ARTIGO
ORIGINAL
Terapia
com música em idosos do Sertão Central do Ceará
Music therapy for the elderly of the Sertão
Central of Ceará
Denilson de Queiroz
Cerdeira, Ft., M.Sc.,*, Danielle Santiago da Silva
Varela, Ft.,M.Sc.**, Valéria Lorena de Oliveira Monteiro Aranha, Ft.***
*Doutorando
em Biotecnologia (RENORBIO-UFPB), Docente do Centro Universitário Estácio do
Ceará, **Orientador, Docente dos Cursos de Fisioterapia, Psicologia Nutrição e
Enfermagem do Centro Universitário Estácio do Ceará, ***Co-orientadora, Docente
do curso de Fisioterapia da Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS)
Recebido 13 de
novembro de 2015; aceito em 12 de dezembro de 2015.
Endereço
de correspondência:
Denilson de Queiroz Cerdeira, Rua das Cajazeiras, 501 Casa 39, 60831-310
Fortaleza CE, E-mail: denilsonqueiroz@hotmail.com; Danielle Santiago da Silva
Varela: daniellesantiago@unicatolicaquixada.edu.br; Valéria Lorena de Oliveira
Monteiro Aranha: vlomfisio@gmail.com
Resumo
A terapia com música
para o idoso permite trabalhar a criatividade, a livre expressão, a comunicação
e ativação da memória, proporcionando um envelhecimento saudável e com melhor
qualidade de vida. Traçou-se o perfil musical do idoso e sua relação com o
movimento corporal. Trata-se de um estudo quantitativo descritivo com 30 idosos
na casa de Acolhida São João Calábria (Quixadá/CE) através de um questionário
desenvolvido para o estudo. Os resultados foram tabulados no Excel 2007 e
analisados na versão Epi Info 6.04d. Dos 30 idosos, 63% eram mulheres e 37%
homens, predominando a faixa etária entre 70 e 79 anos de idade. O estilo
musical que se destacou foi o religioso, seguido do baião e da Jovem Guarda.
Nas músicas “não preferidas” estavam incluídos o brega,
o romântico, o rock e o samba. Os homens mais que as mulheres recordaram de uma
música que tivesse lhe marcado a vida. A dança foi a
atividade predominante (68%) dos entrevistados quando estes estão ouvindo
música. A música influencia na autoestima (90%) e no bem-estar (40%). Por fim,
a alegria é o sentimento mais vivenciado (87%) pelos idosos através da música.
Observou-se que o perfil musical dos idosos é marcado por questões religiosas e
regionais e que a música pode ser utilizada como um incentivador para a
realização do movimento tão necessário na manutenção da autonomia e
independência na terceira idade.
Palavras-chave: música, idoso,
Fisioterapia.
Abstract
The music therapy for the elderly improves creativity, free expression,
communication and activation of memory, providing healthy aging and better
quality of life. The aim of this study was the music profile of elderly and its
relationship with body movement. This was a descriptive quantitative study of
30 elderly people, 70 to 79 years, old in the Housing
for the elderly São João Calábria
(Quixadá/CE) which used a questionnaire specially
developed for the study. Sixty three percent of 30 elderly were women and 37%
men. The preferred musical style was the religious, followed by the “Baião” and the “Jovem Guarda”. The songs "not preferred" were included
the cheesy, romantic, rock and samba. Men remembered more than women a song
that marked their life. The dance was the predominant activity (68%) of the
interviewed when they are listening to music. Music improves self-esteem (90%)
and welfare (40%). Finally, happiness is the most experienced feeling (87%) by
older people through music. It was observed that the musical profile of the
elderly is marked by religious and regional issues and that music can be used
as an incentive to perform movement and maintaining the autonomy and
independence in old age.
Key-words: music,
elderly, Physical Therapy.
A música tornou-se
parte da medicina em meados do século XX, através dos seus elementos, promover
a interação dos pacientes e o aumento da autoestima. Quando utilizada em
atividades para fins terapêuticos com pessoas que tenham dificuldades de
aprendizagem ou que apresentem déficits motores ou mentais, a música demonstrou
obter resultados positivos em qualquer idade. É utilizada como tratamento
complementar principalmente para portadores de deficiência física, déficits
sensoriais (visuais) e síndromes genéticas e outros distúrbios como
esquizofrenia, depressão e transtorno obsessivo compulsivo [1].
Através dos avanços
tecnológicos a música passou a ser encontrada em todos os lugares, fazendo
parte das nossas vidas diárias, podendo ser escutada através de rádio, da
televisão, do computador e MP3, entre outros recursos sonoros [1].
Composta de ritmo,
melodia e harmonia, cada um destes elementos tem sua determinada função: o
ritmo está ligado ao corpo e aos movimentos; a melodia as emoções e a harmonia
ao intelecto [2]. A música afeta a energia muscular elevando ou diminuindo os
batimentos cardíacos, influencia na digestão, afasta o tédio e a ansiedade,
motiva a atividade física, distrai a tensão psicológica e diminui o estresse. É
usada para alívio de angústias espirituais, desesperança, distúrbios do sono,
solidão, isolamento social, vários processos corporais, promovendo-lhes
relaxamento e bem-estar [3].
A música tem caráter
específico que induz ao indivíduo responder em nível fisiológico, neurológico,
psicoemocional e psicológico. Além de facilitar o aprendizado por ativar
numerosos neurônios [1]. Proporciona efeitos benéficos junto à atividade
física, atuando de forma a motivar, minimizar esforços e distraindo sensações
desagradáveis nos exercícios. A pulsação do ritmo da música auxilia na precisão
dos movimentos corretos, como também na melhoria da resistência muscular [4].
A música transmite
prazer, é uma linguagem capaz de levar-nos a compreensão do mundo em que
vivemos. Muitas vezes nos faz refletir sobre o que somos tornando-nos capazes
de recordarmos de pessoas, lugares e momentos felizes ou tristes. Para o idoso
isso pode contribuir para a ativação da memória [5].
A terapia com música
para o paciente senil permite ao mesmo tempo, trabalhar a criatividade, a livre
expressão e a comunicação, recuperando e resolvendo conflitos pessoais e
sociais e consequentemente proporcionando um envelhecimento saudável e com
melhor qualidade de vida [1,5]. Muitos idosos relatam relembrar dos tempos de
criança, da juventude, de outrora e de fatos ocorridos como: bailes,
comemorações, cerimônias de casamento, de quando cantavam ao sentirem-se
felizes com as pessoas e paixões [6,7].
O envelhecimento
populacional está sendo um dos maiores fenômenos do século XXI, pois a explosão
demográfica transformou a pirâmide etária brasileira; e hoje o Brasil possui
uma população representada por idosos considerável, que vem aumentando a cada
ano. Esse fenômeno ocorre em decorrência do aumento da expectativa de vida em
nosso país, que cresceu de forma considerável nos últimos anos. Hoje a média em
anos de expectativa de vida ao nascer para um brasileiro é de 73 anos, e mesmo
com esse aumento países em desenvolvimento como a Argentina e o Chile conseguem
ter maiores números ao que diz respeito a este assunto [8,9].
O envelhecimento pode
ser definido como um processo dinâmico e progressivo, com modificações
morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam perda da
capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente ocasionando maior
vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que determinam por
levá-lo a morte [8].
Acredita-se que a
prática da musicoterapia na velhice, proporciona saúde e autonomia no processo
de envelhecimento, dando suporte nas atividades da vida diária (AVDs), na
interação social, combatendo o estresse, estimulando a oxigenação do cérebro, o
conhecimento cognitivo, contato social e o resgate cultural [9]. Sendo a
música, a arte e a técnica de combinar sons de maneira agradável aos ouvidos.
Os sons podem gerar ânimo e força num grupo de indivíduos, é capaz de
proporcionar prazer e reter lembranças [10]. A mesma é essencial para o
desenvolvimento integral do homem por estar ligada a cultura, ao tempo
histórico e às ações terapêuticas [7].
Com esse estudo
buscou-se conhecer a necessidade de encontrar meios criativos, cativantes para
trabalhar com o idoso utilizando a música com a finalidade de melhorar a
qualidade de vida e potencializar a funcionalidade e movimentos corporais.
Assim traçou-se o perfil musical do idoso, identificando o perfil
sociodemográfico e os benefícios da música para o público do estudo.
Tratou-se de uma
pesquisa descritiva com abordagem quantitativa, realizada na Casa de Acolhida
São João Calábria - Remanso da Paz, localizada na cidade de Quixadá/CE nos
meses de agosto a outubro de 2014 com idosos pertencentes à instituição
selecionada para o estudo.
Os sujeitos da
pesquisa foram formados por todos os idosos, de ambos os sexos, que estiveram
no local da pesquisa por ocasião da visita da pesquisadora, constituindo um
universo finito delimitado pelo tempo. Como critério de inclusão se fez
necessário que os idosos estivessem cadastrados na instituição, não importando
sexo, idade e estado civil e que gostassem de música. Os excluídos do estudo
foram os idosos que estiveram impossibilitados de forma comunicativa e
mentalmente corresponder às exigências da pesquisa.
A coleta de dados foi
realizada nos meses de agosto a outubro de 2014. No primeiro momento foi feito
um convite aos idosos para participarem da pesquisa, e explicado como tudo
ocorreria, focando seus objetivos. Num segundo momento, foi realizada uma
entrevista com os idosos. Essa entrevista foi criada pelos pesquisadores com
base nos objetivos da pesquisa, a mesma era composta de um questionário
sociodemográfico contendo treze questões, sendo cinco questões de caráter
identificativo e oito questões relacionadas aos objetivos da pesquisa sobre a
preferência do estilo musical dos idosos participantes.
Os dados coletados
nessa pesquisa foram tabulados, organizados, através do software Microsoft
Excel 2007, analisados na versão Epi Info 6.04d e comparados com estudos e
bibliografias nacionais e internacionais referidas sobre o assunto em questão.
Este trabalho foi enviado, juntamente com o termo de consentimento e livre
esclarecido, ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Católica Rainha do
Sertão (CEP – FCRS), com parecer de aprovação 20120123 para a sua realização. A
pesquisa foi realizada de acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde [11].
Após permissão do
coordenador da casa de Acolhida São João Calábria - Remanso da Paz, os 30 idosos
que frequentam a instituição foram convidados a participar da pesquisa. Foi
explicado o intuito e os objetivos do estudo.
Para que fosse
possível traçar o perfil musical do idoso foi necessário obter resultados com
relação ao gênero, faixa etária, estado civil, gosto musical preferível e não
preferível, se os idosos recordavam das músicas que marcaram suas vidas e o
qual os sentimentos expressados ao ouvir canções que marcaram histórias e
aquelas que apreciam.
Os resultados obtidos
na pesquisa foram analisados e comparados com a literatura de referência.
Relacionado ao perfil musical de um grupo composto de 30 idosos formados por 19
idosos (63%) de gênero feminino e 11 idosos (37%) de gênero masculino.
Tabela
I - Dados sócio demográficos da amostra.
Quixadá/ CE, 2014.
No Remanso da Paz
frequentam idosos com diversas faixas etárias 65 a 89 anos de idade, contudo a
faixa etária mais encontrada, com 47%, estava entre 70 e 79 anos. Em relação ao
estado civil de todos os idosos que participaram da entrevista, foram
encontrados em 47% casados seguidos por viúvos com 33% dos casos.
As músicas preferidas
para ambos os gêneros foram às músicas religiosas que ficaram em primeiro lugar
com 100% das respostas expressas obtidas. Segundo eles, essas músicas lhes
proporcionam paz interior, bem-estar e são as que eles mais apreciam em todos
os momentos do dia.
Em segundo lugar
ficaram às músicas com ritmo mais acelerado e que contemplam a cultura
nordestina, o chamado Baião (muito conhecido por causa do músico Luis Gonzaga)
foi o segundo estilo musical de maior preferência entre os idosos, com 88,4%
das idosas e 100% dos homens ambos disseram apreciar o baião e justificaram que
este “gostar” se deve ao fato de que este estilo expressa, enriquece a nossa
cultura regional e também por serem essas as músicas que os fizeram relembrar
de eventos que marcaram suas vidas.
Em terceiro lugar
está a jovem guarda, surgida na década de 60, quando os casais costumavam se
encontrar na sociedade brasileira. Falando de momentos marcantes, a Jovem
Guarda foi autora de vários hits apaixonantes da época que marcaram amores
passados e relacionamentos presentes até o momento no mundo das pessoas que hoje
se encontram na terceira idade. Nos resultados obtidos 100% foram das respostas
relatadas por homens e 89% por mulheres. Os mesmos relataram apreciarem a Jovem
Guarda porque marcaram suas juventudes.
Gráfico
1 - Tipologia de músicas preferidas da amostra.
Quixadá / CE 2014.
Embora saibamos que o
forró é um tipo de música sempre ouvido e dançado por idosos em grupos de
convivência, quando perguntados sobre seu estilo musical de preferência o mesmo
não se destacou mais porque a entrevistadora explicou que se tratava do forró
eletrônico mais tocado nos dias atuais, ficando o Baião como a representação do
“forró” mais ouvido por eles na juventude e na atualidade.
Entre as músicas “não
preferenciais” está MPB (Música Popular Brasileira). A MPB embora apreciada e
capaz de fascinar muitos indivíduos até os dias atuais foi apontada por 100%
dos homens e 89,4% das mulheres relacionada ao estilo musical “não
preferencial”, ou seja, 11 homens e 17 mulheres disseram não apreciarem este
tipo de música por não conhecerem e/ou não terem tanto contado.
O Rock’n’Roll também
apontou como um estilo musical pouco preferido pelos idosos, 94,7% das mulheres
disseram não apreciar este tipo de música e 91% dos
homens também responderam não conhecer e/ou não gostar deste estilo. Vale
ressaltar que os idosos que disseram apreciar o Rock se referiam as músicas
ouvidas nos anos 60 e 70. E embora pouco preferido, Elvis Presley, o Rei do
Rock, sempre cativava os sonhos de diversas garotas da época.
O Samba dá gosto e
tem gosto que flameja ardentemente o sabor da cultura, coisa da nossa terra,
amante da nossa trajetória passada, autora de alegrias e emoções contagiantes.
Estando no terceiro lugar dos estilos musicais, pouco ouvido e apreciado pelos
idosos com 68% dos resultados de acordo com as mulheres e 27% para os homens.
Os mesmos, disseram não gostarem realmente do samba.
Gráfico
2 - Tipologia de músicas não preferidas da
amostra. Quixadá / CE 2014.
Quando nos referimos
às recordações entendemos que a música também se faz presente como se fosse
capaz de nos levar por um túnel do tempo fazendo-nos voltar ao passado, ao
momento exato em que ela nos marcou e trazendo para o presente, aquelas emoções
às vezes já esquecidas. Músicas marcaram e sempre irão marcar histórias,
eventos e lugares em nossas vidas. Por isso, entendemos que em se tratando da
velhice onde a memória muitas vezes está fragilizada a música assume um
importante papel, o de ajudar a recordar.
Tabela
II -
Idosos da amostra (A música marcou minha
vida / Musica e Atividade Física) Quixadá / CE, 2014.
Os idosos foram
questionados quanto à música que marcou suas vidas: os homens recordaram com
(82%) e as mulheres (79%) de músicas que marcaram algum evento, pessoa ou lugar
ao longo de suas histórias vividas, ou seja, quando perguntados: “Qual música
marcou sua vida?”, os homens responderam com mais frequência que as mulheres,
ao qual disseram não recordar de nenhuma música marcante ou que simplesmente
não as tinham.
De forma geral, além
de relembrarem das músicas, ainda recordou do nome da música, do cantor como,
por exemplo, Luís Gonzaga, Roberta Miranda, Elvis Presley, Roberto Carlos.
Alguns idosos justificavam o fato de não ter uma música especial à falta de
instrução e também a repressão familiar vivida em seus tempos de juventude.
Relacionando a música
aos movimentos corporais, descobrimos que 24 idosos (80%) acreditam que a
música os ajuda na prática de exercícios físicos, proporcionando uma melhor
amplitude de movimento (ADM), uma movimentação mais ágil e segura. A dança foi a prática de atividade física mais escolhida, 68% dos
entrevistados.
Através da dança os
mesmos perceberam como o corpo se comporta ao movimento estimulado com músicas
ritmadas e/ou não ritmadas, 6% dos idosos disseram se movimentar apenas nas
cadeiras por terem alterações próprias da idade e por não conseguirem permanecer
por tempos prolongados em pé, 3% relataram que a música ajuda durante as
caminhadas rotineiras do dia a dia e 3% apenas fazem as AVDs ouvindo as canções
prediletas as quais estimulam o prazer de realizar
certas atividades domésticas que muitos têm como atividades estressantes. Por
fim, a atividade mais desenvolvida e escolhida por eles seja na instituição,
nas comunidades ou em seus domicílios é a “dança”.
Os benefícios que a
música proporciona aos idosos são de grande e surpreendente valor. Por ser uma
arte histórica capaz de envolver os demais e de nos envolver nos ambientes que
por ela apreciamos momentos alegres, que nos fizeram sentir-nos bem com pessoas
de nossa sociedade. Isso pôde ser observado com os idosos do Remanso da Paz que
relataram melhora na autoestima (90%), seguida de bem-estar (40%). Os mesmos
relataram sentirem-se mais jovens, mais leves, relaxados, com mais saúde física
e espiritual, descontraídos, motivados e confiantes.
Gráfico
3 – Benefícios da Musica da amostra. Quixadá /
CE 2014.
De acordo com os
idosos que frequentam a casa de Acolhida São João Calábria, (87%) dos
entrevistados sentem alegria ao ouvirem as canções que marcaram a vida e as que
mais apreciam. A tristeza foi outro sentimento encontrado em (30%) dos idosos
que participaram de entrevista, os mesmos relataram sentirem-se triste muitas
vezes porque recordavam de entes queridos, que partiram e o relaxamento em
(7%), já que as músicas lentas são capazes de acalmá-los e fazê-los refletir
sobre a vida atualmente.
Gráfico
4 – Sentimentos que a música desperta da
amostra. Quixadá / CE 2014.
Estudos realizados no
sertão cearense evidenciam as características do idoso sertanejo: predominância
do sexo feminino (feminização), casados, analfabetos, católicos, aposentados
[12,13]. Observou-se que grande parte dos idosos praticantes de Dança de Salão
é do sexo feminino (33) e o restante do sexo masculino (17), na faixa etária de
70 a 74 anos de idade. Grande parte dos idosos são viúvos (20), e na maioria
mulheres (14) [14].
Estudos apontam um
número pequeno de idosos com 80 anos ou mais, destacando-se a faixa etária mais
jovem, aquela que compreende de 60 a 70 anos. O presente estudo também
apresenta esse dado, porém, a faixa etária de 80 anos ou mais é bem
significativa, como foi supracitada [15]. Em relação ao estado civil, a maioria
dos idosos brasileiros encontra-se casado ou viúvo, sendo uma característica
forte da população geriátrica [16].
Pode-se perceber que
a música muitas vezes está presente em grupos direcionados para a terceira
idade, pois ajudam a socialização e descontração necessária a estes grupos, os
tornados mais assíduos aos encontros. As músicas de ritmos variados (como xote,
baião, sambas, hip-hop, sertanejo, rock anos 60, dentre outros) utilizadas a
fim de motivar positivamente a todos que participam, é o ponto chave para
evitar a acomodação e desistência dos usuários, juntamente com movimentos que
contemplem todos os níveis de habilidades. Através das características citadas
anteriormente tem-se propiciado melhoras significativas nos componentes da
capacidade funcional e na execução das atividades de vidas diárias e
consequentemente na qualidade de vida dos participantes [17].
Diante dos resultados
obtidos relacionados às recordações das músicas que marcaram suas vidas,
pode-se perceber que os homens recordavam mais do que as mulheres, um
surpreendente resultado para aquelas pessoas que pensam, preconceituosamente,
que os homens não são sentimentais e mentalmente capazes de recordarem momentos
marcantes e felizes da vida, através de uma simples lembrança ao escutar uma
canção. A música favorece a memória, evocando lembranças do passado. Quando se
ativa a memória através da música transmite-se o pensamento de que a
senescência é um período propício à recordação. Assim, o idoso reconstrói
experiências do presente e passado [18].
A atividade física
está ligada a promoção de saúde e prevenção de doenças, minimiza as
modificações inerentes ao processo de envelhecimento e traz diversos benefícios
[19]. As articulações ganham capacidade de movimento muscular, os ligamentos
ficam mais reforçados, a ventilação pulmonar é aumentada, o sangue circula com
mais facilidade pelo organismo, além do aumento a resistência física [20].
Ao se tratar de
idosos, a música tem um papel significativo nas atividades físicas, tornando
relevante à escolha da seleção musical que contribua para o prazer de estar
naquele ambiente e para motivação na prática da atividade [6]. Assim, a música
tem com função proporcionar conforto e bem-estar ao idoso [21].
O exercício físico
acompanhado de música interfere nos estados de ânimo dos seus praticantes
positivamente, diminuindo a tristeza e o medo, tornando-os mais ativos [22]. A
música age como um elemento de distração do desconforto, além de tornar a
atividade mais agradável. Durante a ginástica existe um espaço em que se
utiliza a música. Diversos estudos já avaliaram os benefícios de se ouvir
música durante a ginástica que incluem o aumento da resistência e a melhora do
humor. Os praticantes obtêm relaxamento permitindo melhorar o desempenho [23].
Atividade física leva
a diminuição da depressão, possibilita a disciplina, recupera a confiança
reduzindo a tensão e o stress, contribui para uma melhor socialização, melhora
a coordenação motora, dentre outros benefícios. Ela possibilita que o
praticante conheça melhor seu corpo, melhore sua flexibilidade, equilíbrio,
rompa preconceitos e aumente a integração e a comunicação [24].
A qualidade dos
movimentos e o nível de desempenho em determinada atividade física depende da
qualidade e tipo de música, isto é, da mesma forma que a música pode ser
estimulante, pode ser também relaxante ou até mesmo irritante. A seleção da
música deve ser adequada a cada tipo de exercício, atingindo, assim, os
objetivos de estimular ou acalmar [25].
A dança é a arte que
se expressa através do movimento do corpo seguido de ritmos. É uma atividade
lúdica de manifestação artística e forma de comunicação que se desenvolve
através do próprio corpo humano, podendo também ser praticada em grupo. Ajuda a
expressar as emoções, estimula a memorização e a coordenação motora, além de
ser um excelente exercício físico [14].
A emoção é notável
nas práticas de danças, os participantes sentem-se com um maior equilíbrio,
alegria, harmonia, sentindo-se verdadeiramente felizes durante e depois da
dança [26]. Segundo Sampaio, uma vivência motivadora de sentimentos agradáveis
pode ser parcialmente explicada devido à importância de desenvolvimento de
relações cooperativas, representadas de maneira simples e direta por meio da
roda de dança, alavancando o processo de interação grupal [27].
A música ajuda no
sentido de proporcionar benefícios psicológicos, aumentando a motivação e
agindo como um elemento de distração, além de tornar a atividade mais agradável
[22]. Melhora a autoestima, a autodeterminação e faz com que o idoso sinta-se
bem, livre, tranquilo e realizado causando aceitação da própria idade e de sua
atual condição [28,29].
A motivação é um
processo mental positivo que estimula a iniciativa e determina o entusiasmo e o
esforço que a pessoa aplica no desenvolvimento de suas atividades. E seu nível
é determinado por diversos fatores como a personalidade, as percepções do
ambiente, as interações humanas e as emoções [23].
Por meio da música, o
idoso pode entrar em contato com lembranças e emoções, percebendo-as e
manifestando-as, dentro da própria possibilidade motora e cognitiva atual. Outro
efeito é a evocação de sentimentos como felicidade e saudade, expressos através
dos sorrisos, aplausos e do choro. Então, fica claro que a comunicação não
verbal foi a linguagem mais utilizada pelos idosos,
principalmente no que se referiu à cinética, que corresponde às expressões
faciais e aos movimentos do corpo [30].
Os sentimentos,
obtidos através da música junto à vivência da trajetória de vida dos idosos,
são os mesmos que influenciam quando a apreciamos em vários locais, seja em
casa, festas culturais, nas comunidades e/ou grupos de idosos em asilos, casas
de repouso, casas de convivências, nos proporcionando uma diversidade de
sentimentos em nossos corações e mentes que “mexe” o nosso interior,
fazendo-nos expressar (alegria, tristeza, bom humor, relaxamento, mau humor e
raiva).
A música pode
melhorar o humor, além de ter função de divertimento. A música tem a capacidade
de alegrar e divertir a sociedade. A música afeta, o humor, a fisiologia humana
através do seu impacto no cérebro. Proporciona um efeito relaxante, com o objetivo
de combater o stress ou angústias [31,32].
A partir deste
trabalho, observou-se que os idosos em estudo são em sua maioria do sexo
feminino, na faixa etária de 70 a 79 anos com fortes marcas cristãs. As músicas
entendidas como religiosas foram preferência tanto para homens como para
mulheres no grupo de idosos estudados. Outros estilos musicais se destacaram
como: Baião, Jovem Guarda; Sertanejo e Forró.
A música pode ser
entendida como facilitadora de exercícios físicos. No grupo em questão 80% dos
idosos disseram que a música ajuda na prática de atividade física, sendo a
dança a expressão de movimento corporal mais vivida pelos idosos. No entanto os
benefícios da música não se esgotam aí, ela traz inúmeros outros benefícios tais
como: melhora da autoestima, sensação de bem-estar consigo mesmo, motivação,
comunicação e até mesmo de autoconfiança para alguns idosos. Além disso,
desperta sentimentos como alegria, bom-humor e relaxamento.
Os autores agradecem
a colaboração e a disponibilidade da professora da disciplina de Fisioterapia
em Gerontologia, bem como a direção da Casa de Acolhida São João Calábria -
Remanso da Paz pela autorização e a realização deste estudo científico e os
idosos que concordaram em participar da pesquisa.