REVISÃO
Biofeedback
associado ou não a outras intervenções fisioterapêuticas em pacientes com
incontinência urinária pós prostatectomia radical
Biofeedback
associated or not with other physiotherapeutic interventions in patients with
urinary incontinence after radical prostatectomy
Alessandra Rodrigues,
Ft.*, Patrícia Zaidan, M.Sc.**
*Fisioterapeuta
com Especialização Lato Sensu em Geriatria e Gerontologia pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ), **Doutoranda em Ciências do Exercício e do
Esporte da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Especialização Lato
Sensu em Fisioterapia Uroginecológica, Fisioterapeuta
colaboradora do Ambulatório de Fisioterapia Pélvica do Hospital dos Servidores
do Estado do Rio de Janeiro, Membro do Grupo de Pesquisa CES/UERJ
Recebido 16 de maio
de 2017; aceito 15 de maio de 2018.
Endereço
para correspondência:
Alessandra Rodrigues: alerodrigues16@yahoo.com.br; Patrícia Zaidan:
patriciazaidan@gmail.com
Resumo
Objetivo: Verificar a
eficácia do biofeedback
em relação à outras intervenções fisioterapêuticas em
pacientes prostatectomizados com Incontinência
Urinária. Material e métodos: A
revisão sistemática buscou as seguintes fontes de dados: Medline,
BVS, PubMed, Lilacs, SciELO e PEDro, nas quais os artigos mais relevantes foram
selecionados, sem limite de data. Os critérios de inclusão foram estudos que
relacionaram prostatectomizados com Incontinência
Urinária e possíveis atendimentos com biofeedback e qualquer outra intervenção fisioterapêutica,
realizados separadamente ou utilizando ambos. Resultados: Dos 64 artigos recuperados, 19 foram excluídos por
estarem duplicados e 41 excluídos por não se adequarem ao tema ou por não
obterem o escore mínimo de 5,0 na Escala PEDro,
restando 4 artigos. Conclusão: Apesar
de algumas limitações, os estudos sugerem que o uso do biofeedback pode representar um
incremento para promoção da continência pós-prostatectomia.
Palavras-chave: incontinência
urinária, prostatectomia, biofeedback.
Abstract
Objective: To determine the effectiveness of biofeedback relative to other
physical therapy interventions in prostatectomy patients with urinary
incontinence. Methods: A systematic
review sought the following data sources: Medline, BVS, PubMed, Lilacs, SciELO and PEDro in which the
most relevant articles were selected, without date limit. Inclusion criteria
were studies that linked prostatectomy with urinary incontinence and possible
consultations with biofeedback and any other physical therapy intervention,
carried out separately or using both. Results:
Of the 64 RCTs retrieved, 19 were excluded because they were duplicates and 41
excluded for not fit the theme or not obtain the minimum score of 5.0 on the PEDro Scale, leaving 4 studies. Conclusion: Despite some limitations, the studies suggest that the
use of biofeedback may represent an increase for promoting continence after
prostatectomy.
Key-words: urinary
incontinence, prostatectomy, biofeedback.
Segundo a Estimativa
de Câncer do INCA, foram estimados 61.200 novos casos de câncer (CA) de
próstata para o Brasil em 2016. Após os tumores de pele não melanoma, o CA de
próstata é o mais incidente entre os homens em todas as regiões do país [1].
A prostatectomia
radical (PR) e a radioterapia são recursos utilizados com intuito curativo para
CA de próstata localizado [2].
A International Continence Society
(ICS) define incontinência urinária (IU) como perda involuntária de urina,
ocasionando um problema social ou higiênico [3]. A IU é uma das complicações
mais incômodas após a PR, com incidência variando de 2% a 87% [4].
O detrimento do
esfíncter interno durante a cirurgia é causa comum de IU, outros fatores que
podem contribuir também são hiperatividade do detrusor, insuficiente
complacência vesical, baixa capacidade da bexiga, disfunção dos Músculos do
Assoalho Pélvico (MAPs) e ainda a variabilidade do
comprimento do esfíncter uretral masculino [5]. Outros fatores de risco para a
IU no pós-operatório são a idade, ressecção transuretral anterior, a técnica
operatória, a preservação ou não dos feixes neurovasculares
e o estadiamento clínico e patológico do tumor [6].
Fisioterapia para os MAPs é recomendada para aumentar o fechamento uretral
durante as perdas urinárias por esforços. Alguns estudos consideram a
reabilitação precoce para recuperar a continência após a PR, podendo reduzir a
frequência da IU de 54 a 72%. Outros estudos relatam que o exercício melhora a
atividade física, reduz fadiga, fortalece a função imunológica e melhora a
qualidade de vida [7,8].
Este tratamento
fisioterapêutico envolve principalmente treino dos MAPs,
eletroestimulação e utiliza métodos comportamentais para fazer contrações
corretas, com instruções verbais ou biofeedback (BF)
[9]. BF refere-se a uma técnica pela qual a informação sobre um processo
fisiológico normalmente inconsciente é apresentado ao paciente e ou para o
terapeuta, como um sinal visual, acústico ou tátil [3]. Há dois tipos de BF, o
manométrico e o eletromiográfico (EMG) [10]. Assim, o
objetivo deste estudo foi, através de uma revisão sistemática, verificar a
eficácia do BF associado ou não a outras técnicas fisioterapêuticas em
pacientes prostatectomizados com IU, averiguando as
implicações para a continência e se a técnica de BF traz vantagem adicional
sobre as outras intervenções.
Foi realizada, nos
meses de maio e junho de 2015, uma pesquisa nas bases de dados eletrônicas,
utilizando-se Medline, PubMed, BVS, SciELO, PEDro e Lilacs, sem restrição de
tempo. Os descritores para esta pesquisa foram consultados no DeCS (BVS) e MeSH
(Medline). Textos, palavras, palavras-chave e títulos
de assuntos utilizados na pesquisa foram buscados por meio da frase principal:
("biofeedback" OR "EMG biofeedback" OR "pressure
biofeedback" OR "incontinence
biofeedback" OR "biofeedback
therapy incontinence"
OR "biofeedback training") AND ("urinary incontinence" OR
"post-prostatectomy incontinence").
Os critérios de inclusão foram estudos que trouxessem como tema, os pacientes prostatectomizados com IU que receberam como intervenção o
BF isoladamente ou combinado com outras técnicas fisioterapêuticas; comparando
se houve superioridade de uma intervenção sobre outra, para isto dar-se-á uma
revisão sistemática.
A qualidade dos
estudos foi avaliada usando a Escala PEDro
(Physiotherapy Evidence Database) sendo selecionados aqueles que obtiveram no
mínimo o escore 5,0.
A busca eletrônica
identificou 64 artigos potencialmente relevantes. Destes artigos, 19 foram
excluídos por estarem duplicados e 41 foram excluídos por não se adequarem ao
tema estudado. Quatro estudos foram incluídos na Revisão Sistemática. Esta
identificação e exclusão de registros pode ser melhor
visualizada na Figura 1.
T/to-tratamento;
C/- com; enferm- enfermeira; IUU- Incontinência
urinária de urgência; IUE- Incontinência urinária de esforço.
Figura
1 – Fluxograma.
Tabela
I - Estudos que utilizaram o biofeedback,
treinamento dos MAPs e eletroestimulação para
incontinência urinária em prostatectomizados.
BF = Biofeedback; EE = Estimulação Elétrica; EMG =
Eletromiografia; G1 = Grupo um; G2 = Grupo dois; IU = Incontinência Urinária;
PR = Prostatectomia Radical; TMAPs
= Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico.
Quatro estudos
[9,11-13] utilizaram como intervenção o uso de BF. Os estudos 9,11,12 utilizaram o BF eletromiográfico
(EMG) e o estudo 13 cita que foi usado o BF como intervenção, mas não esclarece
qual o tipo e não há especificações do seu uso. No estudo 9
houve melhora significativa do grupo de tratamento, no qual foi usado BF,
apresentando em seis meses um valor de continência de 96,7% contra 66,7% no
grupo controle e entre os grupos o valor P<0,05. Ahmed et al. [11] mostraram que a taxa de continência foi
significativamente maior no grupo que utilizou BF, em relação ao grupo que
recebeu Estimulação Elétrica com o grupo controle (instruções sobre exercícios
dos MAPs), os valores dos grupos foram
respectivamente de 96,43%, 76,92% e 65,38%, apresentando o p<0,05 no aumento
da taxa de continência do grupo que utilizou BF em relação aos outros grupos.
No estudo de Kampen et al. [13] demonstrou-se a superioridade em 3 meses da taxa de
continência no grupo de tratamento em comparação com o grupo controle, com
P=0,001 de 88% contra 56% do grupo controle. A duração da incontinência foi
significativamente menor no grupo de tratamento do que no controle, com P=0,0001.
O grau de incontinência após um ano foi significativamente menor (P=0,0010) em
pacientes do grupo de tratamento. Dos quatro estudos que utilizaram o BF na
intervenção, somente um [12] relatou que instruções verbais e BF tiveram a
mesma efetividade na incontinência urinária, apresentando entre grupos um
P>0,05.
Os artigos relataram
que o tipo de cirurgia utilizado para o CA de próstata foi a Prostatectomia Radical e os artigos 4,7,12
citaram que foi utilizada a técnica cirúrgica retropúbica.
Alguns estudos [9,11,13] utilizaram o Estadiamento do Câncer, com a classificação TNM. Mariotti et al. [9]
relacionaram o estadiamento patológico com o
comprometimento dos linfonodos regionais (pT2pN0 e pT3N0). Ahmed et al. [11] relataram estágios de tumor de
T1 até T3 e estágio patológico de pT2 e pT3. Kampen et al. [13] observaram pacientes com estadiamento do tumor de T1 à T3 e tumor patológico de pT2a
até pT3.
No tratamento para IU
de homens prostatectomizados a International Continence Society
(ICS) recomenda para os três tipos de incontinência, ou seja, de Esforço, Mista
e de Urgência o uso de BF, utilizado com outras formas de intervenção ou não,
relatando também a importância de se abordar mudanças no estilo de vida e uso
de produtos para incontinência [14].
Dos quatro estudos
incluídos nesta revisão sistemática, quatro relataram o uso de BF. Dentre
estes, apenas no estudo 12, o grupo que utilizou BF não apresentou
superioridade desta técnica sobre o outro grupo que utilizou TMAPs e feedback verbal (p >
0,05), mesmo assim houve melhora da IU nos dois grupos estudados. Nos outros
estudos [9,11,13] o BF trouxe incremento para a
continência, com valores respectivos de p = 0,0004, p < 0,05 e p = 0,0001.
Dois estudos [9,13] utilizaram o BF juntamente com a Estimulação Elétrica (EE).
Um estudo [13] associou o BF com o TMAPs e relatou
que usou EE somente em alguns pacientes que não conseguiam contrair o Assoalho
Pélvico ou que tinham uma contração fraca. Provavelmente este recurso foi
utilizado, pois a ICS relata que o uso da EE tem como objetivo induzir uma
resposta terapêutica ou para modular o trato urinário inferior, e também o
intestino ou a disfunção sexual [14]. Somente no estudo [13] foi utilizado em
um grupo o BF associado ao TMAPs. Segundo a
Associação Europeia de Urologia (EAU) em estudos que o BF é realizado sem o TMAPs não há controle do treinamento muscular e não se sabe
se este treino está sendo realizado de forma correta ou não [15]. Então, o mais
fidedigno seria alocar os pacientes em dois grupos: um com TMAPs
e outro com os mesmos exercícios de TMAPs e BF.
Dos quatro estudos,
somente um [13] não relatou o tipo de BF utilizado, os outros [9,11,12] utilizaram BF eletromiográfico.
Na Revisão de Literatura de Glazer et al. [16] 67% dos
estudos que relataram maior alívio dos sintomas da IU, foram os que usaram BF eletromiográfico.
A EAU recomenda que
após avaliação e diagnóstico da incontinência pós prostatectomia,
seja aplicado TMAPs e BF no pós-operatório imediato e
em casos de incontinência leve [15]. A PR tem baixos níveis de IU grave no CA
de próstata localizado [17]. Para sabermos a localização e gravidade do CA,
faz-se necessário sabermos as definições do Estadiamento
do CA [18], com a classificação TNM. A classificação e o estadiamento
do CA possibilitam ao profissional que irá registrar a doença, fazer a
estratificação de pacientes, dando-lhes oportunidade de melhores decisões
terapêuticas e permitindo uma linguagem comum a todos, que auxiliará a criação
de ensaios clínicos para futuras estratégias de tratamento para a doença [18].
A IU após prostatectomia causa grande impacto negativo na qualidade
de vida do indivíduo, podendo gerar dificuldades psicológicas, depressão, além
de complicações como Infecção do Trato Urinário e dermatites, afetando a
autoestima do paciente [19] e consequentemente sua qualidade de vida. Os
estudos analisados na presente revisão relataram melhora da IU e de sua duração
em 6 meses [9].
A presente revisão
sugere que o uso do biofeedback pode representar um
incremento eficaz para o tratamento de pacientes com IU após prostatectomia radical.