ARTIGO
ORIGINAL
Variação
da potência muscular mecânica após sessão de treinamento: efeito agudo da
criomassagem
Variation of mechanical muscle power after training session: acute
effect of cryomassage
Welds Rodrigo Ribeiro
Bertor, Ft.*, Aline Spironello, Ft.*, Giulia Satie Broetto, Ft.*, José Roberto
Svistalski, Ft.*, Diane Agneli de Souza, Ft.*, Felipe Grando, Ft.*, Alberito
Rodrigo de Carvalho, M.Sc.*
*Laboratório
Pesquisa e Análise da Marcha Humana, Centro de Reabilitação Física,
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)
Recebido 29 de março
de 2016; aceito em 4 de abril de 2017.
Endereço
para correspondência:
Welds Rodrigo Ribeiro Bertor, Avenida Salgado Filho, 209/704, 99700-080 Erechim
RS, E-mail: wrodrigob@hotmail.com; Aline Spironello:
aline.spironello@hotmail.com; Giulia Satie Broetto: giubroetto@hotmail.com;
José Roberto Svistalski: jrobertosvistalski@hotmail.com; Diane Agneli de Souza:
dhy.agnelli@hotmail.com; Felipe Grando: felipe.grando@hotmail.com; Alberito
Rodrigo de Carvalho: alberitorodrigo@gmail.com
Resumo
Introdução: O efeito da
criomassagem na recuperação de habilidades motoras de atletas ainda não é
consensual. Objetivo: Verificar o
efeito agudo da criomassagem na variação do pico de potência muscular mecânica
(PPMM) após sessão de treinamento. Métodos:
Onze atletas da Seleção Paranaense de Voleibol, categoria infanto-juvenil (16,3
± 1,7 anos; 69,2 ± 8,0 kg) foram submetidas à avaliação do PPMM em três
momentos: pré-treino (MPRE), imediatamente após o treino (MPOSI), e tardiamente
após o treino (MPOST). As atletas passaram, de forma cruzada, tanto pela
condição controle (CC), quanto pela condição experimental (CE). Determinou-se o
PPMM por meio de saltos verticais máximos em tapete de contato que forneceu a
potência mecânica. Para criomassagem, entre o MPOSI e o MPOST, utilizaram-se
cubos de gelo diretamente sobre a pele na forma de deslizamento superficial em
oito grupos musculares dos membros inferiores durante dois minutos para cada
grupo. Aplicou-se ANOVA medidas repetidas de dois fatores (condição e momento)
com pós-teste de Bonferroni e α = 0,05. Resultados: Não houve efeito principal da condição F(1,21) = 0,148;
p = 0,705, porém houve efeito do momento F(2,42) = 9,595; p < 0,001. O PPMM
no MPOST foi significativamente menor que os demais momentos em ambas as
condições (p < 0,05). Conclusão: A
criomassagem não influenciou agudamente o PPMM após sessão de treinamento.
Palavras-chave: modalidades de
fisioterapia, crioterapia, desempenho atlético.
Abstract
Introduction: The effect of cryomassage in the recovery of
motor skills of athletes it is still not consensual. Objective: To investigate the acute effect of cryomassage
in the variation of the peak mechanical muscle power (PMMP) after a session of
training. Methods: Eleven athletes of
Paranaense Volleyball Team, juvenile category (16.3 ±
1.7 years, 69.2 ± 8.0 kg) underwent assessment of PMMP in three stages: pre
workout (MPRE), immediately after training (MPOSI), and later after training
(MPOST). Athletes participed
in both the control condition (CC) as the experimental condition (EC). PMMP was
determined by means of maximum vertical jumps in contact carpet which provided
mechanical power. For cryomassage, between MPOSI and
MPOST, it was applied ice cubes directly on the skin in the form of superficial
sliding in eight muscle groups of the lower limbs for two minutes for each
group. We applied repeated measures ANOVA on two factors (condition and time)
with Bonferroni post-test and α = 0.05. Results: There was no main effect of condition F(1,21)
= 0.148; p = 0.705, but there was effect of time F(2,42) = 9.595; p < 0.001.
The PMMP in MPOST was significantly smaller than the other moments in both
conditions (p < 0.05). Conclusion:
Cryomassage does not influence acutely peak
mechanical muscle power after the training session.
Key-words: Physical
therapy modalities, cryotherapy, athletic performance.
Atualmente, o sucesso
do treinamento esportivo, voltado para o desempenho, vai além da sistematização
na prescrição do exercício, sendo necessária abordagem multiprofissional para
que sejam considerados outros componentes relevantes, tais como a qualidade na
transição de estímulos do treinamento [1]. Neste sentido, a utilização de
técnicas que visam recuperação dos diversos sistemas orgânicos, fazendo-os
retornar às condições basais, torna-se importante e determinante no desempenho
de tarefas subsequentes em curto prazo [2].
Há uma grande
quantidade de modalidades recuperativas pós-exercício que são utilizadas no
âmbito esportivo, para atletas de elite e amadores, com o intuito de acelerar o
processo recuperativo: massagem [3,4], exercícios ativos [2,5], terapia de
contraste [6,7] e crioterapia [8,10]. Apesar das várias opções terapêuticas
recuperativas, a crioterapia tem sido amplamente utilizada no meio esportivo,
porém, as evidências em favor da efetividade da crioterapia como método
recuperativo ainda são fracas e carecem de mais estudos para sustentá-la [1,11].
A crioterapia
consiste na aplicação de uma substância que retira calor do corpo, resultando
na diminuição da temperatura tecidual [12]. Os principais efeitos fisiológicos
promovidos por esta modalidade são: redução da temperatura corporal, do fluxo
sanguíneo e do metabolismo [12]; redução da dor [13]; controle do processo
inflamatório e edema [13-15]; redução do espasmo muscular e aumento da produção
de endorfina [16]; redução na velocidade de condução nervosa e inibição de
nociceptores [12,14,16].
Verducci [17]
observou que a aplicação de bolsas plásticas de gelo por três
minutos seguida por quatro minutos e meio de repouso, para
reaquecimento, entre séries de exercício de levantamento de peso, com 22
repetições cada, foi capaz de retardar o aparecimento da fadiga por tornar
possível a execução de maior número de séries no grupo crioterapia. Ingram et al. [8] encontraram efeito benéfico da
crioimersão observando eficácia da modalidade em acelerar a recuperação da
força muscular de flexores e extensores de joelho 48 horas após protocolo de
exaustão física.
Contrariamente,
observou-se em uma revisão sistemática [18] que, em relação à função muscular,
o torque concêntrico, excêntrico e/ou isométrico, parece não sofrer influencia
da crioimersão para acelerar o processo de recuperação pós-exercício. Bleakley,
Costello e Glasgow [19] reforçaram esses achados e ainda propuseram que a
potência muscular, velocidade e a agilidade também não são influenciadas de
forma positiva pela crioterapia.
Tornando o tema ainda
menos conclusivo, vários estudos relatam que as técnicas crioterápicas agem no
sistema nervoso diminuindo a responsividade do sistema neuromuscular, o que
diminui a capacidade dos músculos em gerar potência [20,21]. A crioterapia
modifica a estrutura da membrana axonal e a condutância dos canais de sódio e
potássio voltagem-dependentes, prolongando o período refratário devido ao
aumento do limiar dos potenciais de ação das células nervosas, resultando na
diminuição da velocidade de transmissão do impulso nervoso [21].
Consequentemente, parece contraditório que a crioterapia seja capaz de
restaurar a capacidade de desempenho muscular pós-exercício agudamente ao mesmo
tempo em que produz efeitos fisiológicos com consequências deletérias sobre a
atividade neuromuscular.
A massagem com gelo
(criomassagem) é uma das técnicas de crioterapia disponíveis. Por ser uma
terapia de baixo custo e de fácil utilização, é amplamente utilizada na prática
desportiva, como forma de acelerar a recuperação pós-treino e/ou competição
[9,22], embora semelhante às outras modalidades de crioterapia, seus efeitos
também são contraditórios [9,23].
Anaya-Terroba et al. [9] avaliaram a atividade
eletromiográfica do músculo quadríceps femoral do membro dominante durante
contração isométrica voluntária máxima em três momentos distintos: a) momento
inicial, que correspondia ao repouso; b) pós-protocolo de contração isocinética
em quatro velocidades diferentes; c) e pós-intervenção. A intervenção consistiu
na aplicação de massagem com gelo no grupo experimental e ultrassom desligado
no grupo placebo, ambos por 15 minutos. Os autores observaram maior atividade
eletromiográfica no grupo experimental após a intervenção. Já Guilick et al. [23] observaram que a massagem com gelo não foi
eficaz em recuperar a força muscular após protocolos de contrações excêntricas
dos flexores de punho.
Além da divergência
dos efeitos desta modalidade de crioterapia na literatura, a criomassagem, em
comparação às outras técnicas crioterápicas, tem recebido menos atenção da
comunidade científica, uma vez que estudos com criomassagem são menos
frequentes. Portanto, este estudo teve como objetivo verificar o efeito agudo
da massagem com gelo (criomassagem) na variação do pico de potência muscular
mecânica (PPMM), decorrente do exercício, quando esta é mensurada após a
realização de uma sessão de treinamento técnico/tático em atletas de voleibol
feminino categoria infanto-juvenil.
Estudo de caráter semi-experimental [24] com modelo de delineamento de medidas
pré e pós-intervenção, transversal, cruzado. O trabalho foi aprovado pelo
comitê de ética em pesquisa em seres humanos da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná (UNIOESTE), sob parecer 259/2012 e os termos
de consentimento livre e esclarecido foram assinados por todas as voluntárias
e/ou seus respectivos responsáveis legais.
Realizou-se cálculo
amostra a partir de dados de estudo piloto prévio, tendo como variável principal
o pico de potência muscular mecânica (em Watts) (software WinPepi versão 11.18; α = 0,05;
poder = 80%; diferença a ser detectada = 25,0; desvio padrão do momento
pré-intervenção = 56,2; desvio padrão do momento pós-intervenção = 59,9;
coeficiente de correlação = 0,85) determinando tamanho mínimo da amostra em 12
voluntários (24 observações).
Participaram do
estudo 14 jogadoras de voleibol que integravam a Seleção Feminina Paranaense de
Voleibol em 2013, categoria até 18 anos, reunidas por duas semanas para
treinamento em regime de concentração.
Adotou-se como
critério de exclusão: relato de doenças sistêmicas, lesões
neuromusculoesqueléticas e cutâneas, crônicas ou agudas nos últimos seis meses;
histórico de hipersensibilidade ao frio; não realização de um ou mais momentos
de avaliação. Três voluntárias foram excluídas, pois não completaram todas as
avaliações, sendo a amostra final composta por 11 atletas (16,3 ± 1,7 anos;
69,2 ± 8,0 kg).
As intervenções
aconteceram as terças e quintas-feiras durante as duas semanas de concentração,
totalizando quatro dias de intervenções. Previamente, as atletas foram
subdivididas, por meio de sorteio simples, em subgrupo A e subgrupo B. Ambos os
subgrupos foram submetidos a duas condições: condição controle (CC) e condição
experimental (CE). No primeiro dia, também por sorteio, definiu-se a condição
que cada subgrupo seria submetido naquele dia e, nos dias subsequentes, os
subgrupos trocaram de forma sistemática sua condição para que todas as atletas
vivenciassem ambas as condições. Intencionalmente, cada atleta passou, ao longo
das duas semanas, duas vezes pela CC e duas vezes pela CE. A sequência das
condições de cada subgrupo durante as intervenções pode ser visualizada na
Tabela I.
Tabela I - Sequência das condições de cada subgrupo
para os dias de intervenções.
Condição controle
(CC); condição experimental (CE).
Ainda, tanto na CC
quanto na CE, as atletas participaram de três momentos
de avaliação: momento pré (MPRE), imediatamente antes de início do treinamento;
momento pós-treino imediato (MPOSI), imediatamente após o término do treino e
antes das condições (experimental ou controle) correspondentes do dia; momento
pós-treino tardio (MPOST), após 16 minutos do MPOSI. As sessões de treinamento
foram de aproximadamente 1 hora e 40 minutos de treino técnico/tático.
As avaliações
consistiram na realização de três saltos verticais máximos, do tipo Counter Moviment Jump (CMJ) [25] devido
à presença de contramovimento em sua execução. Para iniciar o salto, a atleta
posicionou-se com as mãos na cintura e em aproximadamente 90º de flexão de
quadril e joelho. Então, realizou três saltos máximos sobre uma placa de
contato com dimensões de 50 X 66 cm, conectada ao sistema Multisprint Full (software Multisprint) que forneceu a
potência mecânica (PM) de cada salto expressa em Watts (W). O software calculou a PM para cada salto
por meio da seguinte equação: PM = m*g*d/t, em que m = massa corporal da atleta
em quilogramas; g = aceleração da gravidade (9,81ms²); d = altura do salto em
metros; t = tempo de voo em segundos.
Para
a análise
estatística foi realizado a média da potência
muscular mecânica dos três saltos
verticais máximos, para cada atleta, em cada um dos momentos dos
quatro dias de
avaliação. Ainda, como cada atleta passou duas vezes pela
CC e duas CE,
realizou-se a média dos momentos correspondentes (a saber: MPRE
da 1ª e 2ª
avaliação; MPOSI da 1ª e 2ª
avaliação; MPOST da 1ª e 2ª
avaliação), das
respectivas condições, obtendo-se assim o PPMM de cada
momento para as duas
condições.
A intervenção
consistiu em criomassagem para quatro grupos musculares (flexores e extensores
de joelho e de tornozelo) de cada membro inferior, totalizando oito grupos, e
foi aplicada entre o MPOSI e o MPOST. Na CC a atleta permaneceu sentada em
repouso pelo tempo correspondente ao da criomassagem. Para a CE foram
utilizados cubos de gelo de aproximadamente 5 cm³
aplicados diretamente sobre a pele da atleta na forma de deslizamento superficial.
Foram executados movimentos cíclicos de “vai e vem” ininterruptamente, a uma
frequência de aproximadamente 60 ciclos por minuto, durante dois minutos, em
toda área correspondente ao grupo muscular. Demorou-se cerca
de 16 minutos para aplicar a criomassagem em todos os grupos. Por
questões puramente práticas, a ordem dos grupos e o decúbito para aplicação da
técnica foram: flexores de joelho, seguido dos plantiflexores no decúbito
ventral; e extensores de joelho e dorsiflexores no decúbito dorsal. Durante a
aplicação, a articulação central do movimento (joelho ou tornozelo) foi mantida
em amplitude intermediária do arco de movimento favorecendo, assim, o
relaxamento do grupo muscular. Os posicionamentos adotados nas intervenções
podem ser visualizados na Figura 1. O processo de triagem e a sequência dos
procedimentos metodológicos podem ser visualizados na Figura 2.
Figura
1 - Posicionamentos para aplicação da técnica de
criomassagem nos diferentes grupos musculares: a) flexores de joelho; b) plantiflexores;
c) extensores de joelho; d) dorsiflexores.
Para análise
estatística utilizou-se ANOVA medidas repetidas com dois fatores (condição:
controle/experimental; e momento: MPRE/MPOSI/MPOST) com pós-teste de
Bonferroni. Para os testes estatísticos adotou-se α =
0,05.
Condição controle
(CC), condição experimental (CE), momento pré (MPRE), momento pós-treino
imediato (MPOSI), momento pós-treino tardio (MPOST).
Figura
2 - Organograma com a sequência dos
procedimentos metodológicos.
Não houve efeito
principal da condição F(1,21) = 0,148; p = 0,705, porém houve efeito do momento
F(2,42) = 9,595; p < 0,001. O PPMM no MPOST foi significativamente menor que
nos demais momentos.
As medidas de
tendência central e de dispersão podem ser visualizadas na Figura 3, bem como a
estatística inferencial.
PRE = momento de
avaliação pré; POSI = momento de avaliação pós-treino imediato; POST = momento
pós-treino tardio, decorrido 16 minutos do pós-treino imediato; watts (W); * p
< 0,05.
Figura
3 - Representação das médias e desvios padrão do
pico da potência mecânica para os diferentes momentos de avaliação.
Observou-se pelos
resultados do presente estudo que a criomassagem, aplicada por dois minutos,
foi ineficaz em atenuar a diminuição do PPMM. No entanto, verificou-se que
houve efeito do momento, sendo o PPMM no MPOST estatisticamente menor que nos
demais momentos. Esses resultados refugam a hipótese do estudo de que a
criomassagem é uma técnica eficaz em amenizar a diminuição do PPMM e sugerem
que é mais relevante o momento de avaliação do que o efeito desta técnica de
resfriamento.
Howatson, Gaze e
Someren [22], após submeterem seus voluntários a três séries com 10 repetições
máximas de exercícios excêntricos para os flexores de cotovelo, aplicaram
massagem com gelo, durante 15 minutos, imediatamente após, 24 h e 48 h após os
exercícios. Corroborando os achados do presente estudo, esses autores não
observaram efeito da criomassagem. Contudo, eles observaram efeito decorrente
dos diferentes momentos de avaliação, em relação aos níveis de repouso,
relatando diminuição da contração isométrica voluntária máxima e do torque
concêntrico do cotovelo acompanhado de aumento nas variáveis que sugerem dano
muscular induzido pelo exercício, sendo elas: níveis séricos da enzima creatina
quinase e mioglobina, dor muscular e circunferência do membro.
Verducci [17]
encontrou efeito positivo da crioterapia sobre a fadiga. Embora esse autor tenha
usado uma modalidade de crioterapia diferente da criomassagem, defende a
suposição de que a relação entre desempenho muscular e a temperatura muscular
representa uma curva em forma de “U” invertida, similar a uma curva de
distribuição gausseana, onde o pico desta curva, local em que se evidencia o
melhor desempenho muscular, corresponde a uma temperatura levemente abaixo da
temperatura fisiológica normal do músculo e que quanto mais a temperatura
muscular se desloca para as extremidades, seja para o frio ou para o calor,
maior é o decréscimo no desempenho muscular.
Como no presente
estudo não foi possível controlar a temperatura da pele e do músculo, tanto na
condição experimental quanto na condição controle, não foi possível saber se a
ineficácia da técnica foi consequência da impossibilidade real da criomassagem
amenizar o decréscimo da potência mecânica ou se a criomassagem não promoveu
redução da temperatura muscular compatível com aquela capaz de favorecer o
desempenho muscular.
Bailey et al.
[26] observaram que a crioimersão a
10° foi capaz de amenizar a diminuição da
contração isométrica voluntária
máxima nas 24 e 48 h pós-exercício, mas discutem
que a contração isométrica
voluntária máxima é uma variável mais
sensível às mudanças na função
muscular
do que avaliações funcionais, como os testes de
velocidade e de salto vertical.
Em oposição a esta ideia, Oksa [27] aponta que a
habilidade para realizar
exercícios dinâmicos é mais influenciada pelo
resfriamento do que exercícios
isométricos, e encontrou para exercícios com saltos,
diminuição no desempenho
de aproximadamente 17% em função da
diminuição da temperatura, possivelmente
porque as propriedades elásticas do músculo,
determinantes no salto, são
especialmente suscetíveis ao resfriamento.
Verducci [17] também
discute que possivelmente o efeito do resfriamento decorrente da aplicação do
frio demora mais que três minutos para se manifestar e que a diminuição da
temperatura muscular continua decaindo por vários minutos após a remoção do
estímulo de frio. Considerando os efeitos negativos da crioterapia sobre o
desempenho muscular, especialmente em indivíduos jovens [20], poderia se pensar
que a razão para o PPMM, no MPOST, ter sido menor em relação aos outros
momentos, fosse justamente por conta dessa ação posterior lenta e prolongada do
resfriamento sobre a função neuromuscular. Porém, como o PPMM no MPOST foi
menor também na CC, esse não pode ser considerado um argumento cabível para
explicar os resultados.
Uma hipótese que
poderia explicar a diminuição do PPMM no MPOST em ambos os grupos é aquela
relacionada aos fatores motivacionais. Estudos têm demonstrado que fatores
motivacionais tem relação direta com a qualidade na execução de tarefas motoras
e do desempenho físico. Sabe-se que fatores cognitivos, motivacionais e
estresse mental são capazes de modificar o desempenho motor, sendo estes
fatores, inclusive, envolvidos nas teorias gerais sobre a fadiga, especialmente
no que se refere à fadiga central [28]. Assim, supõe-se que o período entre as
duas avaliações no MPOSI e MPOST proporcionou redirecionamento no foco
motivacional das atletas, percebido, subjetivamente, pelos pesquisadores como
um momento de descontração e isso pode ter induzido a queda do desempenho motor
na última avaliação.
Outra possível
explicação para tantos achados controversos na literatura pode estar tanto nas
diferenças entre as diversas modalidades de crioterapia utilizadas, quanto nos
tempos de aplicação em cada uma delas. As diferentes formas de resfriamento
parecem provocar mudanças na temperatura muscular proporcionais a sua
capacidade de retirar calor do corpo. Richendollar, Darby e Brown [29]
apresentam que sacos de gelo produzem reduções na temperatura mais prolongadas
do que a criomassagem e afetam negativamente o desempenho em testes funcionais
de alta intensidade.
Embora o presente
estudo sugira que a criomassagem não apresenta efeitos com características
recuperativas, deve-se salientar que esses efeitos foram imediatos. Assim, não
é possível extrapolar esses achados para períodos posteriores em que o
organismo teria tempo suficiente para assimilar e se ajustar ao estímulo de
frio. Nemet et
al. [30] defendem que uma grande
contribuição da crioterapia para
recuperação pós-exercício é a
diminuição de
substâncias inflamatórias, especialmente as citocinas, que
potencialmente podem
levar à dor muscular tardia. Porém, apontam que a
crioterapia também reduz a
concentração de hormônios anabólicos, o que
poderia prejudicar o processo de adaptação
crônica ao exercício.
A principal limitação
do presente estudo está na diferença do tempo de aplicação da criomassagem em
relação à maioria dos outros estudos os quais utilizaram aproximadamente 15
minutos para cada grupo muscular [9,12,21-23].
Acredita-se que essa diferença do tempo de aplicação seja um fator importante
na capacidade da criomassagem influenciar o PPMM.
Muito embora o
desenho do estudo tenha atendido aos propósitos deste, esses achados não
esgotam o assunto e não devem ser interpretados como definitivos já que vários
fatores associados e confundidores, não controlados neste estudo, tais como
temperatura da pele e do músculo durante e após a criomassagem, podem,
supostamente, modificar as respostas. Outras limitações do estudo foram: a) a
perda amostral, que fez o poder do teste estatístico cair para 75%; b) a não
aleatoriedade da ordem de aplicação da criomassagem nos grupos musculares, uma
vez que pode haver influência temporal considerando que o primeiro grupo muscular
a receber a intervenção teve por volta de 14 minutos para se adaptar ao
estímulo de frio antes do teste de salto; c) temperatura muscular não
controlada, o que poderia mostrar a intensidade da modalidade em retirar calor.
Fazem-se, então, necessários mais estudos para entender o real efeito das
modalidades de crioterapia como técnica recuperativa.
Conclui-se com este
estudo que a criomassagem, aplicada por dois minutos, não influenciou
agudamente o pico de potência muscular mecânica após sessão de treinamento.