ARTIGO ORIGINAL
Atuação da
fisioterapia no esforço respiratório em crianças hospitalizadas com infecção
respiratória aguda: um estudo comparativo
Physical therapy
performance in respiratory effort in hospitalized children with acute
respiratory infection: a comparative study
Bárbara
Fernandes Pinto*, Paola Quaresma de Araújo**, Jacqueline Diniz Franco do
Amaral, M.Sc.***
*Graduada em
Fisioterapia pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG),
Mestranda em Fisiologia pela UFMG, **Graduada em Fisioterapia pela FCMMG,
***Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento
Recebido
em 2 de junho de 2016; aceito 15 de março de 2017.
Endereço para
correspondência:
Bárbara Fernandes Pinto, Rua Cesário Alvim, 483/203, Bairro Padre Eustáquio,
30720-270 Belo Horizonte MG, Email:
barbara_fernandes_pinto@hotmail.com; Paola Quaresma de Araújo:
paola_quaresmaa@hotmail.com; Jacqueline Diniz Franco do Amaral: jdfamaral@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: As infecções
respiratórias agudas (IRA) são as causas mais comuns de morbimortalidade na
infância. O Boletim de Silverman-Andersen (BSA) é um
instrumento utilizado na prática clínica pediátrica para avaliar cinco aspectos
do desconforto respiratório e quantificá-los. Objetivo: Comparar a efetividade
do tratamento fisioterapêutico com 1 ou 2 sessões
diárias durante 2 dias consecutivos, em crianças entre 0 e 3 anos
hospitalizadas com IRA, utilizando o BSA. Métodos:
Trata-se de um estudo clínico cego realizado com 23 crianças que foram
separadas em dois grupos aleatoriamente: o G1, composto por crianças que apenas
foram submetidas ao tratamento oferecido pelo hospital e o G2 que, além dessa
mesma intervenção, foram submetidas a um segundo atendimento padronizado. Os
resultados foram analisados através do programa Prisma versão 5.0. Resultados: Nas análises dos dados da
reavaliação de ambos os grupos, foi evidenciada diferença estatisticamente
significativa nos escores do Boletim de Silverman
Andersen (p = 0,0114). Conclusão:
Observou-se que houve melhora do esforço respiratório e das condições clínicas
em curto prazo das crianças submetidas a dois atendimentos fisioterapêuticos
diários.
Palavras-chave: Fisioterapia,
criança, doenças respiratórias, hospitais, reabilitação.
Abstract
Introduction: Acute
respiratory infections
(ARI) are the most common
causes of morbidity and mortality in childhood. The Bulletin Silverman-Andersen (BSA) is an instrument used
in pediatric clinical practice to evaluate
five aspects
of respiratory distress and quantifies
them. Objective: To compare the effectiveness of physical therapy
with 1 or
2 sessions daily for 2 consecutive days, in children aged 0 to 3 years hospitalized
with ARI using the BSA. Methods: This is a clinical
blind randomized study of 23 children
who were
separated into two groups: the
G1, composed of children who were
only subjected to the treatment
provided by the hospital and the G2 that, beyond
such intervention were submitted a second standard care. The results were analyzed
using the Prism software, version 5.0. Results: In the analysis of
the re-evaluation of data from both
groups was evidenced statistically significant difference in Silverman Andersen Bulletin
scores (p = 0.0114). Conclusion:
It was demonstrating improved respiratory effort and clinical
conditions in the short term of children
undergoing two daily physical therapy sessions.
Key-words: Physical therapy
specialty, child, respiratory tract diseases, hospitals, rehabilitation.
As doenças respiratórias agudas representam
um grande problema de saúde pública principalmente em se tratando de sua alta
incidência na infância [1]. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca
de 13 milhões de crianças menores de cinco anos de idade morrem anualmente no
mundo devido a doenças do aparelho respiratório. No Brasil, as doenças
respiratórias são consideradas a primeira causa de óbito em crianças entre 1 e 4 anos de idade [2]. Em 2010 mais de 600.000 crianças
menores de 14 anos foram internadas devido a doenças do aparelho respiratório,
representando 46% do valor total dessas internações no Sistema Único de Saúde
[3].
Dentre as doenças respiratórias agudas, as
infecções respiratórias agudas (IRA) são as causas mais comuns de
morbimortalidade na infância [4]. Além de debilitar e impedir o
desenvolvimento, as IRA dificultam a rotina normal da
criança e de sua família, afetando todas as suas atividades diárias [5]. De
acordo com a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), as alterações
funcionais e estruturais presentes na criança com IRA podem gerar incapacidades
que vão limitar suas atividades e restringir sua participação social, sendo os
fatores ambientais barreiras ou facilitadores para o desempenho dessas
atividades e da participação da criança [6].
Estima-se que 25% de todos os atendimentos
médicos pediátricos hospitalares e ambulatoriais são decorrentes das IRA [7]. As IRA mais
predominantes na infância são as faringoamigdalites,
otites, sinusites, resfriados comuns e as pneumonias. Sinais de esforço
respiratório (tiragem intercostal, batimentos de aletas nasais, gemência, balanço tóraco-abdominal
e retração xifóidea), toxemia,
cianose, hipoxemia, irregularidade respiratória, apnéia,
inapetência, vômitos, desidratação, alterações do sensório (sonolência,
confusão mental, irritabilidade), instabilidade hemodinâmica (pulsos finos,
perfusão lenta) e taquicardia importante são sinais e sintomas de alerta
apresentados por crianças com IRA [8].
As diferenças anatômicas e fisiológicas das
crianças predispõem a um maior risco às complicações no trato respiratório. Os
tecidos linfáticos (adenóide e amígdala) e a língua
em crianças apresentam-se aumentados, contribuindo para obstrução das vias
aéreas superiores, pois seu diâmetro oferece alta resistência ao fluxo aéreo e
qualquer edema da mucosa pode aumentar o trabalho respiratório. A estrutura da
parede brônquica também possui diferenças, as cartilagens são menos firmes e há
um número aumentado de glândulas mucosas, favorecendo a obstrução e o colapso
de vias aéreas [9].
A fisioterapia é uma modalidade terapêutica
relativamente recente e que está em expansão, especialmente nos grandes centros
[10]. Na pediatria, a fisioterapia respiratória atua com o objetivo de diminuir
o trabalho respiratório, manter as vias aéreas pérvias, melhorar a ventilação e
a troca gasosa e prevenir e tratar as complicações pulmonares [11-13]. Segundo
Castro et al. [14], a fisioterapia respiratória em
crianças hospitalizadas com bronquiolite aguda
promoveu uma melhora significativa das condições clínicas principalmente em se
tratando dos sinais de esforço respiratório.
Diversas técnicas fisioterapêuticas têm sido
empregadas em pacientes pediátricos. As manobras de vibrocompressãoconsistem
em vibrações torácicas durante a
expiração da criança seguida de uma
leve compressão. Essas vibrações atingem todo o
tórax e visam promover a
mobilização das secreções facilitando sua
eliminação [15,16]. A estimulação
diafragmática é uma técnica que consiste em
fornecer propriocepção ao diafragma
buscando uma contração voluntária máxima
possível do músculo, com o objetivo de
potencializar sua função, proporcionando uma
redução do esforço respiratório e
uma otimização da ventilação pulmonar [17].
Evidencias atuais sugerem que o
alongamento da musculatura respiratória modifica as propriedades dos tecidos,
aumentando o tamanho do sarcômero e da
viscoelasticidade muscular, sendo realizado com o intuito de reduzir a rigidez
muscular, aumentar a capacidade da parede torácica e melhorar a ventilação
pulmonar [18-20]. Segundo Teodori, o alongamento da
musculatura inspiratória pode gerar efeito benéfico na performance
dos músculos inspiratórios e expiratórios e na expansibilidade torácica além de
aumentar a força contrátil da musculatura alongada. O alongamento muscular
ineficaz causa uma deficiência ao fluxo expiratório, eleva a capacidade
residual funcional e o volume corrente. Os músculos expiratórios e
inspiratórios fracos juntamente ao aumento da capacidade residual funcional e a
diminuição da capacidade vital fazem com que as costelas e o esterno fiquem na
posição de inspiração durante todo o ciclo respiratório, aumentando o diâmetro ântero-posterior do tórax. Com a fraqueza dos músculos
respiratórios, a habilidade de gerar grandes volumes pulmonares é perdida e a
força para gerar uma tosse eficaz decresce levando à microatelectasias
reduzindo a complacência pulmonar e consequentemente a área de ventilação. Com
o aumento da área de atelectasia, o trabalho respiratório aumenta levando à
hipoxemia e falência respiratória [21,22].
Segundo o Ministério da Saúde, o Boletim de Silverman-Andersen é utilizado na fisioterapia pediátrica
para avaliar cinco aspectos do desconforto respiratório e para quantificar o
esforço respiratório sendo eles: gemido expiratório, batimento de asa de nariz,
retração intercostal, retração esternal e respiração
paradoxal. A pontuação varia de 0 (sem desconforto
respiratório) a 10 (máximo desconforto respiratório) [23] .
Desta forma, considerando a proposta de
analisar o esforço respiratório em crianças com IRA através do Boletim de Silverman-Andersen, temos por objetivo comparar a
efetividade do tratamento fisioterapêutico com 1 ou 2
sessões diárias durante 2 dias consecutivos, em crianças entre 0 a 3 anos
hospitalizadas no Hospital Ciências Médicas.
O estudo foi realizado na unidade de
internação do Hospital Ciências Médicas e foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Ciências Médicas de
Minas Gerais no dia 07 de abril de 2015 (CAAE 38900414.1.0000.5134). A
amostra foi constituída por 23 crianças diagnosticadas com infecção
respiratória aguda, possuindo idade entre 0 e 3 anos e
de ambos os sexos. Foram excluídas do projeto crianças cujos responsáveis não
assinassem o termo de consentimento livre e esclarecido (Conforme a Resolução
n. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde), aquelas que possuíssem má formação
congênita, cardiopatias congênitas, disfunções neurológicas, desnutrição, febre
constante, crianças que necessitassem de suporte ventilatório e que obtivessem
alta hospitalar antes de serem submetidas à segunda avaliação.
Para a verificação do esforço respiratório
dos pacientes antes e após o tratamento foi utilizado o Boletim de Silverman-Andersen (BSA). Segundo o Ministério da Saúde,
esse protocolo visa avaliar a função respiratória da criança com base em cinco
critérios: gemido expiratório (GE), batimento de asa de nariz (BAN), retração
intercostal superior (RIS), retração intercostal inferior (RII) e retração xifóide (RX) [23]. Cada parâmetro é quantificável e a soma
total é interpretada em termos de desconforto respiratório. Uma pontuação de
"0" significa que a criança não apresenta sinais de alterações
respiratórias, isto é, a criança não apresenta esforço respiratório e a
gravidade de sua afecção é mínima, enquanto uma pontuação alta (> 5)
corresponde a um quadro de desconforto respiratório. Quanto maior a pontuação
maior é o grau de dispneia e a gravidade do comprometimento pulmonar, e a maior
nota que a criança pode alcançar é 10 [24]. Além da aplicação desse
instrumento, foi registrado o nome do responsável pela criança, o nome da
criança e sua idade. A frequência cardíaca e a saturação arterial de oxigênio
foram verificados através do oximêtro
da marca Morefitness Modelo MF-415. A ausculta
pulmonar também foi avaliada por meio do estetoscópio da marca Littmann®, juntamente com a frequência respiratória
Trata-se de um estudo clínico aleatorizado
cego realizado com 23 crianças que foram separadas em dois grupos
aleatoriamente: o G1, composto por crianças que apenas foram submetidas ao
tratamento oferecido pelo hospital (11 crianças) e o G2 que, além de receberem
essa mesma intervenção, as crianças também foram submetidas a um segundo
atendimento padronizado (12 crianças). Primeiramente as crianças foram
divididas de acordo com a faixa etária em três grupos diferentes: de 0 a 1 ano,
1 a 2 anos e de 2 a 3 anos. Essa divisão foi realizada com o intuito de
proporcionar a homogeneidade dos grupos (de acordo com a faixa etária) nos
aspetos estruturais, anatômicos e fisiológicos do sistema respiratório
infantil. A partir dessa separação, cada grupo foi redividido
de forma aleatória em dois outros grandes grupos: o G1 e o G2. Dessa forma,
ambos os grupos contemplaram crianças de todas as faixas etárias propostas pelo
estudo, isto é, entre 0 e 3 anos de idade.
O tratamento oferecido pelo hospital era
composto por manobras de vibrocompressão, contenção
abdominal, propriocepção diafragmática e alongamento da musculatura acessória
da inspiração. Primeiramente, a avaliação foi realizada diariamente durante
dois dias. No primeiro dia foram avaliadas a
frequência cardíaca e respiratória, saturação arterial de oxigênio, ausculta
pulmonar, dados relativos à oxigenoterapia e o
esforço respiratório através do Boletim de Silverman-Andersen.
Além dessas variáveis foi colhido o nome do responsável, o nome da criança e
sua idade. Os procedimentos realizados apenas com as crianças pertencentes ao
G2 consistiam em alongamento da musculatura acessória inspiratória, alongamento
dos intercostais, manobras de vibrocompressão e
propriocepção diafragmática. Os três primeiros procedimentos tiveram duração de
3 minutos e a propriocepção, 6 minutos, totalizando 15 minutos diários. No
segundo dia as crianças do G2 foram submetidas novamente a intervenção citada
acima e foram reavaliadas. Assim, todas as crianças de ambos os grupos foram
avaliadas no 1º e 2º dias, entretanto apenas as que formavam o G2 sofreram uma
segunda intervenção, diferente do G1 na qual as crianças apenas foram
submetidas ao tratamento fisioterapêutico oferecido pelo hospital. Vale
ressaltar que a avaliação e a realização dos procedimentos foram feitos por
indivíduos diferentes com o intuito de evitar possíveis vieses nas análises das
respostas.
A idade, o gênero, o tipo de infecção
respiratória aguda, a auscultar pulmonar e os dados relacionados à oxigenoterapia
dos pacientes foram descritos por média, desvio padrão, frequências absolutas e
porcentagens. A frequência cardíaca, frequência respiratória, saturação
arterial de oxigênio e o resultado do Boletim de Silverman-Andersen
foram digitados em um banco de dados informatizado e analisados por meio do
teste t de Student através do programa Prisma versão
5.0, após verificação da normalidade da amostra pelo teste de Shapiro-Wilk. O cálculo do power
da amostra foi realizado pelo programa GraphPad StatMate 2.0 para Windows. A amostra correspondeu a um power de 75% para as variáveis
saturação arterial de oxigênio e escores do Boletim de Silverman-Andersen
e 70% para as variáveis frequência cardíaca e frequência respiratória. Para
todas as análises foi utilizado o nível de significância de 5%.
Das 23 crianças participantes do estudo, 11
(47,82%) pertenciam ao G1 e 12 (52,17%) ao G2. Em relação ao G1, 5 (45,45%) crianças eram do sexo feminino e 6 do sexo
masculino (54,54%), 7 (43,75%) possuíam pneumonia, 1 (6,25%) sinusite, 5 (31,25%)
bronquiolite, 1 (6,25%) rinossinusite,
1 (6,25%) coqueluche e 1 (6,25%) laringotraqueobronquite.
Dessas crianças, 7 (63,63%) apresentaram apenas um
distúrbio respiratório, 3 (27,27%) possuíam 2 doenças associadas e 1 (9,09%)
apresentava 3 doenças concomitantes. Neste mesmo grupo, 9
(81,81%) possuíam de 0 a 1 ano e 2 (18,18%) apresentavam de 1 a 2 anos, média
da idade equivalente a 6,7 meses. Não houve indivíduos com idade entre 2 e 3 anos. Ao se comparar a avaliação (1º dia) com a
reavaliação (2º dia), 6 (54,54%) crianças apresentaram
uma diminuição da frequência cardíaca e 5 (45,45%) aumentaram esse dado vital;
2 crianças (18,18%) sofreram uma elevação da frequência respiratória e 7
(63,63%) uma redução. Houve um aumento da saturação arterial de oxigênio em 7 (63,63%) crianças, 3 (27,27%) diminuíram esse índice e
apenas 1 (9,09%) criança manteve a mesma saturação. Com relação à oxigenoterapia, 6 (54,54%)
crianças se mantiveram sem o uso de oxigênio, 2 (18,18%) reduziram a
concentração de oxigênio, 1 (9,09%) manteve com a mesma quantidade de oxigênio
e 2 (18,18%) retiraram a oxigenoterapia. Nenhuma
criança apresentou o aumento do fluxo de oxigênio. Em se tratando do Boletim de
Silverman-Andersen, 1
(9,09%) criança apresentou redução do escore, 1 (9,09%) elevou essa pontuação e
9 (81,81%) mantiveram o mesmo resultado. A porcentagem de crianças que
apresentaram algum dos cinco aspectos do desconforto respiratório avaliados
pelo Boletim de Silverman-Andresen está descrito nas
tabelas I e II referindo-se aos grupos G1 e G2, respectivamente.
Tabela I - Porcentagem das crianças pertencentes ao G1
que apresentavam algum dos escores das 5 variáveis
avaliadas pelo Boletim de Silverman Andersen obtidos
na avaliação (1º dia) e reavaliação (2º dia).
BSA
= Boletim de Silverman Andersen; RIS = Retração
intercostal superior; RII = Retração intercostal inferior; RX = Retração Xifóide; BAN = Batimento de asa nasal; GE = Gemido
expiratório.
No grupo G2, 7
(58,33%) crianças eram do sexo feminino e 5 (41,66%) do sexo masculino
(54,54%). Dos 12 indivíduos que constituíam esse grupo, 6
(42,85%) possuíam pneumonia, 1 (7,14%) tuberculose, 5 (35,71%) bronquiolite, 1 (7,14%) sinusite e 1 (7,14%) laringotraqueobronquite; 10 (83,33%) possuíam apenas uma
doença do trato respiratório, enquanto 2 (16,66%) apresentavam dois distúrbios
associados. 10 (83,33%) crianças desse grupo possuíam entre 0
e 1 ano de idade, 1 (8,33%) apresentava de 1 a 2 anos e 1 (8,33%) possuía de 2
a 3 anos, com média de idade equivale a 9,4 meses. Comparando a avaliação (1º
dia) com a reavaliação (2º dia), pode-se evidenciar que 3
(25,0%) crianças apresentaram uma diminuição da frequência cardíaca enquanto 9
(75,0%) possuíram um aumento. Em se tratando da frequência respiratória, houve
o aumento em 6 (50,0%) crianças, 4 (33,33%)
apresentaram redução e 2 (16,66%) crianças permaneceram com a mesma frequência
respiratória em ambos os momentos. Com relação à saturação arterial de
oxigênio, 8 crianças (63,66%) apresentaram aumento e 4
(33,33%) diminuíram esse índice. Quanto à oxigenoterapia,
6 (50,0%) crianças se mantiveram sem o uso de
oxigênio, 1 (8,33%) reduziu a concentração de oxigênio, 1 (8,33%) aumentou o
fluxo de oxigênio, 1 (8,33%) manteve com a mesma quantidade de oxigênio e 3
(25%) retiraram a oxigenoterapia. Com relação ao
Boletim de Silverman-Andresen, 9
(75,0%) crianças apresentaram redução do escore, 1 (8,33%) elevou essa
pontuação e 2 (16,66%) mantiveram o mesmo resultado.
Tabela II - Porcentagem das crianças pertencentes ao G2
que apresentavam algum dos escores das 5 variáveis
avaliadas pelo Boletim de Silverman-Andersen obtidos
na avaliação (1º dia) e reavaliação (2º dia).
BSA
= Boletim de Silverman Andersen; RIS = Retração
intercostal superior; RII = Retração intercostal inferior; RX = Retração Xifóide; BAN = Batimento de asa nasal; GE = Gemido
expiratório.
Nas análises dos dados da reavaliação de
ambos os grupos, foi evidenciada diferença estatisticamente significativa na
frequência cardíaca (p = 0,0476) e nos escores do Boletim de Silverman Andersen (p = 0,0114). Não houve diferença
significativa nas demais variáveis. A média da frequência cardíaca do G1 e dos
escores do Boletim de Silverman Andersen foi de 135 bpm e 5, respectivamente, enquanto
do G2 foi de 146,75 bpm e 2,83.
Tabela III - Médias da FC, FR, SPO2 e dos escores do Boletin de Silverman Andersen
obtidas na avaliação e reavaliação das crianças pertencentes ao G1.
FC
= Frequência cardíaca; FR = Frequência respiratória; SPO2 = Saturação
periférica de oxigênio; BSA = Boletim de Silverman
Andersen.
Tabela IV - Médias da FC, FR, SPO2 e dos escores do Boletin de Silverman Andersen
obtidas na avaliação e reavaliação das crianças pertencentes ao G2.
FC
= Frequência cardíaca; FR = Frequência respiratória; SPO2 = Saturação
periférica de oxigênio; BSA = Boletim de Silverman
Andersen.
Com relação às auscultas respiratórias de
ambos os grupos, pode-se observar que 36,36% das crianças pertencentes ao G1 e
58,33 crianças que constituíam o G2 apresentaram melhora dessa variável.
Tabela V - Porcentagem de crianças dos grupos 1 e 2 que
melhoram, pioraram ou permaneceram com a mesma ausculta pulmonar.
A especialidade da fisioterapia respiratória
pediátrica apresenta como principais objetivos minimizar os efeitos das
complicações pulmonares e de melhorar a função respiratória das crianças
[25-27]. Sabe-se que a fisioterapia pediátrica no âmbito hospitalar é
imprescindível para reabilitação e prevenção da saúde de forma a detectar
possíveis disfunções do desenvolvimento neuropsicomotor
e prevenir problemas respiratórios, reduzindo os índices de morbidade, o tempo
de internação e os custos hospitalares [28]. Estudo realizado com 29 crianças
hospitalizadas com bronquiolite apresentando média de
idade de 4,6 meses, através de 97 atendimentos fisioterapêuticos totais,
demostrou melhora significativa quanto à presença de tiragens, ausculta
pulmonar e classificação de Downes após a intervenção
fisioterapêutica [14]. Entretanto, até o presente momento não há estudos que
relacionam dois atendimentos diários da fisioterapia com o esforço respiratório
de crianças.
Segundo
Sena, a frequência do atendimento fisioterapêutico está diretamente relacionada
com a redução do tempo em que o recém-nascido permanece sob
ventilação mecânica, CPAP nasal e consequentemente na Unidade de Terapia
Intensiva. Neste estudo foi evidenciado que os recém-nascidos que receberam
dois atendimentos fisioterápicos diários, além de desmamados da ventilação
mecânica mais precocemente, 70% destes permaneceram por menor período (um a
dois dias) sob CPAP-nasal [29].
No presente estudo não houve diferença
significativa com relação aos escores do Boletim de Silverman-Andersen,
FR, SPO2 e FC obtidos na avaliação inicial de ambos os grupos, evidenciando a
homogeneidade dos grupos. Além disso, pode-se observar uma melhora acentuada da
ausculta pulmonar dos indivíduos pertencentes ao G2 e a melhora significativa
dos escores do Boletim de Silverman-Andersen (p =
0,0114) quando comparados com o G1, evidenciando diminuição do esforço
respiratório em curto prazo nessas crianças.
De acordo com o presente estudo, não houve
diferença significativa entre os dados obtidos na avaliação e reavaliação de
cada grupo e na reavaliação de ambos os grupos com relação à frequência
respiratória e a saturação arterial de oxigênio. Entretanto, segundo o estudo
de Selestrin, realizado com 27 recém-nascidos pré-termo sob ventilação mecânica
invasiva, na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Municipal
Universitário de São Bernardo do Campo, que foram submetidos a uma
monitorização inicial e monitorização final após os procedimentos
fisioterapêuticos que consistiam em fisioterapia motora e fisioterapia
respiratória, apresentando um tempo médio de intervenção de 8 minutos e 53
segundos, demonstrou diminuição da FC, FR e aumento da SATO2 [30]. Pode-se
justificar tal resultado pelo fato do presente estudo apresentar uma amostra
pequena (11 crianças pertenciam ao G1 e 12 ao G2) e de ter sido realizado em
pouco tempo (2 dias) evidenciando que novas pesquisas
devem ser realizadas com um número amostral maior e com maior tempo de
intervenção.
Outro estudo realizado com 24 crianças entre 2 e 11 meses demonstrou que houve uma redução da frequência
cardíaca após a intervenção fisioterapêutica [31]. Entretanto, o presente
estudo apresentou um aumento significativo da frequência cardíaca nas crianças
submetidas a dois atendimentos fisioterapêuticos diários. Tal aumento pode ser
atribuído à proximidade entre o atendimento oferecido pelo hospital e a
intervenção proposta pelo estudo (menos de 2 horas de diferença), causando um
maior estresse a criança devido ao tempo excessivo de atendimento, e/ou proximidade
entre o segundo atendimento realizado e a reavaliação das crianças, não
permitindo que a mesma restabeleça sua frequência cardíaca basal, que por sua
vez, foi elevada no pós-atendimento imediato devido aos manuseios realizados
como o alongamento da musculatura acessória inspiratória, alongamento dos
intercostais, manobras de vibrocompressão e
propriocepção diafragmática [32]. A frequência cardíaca apesar de ter
aumentado, permaneceu dentro da faixa de normalidade para crianças dentre 0 a 3
anos [33]. Sugerimos que haja maior distância entre os atendimentos diários
realizados a fim de evitar o aumento da frequência cardíaca.
Concluímos que através deste estudo foi
possível atingir os objetivos da pesquisa anteriormente citados, e confirmar a
hipótese de que crianças submetidas a dois atendimentos diários de fisioterapia
apresentam melhores resultados com relação ao esforço respiratório avaliado por
meio do Boletim de Silverman-Andersen. Dessa forma,
pode-se inferir que a fisioterapia respiratória promoveu uma melhora
significativa em curto prazo das condições clínicas das crianças com infecção
respiratória aguda.