ARTIGO
ORIGINAL
Efeitos
do kinesio taping na dinâmica
articular durante a marcha de pacientes após acidente vascular encefálico
Effects of kinesio taping in joint dynamics
during gait in patients after stroke
Danielly Laís Pereira
Lima, Ft.*, Débora Wanderley, M.Sc.**, Leandra Ferraz
de Miranda Henriques, Ft.*, Alberto Galvão de Moura Filho, D.Sc.***, Daniella
Araújo de Oliveira, D.Sc.****
*Universidade
Federal de Pernambuco, Recife/PE, **Programa de Pós-graduação em Fisioterapia
da Universidade Federal de Pernambuco, Recife/PE, ***Programa de Pós-graduação
em Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco, Recife/PE, ****Programa de
Pós-graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento da Universidade
Federal de Pernambuco, Recife/PE
Recebido em 26 de novembro
de 2015; aceito em 21 de janeiro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Débora Wanderley, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de
Pernambuco, Av. Jom. Anibal Fernandes, s/n, Cidade Universitária, 50740-560
Recife/PE, E-mail: deborawanderley84@hotmail.com; Danielly Laís Pereira Lima:
danilais.lima@gmail.com; Leandra Ferraz de Miranda Henriques: leandra.fmh@gmail.com;
Alberto Galvão de Moura Filho: agmoura@ufpe.br;
Daniella Araújo de Oliveira: sabinodaniellaufpe@gmail.com
Resumo
Objetivo: Analisar os efeitos
do kinesio taping® na dinâmica
articular durante a marcha de pacientes hemiparéticos após acidente vascular encefálico
(AVE). Métodos: Foi realizado um
ensaio piloto com 14 participantes pós-AVE, alocados nos grupos intervenção (n
= 7) e sham (n = 7). Foram analisados
os ângulos articulares do tornozelo, joelho e quadril, durante as fases de
balanço inicial e médio e contato inicial da marcha, antes da aplicação do taping e 24 horas após. A
satisfação do paciente também foi analisada. Resultados: Não houve diferença entre os grupos nas angulações do
tornozelo [balanço inicial (DM = -0,47º, IC95% -14,37 a 13,42); balanço médio
(DM = -1º, IC 95% -14 a 12); contato inicial (DM =
1,22º, IC 95% -11,5 a 13,97)]; joelho [balanço inicial (DM = 5,66º, IC 95%
-12,27 a 23,58); balanço médio (DM = -1,94º, IC 95% 23,6 a -19,76)]; quadril
[balanço inicial (DM = 1,97º, IC 95% -6,98 a 3,03); balanço médio (DM = 0,68º,
IC 95% -7,57 a 8,9); contato inicial (DM = 0º, IC 95% - 3,7 a 3,6)]. O grupo
intervenção apresentou 10,5 vezes mais chances (OR = 10,5, IC 95% 0,4 a 267,1)
de observar diferença quando o taping
é aplicado em comparação ao grupo sham.
Conclusão: Não houve diferença nas
angulações do tornozelo, joelho e quadril durante a marcha, 24 horas após a
aplicação do kinesio taping® em
pacientes hemiparéticos.
Palavras-chave: acidente vascular
cerebral, marcha, fita atlética, músculo tibial
anterior.
Abstract
Objective: To analyze
the effects of Kinesio taping® in the joint dynamics
during gait in hemiparetic patients after stroke. Methods: We conducted a pilot study with
14 participants after stroke allocated into intervention group (n = 7) and sham
group (n = 7). We measured the joint angles of ankle, knee and hip during gait
analysis at initial swing, mid swing and initial contact, without the
application of taping and 24 hours after application. We also evaluated the
patient's experience. Results: There
was no difference between groups in the ankle angles [initial swing (DM =
-0.47º, 95% CI -14.37 to 13.42); mid swing (DM = -1º, 95% CI -14 to 12);
initial contact (DM = -1.22º, 95% CI -11.5 to 13.97)]; knee [initial swing (DM
= 5.66º, 95% CI -12.27 to 23.58); mid swing (DM = -1.94º, 95%CI -19.76 to
23.6)]; hip [initial swing (DM = 1.97º, 95%CI -6.98 to 3.03); mid swing (DM =
0.68º, 95%CI -7.57 to 8.9); initial contact (DM = 0°, 95% -3.7 to 3.6)]. The
chance to observe the difference when the taping is applied was 10.5 times
higher (OR = 10.5, 95%CI 0.4 a 267.1) in the intervention group. Conclusion: There was no significant
difference in angles of ankle, knee and hip during gait, 24 hours after Kinesio Taping® application in hemiparetic
patients.
Key-words: stroke,
gait, athletic tape, tibialis anterior muscle.
A marcha é uma função
básica para independência do indivíduo e a diminuição desta habilidade é uma
das maiores perdas funcionais nos pacientes após acidente vascular encefálico
(AVE) [1]. Estudos salientam a importância das informações sensoriais dos
proprioceptores dos tornozelos e mecanorreceptores plantares no correto
posicionamento articular, na manutenção do equilíbrio e na capacidade de marcha
[2,3].
Neste
contexto, como
há uma alteração na integração das
informações sensório-motoras no paciente
pós-AVE, as respostas motoras são inadequadas [4] e
comprometem sua mobilidade
[5]. Além disso, estudos ressaltam a importância dos
músculos dorsiflexores
para o melhor posicionamento do tornozelo na fase de balanço
[6], habilidade
esta comprometida em pacientes hemiparéticos [5].
Devido à distribuição
assimétrica do peso corporal sobre os membros inferiores do lado da lesão e ao
posicionamento do tornozelo em flexão plantar e inversão, os efeitos do uso do kinesio taping® no membro hemiparético
tem sido estudado [5,7,8]. O kinesio taping® é uma modalidade de reabilitação amplamente
utilizada no tratamento e na prevenção de doenças musculoesqueléticas [9]. A
técnica baseia-se na aplicação de uma fita adesiva na pele, a qual estimula os
mecanorreceptores cutâneos e proprioceptores, promovendo estímulos mecânicos e
reposicionando a fáscia muscular pela tensão exercida pelo taping [4].
Como em pacientes
hemiparéticos há uma incapacidade dos músculos dorsiflexores de produzirem
tensão suficiente durante a fase de balanço da marcha [6], o kinesio taping® pode ser um recurso útil
na correção da função muscular e do posicionamento articular, aumentando os
inputs sensoriais e facilitando um padrão de marcha mais funcional [4,10].
Assim, o maior tempo de permanência do kinesio
taping® poderia aumentar dos estímulos sensoriomotores, melhorando o
aprendizado motor e facilitando as correções posturais e o desempenho da marcha
de pacientes hemiparéticos. Diante do exposto, o objetivo do presente estudo
foi analisar os efeitos do kinesio taping® na
dinâmica articular durante a marcha de pacientes hemiparéticos após acidente
vascular encefálico, utilizando um método para quantificar a tensão da fita.
Foi realizado um
estudo experimental piloto, randomizado e duplo cego, envolvendo 14
participantes hemiparéticos após AVE crônico. Foram
seguidas as recomendações do guidelines
CONSORT e feito o registro no www.clinicaltrials.gov (número de identificação:
NCT02608294).
O estudo foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos do Centro de Ciências da
Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Todos os participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Amostra
Foram selecionados os
pacientes que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: 1) maiores de 21
anos com diagnóstico clínico de AVE isquêmico ou hemorrágico, comprovado através
de exames clínicos e de imagem; 2) AVE crônico, com evolução
mínima de seis meses; 3) pacientes que não utilizavam dispositivos
auxiliares durante a marcha.
Foram excluídos da
amostra: 1) pacientes que apresentaram amplitude de movimento para a
dorsiflexão passiva menor que 5 graus; 2) pacientes que apresentaram
comorbidades clínicas que poderiam interferir na intervenção, tais como:
hipertensão arterial, arritmias cardíacas, deformidades patológicas nos membros
inferiores ou presença de escaras em maléolos.
A amostra foi
selecionada a partir da lista de espera de pacientes para atendimento no
laboratório de Cinesiologia e Avaliação do Departamento de Fisioterapia da
UFPE, local onde foi desenvolvido o estudo, no período de maio a julho de 2014.
Randomização
e sigilo de alocação
Após a triagem os
participantes foram alocados de forma randomizada no grupo intervenção (GI) ou
no grupo sham (GS). A randomização foi realizada no site www.randomization.com
por um avaliador (BG) cego em relação aos desfechos e aos grupos de
intervenção. Os participantes eram cegos quanto ao grupo de intervenção ao qual
pertenciam. O sigilo de alocação foi garantido por meio de envelopes opacos,
selados e lacrados.
Protocolo
de intervenção
Ambos os grupos foram
submetidos aos mesmos cuidados para preparação da pele, realizando a
tricotomia, limpando a pele com álcool e secando com um papel absorvente.
Para a fixação do taping foi usado como referência um
ponto proximal entre a cabeça da fíbula e a tuberosidade da tíbia (Ponto A) e o
ápice do primeiro metatarso (Ponto B). Nos participantes do grupo intervenção o
kinesio taping® (marca Tex Gold®) foi
aplicado com tensão para ativação muscular. Os participantes foram posicionados
em decúbito dorsal, com o tornozelo em flexão plantar e inversão, no máximo da
amplitude alcançada passivamente. Nesta posição era realizada uma medida entre
os pontos A e B com uma fita métrica e o kinesio
taping® era cortado na mesma medida por um segundo examinador (LF), cego em
relação aos desfechos e à alocação dos participantes. Na sequência, o kinesio taping® era tracionado ao seu
limite máximo e medido com uma fita métrica. A medida encontrada após a tração
máxima representava a tensão de 100% e era utilizada para encontrar a tensão de
35% para ativação muscular [4], na qual a fita foi cortada. Por fim, a fita era
posicionada no Ponto A, tracionada até o Ponto B e fixada na pele.
No grupo sham a fita foi aplicada sem tensão, com
o paciente posicionado em decúbito dorsal e o tornozelo em posição neutra (90
graus), seguindo o mesmo protocolo descrito.
Avaliação
do desfecho
O participante
recebeu marcadores (esferas de pressão) nos membros inferiores nos seguintes
pontos anatômicos: cabeça do quinto metatarso, abaixo do ponto central do
maléolo lateral, cabeça da fíbula, côndilo lateral do fêmur e trocânter maior
do fêmur [11]. Foram registradas imagens com uma filmadora digital (Canon PowerShot A2600), fixada a um tripé. Foi utilizada uma tábua
de calibração com 120 cm de altura, com marcação em 60 cm, calibrada no ponto
central do foco da filmadora.
Após receber os
marcadores nos pontos anatômicos o paciente foi estimulado a caminhar numa
pista plana com oito metros de comprimento. O procedimento foi repetido três
vezes, sendo os dois metros centrais utilizados. Foram filmados os perfis
direito e esquerdo do paciente. A 1º gravação foi realizada sem aplicação do kinesio taping® e o paciente foi instruído a andar em seu ritmo normal de marcha. Após a
aplicação do kinesio taping® o paciente era liberado e retornava após 24 horas.
Eram posicionados os marcadores nos pontos anatômicos pré-determinados e o
paciente era estimulado a caminhar novamente na pista em seu ritmo normal da
marcha para a 2º gravação, que ocorria com as mesmas condições do primeiro dia.
As imagens foram
captadas no plano sagital em forma de vídeo, transferidas para um computador e
analisadas pelo software Tracker. No software foram analisados os ângulos
articulares do joelho, quadril e tornozelo. Eram selecionados frames de 3
fases da marcha: balanço inicial, balanço médio e contato inicial. Em cada fase
eram demarcados os ângulos do tornozelo, joelho e quadril. Na fase de contato
inicial foram analisados somente os ângulos do tornozelo e quadril, pois na
maioria dos participantes a articulação do joelho encontrava-se em
hiperextensão durante o contato inicial, não sendo possível a análise desta
articulação. Cada ângulo foi mensurado 3 vezes para
produzir uma média angular.
Vinte e quatro horas
após a aplicação o kinesio taping®
foi retirado e foi realizada a seguinte pergunta ao participante: “Você sentiu
alguma diferença positiva com o uso do kinesio
taping®?”. O participante respondia sim ou não, e nos casos afirmativos era
solicitado o detalhamento da diferença. Os desfechos foram avaliados por um
terceiro examinador (DL) cego em relação à alocação dos participantes nos
grupos.
Análise
estatística
Os dados foram
tabulados no Microsoft Office Excel 2007. A análise estatística realizada foi
usando o SSPS versão 13.0. As variáveis quantitativas foram analisadas como
média ± desvio padrão e as variáveis categóricas, como frequência. Devido ao
pequeno tamanho da amostra, foram utilizados testes não-paramétricos.
Para análise intergrupo foi realizado o teste de Mann-Whitney e para análise
intragrupo, Wilcoxon, obtendo diferenças entre os grupos e seus respectivos
intervalos de confiança (IC de 95%). O nível de significância considerado com
diferença estatística foi de p < 0,05. A satisfação do paciente em relação
ao uso do kinesio taping® foi
analisada pelo cálculo do Odds ratio
(OR).
Dos 67 pacientes que
foram triados, 52 foram excluídos pelos critérios de elegibilidade, restando 15
pacientes, divididos em grupo intervenção (n = 7; idade 52 ± 15,7 anos) e sham (n = 7; idade 58,3 ± 5,3 anos),
como mostra o fluxograma de seleção dos participantes (Figura 1).
Na Tabela I são
apresentadas as características demográficas dos participantes e as medidas
iniciais dos ângulos do tornozelo, joelho e quadril durante as fases da marcha
de balanço inicial, balanço médio e contato inicial. O lado de dominância de
todos os participantes avaliados foi o direito. Não houve diferença
significativa (p > 0,05) entre os grupos quanto às características gerais da
amostra e as angulações iniciais das articulações avaliadas nas diferentes
fases.
Na Tabela II são
descritas as médias dos ângulos pós-intervenção, não sendo observadas
diferenças significativas (p > 0,05) entre os grupos nas angulações do
tornozelo, joelho e quadril. O grupo de intervenção teve 10,5 mais chances (OR
= 10,5, 95% IC 0,4 a 267,1) de observar diferenças positivas no uso do kinesio taping® do que o grupo sham. Os 7 pacientes do grupo intervenção afirmaram sentir diferença
durante utilização do kinesio taping®,
dos quais três referiram maior facilidade para andar, um referiu redução da dor
na articulação do tornozelo, dois referiram maior percepção do membro inferior
parético e um referiu diminuição na sensação de peso da perna. No grupo sham,
quatro relataram melhora, dos quais dois referiram diminuição na sensação de
peso da perna e dois referiram maior facilidade para andar; já três pacientes
afirmaram não perceber diferença positiva.
Figura
1 - Fluxograma da seleção dos pacientes.
Tabela
I - Caracterização da amostra dos participantes
após acidente vascular encefálico (n = 14).
*Mann-Whitney. Os
dados são mostrados como média ± desvio padrão (DP) e frequência. AVE =
acidente vascular encefálico; IMC = índice de massa corporal.
Tabela
II -
Análise intergrupos dos ângulos do
tornozelo, joelho e quadril de pacientes após acidente vascular encefálico, 24
horas após a aplicação do kinesio taping® no músculo tibial anterior parético.
*Mann-Whitney. Os
dados são mostrados como média ± desvio padrão e diferença de médias com
intervalo de confiança (IC) de 95%.
No presente estudo
não foi comprovada a hipótese de que o uso do kinesio taping® no músculo tibial anterior parético de pacientes
pós-AVE, 24 horas após a sua aplicação, era eficaz no ganho de amplitude
articular do tornozelo, joelho e quadril, favorecendo a dinâmica da marcha. Por
outro lado, nosso trabalho apresentou rigor metodológico ao realizar
randomização e sigilo de alocação adequados, cegamento
de participantes e dos examinadores da intervenção e dos desfechos. Também teve
um caráter inovador ao preocupar-se com a reprodutibilidade do estudo, através
da descrição de um método para a quantificação da tensão aplicada ao kinesio
taping® em cada paciente.
Neste contexto, a
quantificação foi realizada para melhorar o nível de evidência a respeito do efeito
do uso deste recurso, considerando que os resultados de revisões sistemáticas
[12,13] sobre os efeitos do uso do kinesio
taping® mostram que a ausência de descrição da tensão aplicada ao taping
inviabiliza a sua reprodução e reduzem o nível de evidência desses estudos [7,14-17].
Por esta razão, a maioria dos trabalhos que utilizaram o taping como recurso terapêutico teve sua qualidade metodológica
classificada como baixa ou moderada [13].
Além disso, alguns
trabalhos [14,15,18] aplicaram o taping para o ganho de força, estabilidade ou propriocepção.
Todavia, utilizaram um tempo de intervenção curto, entre 10 e 20 minutos, não
alcançando os desfechos [14,15,18]. Neste artigo,
aplicamos o kinesio taping® por 24
horas, contudo é provável que este tempo seja insuficiente para promover
melhoras clínicas do paciente, especialmente em pacientes crônicos. De forma
semelhante, um estudo avaliou se o taping
melhorava o excesso de pronação em 68 pacientes que apresentavam pés pronados,
alocando-os no grupo taping ativo ou
sham taping. Em ambos os grupos não foi observada melhora no posicionamento dos
pés, 24 horas após a aplicação do taping
[19]. Os dados sugerem que o período curto de aplicação não é capaz de corrigir
alterações crônicas.
Por outro lado, um
estudo avaliou pacientes pós-AVE, os quais foram
divididos em grupos que recebiam toxina botulínica associada ao taping nos músculos flexores plantares
ou o alongamento muscular. Seus resultados mostraram que, após 20 dias de
aplicação, houve maior redução da espasticidade no grupo que usou o taping do
que o grupo com alongamento [20]. Já um ensaio clínico [21] avaliou o efeito da
associação toxina botulínica ao taping na redução da espasticidade dos flexores plantares de 20
pacientes pós-AVE. Os participantes foram divididos em grupos que recebiam a
toxina e o taping ativo ou a toxina e
sham-taping, não foram observadas
diferenças entre os grupos na redução da espasticidade. Apesar disso, foi
observado um aumento na amplitude de movimento articular no grupo que recebeu o
taping ativo [21]. Os dados sugerem
que a associação de outras terapias ao uso taping
pode aumentar os inputs sensoriais, promovendo a melhora dos desfechos [14,22].
Desta forma,
especulamos que a eficácia do uso do kinesio
taping® pode estar relacionada ao maior período de aplicação da fita, que
torna possível modificar o padrão de compensações da marcha estabelecido pelo
paciente após-AVE, para sua melhor locomoção. Assim, quanto maior o tempo de
permanência com o kinesio taping®,
maiores seriam as possibilidades de produzir mudanças no processo de
aprendizagem motora e gerar estratégias de controle da marcha. Ademais, as
divergências entre nossos achados e os de outros trabalhos [14,20-22] também
pode estar relacionada à combinação do kinesio
taping® a diferentes tipos de intervenção.
No entanto, apesar de
não ter sido observada uma melhora clínica da marcha, todos os pacientes do
grupo intervenção e alguns do grupo sham
afirmaram sentir diferença positiva durante utilização do kinesio taping®. A melhora relatada pelos pacientes pode estar
associada à estimulação que o taping
promove nos proprioceptores ao ser aplicado na pele, melhorando o
posicionamento articular, o equilíbrio, o controle do tônus muscular e a
capacidade de realizar a marcha [4].
Corroborando nossos
achados, um estudo [25], cujo objetivo foi investigar a propriocepção e o
controle postural de 20 adultos jovens com joelhos sadios, afirma que a adição
de estímulos sensoriais em indivíduos saudáveis pode produzir melhora no
desempenho, desde que esta fonte forneça informação útil para a realização da
tarefa. Portanto, o fornecimento de fontes adicionais de informação sensorial
pode ser decisivo para pacientes que apresentam algum déficit sensorial [23]. Outro
trabalho [24] teve como objetivo avaliar o equilíbrio e a sensibilidade de 18
pacientes hemiparéticos pós-AVE, antes e após estimulação motora e sensorial da
planta do pé hemiparético. Os resultados mostraram que tanto a estimulação
sensorial quanto a motora promovem melhora no equilíbrio e na sensibilidade de
pacientes hemiparéticos pós-AVE. Logo, supõe-se que as sequelas motoras podem
afetar o centro de processamento responsável pela integração das informações
sensoriais e que a estimulação sensorial na face plantar colabora para a
integração destas informações [24].
Outro aspecto
relevante que pode ter interferido nos resultados do presente estudo é o lado
de dominância de cada paciente, o qual pode estar relacionado com o processo de
marcha. A realização de atividades motoras, como é o caso da marcha, pode ser
prejudicada em pacientes destros cuja lesão foi à esquerda, gerando
dificuldades práxicas devido à impossibilidade de utilizar o membro dominante.
Já nos casos em que o hemisfério direito foi afetado, a heminegligência pode
contribuir para dificuldades na recuperação funcional desses pacientes [25].
Nesse caso, nosso
estudo traz como principal contribuição clínica o conhecimento de que a adição
de estímulos sensoriais através do uso do kinesio
taping® em pacientes pós-AVE pode constituir uma oportunidade para melhorar
o aprendizado motor, facilitar a integração das informações sensoriais e
favorecer o desempenho motor.
A principal limitação
deste trabalho foi o tempo de aplicação do kinesio
taping® no membro parético, não tornando possível analisar em longo prazo
os efeitos de sua aplicação na marcha do paciente pós-AVE. Além disso, devido
ao pequeno tamanho amostral pode não ter sido possível observar diferenças na
dinâmica articular do tornozelo, joelho e quadril, tornando necessários novos
estudos com amostras maiores.
A aplicação do kinesio taping® após 24 horas não
mostrou alterações angulares significativas na articulação do tornozelo, joelho
e quadril durante as fases balanço inicial, balanço médio e contato inicial da
marcha de pacientes com hemiparesia após AVE crônico.
Vários trabalhos
abordam o uso do kinesio taping®,
contudo, poucos são os estudos que aprofundam a análise sobre os seus efeitos
na dinâmica articular durante a marcha de pacientes hemiparéticos após acidente
vascular encefálico. Ademais, apesar de não ter sido observada diferença entre
os grupos após a aplicação do kinesio
taping®, o presente estudo tem relevância clínica, pois mostra uma
alternativa para fornecer estímulos sensoriomotores, além de descrever um
método preciso e de fácil reprodutibilidade para quantificar a tensão da fita
em pacientes após AVE crônico.