ARTIGO
ORIGINAL
Agilidade,
equilíbrio e flexibilidade de atletas de futebol: avaliação por meio de testes
funcionais e fotogrametria
Agility, balance and flexibility in soccer athletes: evaluation by
functional tests and photogrammetry
Daiene Cristina
Ferreira, Ft.*, Willian de Almeida Silva**, Lucas Rafael Heleno*, Eduardo Rossi
Spartalis**, Camile Ludovico Zamboti*, Fernanda Bortolo Pesenti**, Jhaton Viera
da Silva**, Matheus Elmer Finatti*, Ariobaldo Frisseli***, Christiane de Souza
Guerino Macedo, D.Sc.****
*Universidade
Estadual de Londrina (UEL), Residência em Fisioterapia Traumato-Ortopédica da
UEL, **Residência em Fisioterapia Traumato-Ortopédica/UEL, ***Docente do Curso
de Educação Física e Esporte/UEL, Docente do curso de Fisioterapia/UEL,
Londrina/PR
Recebido em 23 de
junho de 2015; aceito em 20 de dezembro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Christiane de S. Guerino Macedo, Hospital Universitário da UEL/Centro de
Ciências da Saúde/Departamento de Fisioterapia, Av. Robert Koch, 60, Vila
Operária 86038-350 Londrina PR, E-mail: chmacedouel@yahoo.com.br; Daiene
Cristina Ferreira: daiene_ferreira@hotmail.com; Willian de Almeida Silva:
willianalmeida.fit@hotmail.com; Lucas Rafael Heleno: lrafaelfisio@hotmail.com;
Eduardo Rossi Spartalis: eduardo.spartalis@hotmail.com; Camile Ludovico
Zamboti: camileludovico@hotmail.com; Fernanda Bortolo Pesenti:
fernanda_pesenti@hotmail.com; Jhaton Viera da Silva: jhaton_vieria@hotmail.com;
Matheus Elmer Finatti: matheusfinatti@hotmail.com; Ariobaldo Frisseli: afrisselli@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: Avaliar
agilidade, equilíbrio e flexibilidade é importante para o desempenho
esportivo e seus resultados podem estar associados a lesões no futebol. Objetivos: Avaliar a agilidade,
equilíbrio e flexibilidade de atletas de futebol. Métodos: Foram submetidos 50 atletas de futebol masculino aos
testes funcionais Figure 8 Test (F8),
Side Hop Test (SHT) e Star Excursion Balance Test (SEBT) e à
avaliação da flexibilidade dos músculos isquiotibiais e quadríceps, por
fotogrametria. Estes foram distribuídos em grupos em função da dominância do
membro inferior, queixas álgicas, posição de jogo e categoria, e comparados por
meio dos testes t de Student e Anova. O nível de significância foi de 5%. Resultados: Os resultados dos testes
funcionais não diferiram para dominância e posição de jogo e não apresentaram
correlação com a dor. Os atletas de maior idade apresentaram melhores scores
nos testes funcionais. A flexibilidade dos músculos quadríceps e isquiotibiais
não apresentaram diferenças para a dominância e categorias; porém, todos os
atletas demonstraram flexibilidade diminuída nos isquiotibiais quando
comparados às referências literárias. Conclusão:
Atletas profissionais apresentaram melhores escores na execução dos testes
funcionais e flexibilidade diminuída. Os resultados valorizam as avaliações com
testes funcionais e fotogrametria, pois são formas de baixo custo e fácil
reprodutibilidade.
Palavras-chave: atletas, equilíbrio
postural, fotogrametria, futebol.
Abstract
Introduction: The assessment of agility, balance and flexibility is important in
sports performances and the results obtained could be related to injuries in
soccer. Objectives: To evaluate
agility, balance and flexibility of soccer players. Methods: Fifty male soccer players were submitted to the following
functional tests: Figure 8 Test (F8), Side Hop Test (SHT) and Star Excursion
Balance Test (SEBT) and to the evaluation of flexibility of the hamstrings and
quadriceps using photogrammetry. The athletes were divided into groups based on
the dominant lower limb, pain complaints, position in the field and category
and compared using the Student's t-test and ANOVA. The level of significance
was set at 5%. Results: The results
of the functional tests did not differ for dominance and position in the field
and showed no correlation with pain. Older athletes presented better scores in
functional tests. The flexibility of the quadriceps and hamstrings showed no
differences to the dominance and categories; however, all athletes have
demonstrated decreased flexibility in the hamstrings when compared to the
literature references. Conclusion:
Professional athletes presented higher scores in functional tests and lower
flexibility. The results encourage the use of functional tests and
photogrammetry because these assessment tools are less expensive and can be
easily reproduced.
Key-words: athletes,
postural balance, photogrammetry, soccer.
O futebol é um
esporte praticado no mundo por cerca de 400 milhões de pessoas [1]. Associado
ao seu crescimento observa-se maior número de lesões, principalmente pelo
constante contato entre os jogadores [2]. Entretanto, a etiologia das lesões
esportivas engloba uma gama de fatores internos (idade, gênero, alterações
anatômicas, nível de força muscular, agilidade, histórico prévio de lesão,
alterações posturais e biomecânicas) e externos (relação com o ambiente, nível
de competição, número de jogos efetuados, tipo e volume de treinamento).
Segundo Zanuto et al. [3], as ações de chutar, driblar e
cabecear associadas ao inadequado preparo físico e a prática esportiva em alta
intensidade do futebol aumentam consideravelmente as lesões nos atletas. Neste
sentido, as lesões do futebol são motivos de grande preocupação, pois
comprometem o desempenho e afastam atletas de treinamentos e competições [4].
No sentido de
associar dor e controle motor, Baroni et al. [5]
estabeleceram que as entorses podem apresentar relação direta com a falta de
controle motor e manutenção da estabilidade postural na realização de saltos,
giros e mudanças de direção associados ao gesto esportivo do futebol. Os
estudos sobre controle motor apontam que assimetrias, lesões dos membros
inferiores, fadiga muscular, gesto esportivo inadequado e dominância poderão
influenciar diferentes aspectos da motricidade, como precisão, velocidade de
execução e coordenação para iniciar o movimento [6]. Entretanto, quando o
treino específico é bem planejado observa-se um aprimoramento no controle motor
e habilidade de equilíbrio [7,8] que diminuem os riscos de lesões.
O controle motor pode
ser avaliado por testes funcionais como os Figure
8 Test, Side Hop Test e Star Excursion Balance Test, caracterizados como
medidas dinâmicas de avaliação da função geral dos membros inferiores, que
analisam a funcionalidade motora dos atletas e exigem controle postural e
neuromuscular [9], além de apresentarem componentes de deslocamentos laterais (Side-Hop Test) e movimentos que levam a
estresse rotacional (Figure-of-8-Hop Test)
e de equilíbrio (Star Excursion Balance
Test) que podem apresentar alterações após uma determinada lesão, disfunção
ou assimetria.
Outro importante
fator avaliado em atletas de futebol é a flexibilidade. Veiga et al. [1] afirmam que o déficit de
flexibilidade pode estar associado as lesões musculares. Concordando, Sena et al. [10] demonstram que embora
amenizada em atletas com idade superior a 18 anos, a presença de encurtamento
global da cadeia posterior foi marcadamente importante, resultando em 14 vezes
mais chances de instalação de lesões esportivas na vida adulta. Várias são as
formas de se avaliar a flexibilidade, cita-se o Banco de Wells (também
denominado de teste de “sentar e alcançar” - sit-and-reach test) [11], o teste de Elevação da Perna Estendida
[12], o Teste do Dedo Médio ao Chão [13], a fotogrametria [14], entre outros.
Entre estas técnicas,
a fotogrametria tem sido apontada como de baixo custo, com facilidade de
fotointerpretação, alta precisão e reprodutibilidade dos resultados, além da
possibilidade de arquivamento e acesso aos registros. Estas diversas vantagens
defendem sua grande utilização e disseminação. O processo é um valioso registro
das mudanças posturais ao longo do tempo porque é capaz de captar pequenas transformações
e relacionar diferentes partes do corpo que são de difícil mensuração [14].
Em função da alta
frequência de lesões no futebol e da grande variabilidade em protocolos de
avaliação desta modalidade, o conhecimento do perfil físico ideal para cada
posição e das lesões que mais acometem cada atleta é essencial para o sucesso
de uma equipe. Com isso, faz-se necessário o desenvolvimento de estudos que
evidenciem uma maneira diferenciada de avaliação do controle motor e
flexibilidade, de forma acessível, reprodutível e com baixo custo. Para que,
deste modo, possam ser detectadas precocemente as assimetrias, disfunções e
queixas álgicas não traumáticas do atleta. Assim, o presente estudo tem o
objetivo de avaliar o controle motor e a flexibilidade em atletas de futebol,
bem como associar o desempenho dos testes e dos níveis de flexibilidade à
dominância, queixas álgicas, idade e posição de jogo.
A amostra, de
conveniência, constou de 50 atletas de futebol, do sexo masculino, idade entre
13 e 17 anos, com tempo mínimo de treinamento de 3
anos, frequência de treinamento semanal de 6 vezes, 2 horas por dia e que
participassem dos treinamentos e competições estaduais pelo mesmo clube. Os
atletas com queixas álgicas foram submetidos à avaliação clínica e
fisioterápica antes dos testes para verificar a presença ou não de riscos. Como
critérios de exclusão, adotou-se o afastamento completo dos treinamentos por
lesões ou problemas de saúde, dor incapacitante para realizar os testes, e
atletas submetidos à cirurgia do membro inferior nos últimos seis meses.
Os atletas
selecionados para o estudo foram orientados quanto aos objetivos e
procedimentos a serem desenvolvidos na pesquisa e assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido, assim como seus responsáveis legais. A
pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição (Parecer
050/2011). A coleta de dados foi realizada em dias diferenciados no ginásio de
musculação da equipe e os atletas trajavam roupas e calçados apropriados para
realização de exercícios, testes e avaliação de flexibilidade.
No primeiro dia de
coleta, os atletas (N = 50) responderam o questionário de avaliação e
realizaram os testes funcionais. O questionário de caracterização da amostra
constava de nome, idade, peso, altura, tempo de prática esportiva, frequência
de treino semanal e horas por dia, queixas álgicas, lesões e cirurgias prévias,
entre outras; e aleatorizaram a sequência de desenvolvimento dos testes
funcionais e membro inferior de início dos testes. Assim, realizaram
aleatoriamente os testes funcionais Side
Hop Test (SHT), Figure 8 Test
(F8), e Star Excursion Balance Test
(SEBT), três repetições em cada membro inferior, com intervalo de 30 segundos
entre cada realização do mesmo teste, e um minuto para a troca entre os testes
e entre os membros inferiores.
Para o Side Hop Test o atleta foi posicionado
em apoio unipodal, calçando tênis, e realizou 10 saltos laterais, distantes em
trinta centímetros, o mais rápido possível [15,16]. Foram orientados a não
pisar sobre as duas fitas que delimitavam a distância estipulada. No Figure 8
Test o atleta, em apoio unipodal, calçando tênis, percorreu uma distância de 5
metros delimitada por dois cones, contornando-os de forma a desenhar um “8” por
duas vezes consecutivas o mais rápido possível [9]. Para ambos os testes
considerou-se o menor tempo de realização como resultado. Para a realização do Star Excursion Balance Test (SEBT) três
fitas métricas foram colocadas no chão nas direções anterior, póstero-medial,
póstero-lateral, cada uma delas com 120 cm partindo do centro, com uma
distância de 45º graus entre elas [17,18]. O atleta posicionou um pé, descalço,
na intersecção entre todas as diagonais, de maneira que a linha maleolar
ficasse no centro da intersecção das fitas; e, com o outro pé, foi orientado a
tocar levemente a fita com a ponta do hálux, o mais longe possível, em cada uma
das três direções mantendo o equilíbrio corporal, com o calcâneo do pé de apoio
fixo no solo. Para estabelecer os valores de análise considerou-se a maior
distância alcançada, em centímetros, para cada direção [19].
No segundo dia de
coleta os atletas (N = 35; 15 atletas apresentaram impossibilidade de horário
para avaliação) foram submetidos à avaliação da flexibilidade dos músculos
isquiotibiais (IT) e quadríceps por meio de fotogrametria. Pontos reflexivos
foram fixados no trocânter maior do fêmur, interlinha do joelho e maléolo
lateral. Para a análise da flexibilidade do quadríceps, considerou-se o grau de
flexão de joelho em decúbito ventral (figura 1A) e, para os músculos IT, a
flexão de quadril com extensão de joelho em decúbito dorsal (figura 1B).
Utilizou-se a câmera Sony® Cyber-Shot de 14,1 Mega Pixels para a coleta da
imagem e o programa Image J para a
análise angular. Todos os participantes foram submetidos a uma única avaliação
para evitar o ganho de flexibilidade imediato.
Figura
1 - Análise da flexibilidade do musculo
quadríceps (A) e músculo isquiotibial (B) por fotogrametria.
Os resultados dos
testes funcionais foram descritos em função da dominância (considerou-se o
membro inferior utilizado para chutar uma bola), da presença ou não de queixas
álgicas, da posição de jogo (goleiro, zagueiro, volante, lateral ou atacante),
divididos por categorias (sub-15, sub-17 e
profissional) e para análise da flexibilidade, foram consideradas as categorias
e dominância. Aplicou-se o teste de Shapiro Wilk, e em função da normalidade, foram utilizados o teste t de Student pareado e não pareado
e ANOVA. O nível de significância foi de 5%. O programa utilizado para a
análise foi o SPSS® 20.
No total, os atletas
(n = 50) submetidos à análise do controle motor por meio dos testes funcionais
apresentaram idade de 16,49 (3,12) anos, peso 66,35 (9,06)
kg, 1,74 (0,06) metros e IMC de 21,59 (2,26) kg/m2.
Quando separados em
função da dominância não foram observadas diferenças significativas para os
testes funcionais (tabela I).
Tabela
I - Resultados dos testes funcionais entre
membro inferior dominante e não dominante (n = 50).
Teste t de student.
Os resultados dos
testes funcionais entre atletas de futebol com e sem queixas de dor estão
descritos na tabela II. Foi observado que os atletas com dor apresentaram
melhor desempenho quando realizaram o teste no membro inferior não dominante.
A análise da
comparação entre o controle motor para o desenvolvimento dos testes funcionais
também foi realizada em função da posição de jogo. Pode-se
observar na tabela III diferenças de tempo de desenvolvimento para o SH, F8 e
SEBT entre as posições. Entretanto os valores não apresentaram significância
estatística.
Tabela
II -
Resultados dos testes funcionais entre
atletas com e sem queixas de dor.
Teste t de Student não
Pareado.
Tabela
III
- Resultados do desenvolvimento dos
testes funcionais em função da posição de jogo dos atletas de futebol (n = 50).
D = Dominante; ND =
Nao Dominante. Teste ANOVA.
Quando os atletas
foram distribuidos em função das categorias, algumas diferenças foram
encontradas. A tabela IV apresenta a diferença significativa entre o sub-15 e o sub-17 no F8 Dominante e Não Dominante. Entre o sub-15 e os Profissionais, houve diferença significativa no
F8 Dominante, SHT Não Dominante, SEBT póstero-medial Não Dominante, SEBT
póstero-lateral Dominante e Não Dominante. Entre o sub-17
e os Profissionais, somente houve diferença significativa no SEBT
póstero-lateral Não Dominante.
Tabela
IV -
Resultados dos testes funcionais entre as
categorias (n = 50).
SEBT = Star Excursion
Balance Test; Teste ANOVA; *diferença significativa entre sub 15 e sub 17.
Teste t de Student não pareado; **diferença significativa entre sub 15 e
profissionais. Teste t de Student não pareado; ***diferença significativa entre
sub 17 e profissionais. Teste t de Student não pareado.
Os resultados da
análise da flexibilidade foram estabelecidos com 35 atletas. Cabe observar que
a amostra inicial foi de 50 atletas, entretanto 15 não retornaram para a
análise da flexibilidade e foram considerados como perda amostral. Assim, a
amostra foi reestabelecida em 35 indivíduos, que posteriormente foram divididos
por categorias (sub-15, sub-17 e profissional). Entre
os 35 encontrou-se idade de 16,3(3) anos; 66,5(10,18) kg, altura de 174,65 (0,06)
cm e IMC de 21,67 (2,55) kg/m².
Os resultados da
flexibilidade dos músculos quadríceps e isquiotibiais estão apresentados nas
tabelas V e VI. Não foram observadas diferenças para a dominância ou para as
diferentes categorias.
Tabela
V - Análise da flexibilidade dos músculos
quadríceps e isquiotibiais em função da dominância (n = 35).
Teste t de Student.
Tabela VI - Análise da flexibilidade dos músculos
quadríceps e isquiotibiais em função das categorias (n = 35).
Valor do P
estabelecido pelo teste Anova.
Pode-se observar na
Tabela VI que os atletas do Sub-15 obtiveram a melhor
flexibilidade na análise dos ísquiotibiais não dominante e o quadríceps
dominante menos flexível. Os atletas do sub-17 foram
melhores no quadríceps dominante e ísquiotibiais dominantes, enquanto que no
quadríceps não dominante foram os menos flexíveis. Os atletas profissionais
foram melhores no quadríceps não dominante, enquanto foram os mais encurtados
no isquiotibiais dominante e não dominante.
A importância de
estudos com atletas de futebol tem sido apresentada e bem discutida.
Entretanto, a maioria dos autores aborda a incidência ou o tratamento de lesões
já desenvolvidas e poucos apontam estratégias de avaliação para caracterização
de assimetrias ou déficits que possibilitem a prevenção destas disfunções. Na
tentativa de avaliar o controle motor, agilidade, velocidade e equilíbrio de
atletas jovens de futebol, o presente estudo buscou comparar os resultados dos
testes funcionais (side hop test, figure
8 test e Star Excursion Balance Test) em função da dominância, queixas
álgicas ou lesões, posição de jogo e categorias. E também a flexibilidade dos
músculos quadríceps e isquiotibiais em função da dominância e categorias.
Em relação à análise
da dominância dos membros inferiores, autores afirmam que o futebol é um
esporte assimétrico, no qual o membro não dominante é utilizado para o apoio e
estabilidade e o dominante para tarefas como chute e passes [20]. Concordando,
Weber et al. [21] afirmam que raramente os
jogadores de futebol usam suas pernas com igual ênfase e normalmente priorizam
o membro dominante para desenvolver atividades específicas do jogo, desta forma
o programa de treinamento específico poderia desencadear em maior força de um
membro. Entretanto, nossos resultados apontaram semelhanças entre membro
dominante e não dominante, e os testes de velocidade, agilidade e equilíbrio (side hop test, figure 8 test e Star
Excursion Balance Test, respectivamente) não evidenciaram diferenças
significativas para a dominância. Concordando com nossos achados, Teixeira et al. [6] revelaram que há diferença do
membro de preferência em exercícios estáticos e dinâmicos, entretanto os mesmos
autores encontraram desempenho funcional similar entre membro direito e
esquerdo quando comparados em tarefas de habilidade. Em complemento, uma
análise isocinética de atletas de futebol estabeleceu que apesar de algumas
habilidades específicas deste esporte serem realizadas
com preferência lateral, os resultados dos testes em isocinético sugerem que,
independentemente da função desempenhada, os atletas são funcionalmente
equilibrados bilateralmente [22]. Estes resultados se justificam em função da
participação ativa, porém diferenciada quanto ao modo contrátil, do membro não
dominante como perna de apoio, nas ações de passe e chute. Os atletas, pela
facilidade natural de utilizar o tornozelo do membro inferior dominante para os
passes, chutes e “divididas” características do futebol, transmitem ao membro inferior
não dominante a função de estabilização, o que caracteriza o uso dos músculos
do quadril/tronco (glúteos, ísquios e lombar) para a manutenção do equilíbrio
[23].
O presente estudo
correlacionou as queixas de dor apresentadas pelos atletas avaliados e os
resultados apresentados nos testes funcionais, e os resultados encontrados
corroboram os de Demeritt et al. [24] cujo desempenho dos indivíduos
foi semelhante para o membro com queixa álgica e no membro sem qualquer queixa.
Entretanto esses autores observaram que é possível uma compensação de outros
componentes motores requisitados, não percebidos pelos testes funcionais
aplicados. Ainda, foi observado que a análise do equilíbrio no teste Star Excursion Balance Test na direção
póstero-lateral no membro não dominante apresentou melhor desempenho no membro
com queixas de dor, com diferença significativa. Este resultado não era
esperado, porém pode-se discutir que o teste é realizado em posição estática, e
que o bom preparo físico dos atletas, principalmente para os músculos da
cintura pélvica e tronco, pode ter compensado os déficits causados pela dor.
Também, todos os atletas, mesmo os que apresentavam queixa de dor em tornozelos
e joelho, desenvolviam normalmente os treinamentos e competições.
A análise dos testes
funcionais em atletas das variadas posições de jogo foi desenvolvida a fim de
estabelecer as possíveis diferenças entre elas, ou seja, se o controle motor de
goleiros, zagueiros, laterais, volantes, meio campistas e atacantes eram similares
ou não. Como resultados, nosso estudo não evidenciou diferença significativa no
controle motor para o desenvolvimento dos testes funcionais entre as posições
de jogo. Porém, mesmo sem diferenças significativas, verificou-se que os
atacantes, provavelmente por apresentar menor estatura e maior agilidade,
apresentaram melhor execução nos testes; entretanto, os goleiros, que
geralmente são mais estáticos, comparados às outras posições de jogo, foram os
que obtiveram a melhor performance nos testes que exigiam
equilíbrio. Concordando com nossos resultados, o estudo de Weber et al. [21] que realizou avaliação
isocinética em jogadores de futebol profissional e comparou o desempenho entre
as diferentes posições ocupadas no campo, evidenciou que mesmo atletas de
diferentes posições possuem as mesmas características adquiridas pelo esporte,
e afirma que ao analisar o índice de fadiga durante 30 repetições consecutivas
os atletas apresentam valores semelhantes, independente da função desempenhada
e posição ocupada no campo.
Outro ponto a ser
discutido é a influência da idade, categoria e o tempo de treinamento no
desempenho motor dos atletas. Segundo Hrysomallis [25], ainda não está
estabelecido até onde o treino aprimora o desenvolvimento da habilidade do
indivíduo e a partir de que ponto é ganho devido ao condicionamento físico.
Sabe-se que apesar dos benefícios à saúde, a prática regular aumenta a
probabilidade da instalação de desequilíbrios mecânicos, pois a carga excessiva
de treinamentos e competições pode resultar em mudanças no sistema articular e
muscular [21], o que contribui para o surgimento de alterações biomecânicas
específicas do esporte.
Ekegren et al. [26] analisaram o padrão postural
de jogadores da categoria infantil e observaram que existem alterações nos
joelhos em flexão e desvio em varo provenientes da utilização de músculos
flexores e abdutores durante os movimentos repetitivos de chute. De acordo com
Malina et al. [27], os jovens que apresentam
maior nível de maturação possuem maiores níveis de força, potência e
velocidade. Também os atletas com maior idade e maturação física têm acesso a
melhores processos de treino, tanto em relação aos equipamentos como de
treinadores, e com aumento do tempo de prática da modalidade atingem um alto
nível de rendimento [28]. Assim, ao relacionar alguns aspectos dos estudos
citados acima, com os nossos resultados encontrados nos testes funcionais,
pode-se inferir que a idade influência tanto no desempenho estático dos atletas
quanto no dinâmico, onde os profissionais obtiveram melhor desempenho, seguido
da categoria sub-17 e por fim da categoria sub-15, com
diferenças significativas.
Outro fator analisado
no presente estudo foi a flexibilidade muscular. Os
músculos analisados foram os isquiotibiais e quadríceps dos atletas de futebol,
que são os mais utilizados para o gesto esportivo do chute. A flexibilidade
adequada pode evitar substancialmente lesões osteomusculares agudas e crônicas,
além de desvios posturais e limitações da marcha [29]. Sabe-se que o corpo é
formado por diversas estruturas interligadas, uma alteração em uma delas leva a
um desarranjo global das outras, portanto uma alteração nos músculos anteriores
da coxa, como o quadríceps, pode advir de encurtamento
ou fraqueza dos músculos posteriores, por isso a importância de avaliar e
treinar o atleta de forma global. Assim, quando há um encurtamento muscular, as
fibras tornam-se incapazes de desenvolver toda a sua potência quando em
contração, e irá limitar a amplitude de movimento. Um atleta, com os músculos
posteriores da coxa tensos terá um comprimento de passada limitado, como
consequência aumentará o número de passos em uma determinada distância, em
comparação ao número de passos necessários se tivesse maior flexibilidade [30],
o que se torna uma desvantagem para a função desportiva.
Dada a importância de avaliar a flexibilidade muscular dos
atletas de futebol, nossos resultados apontaram grande encurtamento dos
músculos isquiotibiais em 100% dos atletas avaliados quando comparados aos
valores já estabelecidos pela literatura - a flexão de quadril para a avaliação
da flexibilidade dos isquiotibiais deve estar entre 110 e 125 graus. Os valores
de referência para avaliar a flexibilidade do músculo quadríceps são de 120 a
160 graus de flexão do joelho [31]. Como visto na Tabela V, a média de
flexibilidade dos isquiotibiais são 62,54 e do quadríceps de 137,09,
evidenciando maior encurtamento muscular na musculatura posterior de coxa e
flexibilidade adequada em musculatura anterior de coxa. Pode-se ver, que a flexibilidade pode não estar relacionada com o
tempo de treino e a idade dos atletas, pois do mesmo modo que os profissionais
foram melhores na flexibilidade de extensores de joelhos, foram também os mais
encurtados nos extensores de quadril e flexores de joelho; também, com o passar
dos anos, pode haver o efeito compensatório que favorece a flexibilidade do
quadríceps e encurtamento dos isquiotibiais. Portanto, nossos resultados
demonstram a necessidade de uma intervenção através de técnicas que aprimorem o
alongamento muscular, com o objetivo de aumentar a flexibilidade muscular e a
amplitude de movimento das articulações, o que possivelmente possibilitaria um
melhor desempenho físico do atleta.
Os testes
desenvolvidos e os resultados encontrados no presente estudo afirmam que a
avaliação do controle motor por meio de testes funcionais e da flexibilidade
com o uso da fotogrametria é uma opção aplicável em qualquer local de
treinamento e até mesmo competições, além de apresentar facilidade na aplicação
e baixo custo, o que facilita a análise do atleta quando não se tem acesso a
laboratórios científicos de movimento e marcha. Também, vale ressaltar a
importância da avaliação de cada atleta para que, na presença de assimetrias ou
alterações, como os déficits de flexibilidade encontrados, possam ser
desenvolvidas condutas que reequilibrem o atleta na busca de seu melhor
desempenho.
Para grande parte das
variáveis analisadas, como dominância, posição de jogo e queixas álgicas, não
foram encontradas diferenças significativas. Entretanto, em relação ao
desempenho na execução dos testes funcionais, os atletas profissionais
apresentaram melhores resultados, o que confirma o desenvolvimento motor
associado à idade e à experiência adquirida com os anos de treinamentos e competições.
Em relação à flexibilidade, as comparações entre dominância e categorias não
evidenciaram diferenças, entretanto todos os atletas de futebol avaliados
apresentaram amplitudes menores caracterizando encurtamentos musculares para a
avaliação dos músculos isquiotibiais, e flexibilidade adequada para o músculo
quadríceps. O estudo mostra a importância de avaliações do controle motor e
flexibilidade em atletas de futebol, possibilitando o desenvolvimento de
programas que favoreçam o melhor desempenho do atleta.