ARTIGO
ORIGINAL
O
Método Pilates melhora a função pulmonar e a mobilidade torácica de pacientes
com doença pulmonar obstrutiva crônica
Pilates method improves lung
function and chest wall mobility in patients with chronic obstructive pulmonary
disease
Bruna Gomes Torri,
Ft.*, Rondineli de Jesus Barros, Ft.**, Alerrandra Queiroz de Oliveira, Ft.*,
Nélio Silva de Souza, Ft., M.Sc.***, Alba Barros Souza
Fernandes, Ft., D.Sc.****
*Graduada
pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO), Teresópolis/RJ,**Especialista
em Fisiologia do Exercício, Docente do Curso de Graduação em Fisioterapia do
UNIFESO, Teresópolis/RJ, *** Professor do Curso de Graduação em Fisioterapia do
UNIFESO, ****Docente do Curso de Graduação em Fisioterapia do UNIFESO, Teresópolis/RJ
Recebido em 6 de julho de 2015; aceito em 24 de novembro 2016.
Endereço
para correspondência:
Alba Barros Souza Fernandes, Centro Universitário Serra dos Órgãos, Centro de
Ciências da Saúde, Estrada Wenceslau José de Medeiros, 1045 Prata 25976345 Teresópolis
RJ, E-mail: alba.fernandes@gmail.com; Bruna
Torri: brunagtorri@hotmail.com; Rondineli
Barros: rondifisio.barros@uol.com.br; Alerrandra
Oliveira: alerrandraqueiroz@hotmail.com; Nélio Silva de Souza: neliosds@bol.com.br
Resumo
Introdução: A obstrução crônica
ao fluxo aéreo observada na Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) leva à
hiperinsuflação pulmonar e sobrecarga dos músculos respiratórios. O Método
Pilates baseia-se no controle consciente dos movimentos corporais, facilita e
trabalha a respiração, o relaxamento geral e fortalece a musculatura abdominal,
de forma que pode ser eficaz no tratamento da DPOC. Objetivo: Analisar os efeitos do Método Pilates na função pulmonar
da DPOC. Material e métodos:
Pacientes com DPOC (n = 9) foram avaliados com relação à força muscular
respiratória, pico de fluxo expiratório e mobilidade torácica antes e após o
protocolo de tratamento com o Método Pilates, contendo exercícios voltados para
alongamento da musculatura acessória da respiração e fortalecimento de músculos
abdominais. Resultados: O Método
Pilates foi eficaz em aumentar a pressão inspiratória máxima (p = 0,004), a
pressão expiratória máxima (p = 0,008), o pico de fluxo expiratório (p = 0,004)
e o índice de amplitude axilar (p = 0,008). Conclusão:
O Método Pilates demonstrou eficácia no aumento da força muscular respiratória,
na redução da limitação de fluxo expiratório e na melhora da amplitude de
movimento na região axilar, podendo ser utilizado em conjunto com a
fisioterapia respiratória no tratamento de pacientes com DPOC.
Palavras-chave: doença pulmonar
obstrutiva crônica, postura, técnicas de exercício e de movimento,
Fisioterapia.
Abstract
The chronic air flow obstruction observed on chronic obstructive
pulmonary disease (COPD) leads to pulmonary hyperinflation and respiratory
muscles overloading. The Pilates Method is based in the conscious control of
body movements; it facilitates and works the breathing, the general relaxation
and strengthens the abdominal muscles, and may be effective in the treatment of
COPD. Objective: To analyze the
effects of Pilates exercises on pulmonary function of
COPD. Method: Patients with COPD (n =
9) were evaluated with respect to respiratory muscle strength, expiratory peak
flow and chest wall mobility before and after the treatment protocol with the
Pilates Method, containing exercises for accessory muscles of respiration
stretching and abdominal muscles strengthening. Results: The Pilates Method was effective in increasing the maximum
inspiratory pressure (p = 0.004), the maximum expiratory pressure (p = 0.008),
the expiratory peak flow (p = 0.004) and the axillary amplitude index (p =
0.008). Conclusion: The Pilates
Method was effective in increasing the respiratory muscle strength, reducing
expiratory flow limitation and improving the axillary region mobility. So, it
can be used in conjunction with respiratory physical therapy in patients with
COPD.
Key-words: chronic
obstructive pulmonary disease, posture, exercise movement techniques, Physical
Therapy Specialty.
A doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC) caracteriza-se por obstrução ao fluxo aéreo
parcialmente reversível. Essa limitação geralmente é progressiva, sendo
associada a uma resposta inflamatória dos pulmões a partículas ou gases tóxicos.
O processo inflamatório crônico da DPOC pode produzir modificações dos
brônquios e causar destruição do parênquima, com consequente aumento da
complacência pulmonar. A presença dessas alterações é variável em cada
indivíduo e determina os sintomas da enfermidade, que incluem tosse crônica,
produção de expectoração e dispneia aos esforços. Embora a DPOC comprometa o
sistema respiratório, produz consequências sistêmicas para os sistemas muscular
e cardiovascular [1].
Funcionalmente, a
hiperinsuflação pulmonar presente nesses indivíduos é caracterizada pelo
aumento da capacidade residual funcional que determina considerável mudança na
mecânica dos músculos respiratórios, comprometendo a capacidade da bomba
ventilatória em sustentar a respiração espontânea. Conforme a hiperinsuflação
se acentua, a complacência pulmonar que se encontrava aumentada reduz e a
pressão positiva ao final de expiração (PEEP intrínseca) impõe um limiar de
carga inspiratória que deve ser superado antes que ocorra o fluxo inspiratório
[2]. Ademais, das alterações ocasionadas pela hiperinsuflação, destacam-se a
retificação das hemicúpulas diafragmáticas e das costelas, resultando em uma
menor pressão abdominal e, consequentemente, em menor expansão da caixa
torácica inferior, levando à diminuição da mobilidade costal e maior uso da
musculatura acessória da respiração. Além das alterações musculares, os
pacientes com DPOC tendem a assumir a seguinte postura: ombros elevados e
protraídos, retificação da cifose dorsal na região interescapular, escápulas
abduzidas e rodadas, aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (com
saliência do esterno), aumento da lordose lombar, tensão muscular variável em
toda musculatura do pescoço, ombros, face e coluna, além de alterações na
posição de cabeça, quadril e membros inferiores [3].
O tratamento da DPOC
envolve medidas para minimizar e/ou corrigir as limitações impostas pelo
descondicionamento cardiorrespiratório e alterações da força muscular
respiratória e periférica; por isso, a fisioterapia respiratória constitui um
componente necessário nesse tratamento, tendo como objetivo oferecer o melhor
comportamento funcional ao paciente [4]. Em virtude das alterações da
musculatura respiratória apresentadas nos indivíduos com DPOC, o Método Pilates,
por meio do princípio da respiração, poderá contribuir para uma ventilação
adequada e coordenada com os movimentos, promovendo melhora na mobilidade da
caixa torácica e modificação do padrão respiratório [5].
Dessa forma, dentre as medidas terapêuticas
disponíveis para a abordagem fisioterapêutica da DPOC, o Método Pilates poderia
constituir numa alternativa inovadora e eficaz, considerando todos os
benefícios inerentes aos princípios que regem o método. Portanto, o objetivo
deste estudo é analisar os efeitos de exercícios do Método Pilates na função
pulmonar de indivíduos com DPOC.
A presente pesquisa
trata-se de um estudo clínicol não controlado, com abordagem quantitativa,
que teve como objetivo comparar as variáveis da função pulmonar em pacientes
portadores de DPOC antes e após a aplicação de um programa de exercícios
baseado no Método Pilates.
Amostra
Os
critérios de
inclusão foram indivíduos de ambos os gêneros, com
diagnóstico clínico de DPOC.
Foram excluídos indivíduos com incapacidade cognitiva,
que impossibilitasse a
compreensão/realização das
avaliações, insuficiência de órgãos
vitais essenciais,
com presença de tuberculose ou pneumonia, presença de
trauma torácico ou
cirurgia torácica, infecções respiratórias
em um período inferior a 30 dias,
doenças cardiovasculares, pacientes obesos, pacientes em uso de
antidepressivos, pacientes alcoolistas, com neuropatias ou com
limitação da
amplitude de movimento nas articulações de ombro e
joelho. Os indivíduos
selecionados para o estudo foram pacientes portadores de DPOC
provenientes do
setor de fisioterapia respiratória da Clínica-Escola de
Fisioterapia do Centro
Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO).
O protocolo foi
realizado na própria clínica-escola, no setor de Pilates. O presente projeto
foi submetido, via Plataforma Brasil, e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa em seres humanos da instituição, com o parecer de número 329.039. Os
consentimentos pós-informados foram obtidos de todos os voluntários e o
protocolo obedeceu aos critérios da Resolução n.º 466/12 e da Declaração de
Helsink.
Procedimento
O protocolo foi
constituído pela avaliação individual de cada voluntário do estudo, que incluiu
as seguintes variáveis: frequência cardíaca, frequência respiratória, saturação
periférica de oxigênio, ausculta pulmonar, força muscular respiratória, pico de
fluxo expiratório e mobilidade de tórax.
O pico de fluxo
expiratório (PFE) foi avaliado com o indivíduo sentado, em repouso, tronco
ereto, fazendo uso de um clipe nasal durante a manobra. Três manobras de
expiração forçada máxima a partir da capacidade pulmonar total foram realizadas,
sendo considerado o maior dos três valores obtidos. Caso os dois maiores
valores obtidos apresentassem uma diferença de 40 L/min
ou mais, foi solicitado ao voluntário a realização de mais duas tentativas [6].
A
avaliação de força
muscular respiratória foi realizada com o indivíduo
sentado, tronco ereto a
90º, respirando através do bocal de um
manovacuômetro. Um clip nasal foi
utilizado para evitar o escape de ar, e solicitou-se ao
indivíduo que
realizasse uma manobra de expiração máxima
(até o volume residual), seguida de
um esforço inspiratório forçado estático
para mensuração da pressão
inspiratória máxima (Pimáx). Para a
mensuração da pressão expiratória
máxima
(Pemáx), foi realizada uma inspiração
máxima (até a capacidade pulmonar total),
seguida de um esforço expiratório máximo
estático. Três manobras reprodutíveis
foram realizadas, sendo considerado o maior valor tanto para
Pimáx quanto para
Pemáx [7].
A cirtometria
torácica foi realizada com o indivíduo na posição sentada, membros superiores
pendentes ao longo do corpo, utilizando-se uma fita métrica posicionada na
região axilar, logo abaixo da prega axilar, tomando-se o cuidado para que
ficasse firmemente posicionada em linha reta e horizontal. Em seguida, de
maneira semelhante, a fita métrica foi posicionada na região xifoidiana,
tomando-se como ponto de referência a borda inferior do apêndice xifoide. Foi
realizada uma expiração máxima, seguida de uma inspiração máxima e outra
expiração máxima. As três medidas foram realizadas nas regiões da linha axilar
e apêndice xifoide [8]. Para a análise dos dados, foi considerado o maior valor
obtido das duas medidas realizadas e calculado o Índice de Amplitude (IA), com
a finalidade de atenuar as diferentes dimensões de tórax e abdômen para a
amostra estudada [9].
Os voluntários foram
submetidos a um protocolo de tratamento que contou com os seguintes exercícios
do Método Pilates: alongamento dos músculos intercostais internos e externos,
grande dorsal e peitoral maior no aparelho Cadilac; alongamento do músculo
peitoral maior no aparelho Lader Barrel; alongamento da cadeia lateral no
aparelho Reformer; fortalecimento dos músculos abdominais no aparelho Cadilac. Foram realizados um mínimo de sete e um máximo de 10
repetições de cada um dos exercícios, de acordo com a capacidade física de cada
indivíduo. O protocolo foi aplicado em 10 sessões, com periodicidade de uma vez
por semana.
Análise
estatística
Os dados obtidos
foram comparados estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade, através do
software SigmaStat 3.5 (Systat Software, Inc., 2006).
Para a aplicabilidade da correlação linear simples e comparação entre os
grupos, foi testada a normalidade dos dados pelo Teste de Normalidade
Kolmogorov-Smirnov. Em seguida, foi aplicado o teste da mediana de Levene para
verificar a homogeneidade das variâncias. A comparação entre os grupos foi
verificada pelo Teste T Pareado, no caso dos dados paramétricos, e pelo
Wilcoxon Signed Rank Test, no caso dos dados não paramétricos. Os dados
paramétricos foram expressos como média ± desvio padrão, e os não paramétricos
como mediana (1º e 3º quartis).
Fizeram parte deste
estudo nove indivíduos portadores de DPOC, que se encontravam
em atendimento no setor de fisioterapia respiratória da Clínica-Escola de
Fisioterapia do UNIFESO, sendo seis homens e três mulheres, com idade mediana
de 64 anos (60,75-69,25), peso mediano de 69,40 kg (63,50-71,25) e altura
mediana de 1,65 m (1,51-1,68).
A seguir, estão
descritas, na Tabela I, as características dos indivíduos analisados antes e
após terem sido submetidos ao tratamento pelo Método Pilates. Os únicos
parâmetros das características clínicas avaliadas que se apresentaram diferente
estatisticamente após o tratamento foram a saturação periférica de Oxigênio (SpO2) (p = 0,003) e a pressão arterial diastólica (PAD) (p =
0,005).
Tabela
I - Características dos indivíduos analisados.
Valores expressos em
média ± desvio padrão de nove indivíduos portadores de doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC) que foram submetidos a um protocolo de tratamento
baseado no Método Pilates. PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão
arterial diastólica; FC: frequência cardíaca; FR: frequência respiratória; SpO2: saturação periférica de oxigênio. *Estatisticamente
diferente dos parâmetros observados antes do tratamento pelo Método Pilates.
Na análise da função
pulmonar, foram avaliados parâmetros como a força dos músculos respiratórios e
o pico de fluxo expiratório antes e após o tratamento. Observou-se, após a
realização do Método Pilates, aumento da pressão inspiratória máxima (p =
0,004), da pressão expiratória máxima (p = 0,008) e do pico de fluxo
expiratório (p = 0,004). A mobilidade do tórax foi avaliada por meio da
cirtometria torácica na linha axilar e ao nível do apêndice xifoide, obtendo-se
IA axilar e IA apêndice xifoide antes e após o tratamento. Foi observado que
apenas o IA axilar aumentou (p = 0,008) após a intervenção com o Método
Pilates. A Tabela II mostra os resultados observados nesta análise.
Tabela
II -
Análise da função pulmonar.
Valores expressos como
mediana (1º e 3º quartis) de nove indivíduos portadores de doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC) que foram submetidos a um protocolo de tratamento
baseado no Método Pilates. Pimáx: pressão inspiratória máxima; Pemáx: pressão
expiratória máxima; PFE: pico de fluxo expiratório; IA: índice de amplitude *
Estatisticamente diferente dos parâmetros observados antes do tratamento pelo
Método Pilates.
O presente estudo
teve como objetivo analisar os efeitos do Método Pilates na função pulmonar de
indivíduos com DPOC. Os resultados observados mostraram que o Método Pilates
ocasionou aumento nas pressões respiratórias máximas, no pico de fluxo
expiratório e no índice de amplitude axilar.
A melhora observada
nas pressões respiratórias máximas indica aumento de força muscular tanto
inspiratória quanto expiratória. Esse aumento de força alcançado com os
exercícios do Método Pilates ocorreu, possivelmente, em virtude da
centralização das forças realizadas através da contração isométrica da
musculatura abdominal superficial, causando retroversão pélvica. Isso faz com
que o diafragma, principal músculo inspiratório, fique em posição de
alongamento, aumentando, assim, as pontes cruzadas entre os filamentos de
actina e miosina e ocasionando aumento de sua força muscular [5,10]. Além
disso, outros músculos que auxiliam a inspiração (escalenos, intercostais,
peitoral maior e menor, serrátil anterior e esternocleidomastoideo) estão
envolvidos nos exercícios do Método Pilates, podendo ser fortalecidos, de forma
que também contribuem para o aumento da força muscular inspiratória.
O princípio da
respiração do Método Pilates exige uma expiração máxima durante os exercícios.
Essa expiração máxima é realizada através dos músculos abdominais superficiais,
que são ativados durante a realização dos exercícios do Pilates, principalmente
do músculo reto abdominal, justificando, assim, o aumento da força muscular
expiratória nos praticantes do método [11]. Ademais, os exercícios que visavam
ao fortalecimento direto da musculatura abdominal superficial também
contribuíram para o aumento observado na Pemáx, visto que os músculos
abdominais superficiais são os principais músculos expiratórios em uma
expiração forçada.
O fortalecimento dos
músculos abdominais superficiais não contribui apenas para aumentar a força dos
músculos expiratórios, mas também é importante para melhorar o desempenho do
diafragma, principal músculo inspiratório. O aumento no tônus dos músculos
abdominais fornece estabilidade proprioceptiva à parede abdominal durante a
incursão do diafragma no momento da inspiração, de forma que seu centro
tendíneo consegue se apoiar nas vísceras abdominais e gerar uma amplitude de
movimento maior. Isso faz com que o aumento dos diâmetros cefalocaudal e
transverso do tórax sejam mais acentuados durante a inspiração, contribuindo
para uma maior amplitude de movimento. Esse fato é particularmente importante
nos indivíduos portadores de DPOC em virtude da retificação do diafragma que eles
apresentam ocasionada pela hiperinsuflação pulmonar [12].
Outra característica
importante do Pilates é o recrutamento, através da respiração, de fibras de
músculos profundos, que, juntamente com a contração abdominal que sempre é
solicitada, são os principais fatores responsáveis pelo trabalho de
centralização e controle do corpo. Os exercícios do Método Pilates executados
na presente pesquisa utilizam a inspiração para preparar o movimento e, em
contrapartida, a expiração é utilizada para trabalho do abdome, através do
recrutamento dos músculos expiratórios, incluindo transverso do abdômen e oblíquos interno e externo [13]. Apesar do Método Pilates
não ser específico para trabalhar o treinamento de resistência e força muscular
respiratória em pacientes com DPOC, foi necessário que eles realizassem um
trabalho respiratório intenso e um recrutamento constante dos músculos
abdominais, o que influenciou positivamente o aumento da força muscular
respiratória.
No presente estudo,
também foi observado um aumento do PFE após o tratamento com o Método Pilates,
mostrando uma redução da resistência das vias aéreas ao fluxo expiratório. Na
DPOC, a redução do fluxo expiratório máximo é causada pelo estreitamento das
vias aéreas, devido, em parte, à perda do recolhimento elástico pulmonar e à
doença das vias aéreas [1]. Apesar dos exercícios propostos não atuarem
especificamente na resistência das vias aéreas, a redução da limitação ao fluxo
de ar pode ser devido à melhora da força muscular respiratória, visto que o PFE
é o fluxo máximo alcançado durante uma expiração realizada com força e
velocidade máximas, iniciando a partir de um nível máximo de insuflação
pulmonar [14].
O aumento da
mobilidade torácica observada neste estudo foi mais acentuado na região
torácica apical, corroborando o observado no estudo de Lozano et al. [15], que também mostrou que
pacientes com DPOC apresentaram aumento de mobilidade na região torácica apical
ao utilizar exercícios que tinham o objetivo de alongar a musculatura respiratória
acessória. Na DPOC, a obstrução brônquica ocasiona hiperinsuflação, bloqueando
o tórax na inspiração e deixando as hemicúpulas diafragmáticas rebaixadas, com
diminuição da mobilidade costal e encurtamento dos músculos ventilatórios.
Conforme os períodos de exacerbação da doença vão acontecendo, as alterações
mecânicas se tornam mais pronunciadas. Por exemplo, o rebaixamento das
hemicúpulas diafragmáticas resulta em uma menor pressão abdominal e,
consequentemente, em menor expansão da caixa torácica inferior, levando à
diminuição da mobilidade costal [16]. Essas modificações promovem encurtamentos
da musculatura respiratória, principalmente nos músculos acessórios (trapézio,
peitorais, esternocleidomastoideo, escalenos), caracterizando a respiração torácica
superior com grande consumo de energia e aumento da tensão muscular. Com a
tensão muscular provocada pela doença, a musculatura apresenta redução da massa
muscular e do tamanho de suas fibras, além de uma mudança no tipo de fibra e da
forma de vascularização dos tecidos musculares, bem como uma modificação no
metabolismo celular. Estes fatores ocorrem de forma concomitante e promovem
alterações morfológicas importantes nos tecidos, gerando deficiência na
respiração [17]. No estudo realizado por Santos et al. [3], observou-se que alterações na biomecânica da caixa
torácica causam compensações posturais, que irão sobrecarregar os músculos
inspiratórios.
O aumento da
mobilidade torácica apical pode estar diretamente relacionado
à coordenação muscular através da redução da atividade da musculatura acessória
da respiração (superficial), visto que, trabalhando os músculos estabilizadores
profundos do pescoço, é possível manter uma atividade sinérgica mais eficiente
entre os músculos superficiais e profundos, uma vez que a ordem fisiológica de
recrutamento motor inicia da musculatura mais profunda para a mais superficial
[18]. Portanto, o aumento observado nas pressões respiratórias máximas também
pode ter ocorrido em função da redução na atividade da musculatura acessória
(superficial), bem como devido ao aumento sinérgico na atividade dos músculos
profundos, uma vez que grande parte dos músculos profundos cervico-torácicos
também atua na respiração. Essa relação sinérgica entre os músculos
superficiais e profundos é observada de forma similar em pacientes portadores
de cervicalgia [19]. Ademais, o protocolo utilizado em nosso estudo promoveu um
trabalho de alongamento dos músculos encurtados (superficiais), ou seja, os
acessórios, proporcionando sua hipertrofia excêntrica (aumento de sarcômeros em
série por miofibrila) e uma melhora na flexibilidade [14]. Nesse contexto, o
alongamento da musculatura acessória (superficial) em pacientes com DPOC, por
meio do método de Reeducação Postural Global (RPG), também tem propiciado uma
melhora relevante na mobilidade da caixa torácica [15,20].
Uma das limitações do
presente estudo foi o reduzido número de indivíduos com DPOC que participaram
da pesquisa. Entre os fatores responsáveis por essa pouca adesão pode-se citar
o baixo nível socioeconômico dos participantes, visto que já deveriam
comparecer à clínica com periodicidade de uma vez por semana para realizar a
fisioterapia respiratória convencional e, por condições financeiras, não poderiam
comparecer outras vezes para realizarem o tratamento com o Método Pilates.
Dessa forma, o presente trabalho avaliou e inseriu no protocolo de tratamento
apenas nove indivíduos com DPOC. Além disso, o protocolo de exercícios foi
composto por apenas quatro exercícios. Provavelmente, se uma quantidade maior
de exercícios tivesse sido proposta, poderíamos ter alcançado uma melhora mais acentuada na função pulmonar ou tais benefícios
poderiam ter permanecidos por um período maior após a finalização do tratamento
com o Método.
O tratamento proposto
com o Método Pilates neste estudo determinou uma melhora significativa da
função pulmonar de indivíduos portadores de DPOC que já realizavam fisioterapia
respiratória, aumentando significantemente a mobilidade torácica na região
apical, reduzindo a limitação ao fluxo expiratório e aumentando a força
muscular respiratória tanto inspiratória quanto expiratória.
Portanto, o presente
estudo sugere uma proposta inovadora e eficaz de tratamento para indivíduos que
apresentam DPOC que realizam fisioterapia respiratória convencional. Porém, é
aconselhável a realização de mais estudos correlacionando o Pilates com outras
doenças respiratórias, incluindo DPOC. A escassez de evidências na literatura sobre
os efeitos de exercícios do Método Pilates na função pulmonar de indivíduos com
DPOC demonstram a necessidade de maiores pesquisas sobre a temática em questão.
Tais estudos poderão proporcionar a incorporação de novos métodos de
intervenção que busquem a melhora dos sinais e sintomas da doença.