REVISÃO
Atuação
da fisioterapia na reabilitação de paciente com Síndrome de Guillain-Barré
Physical therapy performance in rehabilitation of patient with Guillain-Barré Syndrome
Amanda Pereira da
Rocha*, Mariane Ledesma Barboza*, Danielli Souza Speciali, Ft.**
*Graduanda
em Fisioterapia das Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo/SP, **Docente
das Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo/SP
Recebido em 10 de
maio de 2017; aceito 12 de setembro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Amanda Pereira da Rocha, Av. Santo Amaro, 1239 Vila Nova Conceição 04505-001
São Paulo SP, E-mail: amandaaoi@hotmail.com; Mariane Ledesma
Barboza: maari.barboza@gmail.com
Resumo
Introdução: A Síndrome de Guillain-Barré (SBG) é definida como uma polirradiculoneuropatia inflamatória aguda, autoimune, em
que ocorre a desmielinização dos nervos periféricos,
causando fraqueza motora e alterações sensoriais. A evolução da SGB é
caracterizada pela progressiva perda motora, que em geral afeta primeiro os
membros inferiores progredindo para os superiores, e pela hiporreflexia
ou arreflexia, com comprometimento do nervo craniano.
A fase aguda pode durar algumas semanas, engloba o início dos sintomas e a estabilização
da desmielinização. Após esse período inicia-se a
fase de recuperação, que coincide com a remielinização
e regeneração dos axônios. Objetivo: O presente estudo tem como objetivo
avaliar a eficácia da fisioterapia no processo de reabilitação de pacientes
portadores da SGB, observando abordagens diversas e principalmente ressaltar a
importância da atenção fisioterapêutica durante esse processo. Métodos: Foi realizada uma revisão da
literatura dos últimos 10 anos que abordassem o tema da SGB associada à
Fisioterapia. Resultados: Em todos os
casos estudados, embora cada um com sua particularidade em relação à
necessidade da reabilitação, foram observadas melhoras
significativas, com ganho de capacidade funcional fundamental para
independência em atividades diárias. Conclusão:
Foi possível concluir que a intervenção fisioterapêutica é muito importante e eficaz na recuperação das limitações funcionais
ocasionadas pela SGB, promovendo ao portador independência nas atividades
diárias e melhorando a qualidade de vida.
Palavras-chave: Síndrome de Guillain-Barré, desmielinização,
reabilitação, Fisioterapia.
Abstract
Guillain-Barré Syndrome (GBS) is
defined as an acute, autoimmune, inflammatory polyradiculoneuropathy
in which peripheral nerves demyelination occurs, causing motor weakness and sensory changes. The evolution of GBS is
characterized by progressive motor loss, which generally affects first the
lower limbs progressing to the superiors, and by hyporeflexia
or arreflexia, with impairment of the cranial nerves.
The acute phase may last for a few weeks, encompasses the onset of symptoms and
the stabilization of demyelination. After this period begins the recovery
phase, which coincides with the demyelization and regeneration of the axons.
Objective: The objective of this study was to evaluate the effectiveness of
physical therapy in the rehabilitation process of patients with GBS, observing
different approaches and especially emphasizing the importance of physical
therapeutic attention during this process. Method:
Literature review of the last 10 years on GBS associated to Physical therapy. Results: In all the cases studied,
although each with its particularity in relation to need for rehabilitation,
significant improvements were observed, with gain of functional capacity. Conclusion: We conclude that the
physical therapy intervention is effective in the recovery of the functional
limitations caused by GBS, promoting the independence in daily activities and
improving the quality of life.
Key-words: Guillain-Barré syndrome, demyelination, rehabilitation,
physical therapy.
A Síndrome de Guillain Barré (SGB) foi descrita
pela primeira vez em 1859 por Jean Landry, que
analisou o caso de um homem de 43 anos que desenvolveu a patologia e foi a óbito
em poucos dias, após uma infecção pulmonar. Jean Landry
focou sua atenção na patologia, a qual denominou “Paralisia ascendente aguda”.
Mais tarde em 1916, Georges Guillain, Jean Alexandre Barré e André Strohl apresentaram
em uma reunião da Sociedade médica dos hospitais de Paris, o caso de dois
soldados franceses que desenvolveram paralisia sensório
motora, ambos sem histórico de infecção, e que se recuperaram em poucas
semanas [1].
Definida como polirradiculoneuropatia inflamatória aguda, a Síndrome de Guillain Barré (SGB) é a maior
causa de paralisia generalizada, 1-4 por 100.000 habitantes e pico entre 20-40
anos de idade. Não existem dados epidemiológicos específicos para o Brasil.
Trata-se de uma doença de caráter autoimune que acomete primordialmente a
mielina da porção proximal dos nervos periféricos de forma aguda/subaguda
[2]. Na SGB ocorre a desmielinização dos nervos
periféricos, causando fraqueza motora e alterações sensoriais. Apesar de não
ter causa específica, possui relação com doenças agudas causadas por vírus ou
bactérias.
A evolução da SGB é
caracterizada por comprometimento periférico ascendente, progressivo e
geralmente simétrico, na qual as manifestações motoras predominam sobre as
sensoriais. Caracteristicamente, há perda de força dos membros inferiores,
perda do controle esfincteriano, comprometimento de pares cranianos e
diminuição dos reflexos tendinosos [3]. A fase aguda
pode durar algumas semanas, engloba o início dos sintomas e a estabilização da desmielinização. Após esse período inicia-se a fase de
recuperação, que coincide com a remielinização e
regeneração dos axônios.
Inicialmente, o
diagnóstico da SGB é clínico. Após a observação dos sinais e sintomas, exames
complementares e evidências que excluam outras patologias são feitos: a análise
do líquor (líquido cefalorraquidiano) e a eletroneuromiografia, que avalia a condução dos impulsos
nervosos, a fim de identificar possíveis acometimentos motores ou sensitivos.
Em conjunto, essas análises são indispensáveis para dar início a um tratamento
com o objetivo de estabilizar o processo autoimune, o mais rápido possível.
A SGB pode ter como
consequências uma série de sequelas que dificultam o equilíbrio e propriocepção
ou em casos mais avançados que impossibilitam o paciente de deambular, sendo os
mais comuns: dores lombares, formigamento nos pés, fraqueza muscular, perda de
reflexos tendinosos, perda de equilíbrio e
propriocepção. Por ser regressiva e de acometimento ascendente, a marcha é uma
grande preocupação, pois, pacientes portadores da SGB desenvolvem fraqueza
muscular generalizada, principalmente em musculaturas dos MMII, incluindo
Tibial anterior e Fibulares, apresentando como
distúrbio motor pé equino e marcha com padrão escavante
[4]. E embora haja um tratamento específico à base de imunoglobulina IV e Plasmaférese, é necessário o trabalho de uma equipe
multidisciplinar para reabilitar o paciente com SGB.
O
desenvolvimento de
programa de reabilitação multidisciplinar promove melhora
funcional motora e do
desempenho das Atividades de Vida Diária, aumento da
pontuação da Medida de
Independência Funcional (MIF), além de prevenir a
deterioração da função [5].
Nessa perspectiva, a realização de tratamento
fisioterapêutico tem como
objetivo uma melhora das condições
físico-funcionais e treino das atividades de
vida diárias. É essencial a criação de
estratégias de intervenção que visem à
reabilitação desses portadores, tendo sensibilidade para
escolhas corretas, de
ajuda técnica, o apoio familiar e um bom alicerce
psicológico são fundamentais
para que se obtenham resultados positivos [5,6].
Estudos evidenciam
que a fisioterapia se mostra eficaz e essencial no processo de reabilitação
desde a descoberta da SGB, considerando que se iniciada imediatamente após a
descoberta e se essa descoberta for precoce, o portador tem bom prognóstico.
Assim, abordaremos neste trabalho, intervenções como: o método de Bad Ragaz que é um recurso da
hidroterapia utilizado internacionalmente para reeducação muscular através de
técnicas de fortalecimento e alongamento, relaxamento e inibição do tônus na
água [7], treinar habilidades de transferência segura, equilíbrio e
deambulação, utilização de sistemas de suporte parcial de peso corporal com o
objetivo de progredir o paciente em relação a marcha,
treino proprioceptivo, terapias manuais para tratar consequências como fraqueza
muscular e perda de amplitude de movimento (ADM), treinamento aeróbio para
redução da fadiga, técnica de facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP)
para restabelecer função motora eficiente e melhorar o controle motor, em caso
de pacientes restritos ao leito, prescrição de meias de compressão para
minimizar o risco de trombose venosa profunda devido ao imobilismo,
posicionamento para prevenir úlceras de decúbito e fisioterapia respiratória,
como manobras de higiene brônquica para desobstrução das vias aéreas [8].
Objetivo
O objetivo deste
trabalho é analisar por meio de uma revisão da literatura a eficácia da
fisioterapia durante o processo de reabilitação do paciente com SGB.
Incluimos nesta revisão
artigos publicados sobre o tema, compreendidos entre os anos 2002 a 2017, nas
línguas inglesa, portuguesa e espanhola. Os requisitos de exclusão foram
publicações inferiores ao ano de 2002, e publicações evidenciando assuntos não
pertinentes ao presente estudo. Foram realizadas pesquisas nas seguintes bases
eletrônicas: PubMed, Scielo, Biblioteca Virtual da Saúde, Google Scholar, Medline, PEDro e conteúdos
eletrônicos específicos de publicação científica com as seguintes palavras
chaves: Síndrome de Guillain-Barré, Desmielinização, Reabilitação, Fisioterapia, Guillain-Barré Syndrome, Demyelination, Rehabilitation, Physiotherapy.
A SGB ocorre
geralmente de forma simétrica bilateralmente, as partes distais dos nervos são
afetadas em primeiro, por isso os sintomas se iniciam nas mãos e pés. Em alguns
casos, a paralisia pode se estender além dos membros e comprometer a
musculatura respiratória, do tronco, pescoço e face.
O tratamento médico
da síndrome conta com dois recursos: a plasmaférese
que é uma técnica que permite filtrar o plasma do sangue do paciente e a
administração intravenosa de imunoglobulina para impedir a ação deletéria dos
anticorpos agressores. Exercícios fisioterapêuticos devem ser introduzidos
precocemente para manter a funcionalidade dos movimentos.
Os pacientes com SGB
geralmente tem bom prognóstico, a depender da gravidade em que os sintomas se
apresentam, a recuperação pode ser lenta ou rápida (1-4 anos) [7].
Nascimento et al. [7] encontraram avanços positivos em uma paciente de
17 anos, do sexo feminino que referiu dormência nos pés evoluindo para
incapacidade de deambulação e fraqueza muscular em MMSS e face, após retornar
de uma viagem e diagnosticada com SGB. Sua intervenção consistiu em 18 sessões
de fisioterapia com duração de 1 hora cada, utilizando a hidrocinesioterapia
com os métodos Watsu e Bad Ragaz. Foram realizados exercícios respiratórios em baixo
d’água (expirações nasais) intercalados com aquecimento, alongamentos em MMSS e
MMII, treinos de transferência de peso, fortalecimento abdominal em diferentes
decúbitos, agachamentos, chutes laterais, polichinelo, subir e descer escadas,
bicicleta, watsu e tração cervical para relaxamento.
No questionário SF-36 a evolução foi de 0% para 100%. Pimáx
e Pemáx também mostraram evoluções positivas ao
treinamento muscular respiratório +50 cmH2O e -50
cmH2O respectivamente pós fisioterapia, além de melhora quanto a flexibilidade
mais significativa no membro inferior esquerdo (MIE), com flexão de quadril de
65º para 110º e extensão do quadril de 4º para 22º [7].
No caso acima
descrito, a resposta positiva se dá pela história de evolução natural da
doença, considerando que conforme a reinervação
progride a força e a tolerância ao exercício aumentam
[4,7], porém, é positiva e absolutamente influenciada pela realização dos
exercícios hidrocinesioterápicos propostos conforme
as fases da doença e de acordo com as limitações em atividades de vida diárias
(AVD) apresentadas pela paciente, em que foram enfatizados grupos musculares e
movimentos específicos.
Já Vaz et al. [10] estudaram o caso de uma
paciente de 22 anos, do sexo feminino com diagnóstico de SGB há dois anos. Com
o objetivo de melhorar o equilíbrio estático e dinâmico, atividade motora e
independência funcional, foram aplicados exercícios de Frankel
em 40 sessões de 45 minutos cada. Os exercícios foram realizados em decúbito
dorsal, sentada e em pé, com apoio unilateral e sem apoio, de forma unilateral
ou bilateral, de forma suave, executados lenta e uniformemente, progredindo de
posturas de maior estabilidade (deitada, sentada) para posturas de maior
desafio (de pé, caminhando). Ao final da intervenção, embora a paciente não
tenha atingido a deambulação, após 1 mês de tratamento
já era possível passar de exercício unilaterais para bilaterais e aumentar o
número de repetições de 5 para 10 e no terceiro mês de 10 para 15, além de
melhor desempenho nas transferências e orstostatismo
sem apoio durante alguns segundos. Os exercícios de Frenkel
foram desenvolvidos a principio para tratamento de pacientes com ataxia, com o
objetivo remediar problemas na marcha [11], mas estudos comprovam a eficácia em
diversas patologias que comprometem o equilíbrio estático e dinâmico. No estudo
de Vaz et al. [10], os resultados encontrados são
compatíveis com o que foi obtido no trabalho de Salmória
et al. [12] que afirmam que os
exercícios de Frenkel melhoram a incoordenação,
propriocepção de membros inferiores e consequentemente, a situação locomotora,
visando o controle do movimento funcional e atuando sobre a percepção
consciente e inconsciente.
Carvalho e Lopes [6]
estudaram um paciente de 34 anos, do sexo masculino portador de SGB
diagnosticada há 1 ano. As primeiras manifestações
clínicas da doença foram alterações sensoriais principalmente nas extremidades
de membros inferiores que foram piorando em algumas semanas, começou a perceber
perda de força muscular, perda de equilíbrio e fadiga muscular e respiratória.
Realizou eletromiografia e o diagnóstico foi confirmado em aproximadamente 2 meses após o início dos sintomas. Após a avaliação foi
estabelecida uma proposta de tratamento fisioterapêutico aplicado durante seis
meses com frequência de três sessões por semana, baseado na promoção da
independência funcional do paciente. Esse programa de tratamento inclui
exercícios, inicialmente passivos, de mobilidade articular e alongamentos
globais, exercícios metabólicos, modulação do tônus muscular e aumento de força
muscular através da técnica de co-contração
associada à hidroterapia. Com a evolução do paciente foram incluídos os
exercícios ativos, ativos assistidos, treino de transferências e equilíbrio em
posturas cada vez mais desafiadoras, exercícios resistidos gradativos em cadeia
cinética fechada e aberta e readequação à função de marcha prejudicada pelo
longo período de paresia que impossibilitavam a posição ortostática e a
deambulação. Segundo Carvalho e Lopes [6] houve um aumento de todas as funções
motoras que serão descritas na Tabela I, determinando a total independência nas
AVD após o programa de tratamento. Segundo Rowland et al. [13], a aplicação da fisioterapia para o paciente portador de
SGB visa acelerar o processo de recuperação, melhorando o desempenho funcional,
a fim de reduzir complicações de déficits neurológicos residuais.
Orsini M et al. [8] falam sobre a indicação de diversas abordagens
fisioterapêuticas que coincidem com o estudo de Carvalho e Lopes [6], como a
aplicação de exercícios resistidos que devem ser realizados cautelosamente para
evitar o excesso de esforço do paciente, o treino de transferências que também
devem ser executados de forma segura, em relação a marcha, alguns pacientes
podem necessitar de prancha ortostática ou dispositivos auxiliares para
melhorar a tolerância e sensibilidade à sustentação de peso para então
progredir com a deambulação. Também são indicadas técnicas de terapias manuais
para melhorar ou prevenir encurtamentos e contraturas musculares,
eletroestimulação nervosa transcutânea (TENS) para controle da dor, técnicas de
facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) que fornecem ao terapeuta
ferramentas de ajuda para otimizar e aumentar o
controle motor do portador da SGB, além da hidroterapia que incentiva a
mobilidade e o fortalecimento muscular.
Morera et al. [14] falam sobre a importância na rápida recuperação de
pacientes quando submetidos precocemente à fisioterapia, após o diagnóstico da
SGB, citando dois casos um no Brasil e outro no México, os pacientes não
receberam nenhuma intervenção fisioterapêutica durante o período hospitalar.
Informações essas que corroboram o estudo de Davidson et
al. com o objetivo de descobrir se essas portadoras de SGB recebem tratamento
fisioterapêutico durante a fase hospitalar e avaliar se o tratamento mostrou
(no caso de pacientes que já tiveram alta hospitalar) ou está mostrando
resultados. Os dados foram avaliados através de um levantamento utilizando
questionários autoadministrados distribuídos através
de uma base de dados nacional. 884 pessoas responderam a esses questionários e
quase 10% dessas pessoas afirmaram não ter recebido tratamento fisioterapêutico
no hospital, e 25% afirmaram não ter recebido tratamento fisioterapêutico após
a alta apesar da identificação de níveis relativamente altos de incapacidade
[15].
Porém, embora o tratamento
fisioterapêutico se faça extremamente necessário ao descobrimento precoce da
SGB, não é dispensável em casos mais tardios ou na manutenção de sequelas
motoras ainda presentes após a remielinização.
Isso fica evidente no
estudo de Ruebenich e Grave [16] que relatam o caso
de uma jovem gestante de 20 anos, que foi diagnosticada com SGB a 6 anos e ainda apresentava queixas como dificuldade na
deambulação e déficit de equilíbrio estático e dinâmico, apesar de ser
totalmente independente nas AVD. Foi submetida a
avaliação cinético- funcional e com base nos resultados obtidos diagnosticou-se
uma paraparesia hipotônica, com diagnóstico fisioterapêutico de limitação
funcional para marcha por fraqueza de dorsiflexores e
plantiflexores de tornozelos, além de fraqueza da
musculatura abdominal e consequente postura hiperlordótica,
e então estabeleceu-se como objetivos o aprimoramento da marcha e do equilíbrio
estático e dinâmico, bem como a redução das algias lombopélvicas, quantificadas por meio da Escala Visual
Analógica. A intervenção ocorreu em 1 sessão semanal
de 1 hora, durante 16 semanas e contou com exercícios como transferência de
peso em sedestação sobre bola terapêutica e passar de
sedestação para ortostatismo,
transferindo todo o peso para o membro inferior direito (MID), para melhorar a
transferência de peso em MMII; Ponte, quatro apoios contraindo o abdômen e
exercícios abdominais, para diminuir hiperlordose
lombar e anteversão pélvica, promover maior controle
de core e reduzir algias lombopélvicas;
Aplicação de bandagem funcional rígida e flexão de dedos e arco plantar para
promover maior mobilidade do tornozelo e melhorar a propriocepção dessa
articulação; Contração excêntrica de quadríceps, passando da posição
ortostática para sedestação lentamente, abdução e
rotação externa de quadril resistida por faixa elástica, passar de sedestação para ortortatismo com
faixa elástica na região dos joelhos, resistindo para abdução do quadril,
extensão de joelho resistida, flexão e extensão de quadril resistida e leg press para fortalecer os MMII
e corrigir o valgo de joelhos; Apoio unipodal,
abdução e extensão de quadril unilateralmente, sobre cama elástica apoiando-se
em terapeuta, inclinação de tronco sobre cama elástica, com terapeuta
estabilizando na altura do quadril, agachamento até 45º de flexão de quadril
sobre Balance Dome, com apoio, marcha sobre bases instáveis, com uma e duas
muletas, apoio unipodal no membro inferior direito,
subindo e descendo rampas e escadas e realização de circuito com apoio em uma
muleta, e segurando uma boneca, para melhorar o equilíbrio estático e dinâmico
e treinar marcha. Após a intervenção, observou-se que
os objetivos propostos na elaboração do plano terapêutico foram alcançados,
tanto os funcionais quanto os específicos.
Freitas et al. [17] diferente dos outros estudos
aqui citados, fez uma intervenção durante a internação de 5 pacientes com SGB,
e teve como conduta a aplicação da Manobra de Empilhamento de Ar (EA) com AMBU
e a de Padrão Ventilatório Fracionado (PVF), a fim de confirmar ou não que
essas técnicas podem aumentar a capacidade de tosse nesses pacientes. Foi
realizada a coleta do pico de fluxo de tosse (PFT) em quatro momentos: pré e pós a realização da técnica de EA e pré e pós a realização do PVF. A técnica de EA foi
realizada com auxílio de AMBU, sendo adicionadas de quatro a seis insuflações
pulmonares seguidas de tosse, após comando do fisioterapeuta. Na aplicação do
PVF os pacientes foram orientados a realizar de três a quatro inspirações, sem
que o ar fosse solto dos pulmões. Após isso a tosse era realizada sob comando do fisioterapeuta. Para mensuração do PFT
utilizou-se o Mini-Wright “Peak
Flow” Meter®. A análise estatística utilizou ANOVA de
dois caminhos, com Post-hoc de Scheffé para valores
de p < 0,05. Os pacientes apresentaram aumento nos valores de PFT após a
realização da técnica de EA (pré: 272 ± 77 vs. pós:
296 ± 77 lpm, p=0,03). Os pacientes também
apresentaram aumento nos valores de PFT após a realização da técnica de PVF (pré: 272 ± 77 vs. pós: 296 ± 99 lpm,
p=0,05). Não houve diferença significante no aumento do PFT entre as técnicas,
quando as mesmas foram comparadas entre si (delta EA: 24 ± 16 lpm vs. delta PVF: 24 ± 19 lpm,
p=0,99). Nesse caso, os autores confirmaram a hipótese da eficiência da conduta
utilizada, mesmo não havendo diferenças significantes entre ambas, quando
comparadas entre si.
No que diz respeito à
fisioterapia respiratória, Souza et al. dizem que
durante a internação, uma das principais preocupações na SGB é quanto à
manutenção da permeabilidade das vias aéreas, visto que os músculos
intercostais e o diafragma podem ser acometidos, originando uma insuficiência
respiratória por fadiga muscular. As neuropatias podem, muitas vezes, levar a
lesões irreversíveis, necessitando de tratamento e cuidados intensivos por uma
equipe multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros e fisioterapeutas
[1].
Garssen et al. [18] dizem em seu estudo, que apesar da recuperação
neurológica dos pacientes com SGB ser relativamente boa, a maioria deles
permanecem com fadiga severa, e que um treino aeróbico pode melhorar a fadiga,
a aptidão física e a qualidade de vida desses pacientes. Assim sendo,
realizaram um estudo inicialmente com 22 pacientes, mas por critérios de exclusão,
restaram 16 que foram submetidos a tratamento de 12 semanas, em três sessões
semanais de treinamento supervisionado em que cada sessão consistiu em 5
minutos de aquecimento (65% da frequência cardíaca máxima como medido pelo
teste de cicloergômetro) e 30 minutos de ciclismo.
Após a primeira semana, a intensidade do treino
aumentou de 70% para um máximo de 90% da frequência cardíaca máxima. Os
batimentos cardíacos foram monitorados continuamente durante todas as sessões.
O treinamento resultou em uma redução de 20% da gravidade da fadiga, resultado
p>0.05 conforme expresso na Tabela I, além de redução dos níveis de
ansiedade, depressão e melhora na qualidade de vida.
El Mhandi et al. [19]
realizaram um estudo com o objetivo de avaliar a recuperação da força muscular
em pacientes com SGB. Sete pacientes foram admitidos ao estudo e no momento da
admissão, os testes de força muscular revelaram fraqueza em extremidades
inferiores em todos os pacientes, especialmente para dorsiflexão
do tornozelo e extensão de joelho, o que os fazia incapazes de deambular sem
assistência, e cinco deles também apresentavam fraqueza muscular em
extremidades superiores. O plano de tratamento foi traçado e adaptado à
condição clínica de cada um, e contavam com exercícios de fortalecimento
muscular e mobilizações ativas, que seriam aplicados em um período máximo de 18
meses após o diagnóstico. Os pacientes apresentaram melhoras significativas na
recuperação da força muscular em um período de 2-6 semanas e cinco deles
puderam inclusive, retornar ao trabalho em um período máximo de 8 semanas.
Fisher et al. [20] realizaram um estudo de caso
com um paciente do sexo masculino, de 30 anos que estava treinando para uma
maratona quando os sintomas se iniciaram. Antes do início do tratamento, o
paciente era incapaz de deambular, mas mostrou conhecimento sobre sua doença e
estava muito motivado à reabilitação. Foi avaliado através da MIF, e obteve
pontuação de 80/126, submetido a testes de força muscular, de coordenação
motora e sensibilidade. A intervenção que teve duração de 3
semanas, com sessões de 1 hora por dia, consistiu em exercícios funcionais e de
fortalecimento muscular. Após as 3 semanas de
tratamento, a mobilidade funcional melhorou significativamente, evoluindo para
113/126 na MIF, tornando-se independente em todas as transferências, além de
alcançar a deambulação fazendo uso de dispositivos manuais bilaterais.
Tabela
I - Tipos de estudo, métodos utilizados e
principais resultados dos artigos revisados. (ver anexo em PDF)
Através do presente
estudo, foi possível concluir que a intervenção fisioterapêutica é muito importante e eficaz na recuperação das limitações funcionais
ocasionadas pela SGB, promovendo ao paciente independência nas AVD e
melhorando a qualidade de vida. Apesar de ser uma doença na qual podem ocorrer
complicações graves, é rápida e facilmente revertida quando traçado um plano de
tratamento adequado para as necessidades de cada paciente.
No entanto, há
necessidade de novos estudos, já que são escassos os que abordam a reabilitação
fisioterapêutica diretamente.