ARTIGO
ORIGINAL
Influência
da bandagem elástica kinesio tape e da hidroterapia na dor pélvica posterior e
na funcionalidade nas atividades diárias de gestantes
Effect of bandage elastic kinesio tape and
hydrotherapy on back pelvic pain and functionality of pregnant daily activities
Pâmella Cipriano*,
Claudia de Oliveira, M.Sc.**
*Discente
do curso de Fisioterapia da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), Santos/SP,
**Doutoranda no Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da FMUSP, Docente da
UNISANTA Santos/SP
Recebido em 27 de
outubro de 2015; aceito em 15 de outubro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Claudia de Oliveira, Clínica de Fisioterapia- 1° andar, Rua Doutor Oswaldo
Cruz, 266, Boqueirão, 11045-907 Santos SP, E-mail: claufisio2005@yahoo.com.br, pamella.sf@hotmail.com
Resumo
O presente estudo tem
como objetivo verificar a influência da bandagem elástica no tratamento da dor
pélvica posterior e na funcionalidade nas atividades de vida diária das
gestantes. Trata-se de um estudo experimental, controlado e prospectivo com 20
gestantes, que foram divididas em dois grupos: Grupo de Estudo (bandagem
elástica e hidroterapia) e Grupo Comparativo (hidroterapia). A dor foi avaliada
pela Escala Visual Numérica e a funcionalidade por meio do questionário de
incapacidade funcional de Rolland-Morris. Foram incluídas no projeto 20
gestantes, sendo 10 em cada grupo, com idade entre 18 e 39 anos. Não houve
diferença estatística entre os dois grupos (p > 0,05), considerando-se os
valores obtidos com esses dois instrumentos de avaliação. Os dois tratamentos
mostraram melhora em relação à dor e à funcionalidade das atividades rotineiras
das gestantes. Entretanto, o Grupo de Estudo obteve índices melhores do que o
Grupo Comparativo. Conclui-se que ambos os tipos de tratamento são eficazes
para o tratamento da dor pélvica posterior e para a melhoria da funcionalidade
nas atividades diárias em gestantes; e a bandagem elástica pode ser usada no
tratamento da dor lombar durante a gravidez de forma segura.
Palavras-chave: gestação, dor
lombar, athletic tape, Fisioterapia.
Abstract
The aim of this study was to verify the influence of elastic bandage in
treatment of posterior pelvic pain and level of functionality in pregnant women
daily activities. This was an experimental, controlled and prospective study,
with 20 healthy pregnant women, divided into two groups: Study Group (elastic
bandage and hydrotherapy) and Comparative Group (hydrotherapy). Pain was
assessed by Visual Numerical Scale and functionality in daily activities
through a disability questionnaire of Ronald-Morris. Twenty pregnant women were
included in the project, 10 in each group, aged within 18 and 39 years old.
There was no statistical difference between the two groups (p > 0.05), considering
the values obtained from two evaluation instruments.
Both types of treatment showed improvement in pain feeling and functionality of
routine activities of pregnant women. However, the Study Group obtained better
results than the Comparative Group. It can be concluded that both types of
treatment are effective for the treatment of posterior pelvic pain and
improvement in functionality of pregnant women daily activities; and elastic
bandage can be used to treat lower back pain during pregnancy safely.
Key-words: gestation,
low back pain, athletic tape, Physical Therapy modalities.
A gravidez é um
importante momento para a mulher reestruturar a sua vida e a função que ela
exerce, pois ela passa do papel de ser apenas filha para o de ser mãe também
[1], além de ter que reajustar sua relação conjugal, socioeconômica e
profissional. A essas mudanças somam-se as alterações hormonais e biomecânicas,
que geram desconforto nas gestantes, no exercício de suas atividades diárias
[2].
Um dos problemas mais
frequentes durante a gestação é a dor lombar. Estudos mostram que mais de 50%
das gestantes apresentam dor lombar, problema que compromete a qualidade de
vida das mesmas [3-5]. Normalmente a dor não há melhora, nem com analgésicos
nem com repouso, tendo a gestante que ocorrer à intervenção fisioterapêutica
[6,7].
A dor pélvica
posterior é ocasionada devido à mudança da postura durante a gestação, por
conta das ações hormonais [8]. Além disso, no período gestacional ocorre o
crescimento do volume do útero e das mamas, ocasionando mudança do centro de
gravidade da mulher. Em decorrência disso, podem acontecer algumas compensações
posturais, como: a hiperextensão de joelhos, a diminuição do
arco plantar e a anteversão pélvica, a qual, por sua vez, pode favorecer
o aparecimento de uma lordose para além dos limites aceitáveis para a gravidez
(hiperlordose). Essas compensações posturais podem tensionar a musculatura
paravertebral e causar lombalgia [8,9].
A lombalgia é
conceituada como toda condição de dor ou rigidez, localizada na região inferior
do dorso, em uma área situada entre o último arco costal e a prega glútea [8].
Já a dor pélvica posterior, segundo Pitangui e Ferreira [9], é uma lombalgia
específica do período gestacional, de caráter intermitente, com irradiação para
um ou ambos os glúteos.
O tratamento da dor
pélvica posterior - assim como o da lombalgia - pode ser convencional
(farmacológico) ou fisioterapêutico. Os recursos fisioterapêuticos mais
utilizados nesse tipo de tratamento são: hidroterapia, reeducação postural
global (RPG), Pilates, alongamentos, cinesioterapia, eletroterapia e, mais
recentemente, a bandagem elástica ou Kinesio
Tape (KT) [12].
A hidroterapia, em
baixa e média intensidade, tem sido muito indicada durante o período
gestacional, devido aos benefícios da atividade física relacionada à imersão,
como: o baixo impacto articular, o aumento do retorno venoso devido à pressão
hidrostática, a diminuição de edemas, o incremento da diurese e a prevenção ou
melhora dos desconfortos musculoesqueléticos [12].
O método KT foi
inventado em 1973 pelo Dr. Kenzo Kase. Aplicado sobre a pele, o KT constitui-se
em uma bandagem adesiva funcional, que pode ser esticada de 120% a 140% do seu
comprimento original. A bandagem é de algodão (100%), com espessura basicamente
igual à da pele e com propriedades elásticas que permitem sua melhor aderência
à epiderme, além de possibilitar mobilidade ao tecido cutâneo, dessa forma
impedindo a fadiga muscular [13].
O KT é utilizado no
tratamento de diversos problemas, trazendo aos pacientes muitos benefícios:
melhora a drenagem de edema, pois promove aumento do retorno venoso; melhora a
amplitude dos movimentos, pois suporta os músculos e as articulações devido à tensão
colocada na fita; melhora a função muscular e reduz a dor [13]. O método é mais
utilizado na área esportiva, sendo citado em artigos para alívio de dores,
contraturas, hematomas e redução de edema. Há, porém, uma escassez de artigos
que abordam o KT no tratamento da dor pélvica posterior em gestantes.
Segundo Parreira e
Nakano, o método KT reduz a dor lombar em grávidas e apresentou efeito benéfico
mais duradouro que o Streching Global
Ativo (SGA) [13,14].
Sousa e Mejia
realizaram uma revisão de literatura sobre o uso da bandagem nas disfunções
musculoesqueléticas na gestação, porém constataram que a bandagem mesma é pouco
estudada, tendo um número escasso de publicações, estas com maior número de
público atleta. Porém também descrevem que o método pode ter uma boa aceitação
pelas gestantes, pois é um método preventivo e inibitório e ajuda na realização
das AVD.
Em decorrência dos
inúmeros resultados benéficos do KT [13-19] e da possível limitação e
desconforto causado pela dor lombar em mulheres grávidas, o presente estudo
teve como objetivo verificar a influência da bandagem elástica Kinesio Tape e da hidroterapia na dor
pélvica posterior e na funcionalidade das atividades diárias em gestantes.
Material
e métodos
Trata-se de estudo
experimental, controlado e prospectivo. A amostra foi constituída de 20
gestantes, que foram divididas em dois grupos: Grupo de Estudo (GE): gestantes
que fizeram uso da Kinesio Tape e da
hidroterapia (n = 10); Grupo Comparativo (GC): gestantes que fizeram
hidroterapia (n = 10).
Foi avaliado
inicialmente um total de 24 gestantes que estavam inscritas no ambulatório da
Clínica de Fisioterapia da Universidade Santa Cecília (Unisanta) durante o
período que foi realizado esta pesquisa. Dessas, 4
foram excluídas da pesquisa, pois duas apresentaram teste de dor lombar
negativo e outras duas desistiram do protocolo de pesquisa. Das 20 restantes,
dez foram encaminhas para o GC e 10 para o GE, como mostra a Figura 1.
Foram inclusas na
pesquisa gestantes com as seguintes características: estavam com três ou mais
meses de gestação, multíparas, primíparas, tinham idade entre 18 e 39 anos,
apresentavam dor pélvica posterior, comprovada pelo teste de provocação de dor
lombar [20], eram alfabetizadas, estavam cadastradas no ambulatório de
Fisioterapia Obstétrica da Unisanta, eram acompanhadas por esse ambulatório,
feto único e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Foram excluídas gestantes com as seguintes características: falta nos
encontros, faziam uso de fármacos para a lombalgia, não conseguiam permanecer
por, no mínimo, 3 dias com a KT (item controlado por
meio do questionário de pré-aplicação), tiveram alergia à bandagem elástica,
desistiram do protocolo e apresentavam gestação de alto risco.
O estudo foi
realizado na clínica de Fisioterapia da Unisanta, no período de março de 2014 a
fevereiro de 2015. Foi conduzido de acordo com as Diretrizes e Normas
Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos (Resolução nº466/2012 do
Conselho Nacional de Saúde) e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Santa Cecília,sob o parecer CAAE
nº24440613.2.0000.5513. Todas as gestantes foram avaliadas no Ambulatório de
Uroginecologia e Obstetrícia da Unisanta. Na ocasião, receberam uma breve
explicação a respeito da pesquisa e foram esclarecidas a respeito de sua
participação, tendo sido também orientadas sobre os benefícios da hidroterapia
na gestação e sobre a ação da KT. Após essas explanações iniciais, as gestantes
tiveram a liberdade de escolher em participar ou não do estudo, como
voluntárias. As que aceitaram, assinaram o TCLE, autorizando que os dados
coletados fossem utilizados para fins de pesquisa, e preencheram o questionário
sociodemográfico, desenvolvido pelas pesquisadoras. A seguir, essas voluntárias
passaram por um teste de provocação de dor lombar, a qual foi avaliada por meio
da aplicação da Escala Visual Numérica (EVN) [21] para a medição da dor. Por
último, elas responderam ao questionário de incapacidade funcional de Roland
Morris [22,23].
Feito isso, foi
realizada a formação de cada um dos dois grupos da pesquisa. Nesse quesito,
optou-se por uma seleção aleatória das participantes, utilizando-se como base a
inscrição das gestantes na lista de cadastro de pacientes da clínica: a
primeira a se inscrever foi encaminhada para o GE; a segunda para o GC e,
assim, sucessivamente.
Uma vez por semana,
as gestantes de ambos os grupos participaram de uma sessão de hidroterapia, que
seguiam o mesmo protocolo de exercícios durante toda a pesquisa e eram
aplicadas pelas estagiárias da Clínica de Fisioterapia, supervisionado pela
pesquisadora do presente estudo. Após cada encontro, foi aplicada a bandagem KT
nas gestantes do GE.
Na segunda sessão,
assim como nas demais, as gestantes do GE primeiramente responderam a um
questionário para que a pesquisadora pudesse ter controle de quantos dias elas
ficaram com a bandagem; depois fizeram hidroterapia e, por último, receberam a
aplicação da bandagem.
Os dois grupos foram
reavaliados após a 10ª sessão. A reavaliação consistiu na aplicação do
questionário de Roland-Morris e da Escala Visual Numérica (EVN).
Todo o processo de
intervenção (Figura 2) consistiu em 10 sessões, e a primeira sessão (T0) foi de
avaliação; e a décima (T1) de reavaliação e a devolutiva das gestantes se houve
melhora ou não da dor.
Para a caracterização
da amostra, foram colhidos os dados seguintes: idade, altura, raça/cor,
profissão e também o IMC, classificado pela curva de Atalah [19], que é
específica para gestantes. A comprovação da lombalgia foi realizada por meio do
teste de provocação de dor lombar [20], que consiste em uma simples flexão do
tronco, realizada pela gestante. Se ela queixar-se de dor na região lombar, é
sinal de positividade para o teste.
A dor foi avaliada
pela EVN, que proporciona medição simples e eficiente. A escala vai de 0 a 10,
onde 0 é ausência de dor e 10 indica a dor máxima
suportável. É minimamente intrusiva na intensidade da dor e tem sido utilizada
largamente em clínicas e em laboratórios de investigação, por apenas assinalar
valor numérico [21].
A funcionalidade da
gestante em suas atividades de vida diária (AVD) foi avaliada pelo questionário
de incapacidade funcional, de Roland-Morris. Esse teste apresenta 24
afirmativas sobre situações do dia a dia. A gestante deve marcar as que
representam dificuldade para ela. A pontuação vai de 0 a 24, e a cada
afirmativa soma-se 1 ponto. Quanto maior a pontuação,
mais incapacidade funcional a dor traz à gestante [23].
Para ambos os grupos,
eram realizadas sessões de hidroterapia com exercícios de aquecimento,
alongamento, mobilidade pélvica, fortalecimento e propriocepção do assoalho
pélvico, fortalecimento dos membros superiores (MMSS) e inferiores (MMII) e
relaxamento. Cada exercício elaborado consistia de três séries de dez
repetições. O encontro tinha duração de 45 minutos. Nas gestantes do GE, após a
hidroterapia era aplicada a bandagem elástica na cor bege.
Na pesquisa foi
utilizada a bandagem chamada de Kinesio
Tape (Figura 3). A técnica utilizada foi a do bloqueio dos músculos
paravertebrais lombares [24]; colocando-se as tiras de KT sobre esses músculos
e combinando-se a colocação com outra tira na horizontal, sobre as espinhas
ilíacas póstero-superiores (Figura 4). Para a aplicação dessa bandagem
elástica, cada gestante do GE realizou uma flexão de tronco, para o alongamento
da musculatura. Na sequência, foi feita a colagem da bandagem, colocando 25% de
tensão na fita e 0% em suas âncoras e realizada da inserção para a origem dos
músculos paravertebrais [25,26]. As aplicações foram realizadas uma vez por
semana, realizada pela autora, colocando-se a KT em toda a região lombar das
gestantes do GE, que foram instruídas a permanecer com essa bandagem elástica
de 3 a 5 dias. A retirada da fita foi feita pela própria gestantes que foram
orientadas a retirar somente após 3 dias no mínimo e 5
dias o máximo com uso da fita; sendo realizada durante o banho, embaixo da água
corrente, tornando-se menos doloroso a retirada.
Os dados numéricos
foram expressos em média e desvio padrão; e os categóricos, em frequência
relativa e absoluta. Para a análise comparativa numérica, foi utilizado o teste
T, de Student, pareado para amostras dependentes. Para avaliar se os grupos
eram homogêneos, foi utilizado o teste T de Student, para amostras
independentes. Para comparação dos dados categóricos, utilizou-se o teste
Qui-quadrado.
Figura
1 - Formação dos grupos de gestantes avaliadas.
Figura
2 – Fluxograma dos procedimentos de intervenção.
Figura
3 – Bandagem elástica Kinesio Tape.
Fonte: Arquivo pessoal
da autora.
Figura
4 - Gestante com a técnica de KT na região
lombar.
Fonte: Arquivo pessoal
da autora
A idade das gestantes
estudadas apresentou as seguintes médias: gestantes do GC, 28,2 (± 6,66) anos;
e gestantes do GE, 31,1 (± 4,81) anos. Não houve diferença estatística
significativa na comparação dos dois grupos: p = 0,279.
Com relação à idade
gestacional, os grupos não apresentaram diferença estatisticamente significante
(p = 0,425). No GE, a média foi de 25,5 semanas (DP = 4,6); e, no GC, 20,5
semanas (DP = 12,4).
Quanto ao quesito
raça/cor, todas as gestantes se declararam como sendo da raça/cor branca.
Segundo a
classificação de Atalah, não houve diferença entre os grupos com relação ao
peso durante a gestação (Tabela I). Das 20 gestantes, 35% caracterizaram-se com
peso acima do normal (sobrepeso ou obesidade).
A média dos valores
iniciais da dor pélvica posterior e da incapacidade funcional foram maiores no
GE. Comparando-se os dois grupos, os resultados da EVN e os do questionário de
incapacidade funcional, de Roland Morris, tanto em T0 como em T1, não mostraram
diferença estatística significante (Tabela II ).
Os dois procedimentos
mostraram, pela EVN, diminuição nos valores da dor. O GE, porém, obteve valores
estatisticamente menores (p = 0,001) que o GC. Já no quesito incapacidade
funcional, segundo o questionário de Morris observou-se diminuição na pontuação
em ambos os grupos, mas com valor estatisticamente menor no GC (p=0,002), como
se observa na Tabela III.
Tabela
I - Caracterização da amostra de ambos os grupos.
GE = Grupo de Estudo;
GC = Grupo Comparativo; IMC = índice de massa corpórea; DP = desvio padrão; F
i= frequência absoluta; F r= frequência relativa; IG= idade gestacional em
semanas; a) teste T para amostras independentes; b) teste Qui-quadrado; c)
Atalah: índice de massa corpórea específico para gestantes.
Tabela
II –
Comparação dos instrumentos de pesquisa
entre os grupos em T0 e T1.
GE = Grupo de Estudo;
GC = Grupo Comparativo; EVN = Escala Visual Numérica; Morris = questionário de
incapacidade funcional, de Roland Morris; T0 = avaliação inicial; T1 =
reavaliação; p-valor = referente a média; ± = desvio
padrão referente ao teste T para amostras independentes.
Tabela
III
- Comparação dos instrumentos de pesquisa
em T0 e T1.
A lombalgia
gestacional é uma queixa comum durante a gravidez, embora seja referida por
muitos profissionais da saúde como um desconforto inerente ao período
gestacional que não necessita de prevenção ou alívio, pois desaparecerá
espontaneamente após o parto. No entanto, esse é um problema muito sério para a
mulher durante a gravidez, demandando prevenção ou tratamento para o alívio da
dor [26].
Na presente pesquisa,
as gestantes do grupo comparativo apresentaram média de idade mais baixa do que
a do GE. Segundo Gil et al. [27], esse fato poderia influenciar
a resposta a qualquer tratamento. No caso deste estudo, contudo, não se
verificou diferença. Acredita-se que isso tenha ocorrido devido ao fato de os
grupos serem homogêneos, não apresentando diferença estatística entre eles.
Quanto à idade gestacional, as mulheres de ambos os grupos já se encontravam no
2º trimestre de gestação, que, segundo o estudo de Madeira et al. [26], é o período no qual frequentemente é desencadeada a dor
lombar. Em artigos de revisão da literatura, alguns autores [27] encontraram a
incidência da dor lombar entre o terceiro e o sétimo mês de gestação. Esse é o
período no qual os ligamentos e os músculos sofrem maior ação dos hormônios
relaxina e estrogênio, e também o período no qual há maior sobrecarga nessas
estruturas. Entretanto, em estudo realizado em São Paulo [28], os autores
observaram que as grávidas tiveram maior prevalência da dor no terceiro
trimestre gestacional.
Das 20 gestantes
estudadas nesta pesquisa, 35% apresentaram IMC acima do adequado, o que pode
ter contribuído para o aumento da dor lombar, corroborando os estudos de Ferreira
et al. [14] e Barbosa et al. [29], que
destacam que o aumento do peso corporal materno e/ou fetal é um fator
desencadeante da lombalgia.
A dor das gestantes
do GC foi de intensidade moderada em T0. Após as sessões de hidroterapia, houve
diminuição nos escores da dor, que chegou a uma intensidade quase leve. Rosa et al. [29] comprovaram os benefícios da
hidroterapia em estudo no qual compararam a terapia em solo com a terapia na
água. No grupo em que as gestantes foram submetidas à terapia na água, houve
diminuição maior da lombalgia do que no grupo que realizou a terapia no solo.
De acordo com Prevedel et al. [30], isso se deve às propriedades
terapêuticas da água, a qual, com o apoio de manobras e posicionamentos
favoráveis, provoca relaxamento da musculatura. Além disso, os próprios efeitos
fisiológicos da imersão promovem a diminuição dos espasmos musculares. Lamezon
e Patriota [31] ainda citam como benefícios da água: a redução da sensibilidade
à dor, a facilidade em realizar os movimentos articulares, o aumento da força e
da resistência muscular, a redução da atuação da força gravitacional e a
melhora da consciência corporal e do equilíbrio.
Ao se analisar a
funcionalidade no GC, em T0 verificou-se incapacidade funcional moderada a qual
passou a leve em T1; houve melhora nesse aspecto, portanto. Segundo Baracho
[32], só pelo fato de estarem dentro da água as gestantes criam melhor
mobilidade, pois nessa situação a força da gravidade atua de forma menos
intensa. Desse modo, os exercícios podem ser realizados de maneira mais
intensa, provocando a diminuição da retenção hídrica. Em consequência, os
sintomas fisiológicos diminuem e os aspectos psicológico e emocional da
gestante melhoram.
No GE, a intensidade
da dor em TO foi moderada, passando para quase leve em T1. A diminuição da dor
foi maior nesse grupo que no GC. Isso se deve a todos os benefícios - já
discutidos - da hidroterapia, associada à aplicação da bandagem elástica. Essa,
segundo Batista et al. [33], aumenta a estimulação dos
mecanorreceptores, minimiza a pressão da pele sobre o tecido miofascial e,
assim, altera o fluxo sanguíneo, então melhorando o processo inflamatório. Já
Artioli e Bertolini [21] dizem em seu estudo que o mecanismo de analgesia da KT
é acionado pelos mecanismos do sistema de comportada dor, diminuindo ou
suprimindo sua percepção. O estímulo mecânico proporcionado pela KT atua por
meio das fibras de condução rápida e, ao chegar à Substância Gelatinosa de
Rolando (corno posterior da medula espinhal), faz sinapses com interneurônios
inibitórios, provocando o fechamento da comporta e, assim, não permitindo a
passagem dos estímulos de dor.
Parreira e Amaral
[13] realizaram estudo com gestantes, divididas em três grupos: em um grupo foi
aplicada a KT na região lombar; um segundo grupo realizou sessões de Stretching Global Ativo (SGA, um método
de alongamento progressivo e não forçado); o terceiro grupo funcionou como
grupo controle. Esses autores obtiveram como resultado que o KT teve efeito
superior ao SGA no que se refere à analgesia e à funcionalidade. Castro-Sánchez
et al. [34] avaliaram a efetividade da KT
na diminuição da dor lombar em indivíduos com dor lombar crônica. Constataram
que o efeito da KT na diminuição da dor foi pequeno. Apesar disso, teve um
resultado duradouro, mantido semanalmente, durante as quatro semanas de
avaliação. O mecanismo pelo qual a KT causaria diminuição de longa duração da
dor não ficou claro na pesquisa realizada por Castro-Sánchez et
al. Já Artioli e Bertolini [21] realizaram revisão sistemática sobre os efeitos
da KT na dor. Verificaram que a KT não é uma técnica analgésica principal e que
seu efeito ocorre após 24 horas da aplicação. Batista et
al. realizaram uma revisão sistemática sobre os efeitos da KT na dor lombar. Eles
também não evidenciaram os efeitos da bandagem na diminuição da dor, seja a longo prazo, seja em comparação a outras técnicas
convencionais [33]. Assim, o fato de a diminuição da dor, no GE, não ter sido
estatisticamente significante pode ser explicado pela data da reavaliação em
T1, que foi realizada após 5 dias da sua aplicação,
pois é quando ocorre a diminuição do polímero elástico da bandagem [33,34].
Quanto à melhora da
funcionalidade nas gestantes do GE, superior a encontrada no GC, não foram
encontrados dados na literatura que explicassem a atuação da KT nesse quesito.
Porém, podemos hipotetizar que este fato tenha ocorrido, pois o uso da KT
proporcionou diminuição da dor, devido ao estímulo dos mecanorreceptores e da
pressão negativa que a KT gera sobre a pele, diminuindo a pressão na fáscia,
aumentando a circulação local [33]. Podemos pressupor também que a KT sobre os
músculos paravertebrais melhorou o posicionamento e a biomecânica da coluna
vertebral, favorecendo seus movimentos e com isso melhorando a funcionalidade
das gestantes.
Mesmo apresentando
algumas limitações - como, por exemplo, as que se referem à falta de artigos
sobre a KT em gestantes e aos dados que ainda são controversos sobre essa
técnica -, este estudo tem caráter inovador e pioneiro na área da fisioterapia
obstétrica, porque indica uma nova opção de tratamento, que pode ser usado com
as gestantes para diminuição da dor lombar, com grande vantagem de ser não
medicamentoso, além de não possuir contra indicação.
Dessa forma, novos
estudos sobre o tema devem ser realizados, abordando comparações entre a
aplicação da bandagem elástica de forma isolada e/ou aliada a outras técnicas,
levando em conta também amplitude de movimento da coluna lombar. Pode-se,
ainda, avaliar a qualidade de vida dessas gestantes, antes do tratamento e após
seu término. Desse modo, estes estudos poderão, assim, contribuir para a área
da saúde de forma geral.
A presente pesquisa
pode concluir que, ambos os tratamentos – hidroterapia e bandagem elástica KT -
são eficazes para o tratamento da dor pélvica posterior e da funcionalidade em
gestantes.