ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação
fisioterapêutica nas disfunções do assoalho pélvico consequente ao tratamento
de câncer do colo do útero
Physiotherapy assessment in disorders of the pelvic floor consequent to
the treatment of cervical cancer
Even Tainah Tavares
Menezes, Ft.*, Rafaela Dórea Santos Rodrigues, Ft.**, Lucieny da Silva Pontes,
Ft., M.Sc.***, George Alberto da Silva Dias,
D.Sc.****, Gustavo Fernando Sutter Latorre*****, Erica Feio Carneiro Nunes,
Ft.M.Sc.******
*Fisioterapeuta
especialista em Saúde da Mulher pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), Clínica Sófisio, Belém/PA, **Fisioterapeuta especialista em
fisioterapia hospitalar, Clínica Contornare, Recife/PE, ***Docente da
Universidade do Estado do Pará (UEPA), ****Pós-Doutor em Doenças Tropicais
(UFPA), Docente da Universidade do Estado do Pará (UEPA), *****Fisioterapeuta
pélvico, Portal perineo.net, Florianópolis SC,
*****Docente da Universidade do Estado do Pará (UEPA)
Recebido em 25 de
março de 2016; aceito em 10 de janeiro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Erica Feio Carneiro Nunes, Tv Angustura, 2134/1206, Pedreira, 66087-710 Belém
PA, E-mail: erica@perineo.net, Even Tainah Tavares Menezes:
eventainah@hotmail.com; Rafaela Dórea Santos Rodrigues: fisiodorea@hotmail.com;
Lucieny da Silva Pontes: lucienypontes@hotmail.com; George Alberto da Silva
Dias: georgealbertodias@yahoo.com.br; Fernando Sutter Latorre: gustavo@perineo.net
Resumo
Introdução: O câncer de colo do
útero se apresenta como a segunda neoplasia maligna mais comum entre as
mulheres. Seu tratamento consiste principalmente em cirurgias, quimioterapia e
radioterapia, o que pode trazer como consequência disfunções no assoalho
pélvico. Objetivo: Objetivou-se neste
estudo avaliar as disfunções do assoalho pélvico consequente ao tratamento de
câncer do colo do útero. Material e
métodos: Durante a coleta de dados foram avaliadas 12 mulheres,
investigando presença de dispareunia, grau de força da musculatura pélvica,
presença de disfunção miccional e existência de estenose vaginal. Resultados: Ao verificar dispareunia,
observou-se que 75% das pacientes relataram dor durante a relação sexual. No
que diz respeito à força dos músculos do assoalho foi verificado que 41,7% das
mulheres apresentavam AFA 2. Quanto à presença de
disfunção miccional, nenhuma das pacientes relatou alguma disfunção. Ao
verificar presença de estenose vaginal, observou-se uma media de 6,63. Quando
comparado o número de sessões de radioterapia com a estenose vaginal, não houve
significância estatística devido ao número restrito da amostra. Conclusão: Com o trabalho pode-se
concluir que entre as participantes deste estudo, todas apresentaram alguma
disfunção do assoalho pélvico após o tratamento de câncer do colo do útero.
Palavras-chave: neoplasias do colo
do útero, colo do útero, saúde sexual, incontinência urinária.
Abstract
Introduction: The cervical
cancer appears as the second most common neoplasm malignancy among women
worldwide. Its treatment consists mainly on surgery, chemotherapy and
radiotherapy. As a result of this treatment
dysfunctions of the pelvic floor muscles can be caused. Objective: The object of this study was to identify the pelvic
floor dysfunctions after treatment of cervical cancer. Methods: During data collection twelve women were evaluated and
investigated the presence of dyspareunia, the muscular strength of the pelvic
floor, urinary symptoms and existence of vaginal stenosis. Results: The dyspareunia was observed and found that 75% of
patients reported pain during intercourse. In reference to the muscular
strength of the pelvic floor we found that 41.7% of women had AFA2. Nobody
reported urinary symptoms. The vaginal stenosis was also observed and the mean
was 6.63 cm. When comparing the number of radiotherapy sessions with vaginal stenosis,
we did not have statistical significance due to the restricted sample. Conclusion: We concluded that pelvic
floor dysfunctions are common after treatment of the cervical cancer.
Key-words: uterine
cervical neoplasms, cervix uteri, sexual health, urinary incontinence.
O termo câncer é
utilizado para representar um conjunto de doenças malignas, caracterizadas por
um crescimento anormal de células que sofrem alterações em seu material
genético. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, são diagnosticados, por
ano, cerca de 11 milhões de casos de câncer no mundo, sendo os mais comuns em
mulheres o câncer de mama e colo do útero [1].
No Brasil, o câncer
do colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais frequente entre as mulheres,
exceto na região Norte, em que se torna o primeiro entre as mulheres. Estima-se
para o período de 2016/2017 a ocorrência de aproximadamente 16.340 novos casos
de câncer de colo de útero no Brasil. Na região Norte, estima-se 1.970 novos
casos. No estado do Pará a incidência é de 790 novos casos para cada e em Belém
de 330 novos casos para cada 100 mil habitantes [2].
O pico de incidência
do câncer do colo do útero se dá na faixa etária de 45 a 50 anos em mulheres
com os seguintes fatores de riscos: múltiplos parceiros sexuais, tabagista,
início precoce da atividade sexual e infecção pelo Papiloma
Vírus Humano [3].
A evolução do câncer
do colo do útero, na maioria dos casos, se dá de forma lenta, passando por
fases detectáveis e curáveis. Seu tratamento é guiado pelo avanço da doença,
tamanho do tumor, fatores pessoais, idade e desejo de ter filhos, podendo ser
constituído de cirurgia, radioterapia ou quimioterapia, com o objetivo de curar
ou de minimizar os sintomas e complicações da doença [4].
A histerectomia é o tratamento
cirúrgico realizado de acordo com o grau de comprometimento, podendo haver
remoção do colo uterino, dos ovários e das trompas de Falópio. Já a
radioterapia e a quimioterapia podem estar associadas com o tratamento
cirúrgico, visando inibir o crescimento de células malignas e reduzir a
recorrência do câncer em qualquer estádio da doença. Em tumores localmente
avançados, a braquiterapia é usada como tratamento tradicional. Porém, nesta
abordagem podem ocorrer danos na vascularização pélvica e inervação autonômica
dos músculos pélvicos, podendo levar a disfunções do sistema urinário, genital,
além de prejudicar na qualidade de vida sexual [5].
Contudo, o tratamento
para o câncer do colo útero resulta em diversas sequelas para o sistema
uroginecológico da mulher, como: dor genital, diminuição da elasticidade do
canal vaginal, diminuição da secreção vaginal e atrofia do revestimento mucoso
da vagina [6].
Quando realizada a
braquiterapia, o comprometimento vaginal pode levar ao surgimento de estenose, caracteriza
pelo encurtamento do canal vaginal [4].
Outro sintoma
encontrado em mulheres que realizaram o tratamento para câncer do colo de útero
vem em decorrência do surgimento de disfunções miccionais, como a incontinência
urinária, definida pela perda involuntária de urina, através do canal uretral,
caracterizada quando a pressão vesical ultrapassa a pressão uretral máxima [7].
Considerando que há
poucos estudos que avaliem os problemas urinários e ginecológicos decorrentes
do tratamento realizado para a doença, este estudo teve como objetivo avaliar
as disfunções do assoalho pélvico consequente ao tratamento de câncer do colo
do útero.
Trata-se de um estudo
transversal, realizado respeitando as Normas de Pesquisa envolvendo Seres Humanos
(Res. CNS 466/12) do Conselho Nacional de Saúde, aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa do Centro Universitário do Pará, sob o processo de número
2012/315107, e pelo Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Ophir Loyola,
sob autorização para pesquisa de número 46/2012.
As participantes
foram selecionadas por meio da amostragem não probabilística por conveniência,
e o Departamento de Arquivo Médico e Estatístico (DAME), do Hospital Ophir
Loyola, selecionou 285 prontuários com diagnóstico de neoplasia do colo do
útero. Entre os prontuários analisados 48 deles se enquadravam dentro dos
critérios de inclusão e exclusão da pesquisa, no entanto, apenas 12 mulheres se
propuseram a participar do estudo.
Foram incluídas
mulheres com idade entre 25 e 65 anos, que realizaram radioterapia no mínimo 6 meses antes da avaliação. Também estavam inclusas na
amostra mulheres que realizaram radioterapia associada a outros tipos de
tratamento como, histerectomia e quimioterapia, além de serem residentes do
município de Belém.
Foram excluídas
mulheres com idade inferior a 25 anos ou superior a 65 anos, mulheres que
tinham menos de 6 meses de término da radioterapia.
Pacientes que realizaram somente um tipo de tratamento sem associar a outro
também não foram inclusas, além daquelas que não eram residentes do município
de Belém e as que não aceitaram ser avaliadas.
Cada voluntária foi
avaliada individualmente. A avaliação se dividiu em duas etapas: a anamnese e o
exame físico.
Como instrumentos
avaliativos utilizou-se uma ficha de avaliação, contendo identificação da
paciente, história ginecológica, tipo de cirurgia realizada e história da
doença. Posteriormente, foi avaliada a presença de dispareunia por meio de um
questionário contendo 4 perguntas sobre a intensidade de
dor durante a relação sexual que foram respondidos de forma objetiva, além da
Escala Visual Analógica.
Para a avaliação de
disfunção miccional, foi realizada avaliação de disfunção miccional, além do
Pad Test, caso necessário.
A avaliação funcional
do assoalho pélvico (AFA) foi medida pela palpação bi-digital. O AFA é
realizado com a introdução do dedo indicador e médio no canal vaginal com as
mãos enluvadas e com gel. Solicitava-se à paciente que realizasse uma contração
para observar sua capacidade.
Após a coleta de
dados, os resultados obtidos foram organizados em planilhas do Microsoft Excel®
2003 e foram analisadas nos programas Epi Info versão 3.5.2. Realizou-se
análise descritiva dos dados, apresentando-se a frequência absoluta, frequência
relativa e medidas de tendência central (média aritmética, mediana, moda,
mínimo e máximo) e medidas de dispersão (desvio-padrão).
Realizou-se análise
estatística inferencial entre variáveis quantitativas (números de sessões de
radioterapia versus estenose vaginal em centímetros) através do coeficiente de
correlação de Pearson. Utilizou-se como nível alfa de significância valores
iguais ou menores a 0,05 (5%) para rejeição da hipótese de nulidade.
Concluídas as
avaliações, os resultados foram descritos em tabelas e gráficos abaixo
demonstrados.
Na tabela I estão
descritos em número absolutos a quantidade de sessões de radioterapia
realizadas pelas participantes.
Tabela
I – Descrição do número de sessões de
radioterapia realizadas pelas participantes (n = 12).
Como modalidade da
radioterapia, a braquiterapia descrita na tabela II, foi realizada por 75% das
participantes e 25% não realizaram o tratamento. Dentre as mulheres que realizaram
braquiterapia, o número de sessões realizadas pelas participantes foi de 25
sessões, com percentual de 11,1% e o menor tempo foi de 4
sessões com percentual de 44,4%.
Tabela
II –
Análise descritiva sobre a realização de
braquiterapia pelos indivíduos (n=12) da pesquisa.
Em relação à
quimioterapia, 41,7% da amostra total necessitou deste tratamento, e 58,3% não,
supondo que o tratamento radioterápico tem maior frequência no estudo. O número
de sessões de quimioterapia realizado pelas participantes variou de 4 a 24
sessões.
Com os resultados
obtidos na pesquisa a respeito da histerectomia, quimioterapia, radioterapia e
braquiterapia, pode-se observar que todas as participantes do estudo se
submeteram a radioterapia associada ou não a outro tipo de tratamento,
independente do estádio da doença. O mesmo pode ser observado na pesquisa de
Noronha [8] em que o tipo de tratamento foi escolhido de acordo com o
estadiamento clínico do carcinoma invasor em uma amostra de 20 mulheres.
Pode-se observar que no estadiamento clínico I, 5
(25%) mulheres realizaram radioterapia, 20 (100%) realizaram histerectomia
total e nenhuma realizou quimiorradiação. No estadiamento II, 9 (45%) se submeteram a radioterapia, nenhuma realizou
histerectomia radical e 3 (15%) realizaram a quimiorradiação. Já no
estadiamento III, 6 (30%) realizaram a radioterapia,
nenhuma realizou histerectomia total e 16 (80%) se submeteram a
quimiorradiação.
O estudo de Vidal [5]
mostra 32,7% das participantes realizaram radioterapia exclusiva, 52,3%
realizaram radioterapia associada à quimioterapia, 11% se submeteram a
radioterapia e cirurgia e 4% realizaram radioterapia, quimioterapia e cirurgia.
Esse achado entra em concordância com o que se encontrou na pesquisa, na qual a
radioterapia pode ser aplicada de forma isolada ou não no tratamento do câncer
do colo uterino.
Durante a avaliação
do grau de força dos músculos do assoalho pélvico, descrito na tabela III,
observou-se que 41,7% das pacientes avaliadas apresentaram AFA 2, 25%
apresentaram AFA 1 e, 33,3% apresentaram AFA 3.
Tabela
III
– Avaliação da capacidade de contração
dos músculos do assoalho pélvico de acordo com o AFA.
Verificou-se no
estudo que as mulheres submetidas ao tratamento do câncer do colo do útero
apresentam fraqueza da musculatura do assoalho pélvico, mesmo com a diferença
de idade entre as participantes. O mesmo foi encontrado no estudo de Noronha
[8] que compara grau de força do assoalho pélvico com a mesma escala que se
utilizou no estudo, em que 0 é a pior força e 5 é a
maior força. Foi observado que mulheres que se submeteram à radioterapia
apresentaram AFA 2,2 ± 1,6. As participantes que realizaram quimiorradiação
apresentaram AFA 2,5 ± 1,6. Já as mulheres que se submeteram à cirurgia
apresentaram AFA 2,9 ± 1,2.
Ao avaliar
dispareunia, descrita na tabela IV, pode-se observar que 75% das pacientes
relataram sentir dor ao ato sexual e 25% não relataram dor. Ao responderem se o
ato sexual era agradável (Dispareunia Q1), 44,4% das mulheres afirmaram nunca
ou quase nunca, 22,2% responderam na maioria das vezes e 11,1% afirmaram sempre
ou quase sempre. 44,4% responderam que quase sempre ou sempre sentem dor
durante a relação sexual (Dispareunia Q2), 22,2% disseram que na maioria das
vezes. Ao responderem a intensidade da dor durante a relação sexual
(Dispareunia Q3), 44,4% relataram que a dor é fraca, 33,3% dor muito fraca e
22,2% sentem dor moderada. Ao ser questionado sobre a duração da dor durante a
atividade sexual (Dispareunia Q4), 66,6% relataram que sentem após o ato sexual
e 33,3% responderem que sentem dor no início da atividade.
Quanto a escala
visual analógica da dor, 66,7% relatam EVA 2 ao ato
sexual, e 11,1% relataram EVA 4 e 5.
Tabela
IV –
Descrição do questionário aplicado para
avaliação da dispareunia.
*A atividade sexual é
agradável para você? **Você sente dor durante a relação sexual? *** Qual a
intensidade da dor durante a relação sexual? **** Qual a duração da dor durante
a relação sexual?
Bernardo et al. [9] observaram que 1,4% das mulheres
que realizaram radioterapia exclusiva relataram dispareunia após o tratamento.
No entanto, leva-se em consideração que 73,6% estavam em abstinência sexual. O
achado do estudo difere do encontrado na pesquisa em que foi observado que a
maioria das mulheres sente dor durante a relação sexual.
Em um estudo
realizado por Vidal [5], a dispaurenia apareceu em 53% dos casos estudados. No
estudo de Noronha [8] foi notado que a dispareunia foi menor em mulheres
submetidas à quimiorradiação e histerectomia radical quando comparada no pré e
pós-tratamento. Já em mulheres que realizaram radioterapia exclusiva houve
piora significativa da dor durante a relação sexual pós-tratamento.
Assim também Frigo e
Zambarda [10] encontraram em seu estudo que após o tratamento de câncer de colo
de útero as mulheres apresentaram disfunções como dispareunia, estenose,
vaginismo, diminuição da lubrificação, incontinência urinária, incontinência
fecal e linfedema.
Observa-se
que os
resultados encontrados no estudo de Vidal [5] e Noronha [8]
assemelham-se ao
encontrado na pesquisa, que podem ser justificados por
alterações sofridas
pelas mulheres quando submetidas ao tratamento de câncer do colo
uterino, como
presença de fibrose, diminuição da elasticidade,
lubrificação vaginal e diminuição
da profundidade do canal vaginal, que podem vir a desencadear a
dispareunia.
A tabela V descreve
variáveis quantitativas do estudo, em que a média de idade das participantes da
pesquisa foi de 48,75 anos. O tempo/número de sessões de radioterapia teve uma
média de 31,33, assim como o tempo/número de sessões de braquiterapia e
tempo/número de sessões de quimioterapia, obteve uma média 7,22 e 9,20
respectivamente.
O número de mulheres
que responderam a escala visual de dor foram 9, com mediana
de 2, média de 2,33 e desvio padrão de 1,41.
Notou-se que 12
participantes apresentavam estenose vaginal no estudo, com comprimento mínimo
de 5,50 cm e máximo de 8 cm, com mediana de 6,6, média
de 6,63 e desvio padrão de 0,72.
Tabela
V – Descrição das variáveis quantitativa do
estudo.
Em um estudo com
mulheres portadoras de câncer do colo uterino realizado por Vidal [5], as
mulheres mais acometidas pela doença encontravam-se por volta dos seus 41 a 50
anos (31,4%). Resultados semelhantes foram encontrados nos estudos de Lima,
Palmeira e Cipolotti [11] e Nakagawa et al. [12], nos
quais a média de idade entre as mulheres com câncer foi de 49,9 e entre 35 a 50
anos (52,7%) respectivamente.
A média de idade
encontrada no estudo se aproxima da média de outras pesquisas. De acordo com os
resultados, pode-se levantar a hipótese que o início dos sinais e das lesões
precursoras vem ocorrendo precocemente devido a não realização do preventivo
devido a questões multifatoriais, como, acesso aos serviços de saúde, fatores
culturais e ausência da percepção de risco.
A estenose vaginal
foi verificada no estudo de Vidal [5] como uma das disfunções mais frequentes
em mulheres que realizaram tratamento para carcinoma invasor do colo uterino.
De 264 prontuários analisados, 124 apresentavam relatos de estenose vaginal.
Noronha [8] observou o comprimento vaginal de mulheres submetidas à
radioterapia, quimiorradiação e histerectomia total. Os resultados encontrados
foram: participantes que realizaram radioterapia 5,5 ± 1.9 cm de comprimento
vaginal; as que realizaram quimiorradiação 5,3 ± 1,5 cm de comprimento vaginal;
já as que se submeteram a histerectomia radical apresentaram 7,4 ± 1,1 cm.
Na pesquisa realizada
por Weijmar e Van [13] a estenose vaginal foi encontrada como uma das
principais disfunções sexuais decorrentes do tratamento para o câncer do colo
de útero. Já para Bernardo [9] as mulheres podem apresentar outras disfunções
como fibrose vaginal parcial, diminuição da elasticidade e da profundidade
vaginal decorrente de complicações no pós-cirúrgicas e pós-radioterapia. Arshi
e Jane [14] complementam que em seu estudo foram encontradas outras alterações
consequentes ao tratamento radioterápico, como, ulcerações vulvares, necrose e
sangramento vaginal após a relação sexual, decorrentes da modificação da mucosa
do canal vaginal, principalmente pela atrofia vaginal.
Os resultados
encontrados nos estudos de Vidal [5], Noronha [8], Weijmar e Van [13], Bernado
[9] e de Arshi e Jane [14] se assemelham com esta pesquisa. Isso se dá pelo
efeito ionizante da radioterapia, quimiorradiação e processo cirúrgico na
mucosa vaginal, caracterizado por um processo que evolui para fibrose e
diminuição da umidade vaginal, causando diminuição da capacidade de
elasticidade da vagina, levando ao estreitamento da luz vaginal. Além disso, a
estenose vaginal interfere significativamente na função sexual dessas mulheres,
pois causa ressecamento, levando à dor e, em alguns casos, sangramento durante
o ato sexual, assim, diminuindo a libido e o prazer.
De acordo com
Marques, Silva e Amaral [4], a incidência de estenose vaginal após radioterapia
pode variar de 1,2 a 88% devido à diversidade de métodos de avaliação. Por
isso, apesar dos resultados do estudo com outros se assemelharem, a forma como se
avaliou a estenose foi diferente, havendo uma grande chance de se obter
resultados divergentes.
Ao ser avaliada a
correlação da estenose vaginal com o número de sessões de radioterapia através
da correlação de Pearson com p = 0,1056 e r = 0,4902, descrita no gráfico 1, não houve correlação significativa entre quantidade de
sessões de radioterapia e grau de estenose.
No estudo de Noronha
[8] foi observado que o comprimento vaginal foi significativamente menor em
mulheres que realizaram a radioterapia. No estudo, ao ser feito a correlação
entre o número de sessões e a estenose vaginal não houve significância
estatística, o que acaba por discordar do estudo de Noronha [8]. O resultado
encontrado pode estar associado ao número da amostra restrita da pesquisa, uma
vez que a estenose pode ocorrer pela energia utilizada e pela dose de radiação
da radioterapia, levando aos comprometimentos pélvicos.
Gráfico
1 – Correlação de número de sessões x estenose
vaginal.
Quanto aos sintomas
urinários, todas as participantes do estudo (n = 12) não relataram queixa
urinária após tratamento de câncer do colo do útero, por isso, não foi realizado o Pad Test durante a avaliação. No entanto, o dado
encontrado na pesquisa diverge do ponto de vista de alguns autores. Em uma
revisão bibliográfica realizada por Davi et al. [15] foi
observado que vários autores afirmam o surgimento de incontinência urinária
após histerectomia radical principalmente por conta de inervação autonômica no
ato cirúrgico.
Fitz et al. [16] notaram em sua revisão de
literatura que as mulheres submetidas ao tratamento de câncer do colo uterino
apresentam alguma disfunção no trato urinário, como, hipertonicidade da bexiga,
pressões de fechamento uretral baixas em pós-operatório imediato, dificuldade
de esvaziamento vesical com altos volumes residuais de urina, além da retenção
urinária, incontinência urinária, disúria, urgência miccional e instabilidade
vesical.
Noronha [8] verificou
as queixas urinárias no pré e pós-tratamento de radioterapia, cirurgia e quimiorradiação.
Os resultados demonstraram piora dos sintomas urinários em mulheres que
realizaram radioterapia e não houve diferença em mulheres que realizaram
cirurgia e quimiorradiação, mais uma vez discordando dos resultados encontrados
no presente estudo.
Foi observado no
estudo que a maioria das participantes apresentava estenose vaginal,
dispareunia e perda de força dos músculos do assoalho pélvico, no entanto,
nenhuma relatou alguma disfunção miccional. De acordo com o número da amostra
(n = 12), concluímos que as disfunções do assoalho pélvico são comuns após o
tratamento de câncer do colo do útero. Porém, a escassez de dados na literatura
e a falta de padronização de métodos avaliativos dificultaram a elaboração da
pesquisa, principalmente ao discutir os achados de nosso estudo. Por isso, que
sejam realizados novos estudos para melhor entender as disfunções acometidas
por essas mulheres.