ARTIGO ORIGINAL
Efeito agudo de
diferentes técnicas de alongamento na flexibilidade de isquiotibiais
Acute effect
of different stretching techniques of hamstring flexibility
Daiane
dos Santos, Ft.*, Giselle Pacheco Dias, Ft.*, Heloise Schwabe,
Ft.*, Thainá Busato Klosienski, Ft.*, Natália Boneti
Moreira, M.Sc.**
*Centro Universitário
UniDOM, Curitiba/PR,
**Professora do Centro Universitário UniDOM,
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Educação Física, Universidade
Federal do Paraná, Curitiba/PR
Recebido
em 13 de fevereiro de 2017; aceito em 5 de setembro de
2017.
Endereço para
correspondência:
Daiane dos Santos, Rua Juvenal Carvalho, 190, Fazendinha, 81230-185 Curitiba
PR, E-mail: dai9stos@gmail.com; Giselle Pacheco Dias: giselleppdias@gmail.com;
Heloise Schwabe: heloschwabe@gmail.com; Thainá Busato Klosienski:
thaina_busato@hotmail.com; Natália Boneti Moreira: nataliamoreira@dombosco.sebsa.com.br
Resumo
O
encurtamento dos músculos isquiotibiais leva ao
desequilíbrio postural, compensações e outras disfunções. Assim, estudos que
trabalhem com os efeitos das diferentes técnicas para a melhora da
flexibilidade desses músculos são fundamentais para esclarecer os reais
benefícios de suas utilizações. O objetivo deste trabalho foi verificar o
efeito agudo da Bandagem Neuromuscular, Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva
(FNP) e Alongamento Estático na flexibilidade dos músculos isquiotibiais.
A amostra foi constituída por 80 homens (23,37 ± 4,68 anos), que foram
divididos aleatoriamente em 4 grupos: G1 (Bandagem
Neuromuscular, n = 20), G2 (FNP, n = 20), G3 (Alongamento Estático, n = 20), e
G4 (Grupo controle, n = 20). O nível de atividade física foi avaliado por meio
do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). A flexibilidade dos
músculos isquiotibiais foi avaliada pela mensuração
do ângulo poplíteo com auxílio de uma prancha desenvolvida para a mesma. Todas
as técnicas apresentaram resultados positivos na flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Sugerimos novos estudos analisando efeitos
crônicos do alongamento para a confirmação de nossos resultados.
Palavras-chave: exercício de
alongamento muscular, amplitude de movimento articular, técnicas
fisioterápicas.
Abstract
The
hamstring muscle leads to postural imbalance, compensation and other disorders. Thus, studies about
the effects of different techniques
to improve the flexibility of these muscles are essential to clarify
the real benefits of their use. The aim of this
study was to investigate the acute effect
of Neuromuscular Bandage, Proprioceptive Neuromuscular Facilitation
(PNF) and Static Stretching on hamstring
muscle flexibility. The sample consisted of 80 men (23.37 ± 4.68 years) randomly divided into 4
groups: G1 (Neuromuscular Bandage,
n = 20), G2 (PNF, n = 20), G3 (Static Stretching, n = 20) and G4 (Control Group, n = 20). The level of physical
activity was assessed using the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ). All the techniques presented positive results in the flexibility of the hamstring
muscles. We suggest new studies analyzing chronic effects of stretching
to confirm our results.
Key-words: muscle stretching
exercise, articular range of
motion, technical physiotherapy.
A alteração da flexibilidade dos músculos isquiotibiais pode ocasionar desvios posturais importantes
e abalar a funcionalidade da articulação do quadril e coluna lombar [1]. Com
isso, problemas posturais podem gerar uma inclinação posterior contínua da
pelve a qual irá afetar a marcha provocando dores musculares ou articulares nos
membros inferiores com seu consequente desalinhamento [2].
Os músculos isquiotibiais
consistem em um grupo composto pelos músculos semitendinoso,
semimembranoso e bíceps da coxa, que formam um grande
conjunto muscular.
O encurtamento muscular refere-se a um grau
de retração leve a moderado que ocorre quando o comprimento de toda a extensão
da fibra muscular do sarcômero torna-se muito
pequeno. Com isso, a capacidade de gerar tensão máxima diminui
consideravelmente, resultando em uma perda relevante de amplitude de movimento
[2-4].
Como consequência, o encurtamento muscular
gera o aumento do gasto energético, desequilíbrio postural, compensações,
compressão das fibras nervosas, maior incidência de cãibras e dor, além de
prejudicar as atividades de vida diária, laborais e a prática de exercícios físicos
[3].
Técnicas de alongamento muscular têm sido
utilizadas por muitos profissionais com o objetivo de proporcionar a manutenção
e o aumento da flexibilidade [5]. Diversos tipos de alongamento podem ser
realizados, e são determinados de acordo com o objetivo, indicação e
viabilidade de cada indivíduo, sendo eles, alongamentos ativos, passivos e
mecânicos-assistidos, que também podem ser estático, progressivo e cíclico, de
velocidade lenta ou balística e de alta ou baixa intensidade [6].
Dentre inúmeras ferramentas da Fisioterapia,
a Bandagem Neuromuscular está sendo cada vez mais utilizada como um recurso nas
intervenções [7]. A Bandagem Neuromuscular propicia efeitos por mecanismos
neurofisiológicos e biomecânicos [8], possui efeito analgésico, estabilizador
articular e estimulador proprioceptivo [9]. A Facilitação Neuromuscular
Proprioceptiva (FNP) é caracterizada pelo uso de contração muscular ativa, com
objetivo de proporcionar inibição autógena do músculo alongado. Quando
aplicada, promove aumento no ganho de ADM devido ao relaxamento muscular
reflexo associado com alongamento passivo [10]. Já o Alongamento Estático é
caracterizado pela manutenção da posição de alongamento muscular por um período
de 30 segundos ou mais [11]. Pela falta de consenso entre os autores acerca dos
efeitos a curto prazo do uso da Bandagem Neuromuscular
no alongamento, novos estudos se fazem necessários [12].
Sendo assim, estudos que trabalhem com os
efeitos de diferentes técnicas de alongamento na flexibilidade dos músculos isquiotibiais são fundamentais para esclarecer os reais
benefícios de suas utilizações, não apenas na recuperação, mas também para a
promoção de saúde e prevenção de futuros desequilíbrios musculares e suas
consequências. Com isso, o presente estudo teve como objetivo comparar o efeito
agudo da Bandagem Neuromuscular, FNP e Alongamento Estático na flexibilidade de
isquiotibiais de homens suficientemente ativos com
idade entre 18 e 35 anos da cidade de Curitiba/PR.
Atualmente diversas técnicas compõem o
tratamento fisioterapêutico, porém ainda necessitam estudos sobre sua eficácia
e empregabilidade, tais como: Bandagem Neuromuscular, FNP e Alongamento
Estático. Ao rever esses conceitos busca-se esclarecer, possíveis diferenças
entre elas e suas aplicabilidades. Salienta-se, a importância dessas técnicas
em indivíduos suficientemente ativos. A motivação principal para realização
deste estudo foi à possibilidade de contribuir no embasamento teórico
científico aumentando a segurança, confiabilidade e aplicação clínica das
técnicas. Auxiliando o fisioterapeuta na escolha do melhor recurso técnico para
cada paciente respeitando suas individualidades.
Este estudo apresenta delineamento
experimental [13], e sua amostra foi selecionada por conveniência. Foi feita a
opção por sujeitos do sexo masculino, pois os mesmos apresentam maior
incidência de encurtamento muscular de isquiotibiais
quando comparados ao sexo feminino, principalmente devido a diferenças
hormonais [2]. Outra característica da amostra levada em consideração foi que
os indivíduos deveriam ser fisicamente ativos, justificando-se pelo fato de que
o estudo procurou observar o que ocorre além dos resultados que poderiam
aparecer se fossem utilizados sedentários.
A amostra foi constituída por 80 homens
(23,37 ± 4,68 anos), que foram divididos aleatoriamente em 4
grupos:
G1 (Bandagem
Neuromuscular, n = 20): A Bandagem Neuromuscular foi aplicada na região
posterior de coxa em forma de Y por meio da técnica de inibição, e retirada
cinco dias após a aplicação.
G2 (FNP,
n = 20): Para as técnicas de FNP e Alongamento Estático o participante foi
posicionado em decúbito dorsal, em seguida seu membro inferior esquerdo foi
estabilizado em extensão pelo pesquisador com o auxílio de uma toalha. Após o
posicionamento adequado, o pesquisador realizou a flexão de quadril direito do
participante, mantendo sempre o joelho direito em extensão, até o mesmo referir
o início de desconforto na região posterior da coxa. Para a FNP foi realizado 5
segundos de contração isométrica resistida pelo pesquisador seguida de
relaxamento e mantida por 30 segundos, e este foi repetido três vezes
diariamente durante cinco dias consecutivos em ambos os membros inferiores.
G3 (Alongamento
estático, n = 20): No grupo de Alongamento Estático foi realizado 5 séries, com intervalo de 30 segundos entre cada série
durante cinco dias consecutivos em ambos os membros inferiores.
G4 (Grupo
controle, n = 20): Não realizou atividades de alongamento para ser
utilizado como referência em relação aos demais protocolos experimentais.
O nível de atividade física foi avaliado por
meio do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). A flexibilidade
dos músculos isquiotibiais foi avaliada pela
mensuração do ângulo poplíteo com auxílio de uma prancha desenvolvida para a
mesma (Figura 1).
Os critérios de inclusão foram indivíduos do
sexo masculino, com idade entre 18 e 35 anos, suficientemente ativos (>150
minutos de atividade física por semana) e saudáveis, com encurtamento dos
músculos isquiotibiais, de acordo com resultado na
avaliação do ângulo poplíteo igual ou inferior a 80º [14].
Figura 1 – Mensuração do ângulo poplíteo.
Foram excluídos indivíduos com histórico de
lesões agudas em membros inferiores (MMII) ou que apresentassem qualquer
procedimento cirúrgico em MMII nos últimos oito meses, história de doenças
neurológicas, alteração de sensibilidade em MMII, lesões abertas em MMII,
doenças cutâneas como lúpus eritematoso, dermatite de contato e melanoma [15].
Análise estatística
A análise dos dados foi realizada por meio do
programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) software,
versão 22.0 para Windows. Foi utilizado o teste de Kolmorov-Smirnov
para verificar a distribuição dos dados para as variáveis contínuas. A análise
estatística descritiva (frequência, media, desvio padrão, mediana, mínimo,
máximo) foi utilizada para a caracterização do estudo, a depender do tipo de
variável e da distribuição dos dados. Para comparação entre os métodos de
alongamento (Bandagem Neuromuscular, FNP e Alongamento Estático) foi utilizado
o teste ANOVA de medidas repetidas. O Effect Size (ES) foi calculado para determinar a magnitude do
efeito dos programas de intervenção, em que os valores considerados foram negligível (< 0,15), pequeno (0,15 ≤ ES <
0,40), médio (0,40 ≤ ES < 0,75), e grande (≥ 0,75 ES < 1,45)
[16]. Para análise do efeito das intervenções intragrupo
foi utilizado o teste t pareado. O nível de significância estatística adotado é
de p < 0,05.
Apresentaram-se como voluntários da pesquisa
87 indivíduos, sete participantes foram excluídos, três por apresentarem idade
maior que 35 anos e quatro por desistência. A amostra final do presente estudo
foi de 80 indivíduos do sexo masculino com idade entre 18 e
35 anos, suficientemente ativos que apresentaram encurtamento de músculos isquiotibiais.
A amostra foi composta por homens com idade
média de 23,37 anos, IMC médio de 25,57 kg/m2 e nível de atividade
física semanal com média de 238,44 minutos. Em relação ao tipo de atividade
física, destaca-se a musculação (32,5%) e o futebol (20,0%). Em sua maioria os
indivíduos apresentaram-se: não tabagistas (97,5%), solteiros (85,0%), com
ensino superior (87,5%), destros (90,0%) e considerando sua percepção de saúde
como muito boa (46,4%). Quanto à saúde, apenas dois participantes (2,5%)
apresentaram doença pré-existente (hipertensão e hipotireoidismo), relatando
uso de medicamento contínuo para controle da mesma.
A Tabela I demonstra relevância estatística
(p > 0,05), relacionada aos resultados individuais de cada grupo testado.
Após o período experimental, o Grupo Controle não apresentou melhora em relação
ao momento pré e pós-avaliação. Já os grupos, Bandagem
Neuromuscular, FNP e Alongamento Estático, apresentaram melhora tanto na
flexibilidade e ADM de MIE e MID.
Tabela I - Comparação da flexibilidade e ADM antes e
após período experimental (GC) intervenção (GB, GF, GE).
ES
= Effect size; FNP = Facilitação
Neuromuscular Proprioceptiva; ADM = Amplitude de Movimento; ADM MID = Amplitude
de Movimento de Membro Inferior Direito; ADM MIE = Amplitude de Movimento de
Membro Inferior Esquerdo; p < 0,05 indica diferença estatística.
Ao comparar as técnicas empregadas nos
grupos, Bandagem Neuromuscular, FNP e Alongamento Estático, estas apresentaram
melhora nos resultados individuais quando comparados com o Grupo Controle,
porém quando comparados os três grupos os mesmos não apresentam relevância
estatísticas (p > 0,05), como pode ser observado no Gráfico 1.
Gráfico 1 - Comparação da flexibilidade entre os
diferentes métodos de intervenção.
Os resultados obtidos na pesquisa demonstram
que a FNP e o Alongamento Estático apresentaram-se mais eficazes quando
comparados ao uso da Bandagem Neuromuscular. Contudo, a mesma também obteve
resultados positivos como mostra o gráfico 2.
Já o gráfico 2,
demonstra que no pós intervenção a FNP, quando comparada com o Grupo Controle,
foi melhor em ambos os MMII. Na sequência o Alongamento Estático quando
comparado com o Grupo Controle no pós-intervenção foi melhor apenas em MID.
FNP
= Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva; ADM MID = Amplitude de Movimento de
Membro Inferior Direito; ADM MIE = Amplitude de Movimento de Membro Inferior
Esquerdo; *p < 0,01 = Comparação da FNP com o Grupo Controle; ** p < 0,05
= Comparação do Alongamento Estático com o Grupo Controle.
Gráfico 2 - Comparação da amplitude de movimento entre
os diferentes métodos de intervenção.
O alongamento é um recurso utilizado para
aumentar a ADM, além de ter a capacidade de ampliar a extensibilidade de
tecidos moles, diminuir o tônus e encurtamento muscular [17]. Deste modo,
pesquisadores afirmam que as pesquisas realizadas com a Bandagem Neuromuscular
se concentram no controle da dor e outros sintomas [16]. Entretanto o mesmo
ressalta a importância de se realizar pesquisas sobre o efeito da Bandagem
Neuromuscular no sistema músculo esquelético em indivíduos saudáveis a fim de
aperfeiçoar seu uso na clínica.
Neste contexto, o presente estudo teve como
propósito comparar o efeito agudo de três técnicas fisioterapêuticas na
flexibilidade de isquiotibiais. Os resultados
encontrados sugerem que as técnicas utilizadas possuem efeitos positivos quando
analisadas isoladamente, não obtendo diferença significativa quando comparadas
entre si.
Em relação à Bandagem Neuromuscular, após a
sua utilização foi possível observar uma melhora na flexibilidade de isquiotibiais, resultado este que é corroborado por outros
autores [12,18-21]. Espejo et al. [21] compararam a técnica de eletroterapia por meio da
corrente interferencial e a Bandagem Neuromuscular no
encurtamento dos músculos isquiotibiais de 120
atletas amadores, evidenciando melhora significativa em ambas as técnicas, mas
o grupo que utilizou a Bandagem Neuromuscular apresentou um tamanho de efeito
médio (d = 0,431). Kanayama et al. [20] avaliaram o ganho de flexibilidade dos músculos isquiotibiais em 30 mulheres sedentárias com idade entre 18
e 30 anos, divididas igualmente em grupo controle e grupo experimental. No
grupo experimental foi aplicada a Bandagem Neuromuscular por um período de 3 semanas consecutivas, já o grupo controle não recebeu
intervenção. Antes e depois da intervenção os dois grupos foram submetidos à
avaliação do grau de flexibilidade do membro por meio de um flexímetro.
Os resultados obtidos verificaram que houve melhora estatisticamente
significativa no aumento da flexibilidade dos músculos isquiotibiais
no grupo que utilizou a Bandagem Neuromuscular. Esse achado pode ser
justificado pelo fato de que a Bandagem Neuromuscular auxilia na manipulação
das fáscias melhorando a extensibilidade e elasticidade, tendo, portanto, a
capacidade de alterar a ADM corporal [20]. Todavia, estas pesquisas não
compararam a associação desta técnica com outras técnicas de alongamento [19,20].
Em contrapartida, foi evidenciado que a
Bandagem Neuromuscular não foi capaz de promover uma melhora significativa no
aumento da flexibilidade. Merino et al. [19]
dividiram 43 indivíduos em três tipos de avaliações (grupo bandagem, grupo
placebo e grupo controle) com intervalo de 12 minutos. Após análise dos
resultados, constatou-se que nenhum dos três grupos obteve diferença
significativa no aumento da flexibilidade dos músculos isquiotibiais
[19]. Outra pesquisa que não obteve resultado significativo foi a de Costa e
Ventura [12], que avaliaram o efeito agudo da Bandagem Neuromuscular na
flexibilidade dos músculos isquiotibiais em 58
indivíduos adultos divididos em grupo experimental e controle ambos com 29
participantes, sendo avaliados em quatro momentos distintos.
Uma vez que os dois grupos apresentaram
resultados semelhantes em todos os momentos, não foi possível afirmar que a
Bandagem Neuromuscular tenha alcançado resultados melhores na flexibilidade dos
isquiotibiais do grupo experimental comparado ao
grupo controle [12].
Apesar de a Bandagem Neuromuscular promover
resultados positivos no presente estudo, a mesma não apresentou relevância
estatística em relação ao benefício no alongamento dos músculos isquiotibiais quando comparada aos grupos que realizaram o
Alongamento Estático e o FNP. Sendo assim, indica-se para outros estudos a
aplicação desta técnica associada a outros métodos de alongamento, com o
intuito de promover evidências que sustentem a sua utilização na prática clínica.
A FNP é outra técnica do acervo
fisioterapêutico muito utilizada em relação à flexibilidade dos músculos isquiotibiais, encontrando em seus estudos resultados
positivos quanto a sua utilização. Na mesma linha da presente pesquisa, estudos
que avaliaram a FNP apresentam-na como técnica de destaque na melhora da ADM e
da flexibilidade [17,22]. Esta melhora pode ser explicada pela diminuição na
resistência passiva do tecido conectivo, e pela reação ao estiramento do Órgão Tendinoso de Golgi (OTG) no tendão que em virtude de uma
tensão extrema causando interferência do reflexo miotático,
que tem como função primária, entre outras, a proteção da estrutura muscular
[23,24]. A relação do OTG na resposta ao alongamento, ocorre em virtude da
posição que ocupam nas inserções proximal e distal dos músculos que podem ser
tensionados durante o processo de alongamento [6,24,25].
Deste modo, alterações na resistência e
tensão muscular geram uma melhora na flexibilidade de isquiotibiais,
justificando os achados do presente estudo.
Outra técnica contemplada pela presente
pesquisa é o Alongamento Estático. Os resultados obtidos assemelham-se as
pesquisas realizadas que escolheram a técnica por ser realizada de maneira
simples e confortável [22,25,26].
Chebel et al. [25] realizaram um estudo sobre o efeito do alongamento
estático no aumento da flexibilidade dos músculos isquiotibiais
por meio do teste de sentar e alcançar, em 24 mulheres sedentárias. Os
resultados obtidos afirmam que após cinco semanas a efetividade da técnica se
confirma por proporcionar uma alteração plástica no tecido e, consequentemente,
maior elasticidade. A eficiência do alongamento estático se deve ao
remodelamento dos tecidos conjuntivo, muscular e tendíneo,
o que leva ao aumento da extensibilidade no comprimento dos músculos isquiotibiais [25].
Existe uma vasta literatura científica
comparando as técnicas de Alongamento Estático e FNP, em diversos grupamentos
musculares e diferentes populações, porém não existe consenso de qual seria a
melhor técnica. De acordo com alguns autores pesquisados, o Alongamento
Estático apresenta resultados positivos e seguros, porém com um menor ganho na
flexibilidade quando comparada a outras técnicas, como a FNP
[27,28]. Contradizendo os resultados da presente pesquisa, Melo et al. [22] compararam a eficácia das
técnicas de FNP e alongamento dos sarcômeros em
série, com uma sessão de cada técnica, com intervalo de 8 dias entre as
técnicas e concluíram que o alongamento de sarcômeros
em série obteve melhor efeito terapêutico na melhora da flexibilidade muscular,
em comparação com o alongamento por FNP.
Os resultados encontrados neste estudo
mostram uma melhora na flexibilidade dos músculos isquiotibiais
nos dois tipos de alongamentos sendo ambos indicados para o aumento da
flexibilidade global e alongamento da cadeia posterior. A maioria dos estudos
encontrados na revisão de literatura não apresentou diferença significativa na
comparação entre as técnicas de alongamento [28,29].
A melhora na flexibilidade de isquiotibiais encontradas em ambas as técnicas, FNP e
Alongamento Estático, também pode ser explicada pela mecanotransdução, que se refere ao processo em que o corpo
transforma um estímulo mecânico em resposta celular. Assim o processo de
alongamento muscular é transmitido para a fibra muscular por meio da “Matriz
Extra Celular”, através do sarcolema até atingir as
moléculas intracelulares e o sistema contrátil. Este estímulo mecânico gerado
no músculo durante o alongamento dissipa-se de forma longitudinal e lateral nas
fibras musculares. Sendo por meio do mecanismo de mecanotransdução
que um estímulo mecânico gera uma série de alterações intracelulares, como
aumento na síntese de proteínas e, consequentemente, aumento da amplitude
articular e alongamento muscular [30].
Utilizando a mesma linha da presente
pesquisa, Chen et al.
[14] também obtiveram resultados positivos,
apesar da pequena amostra (n = 9), combinando as
técnicas de Alongamento Estático e Bandagem Neuromuscular e as técnicas de
Alongamento Estático com FNP nos músculos isquiotibiais
buscando o aumento da ADM da flexão do quadril. Farquharson
e Greig [31] compararam o efeito agudo do Alongamento
Estático, FNP e Bandagem Neuromuscular em 30 indivíduos do sexo masculino,
evidenciando melhora na ADM e flexibilidade dos isquiotibiais.
Contudo, este estudo evidenciou que a aplicação da
Bandagem Neuromuscular por
um período mais longo apresentou vantagens quando comparada com
as outras
intervenções, sugerindo implicações em
relação ao tempo e a duração da
técnica
realizada, indicando a necessidade de estudos que abordem essas
características
[31]. Além disso, esses achados indicam a necessidade de uma
avaliação
fisioterapêutica, a fim de analisar a especificidade de cada caso
e escolher a
melhor técnica para cada situação, sempre
considerando a individualidade do
sujeito.
Este estudo teve como limitação a
característica da amostra que se restringiu a indivíduos do sexo masculino,
suficientemente ativos, o que prejudica sua aplicabilidade direta em outras
populações, com isso sugere-se a realização de estudos em indivíduos com
diferentes características. Por fim, a aplicabilidade prática da pesquisa
condiz que as técnicas analisadas neste estudo são boas opções para a melhora
da flexibilidade dos músculos isquiotibiais, contudo
sugere-se que a Bandagem Neuromuscular deve ser associada de outros recursos
terapêuticos para resultados mais positivos. Estas informações apontam que a
utilização da Bandagem Neuromuscular dentro da prática clínica visando o
alongamento de grupos musculares deve ser associada a algum outro método de
alongamento, sendo indicada a realização de novos estudos com essas variáveis.
O estudo foi realizado com indivíduos do sexo
masculino, com idade entre 18 e 35 anos, suficientemente ativos (>150
minutos de atividade física por semana) e saudáveis com encurtamento dos
músculos isquiotibiais. Os resultados do presente
estudo evidenciaram que a Bandagem Neuromuscular, Facilitação Neuromuscular
Proprioceptiva (FNP) e Alongamento Estático apresentaram resultados positivos
na flexibilidade dos músculos isquiotibiais de homens
suficientemente ativos. Quando estas técnicas foram comparadas, a técnica de
FNP apresentou resultados significativamente maiores em relação às demais
técnicas.
Sugerem-se novos estudos analisando efeitos
crônicos de um programa de alongamento e com diferentes características, como,
por exemplo, estudos utilizando a Bandagem Neuromuscular associada a outras
técnicas de alongamento.