EDITORIAL
Algumas vezes a
diferença no tratamento não se faz com medicamentos: rediscutindo a troca de
saberes nas doenças neuromusculares
Marco
Orsini*
Com a colaboração e a co-autoria de Acary Bulle Oliveira*,
Marcos RG de Freitas*, Adriana Leico Oda**, Mauricio Santana***, Victor Hugo Bastos****,
Fernando Lopes e Silva Junior****, Silmar Teixeira****, Pedro Ribeiro*****
*Médicos, Neurologistas, Membros Titulares da Academia
Brasileira de Neurologia, **Fonoaudióloga especialista em Doenças Neuromusculares
- UNIFESP, ***Professor do Instituto Federal de Reabilitação, IFRJ/RJ, ****Professor
Adjunto da Universidade Federal do Piauí, Laboratório de Mapeamento Cerebral e Funcionalidade
(LAMCEF), *****Professor Associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Laboratório
Mapeamento Cerebral e Integridade sensório-motora
Correspondência: Marco Orsini, Rua Professor Miguel Couto 322, 1001 Jardim Icarai, Niterói RJ, E-mail: orsinimarco@hotmail.com
Relevantes educadores possuindo maneiras
distintas de conduzir o tratamento de pacientes com doenças neuromusculares
foram responsáveis por minha formação. Todos, entretanto, são categóricos em
afirmar que necessitamos de uma maior troca de saberes na saúde. Citá-los é uma
forma de prestigiá-los, pois me ensinaram o valor de caminhar em parceria,
reconhecendo o trabalho integrado de médicos, fisioterapeutas, enfermeiros,
fonoaudiólogos, nutricionistas e outros profissionais da saúde.
A transdisciplinaridade
almeja atender à demanda dos pacientes, clarifica o que pode ser obtido e
esclarece nossas limitações frente às doenças neuromusculares. Luto diariamente
por uma integração real. As transformações que ocorrem sistematicamente na
saúde advêm, entre outras causas, da produção e incorporação de tecnologias nos
vários campos da ciência. Porquanto, como sujeitos isolados
de um enorme processo de evolução, não somos capazes de acompanhá-las. A
produção do saber tem ocorrido ainda de forma fragmentada, com resistência à
desconstrução de um exercício de saber e de poder sobre nossas condutas frente
aos pacientes com doenças neuromusculares.
Na Esclerose Lateral Amiotrófica (doença
progressiva, degenerativa e inexorável), por exemplo, os pacientes podem ser
beneficiados por melhores intervenções através de um trabalho integrado.
Devemos colocar em prática o termo “conhece-te a ti mesmo”, buscando nossas
limitações e solicitando auxílio de outros profisssionais.
A ciência não tem preconceito com aquilo que ilumina e ameniza o sofrimento.
Costumamos dividir nossas abordagens de
tratamento em pequenas partes, inventando uma série de teorias parciais. Muitas
vezes não pensamos que essas estejam completamente erradas, partindo do
princípio que talvez seja impossível chegar a uma solução completa investigando
partes do problema de forma isolada. Isso é progredir. Progredir é reconhecer
nossas limitações. Progredir é sempre pensar no melhor para os pacientes.
Luto por um espaço em que devemos juntar
nossas potencialidades, buscando tentativas de unificar conhecimentos para o
presente. O presente se refere ao que podemos fazer de concreto “hoje” para
nossos pacientes. Vamos aceitar o “não-saber”, a noção
de limite disciplinar como insuficiência, a abertura ao diálogo e a cooperação
entre disciplinas diversas, permitindo a construção de um novo saber, que se produz
no cotidiano da prática. Essa interação é profícua, principalmente, no que
tange à prescrição de medicamentos e exercícios terapêuticos para esse grupo de
pacientes. Creio que já somos capazes de voar, principalmente, se estivermos
escorados uns aos outros.
As doenças neuromusculares, embora possuam uma história natural, muitas com desfecho desfavorável, também nos intrigam pelo vasto espectro de apresentação clinica. Guidelines não são dinâmicos, não tomam decisões, não se antecedem aos problemas. Existem três palavras que gostaria de assumir como autor principal: a incerteza, o dinamismo e as particularidades entre os pacientes. Essas são cruciais para apostarmos.
Dedico este Editorial
aos Professores
Acary Bulle Oliveira
e Marcos RG de
Freitas