de adultos intubados não deve ser realizada como rotina
de cuidado e sim, quando existirem critérios clínicos para a sua realização. Grau de recomendação A.
Parâmetros monitorizados durante a aspiração: Para que a técnica
seja realizada da maneira mais segura possível, alguns aspectos devem ser
monitorizados antes, durante e após. São eles: os sons respiratórios; a SpO2, a coloração da pele, a frequência
respiratória (FR), o padrão respiratório, variáveis hemodinâmicas (caso estejam
monitorizadas), como a frequência cardíaca (FC), a PA, a PIC e o
eletrocardiograma, características da secreção aspirada como a cor, o volume, a
consistência e o odor, características da tosse, parâmetros ventilatórios como
a PIP e a pressão de platô, o VC, o fluxo, o volume exalado e a fração inspirada
de oxigênio (FIO2) [20,26-28].
Recomendação: É recomendado que
durante a aspiração endotraqueal de adultos intubados sejam monitorizados os
sons respiratórios, a SpO2, a coloração da
pele, a FR, o padrão respiratório, parâmetros ventilatórios e variáveis
hemodinâmicas (caso estejam monitoradas). Grau
de recomendação A.
Técnica limpa vs. técnica estéril: A técnica limpa
envolve o uso de luvas de procedimento, enquanto a técnica estéril envolve o
uso de luvas estéreis. Este aspecto é bastante controverso durante a aspiração
endotraqueal, variando muito em diferentes hospitais.
O Clinical practice guidelines
for suctioning the airway of the
intubated and nointubated patient [22]
discute que até o momento não havia evidências suficientes para recomendar a
técnica limpa ou a estéril [22]. O endotracheal
suctioning of the adult intubated patient – What is the evidence? [19] recomenda
lavagem das mãos sempre antes e após a aspiração endotraqueal e que seja
realizada através de técnica estéril, por ser um procedimento invasivo que pode
causar contaminação da via aérea inferior [19]. Segundo o Endotracheal suctioning of mechanically ventilated patients with artificial airways [20] as diretrizes do Centro de Controle de
Doenças (CDC) para as precauções padrão em procedimentos invasivos devem ser
respeitadas durante a aspiração e todos os equipamentos e suprimentos devem ser
adequadamente eliminados e/ou desinfetados [20]. O CDC preconiza a proteção dos
olhos, nariz e boca do profissional, com a utilização de máscara facial e
óculos de proteção, o uso de avental, luvas estéreis e higienização das mãos
antes e depois da realização do procedimento [29]. O uso de técnica estéril foi
recomendado em metade dos artigos avaliados que abordaram este tópico [19,20].
Recomendação: É recomendado para
aspiração endotraqueal de adultos intubados o uso de técnica estéril, incluindo
a lavagem das mãos antes e após o procedimento, utilização de luvas e sonda
estéril, óculos de proteção, máscara e avental. Grau de recomendação B.
Diâmetro da sonda de aspiração: É um ponto
importante tanto para a eficácia quanto para a segurança do procedimento.
Apesar de recomendado que seja utilizada a sonda de aspiração com menor
diâmetro possível capaz de remover adequadamente as secreções em virtude das
complicações relacionadas ao diâmetro da sonda [19], na prática, esta
informação oferece pouca ajuda na tomada de decisão do profissional.
Rotineiramente, utiliza-se a sonda French (Fr) 16 para TET com diâmetro interno >
9 mm, sonda Fr 14 para TET com diâmetro
interno de 8,0 ou 8,5 mm e sonda Fr 12 para TET com
diâmetro interno de 7,0 mm a 7,5 mm [3].
Existem três
variáveis para determinar a relação entre a sonda e tamanho do TET: diâmetro,
volume e área da secção transversal [30]. O nível de pressão de sucção
transmitido à via aérea é determinado pela combinação entre o diâmetro da sonda
de aspiração e a pressão de sucção [20,21]. Desta maneira, quanto maior o
diâmetro da sonda e mais negativa a pressão de sucção, mais fluxo de gás é aspirado e mais negativa é a pressão traqueal durante a
aspiração [20]. Possivelmente, o diâmetro da sonda de aspiração tem mais
influência na perda de volume pulmonar do que a pressão negativa de sucção
[20].
A maioria dos estudos
analisados recomenda que o diâmetro da sonda de aspiração não ultrapasse 50% do
diâmetro do TET [19-21]. Foi demonstrado que sondas maiores do que isso aumentam o risco de trauma por causarem maior contato
com a mucosa [26].
Recomendação: É recomendado para
aspiração endotraqueal de adultos intubados que o diâmetro da sonda de
aspiração não exceda metade do diâmetro interno do TET. Grau de recomendação A.
Pressão de sucção: A pressão de sucção é a pressão negativa
aplicada durante a aspiração para sugar as secreções. Vários estudos recomendam
que esta pressão seja o menos negativa possível para reduzir o risco de
atelectasia, hipóxia e danos à mucosa traqueal [8,19,20,26].
Contudo, na prática, o que se observa é que, muitas vezes, este ponto não é
avaliado durante o procedimento, ficando o profissional livre para alterar a
pressão de sucção da maneira que achar necessário para uma aspiração eficiente
[4,19].
O Endotracheal suctioning of the
adult intubated patient – What is the evidence? [19] recomenda usar
baixas pressões de sucção, entre 80 a 120 mmHg
negativos. Os autores discutem que, quando necessário, a pressão negativa de
200 mmHg pode ser aplicada desde que o diâmetro da
sonda de aspiração esteja adequado [19]. O Endotracheal suctioning of mechanically ventilated patients with artificial airways [20] recomenda que não se deve
exceder 150 mmHg negativos em pacientes adultos e que a pressão negativa deve
ser checada antes de cada aspiração, ocluindo-se a parte final da sonda de
aspiração [20].
Recomendação: É recomendado que
para aspiração endotraqueal de adultos intubados a pressão de sucção fique
entre 80 a 120 mmHg negativos, não devendo exceder 150
mmHg negativos. Grau de recomendação B.
número de vezes que a sonda
é inserida na via aérea em cada procedimento. Aspirações frequentes (mais que
seis vezes/dia) substancialmente aumentam o risco de dessaturação
de O2 e hemorragia [3].
O Suctioning: a review of current research recommendations [26] recomenda que antes de novo evento
de aspiração deva-se aguardar o retorno da SpO2
aos níveis anteriores a aspiração, não devendo este tempo ser inferior a 30
segundos, e que o número de repetições não exceda a três [26]. Contudo, esta
recomendação foi feita apenas por este estudo.
Este tópico não foi
mencionado em todos os estudos incluídos e naqueles que o incluíram, não houve
consenso, não sendo possível estabelecer uma recomendação baseada em evidência.
Recomendação: É recomendado que
para aspiração endotraqueal de adultos intubados o número de inserções da sonda
seja o menor possível capaz de remover adequadamente as secreções, não devendo
exceder três. Grau de recomendação I.
Duração de cada aspiração: A duração de cada
aspiração refere-se ao tempo em que a sonda permanece na via aérea em cada
procedimento, considerando o tempo de inserção, de sucção e de retirada. As
evidências deixam claro que, quanto maior a duração da aspiração, maior a
gravidade dos efeitos adversos, com o risco de danos à mucosa traqueal e
hipoxemia [1,19,26-28]. A maioria dos estudos
recomenda que a duração de cada evento de aspiração não exceda 15 segundos [1,19,26-28]. Se necessário, o procedimento de aspiração pode
ser repetido após o tempo suficiente para retornar a ventilação e a SpO2 ao valores da linha de base 5.
Recomendação: É recomendado que o
tempo de aplicação de cada aspiração endotraqueal em adultos intubados não
exceda 15 segundos. Grau de recomendação
A.
Instilação de solução salina: Prática bastante
controversa e largamente utilizada nas UTI brasileiras, consiste na instilação
de alíquotas de solução salina (0,9%, geralmente entre 2 a 10 mL) no TET, antes ou durante a inserção da sonda, tanto
como parte da aspiração endotraqueal quanto como um dos componentes da
intervenção fisioterapêutica [21,31,32]. Tal fato se
baseia na premissa de que a instilação de solução salina pode favorecer o
deslocamento das secreções através de diluição, estimular a tosse e lubrificar
a sonda de aspiração [20,21,31,33,34]. Contudo,
discute-se que este procedimento pode causar efeitos adversos na SpO2, devendo ser utilizado com cautela como
intervenção de rotina em pacientes com pneumonia [32].
Segundo o Clinical
practice guidelines for suctioning the airway of the intubated and nonintubated patient [22], O Endotracheal suctioning of the adult intubated patient – What is the
evidence? [19] e o Endotracheal suctioning of mechanically ventilated patients with artificial airways [20], não existem evidências para recomendar o
uso de solução salina para melhorar oxigenação e remover secreções em pacientes
em VM [22]. Segundo estes autores, devido ao risco aumentado de infecções e ao
desconforto do paciente, este procedimento não deve ser indicado [19].
De acordo com o Endotracheal suction in intubated critically ill adult patients
undergoing mechanical ventilation: a systematic review [23], instilar solução salina não difere de não
instilar em relação às variáveis FC, PA, pressão arterial de oxigênio (PaO2) e ocorrência de atelectasia. Desta maneira,
devido à falta de evidências conclusivas que apoiem ou contraindiquem este
procedimento, a instilação de solução salina não deve ser realizada rotineiramente
para a aspiração endotraqueal de adultos intubados [19,20,22].
A solução salina estéril pode ser utilizada para umedecer a sonda antes da
introdução da mesma no TET [20].
Recomendação: Não é recomendada a
instilação de solução salina de maneira rotineira durante a aspiração
endotraqueal de adultos intubados. Grau
de recomendação C.
Hiperoxigenação: O termo hiperoxigenação refere-se à prática de aumentar a FIO2,
tipicamente em adultos para 100% ou 20% acima da FIO2 anterior a
aspiração, por um curto período de tempo, antes, durante e após a aspiração [1,19,21,22]. Ela é aplicada para reduzir a hipoxemia
induzida pela aspiração, uma vez que ao se aspirar as secreções endotraqueais,
o ar que está presente na árvore traqueobrônquica é aspirado, consequentemente
causando queda da PaO2 e da SpO2
[22]. Pode ser realizada de várias maneiras em indivíduos intubados, sendo as
principais através do aumento da FIO2 do ventilador ou através da hiperinsuflação e hiperoxigenação
com o ambu [22,35].
Já foi demonstrado
que, mesmo por curtos períodos de tempo, o excesso de O2 em
determinados indivíduos pode causar efeitos adversos como: hipercapnia,
atelectasia por absorção, alterações alveolares e traqueobrônquicas, e,
principalmente, estresse oxidativo [11,19]. Contudo, a hiperoxigenação
com FIO2 a 100% um minuto antes e após a aspiração resultou em
aumento dos níveis de SpO2 e da paO2
sem nenhum efeito adverso [34].
Em todos os estudos
analisados foi consenso que a hiperoxigenação com FIO2
a 100% deve ser realizada durante a aspiração em todos os indivíduos adultos em
VM para manter a SpO2 em níveis adequados,
especialmente naqueles vítimas de trauma, nos cardiopatas e nos indivíduos com
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) [19,22]. Alguns estudos compararam a hiperoxigenação realizada através do aumento da FIO2
do ventilador com a hiperoxigenação realizada com o ambu, sendo a hiperoxigenação no
ventilador superior a do ambu, por ser mais eficiente
para ofertar O2 em indivíduos intubados durante a aspiração [22].
Segundo o Endotracheal suctioning of mechanically ventilated patients with artificial airways [20]
o ambu não é recomendado para a hiperoxigenção,
pois se tem demonstrado ineficiente para fornecer FIO2 a 100% [20].
Recomendação: É recomendado hiperoxigenação com FIO2 a 100% pelo menos 30
segundos antes, durante e um minuto após a aspiração endotraqueal de adultos
intubados, sendo o ventilador mecânico o método mais eficiente para a
realização da hiperoxigenação nestes indivíduos. Grau de recomendação A.
Hiperinsuflação: A hiperinsulflação é a prática de adicionar volume extra aos
pulmões (entre 10 a 15 L/min) [20-22]. Ela pode ser
realizada de várias maneiras, sendo mais comumente através de uma ou uma
sequência de insuflações com volume superior ao VC empregado, seja via
respirador ou via ambu, antes, durante e após a
aspiração [21,22]. Esse aumento na ventilação pode ou não estar associado ao
aumento da FIO2 [22]. Supõe-se que a hiperinsuflação
resulte em um aumento da complacência pulmonar e redução da resistência das
vias aéreas em pacientes com PAV [21,22]. Contudo, as implicações clínicas
dessas alterações fisiológicas ainda são obscuras, de maneira que o uso de hiperinsulflação ainda é controverso.
Os estudos analisados
não apontaram benefícios consistentes nos níveis de O2 relacionados
à hiperinsuflação em indivíduos após cirurgia
cardíaca, sendo consenso entre a maioria deles que a hiperinsulflação
não deve ser recomendada para pacientes em pós-operatório (PO) de cirurgia de
revascularização do miocárdio (CRVM) e em indivíduos com traumas cranianos com
aumento da PIC [20-22,28]. Nos pacientes de trauma craniano, os estudos
demonstraram que um aumento no volume, mas não um aumento na frequência das
insuflações, pode resultar em aumento da PIC [22]. Foi observado ainda um
aumento da PA associado à hiperinsuflação [22]. A
aplicação de hiperinsuflação como um dos componentes
da intervenção fisioterapêutica para a higiene brônquica através da técnica de
bag squeenzing não foi investigada nesta revisão.
Recomendação: Não é recomendado a
hiperinsuflação de rotina para a aspiração
endotraqueal em adultos intubados, especialmente naqueles em PO de CRVM e com
traumas cranianos. Grau de recomendação
D.
Aspiração subglótica: A aspiração subglótica refere-se à técnica de aspiração das secreções
retidas acima do Cuff,
do lado de fora do TET, com o objetivo de prevenir que estas secreções atinjam
os pulmões [21]. Alguns tipos de TET são especialmente modificados para isso.
No Brasil, contudo, na maioria das vezes, a aspiração das secreções subglóticas é realizada após a aspiração do TET, pela
introdução da sonda de aspiração através da boca, fora do TET, aproximadamente
abaixo 8-10 cm [5]. Apesar da técnica de aspiração subglótica
não ser uma pergunta do estudo, as evidências recomendam que este procedimento
seja realizado para a prevenção de pneumonia em pacientes que requerem mais que
72 horas de VM [21].
Recomendação: É recomendada
a aspiração sbglótica em adultos intubados, especialmente
naqueles com mais de 72 horas de VM. Grau
de recomendação A.
A aspiração
endotraqueal deve ser realizada em adultos intubados por pessoal qualificado,
assepticamente, sempre que necessária. Não deve exceder 15 segundos por
aspiração e nem ser realizada rotineiramente, e sim, na presença de secreções –
grau de recomendação A. A sonda de aspiração deve ter um diâmetro menor que 50%
do tubo endotraqueal e a hiperoxigenação com fração
inspirada de oxigênio a 100% no ventilador deve ser utilizada – grau de
recomendação A. A pressão de sucção não deve exceder 150 mmHg
negativos – grau de recomendação B. É recomendada a aspiração subglótica, especialmente naqueles indivíduos com mais de
72 horas de ventilação mecânica invasiva – grau de recomendação A.
A quantidade de
estudos que abordam o tema aspiração endotraqueal em adultos intubados é
escassa, especialmente aqueles de boa qualidade metodológica. Desta maneira,
alguns pontos específicos da técnica ainda carecem de evidências científicas
tornando importante a atualização das recomendações.