ARTIGO ORIGINAL
Avaliação do perfil
de atividade de pacientes idosos frequentadores de centros de reabilitação
Evaluation of
activity profile of elderly attending rehabilitation centers
Rafaela
Medeiros da Costa*, Laércio da Silva Paiva*, Angelica
Castilho Alonso**, Fernanda Antico Benetti***
*Faculdade de
Medicina ABC/SP, **Programa de Mestrado em Ciências do Envelhecimento da
Universidade São Judas Tadeu, Pesquisadora do Laboratório do Movimento
(LEM-IOT-FMUSP), ***Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina
ABC/SP, Pesquisadora do Laboratório do Movimento (LEM-IOT-FMUSP)
Recebido
em 24 de maio de 2016; aceito em 24 de janeiro de 2017.
Endereço para
correspondência:
Angelica Castilho Alonso, Rua Ovídeo Pires de Campos,
333, Cerqueira Cesar, 05403-010 São Paulo SP, E-mail: angelicacastilho@msn.com;
Rafaela Medeiros da Costa: rafaelaihs@gmail.com; Laércio da Silva Paiva:
laerciospaiva@gmail.com; Fernanda Antico Benetti: benetti.fernanda@gmail.com
Resumo
Introdução: Estamos vivendo na
Era do Envelhecimento, e este processo de envelhecimento demográfico tem se
apresentado com um grande número de indivíduos idosos que, apesar de viverem
mais, apresentam dificuldade de realizar tarefas que fazem parte do cotidiano
do ser humano e são indispensáveis para uma vida independente e com qualidade. Objetivo: O objetivo deste estudo foi
traçar o perfil de atividade dos pacientes idosos que frequentam Centros de
Reabilitação, no intuito de, posteriormente, contribuir para a prevenção e
melhora das atividades funcionais dessa população. Métodos: Trata-se de uma pesquisa descritiva da qual fizeram parte
176 idosos, de ambos os sexos, que são pacientes de centros de reabilitação nos
municípios de Diadema e São Bernardo do Campo, São Paulo. Resultados: Foram classificados, segundo o escore de atividade
ajustado (EAA), 67 indivíduos como debilitados ou inativos, 88 moderadamente
ativos e apenas 21 ativos. Conclusão:
Nota-se a necessidade de mais investimento e incentivo na atividade física para
os idosos nos centros de reabilitação, com foco na prevenção e não somente na
assistência, o que se torna essencial para a promoção da saúde e qualidade de
vida durante o processo de envelhecimento.
Palavras-chave: idosos, centros de
reabilitação, atividade física, atividades humanas.
Abstract
We live in the Age of Aging,
with a large number of elderly
who, despite
living more, have difficulty
in performing tasks that are part of
human daily life and indispensable
for autonomy and quality of life.
The aim of this study was
to trace the profile of activity of
elderly patients attending rehabilitation centers,
in order to subsequently contribute to the prevention
and improvement of functional activities
of this population.
This is a descriptive study, with 176 elderly men and women
who are patient
in rehab centers in the cities of Diadema and São Bernardo do Campo, São Paulo, Brazil.
According to the adjusted activity
score (AAS), we classified
67 individuals as weak or inactive, 88 moderately active and only 21 active.
It can be observed that the
profile of the activity of these
elderly is mostly moderately active and inactive,
and knowing that physical activity
is one way
to improve the functional capacity and slow its decline, we see the
importance of physical therapy intervention in the prevention and motivation to a more active lifestyle in this population. Therefore, there is a need for more investment and encouraging physical activity for older people in rehabilitation centers,
focusing on prevention and not only in assistance,
which is essential to promoting
health and quality of life
for the aging process.
Key-words: elderly, rehabilitation
centers, physical activity,
human activities.
Nas últimas décadas, observou-se um nítido
processo de envelhecimento demográfico. A Organização das Nações Unidas (ONU)
considera o período de 1975 a 2025 a Era do Envelhecimento [1]. Este
crescimento da população idosa é um fenômeno mundial e está ocorrendo a um
nível sem precedentes. Em 1950, eram cerca de 204 milhões de idosos no mundo,
já em 1998, quase cinco décadas depois, este contingente alcançava 579 milhões
de pessoas, um crescimento de quase 8 milhões de
pessoas idosas por ano [2]. Em 2050, este número chegará a aproximadamente 2 bilhões. Nos países em desenvolvimento, esse
envelhecimento populacional foi ainda mais significativo e acelerado: enquanto
nas nações desenvolvidas, no período de 1970 a 2000, o crescimento observado
foi de 54%, nos países em desenvolvimento atingiu 123%, se prevê que nestes
países, a população idosa se multiplique por quatro nos próximos 50 anos [3].
No Brasil, a taxa de crescimento da população
de idosos é mais de 4% ao ano. Em 2000 eram 14,2 milhões idosos, em 2010 este
número aumentou para 19,6 milhões, devendo atingir 41,5 milhões, em 2030, e
73,5 milhões, em 2060. Espera-se, para os próximos 10 anos, um incremento médio
de mais de um milhão de idosos anualmente [4]. Segundo a OMS [5], em 2025, o
Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas.
Envelhecer é um processo natural que
caracteriza uma etapa da vida do homem e dá-se por mudanças físicas,
psicológicas e sociais que acometem de forma particular cada indivíduo com
sobrevida prolongada. É uma fase em que, ponderando sobre a própria existência,
o indivíduo idoso conclui que alcançou muitos objetivos, mas também sofreu
muitas perdas, das quais a saúde destaca-se como um dos aspectos mais afetados
[6].
Apesar do processo de envelhecimento não
estar, necessariamente, relacionado a doenças e incapacidades, as doenças
crônico-degenerativas são frequentemente encontradas entre os idosos [7], e o
aumento no número dessas doenças está diretamente relacionado com maior
incapacidade funcional [8].
A incapacidade funcional pode ser definida
como a inabilidade ou dificuldade de realizar tarefas que fazem parte do
cotidiano do ser humano e que normalmente são indispensáveis para uma vida
independente na comunidade [8]. E esse comprometimento da capacidade funcional
no idoso tem implicações importantes para a família, a comunidade, para o
sistema de saúde e para a vida do próprio idoso, uma vez que a incapacidade
ocasiona maior vulnerabilidade e dependência na velhice, contribuindo para a
diminuição do bem-estar e da qualidade de vida dos idosos [8,9].
Dentre os fatores de risco para a
incapacidade funcional, o que mais se destaca é a inatividade física [10]. A
capacidade do idoso em realizar suas tarefas quotidianas reduz-se
substancialmente com o decurso dos anos. No entanto, uma grande parte das
manifestações de insuficiência demonstrada por este grupo populacional é mais
fortemente motivado pelo desuso funcional do que por uma falência efetiva das
capacidades físicas, motoras e intelectuais [11].
A prática da atividade física colabora para
uma velhice saudável, diminuindo ou retardando as perdas inerentes ao processo
do envelhecimento [12], portanto este recurso torna-se essencial à manutenção
da boa saúde e das capacidades funcionais, à prevenção de doenças crônicas,
além de contribuir para o aumento e a manutenção das relações sociais e melhora
do humor e autoestima dos idosos [13].
Dentro desse contexto, as modificações
morfológicas e funcionais relacionadas ao envelhecimento constituem uma das
maiores preocupações para os profissionais da área da saúde, sobretudo no que
se refere à prevenção de doenças e melhora da qualidade de vida [14]. Sendo
assim, o acompanhamento de um profissional de fisioterapia torna-se essencial
para se estabelecer um diagnóstico, um prognóstico e também um julgamento
clínico adequado que subsidiarão as decisões sobre os tratamentos e cuidados
necessários com os idosos [15].
Os Centros de Reabilitação são considerados
referência em tratamento fisioterapêutico para os moradores das cidades. Dessa
forma, o objetivo deste estudo foi traçar o perfil de atividade dos pacientes
idosos que frequentam esses centros, demonstrar este perfil através de dados
colhidos, no intuito de, posteriormente, contribuir para a prevenção e melhora
das atividades funcionais desses pacientes.
Trata-se de um estudo transversal e
descritivo, realizado nos centros de reabilitação do Núcleo de Fisioterapia da
Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Diadema, unidade Canhema
e Quarteirão da saúde, no município de Diadema, e nos Centros de Especialidades
do Rudge Ramos e Centro de Reabilitação do Hospital Anchieta, no município de
São Bernardo do Campo, São Paulo, Brasil. O trabalho foi aprovado pelo Comitê
de ética e pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC sob
número do parecer 738.469, e todos os participantes assinaram um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Foram incluídos os pacientes com idade igual
ou superior a 60 anos, de ambos os sexos, e que frequentam centros de
reabilitação. Foram excluídos os que apresentaram alterações cognitivas que o
incapacitavam de responder ao questionário, ou se recusaram a assinar o TCLE.
O Instrumento utilizado foi o questionário
Perfil da Atividade Humana (PAH), que avalia o nível funcional e de atividade
física, versão traduzida e adaptada para língua portuguesa. Constituído por 94
itens de atividades rotineiras, que variam de um nível funcional baixo a um
nível funcional alto, incluindo cuidados pessoais, tarefas domésticas,
transporte, atividades sociais e de lazer e exercícios físicos. Para cada item
há três alternativas de respostas: “ainda faço”, “parei de fazer” e “nunca
fiz”. O resultado é apresentado com o escore máximo de atividade (EMA),
correspondente ao último item que o indivíduo ainda é capaz de fazer, e o escore
de atividade ajustado (EAA), subtraindo-se do EMA o
número de itens que o indivíduo parou de realizar. Uma vantagem do questionário
é que as atividades que o indivíduo nunca fez não são pontuadas no escore geral
do teste, o que minimiza o risco de viés cultural de alguns itens, que não são
atividades rotineiras no Brasil, e de diferenças relacionadas ao gênero. Os
indivíduos são classificados como debilitados ou inativos (escores < 53),
moderadamente ativos (escores 53-74) ou ativos (escores > 74) [16].
O PAH foi aplicado em forma de entrevista por
examinadores devidamente treinados que seguiram as recomendações do artigo de
adaptação transcultural do questionário [16].
Realizou-se análise descritiva dos dados, as
variáveis qualitativas foram apresentadas por frequência absoluta e relativa e
a variável idade, por meio mediana e percentis 25 e 75, pois a mesma não
apresentou distribuição normal (Teste de Shapiro-Wilk,
p < 0,05). A análise estatística foi realizada no software estatístico Stata versão 11.0.
Participaram do presente estudo 176 idosos
funcionalmente independentes, sendo 69,89% mulheres e 30,11% homens, com idade
mediana de 66 anos, Percentil de 25% de 62, e percentil 75% de 72 anos de
idade. Os resultados mostram, segundo o escore máximo de atividade (EMA), 3 (1,7%) pacientes inativos ou debilitados, 76 (43,1%)
moderadamente ativos e 97 (55,1%) ativos. Já, de acordo com o escore de
atividade ajustado (EAA), que é o resultado mais fidedigno, pois fornece uma
estimativa mais estável das atividades diárias dos indivíduos [16],
classificam-se 67 (38,0%) pacientes como debilitados ou inativos, 88 (50%)
moderadamente ativos e apenas 21(12%) ativos.
Segundo Souza et al. [16], em seu artigo de adaptação transcultural do PAH, a
disposição dos itens do questionário é baseada no custo energético: os de menor
numeração demandam menor gasto energético e, portanto, classifica-se em nível
funcional baixo, e os de numeração mais alta, maior gasto energético, e nível
funcional alto. Sendo assim, para melhor visualização e apresentação dos
resultados, o questionário foi dividido em três partes, nas quais foram
classificadas as atividades do item 1 ao 34 em atividades
de baixo nível funcional (Tabela I), do item 35 ao 64 médio nível funcional
(Tabela II), e do item 65 a 94 atividades de alto nível funcional (Tabela III).
Tabela I - Frequência absoluta e relativa da atividade
de baixo nível funcional de acordo com o questionário Perfil de Atividade
Humana (PAH), Santo André, 2015.
Tabela II - Frequência absoluta e relativa da atividade
de médio nível funcional de acordo com o questionário Perfil de Atividade
Humana (PAH), Santo André, 2015.
Tabela III - Frequência absoluta e relativa da atividade
de alto nível funcional de acordo com o questionário Perfil de Atividade Humana
(PAH), Santo André, 2015.
Ao avaliar cada item do questionário de
acordo com as tabelas supracitadas e verificar a maior porcentagem das
respostas dadas pelos entrevistados, foi elaborado um gráfico (Figura 1) com a
frequência relativa do nível de atividade funcional dos idosos, segundo o
questionário PAH, no qual percebemos que 86,40% dos idosos realizam atividades
de baixo nível funcional, 64,60% atividades de médio nível funcional e apenas
17,80% são capazes de realizar atividades de alto nível funcional.
Figura 1 - Frequência relativa do nível de atividade
funcional segundo o questionário Perfil de Atividade Humana (PAH), Santo André,
2015.
O presente estudo traçou o perfil de
atividade dos pacientes idosos que frequentam Centros de Reabilitação. Foi
constituído por 176 idosos, dos quais 123 eram mulheres, o que mostra um
fenômeno demográfico observado entre os idosos, que é a concentração de
mulheres nesse grupo etário. Segundo o IBGE [4], no Brasil as mulheres são mais
de 55% da população idosa, sendo 80 homens para cada 100 mulheres. Figueiredo et al. [17], em seu estudo com amostra
constituída por 76% mulheres, declaram que possivelmente o perfil dos
participantes do gênero feminino tenha influenciado no bom desempenho dos
idosos no PAH, já que as mulheres desenvolvem, no seu dia a dia, mais
atividades consideradas como domésticas, que na maioria das vezes são de médio
a alto nível funcional, porém deixam de realizar atividades de baixo nível
funcional como “ouvir rádio”, “ler livros ou revistas”. Neste estudo isso se
repete, pelo número expressivo de mulheres participantes da pesquisa, o que
pode explicar o resultado do EMA, que classifica
apenas 3 idosos como inativos ou debilitados, 76 moderadamente ativos e 97
ativos, confirmando que as mulheres elevam o EMA por serem mais ativas quanto
as atividades domésticas.
Já o escore de atividade ajustado (EAA) é
considerado como resultado mais fidedigno, pois se subtrai do último item que o
indivíduo respondeu ser capaz de realizar o número de itens anteriores que
declarou “parei de fazer”, representando assim uma estimativa mais estável das
atividades diárias realizadas pelo entrevistado. Sendo assim, o EAA classifica
67 pacientes como debilitados ou inativos, 88 moderadamente ativos e apenas 21
ativos. Corroborando o estudo de Souza et al. [16] no
qual enfatiza que o esperado na análise do PAH é que haja um pequeno número de
pessoas muito hábeis e muito debilitadas, e a maioria deva estar concentrada e
caracterizada com uma habilidade funcional moderada.
Ao analisar as tabelas de baixo, médio e alto
nível funcional, destacam-se alguns itens pelo elevado número de respostas
“parei de fazer” ou “nunca fiz”, porém, as atividades correspondentes estão
relacionadas com características socioeconômicas, escolaridade, cultura do país
e gênero da população pesquisada e não necessariamente indicam incapacidade
funcional. A variabilidade de alguns destes itens já havia sido discutida na
pesquisa de Souza et al. [16], vindo a se repetir
neste trabalho, e reforça que tais itens devem ser modificados, substituídos ou
excluídos, para garantir que o PAH meça um constructo unidimensional.
Nas atividades de baixo nível funcional
representada na tabela I, percebe-se que a maioria dos idosos entrevistados
(86,40%) consegue realizar todas ou a maior parte das atividades descritas.
Contanto, destacam-se os itens 3 e 4, que são
relacionados à leitura e escrita, nos quais uma porcentagem em torno de 20%
declara não praticar. Este resultado pode ser indicativo de baixa escolaridade;
segundo o Censo de 2000 do IBGE [18], 34,6% da população com mais de 60 anos
são analfabetos. Pode, também, apontar dificuldades visuais, conforme dados da
OMS [19], em todo o mundo, há atualmente 180 milhões de pessoas com deficiência
visual, e este comprometimento visual aumenta drasticamente com a idade. Como
também pode denotar falta de costume ou desinteresse pela atividade por parte
dos idosos participantes. Chama a atenção também os itens 12 e 13, nos quais
mais de 40% dos entrevistados responderam “nunca fiz”. O item 12 (jogar baralho
ou qualquer jogo de mesa) pode estar relacionado à religiosidade, já que esse
jogo é considerado como jogo de azar e censurado pela maioria das religiões, e
segundo Koenig et al. [20],
a religião pode motivar ou influenciar comportamentos, decisões e, de forma
geral, a vida do sujeito. O item 13 (tomar banho de banheira sem ajuda) pode
estar relacionado ao fato de não ser comum ter banheira nas residências no
Brasil.
Percebe-se na tabela II, e se estende para a
análise dos outros níveis de atividade funcional, que um número razoável de
participantes declara fazer determinadas atividades, porém quando a mesma
atividade deve ser feita continuamente, ou seja, sem parar para descansar, o
participante declara “parei de fazer”. São exemplos destas atividades, subir
degraus, caminhar alguns quarteirões e correr, mostrando assim que as
atividades são realizadas pelos participantes, no entanto em ritmo lento e com
pausas, isto acontece pelo processo de envelhecimento que ocasiona uma
diminuição da capacidade aeróbia, segundo afirma Okuma
[21].
Nas atividades de médio nível funcional
(Tabela II) é perceptível o aumento no percentual de atividades que os
participantes deixaram de realizar. Na primeira atividade desta categoria, o
item 35 (ajoelhar ou agachar para fazer trabalhos leves), 43,18% dos participantes
não realizam mais esta atividade. Este resultado
pode-se dar, pelo fato da pesquisa ser feita em um centro de reabilitação de
fisioterapia, no setor de ortopedia, onde há um grande número de pacientes com
doenças osteomusculares, em especial osteoartrose
(OA) de joelhos. Alexandre et al. [22]
afirmam que a dor, o processo inflamatório, a degeneração e a rigidez articular
ocasionadas pela OA, promovem incapacidades em atividades funcionais
relacionadas à flexo-extensão de joelho e à constante
descarga de peso na articulação. Duarte et al. [23]
mostram que a AO é uma das afecções mais comuns da terceira idade,
apresentando-se entre 44% e 70% dos indivíduos acima de 50 anos de idade,
elevando-se a 85%, na faixa etária acima de 75 anos.
Outros itens que requerem atenção nesta
categoria são os itens 52 (aspirar o pó de carpetes) e 53 (aspirar o pó de
carpetes por cinco minutos sem parar), que revelou não ser tão comum ter
carpetes nas residências brasileiras, e por esse motivo um número significante
responderam que nunca fizeram tal atividade. O mesmo acontece com o item 54
(pintar o interior e exterior da casa) no qual mais de 30% declararam nunca ter
realizado, classificando-se também como um exemplo de atividade não rotineira
entre os brasileiros.
Nas atividades de alto nível funcional
(tabela III), os itens que se destacam são os itens 66 (dançar socialmente) e
67 (fazer exercícios calistênicos ou dança aeróbia
por cinco minutos sem parar) que também são exemplos de atividades cuja
resposta “nunca fiz” e “parei de fazer” podem estar relacionadas às questões
religiosas e culturais, e não a inabilidade ou incapacidade de dançar. E o item
68 (cortar a grama com cortadeira elétrica), no qual 65,34% nunca realizaram
esta atividade, é um espelho de que tal prática é incomum na cultura do país.
Um destaque importante deve-se do item 77 ao 82, relacionados à habilidade de nadar e pedalar, no qual
uma porcentagem considerável respondeu que nunca fez, e tal resposta deve-se ao
fato de não possuir a habilidade, e não necessariamente ter a incapacidade
funcional de realizar a atividade.
Os itens 85 (jogar tênis, frescobol ou
peteca) e 86 (jogar uma partida de basquete ou futebol) obtiveram porcentagem
relevante, e demonstrou que os participantes da amostra são, em grande parte,
de uma cultura que dedicaram muito tempo ao trabalho e nenhum ou pouco tempo ao
lazer. O mesmo ocorre do item 87 aos 94 relacionados à corrida, muitos deixaram
de fazer, mas alguns declararam nunca ter realizado tais atividades, esses
salientam que praticavam a corrida como forma de necessidade laboral e nunca
como atividade física ou recreação.
Analisando a classificação de atividades de
alto nível funcional, observa-se que um número pequeno, segundo o Figura 1, apenas 17,80%, é capaz de realizar tais
atividades, que em sua maioria são atividades físicas e de lazer. De acordo com
o American College
of Sports Medicine Guidelines
e American Heart Association
(ACSM/AHA) [24], é preconizado para adultos saudáveis acima de 65 anos,
atividade física de intensidade moderada 5 vezes por
semana, com duração de 30 minutos. Porém, estudos mostram que ainda é baixa a
proporção de idosos ativos, principalmente nas atividades de lazer [25]. No
estudo de Salvador et al. [26], realizado com 385
idosos residentes no município de São Paulo, a proporção de idosos fisicamente
ativos no lazer foi de 19,1% para homens e 12,5%, para mulheres, sendo
considerado o tempo de 150 minutos semanais de atividades físicas para o
sujeito ser classificado como fisicamente ativo. Monteiro et
al. [27], analisando 1.810 idosos residentes no sudeste e nordeste do Brasil e
utilizando o mesmo critério de 150 minutos semanais de atividades físicas para
classificar os sujeitos como fisicamente ativos, encontraram uma proporção de
apenas 7,3% para homens e 6,3% para mulheres.
A OMS, em sua publicação sobre a Atividade
Física e saúde na Europa [28], relata que a inatividade contribui para cerca de
600.000 mortes por ano na região da Europa. Declara que a atividade física é um
meio fundamental para a melhoria da saúde física e mental, capaz de reduzir os
riscos de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2,
hipertensão arterial, doenças musculoesqueléticas e psicológicas. Os benefícios
da prática de atividade física não se restringem apenas ao campo físico
funcional e mental dos indivíduos, mas repercutem também na dimensão social,
melhorando o desempenho funcional, mantendo e promovendo a independência e a
autonomia daqueles que envelhecem [29].
Os Centros de Reabilitação são considerados
referência em tratamento fisioterapêutico para os moradores das cidades,
atendendo pacientes vindos de diversos bairros, com variadas doenças e de todas
as faixas etárias. Porém a procura de idosos por esse serviço de saúde costuma
ocorrer quando estes são acometidos por limitações importantes ou necessitam de
assistência devido à redução da força muscular e a incapacidades funcionais,
tendo como predomínio as doenças crônico-degenerativas que implicam em uma
explosão da demanda de utilização desse serviço, declara Aciole
e Batista [30]. O Ministério da Saúde [31], em seu Plano de Ações Estratégicas
para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), coloca
entre os seus principais objetivos a promoção da saúde por meio da atividade
física, através da construção de espaços saudáveis que estimulem a atividade
física, práticas corporais, o lazer e modos de vida saudáveis em articulação
com a atenção Básica em Saúde. Porém, os programas de incentivo à prática de
atividades físicas para esta população ainda são escassos, pouco explorados em
ambientes de promoção da saúde, necessitando, assim, maior atenção dos gestores
dos atendimentos em saúde, dos programas em educação em saúde e da própria
sociedade [32].
Sendo assim, vê-se a necessidade do
investimento em incentivo à atividade física nos centros de reabilitação, já
que essa é uma forma de melhorar a capacidade funcional e retardar o seu
declínio nos idosos, assim como também melhorar o condicionamento
cardiorrespiratório, aumentar a flexibilidade, força e equilíbrio, prevenir
quedas, estimular o contato social, e incentivar um estilo de vida mais ativa,
o que se torna essencial para a promoção da saúde e qualidade de vida dos
idosos.
O
perfil de atividade dos idosos que
frequentam os centros de reabilitação pesquisados
é, em sua maioria, inativo e
moderadamente ativo, mostrando assim que as práticas de
saúde nestes centros
ainda são predominantemente centradas na assistência e
não na prevenção. Com
isso, vemos a necessidade de investimento e incentivo à
atividade física nos centros
de reabilitação para prevenção de
doenças, promoção da saúde e qualidade de
vida durante o processo de envelhecimento.