ARTIGO
ORIGINAL
Papinhas
industrializadas na introdução alimentar de lactentes e suas características
Industrialized baby foods in the feeding of infants and their
characteristics
Jessyca Cristina Picoli
Silva*, Michele Pereira Netto**
*Graduanda
em Nutrição pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, **Doutora em
Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Docente em
Nutrição pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF
Endereço
para correspondência:
Jessyca Cristina Picoli Silva, Rua Raimundo Corrêa,
1105/102 Nova Era 36087-040 Juiz de Fora MG, E-mail: jessycapicoli@hotmail.com;
Michele Pereira Netto: michele.netto@ufjf.edu.br
Resumo
A alimentação do
nascimento até os primeiros anos de vida promove implicações à saúde. A
introdução da alimentação complementar deve ser em forma de papas; utilizando
este nicho de mercado, as indústrias vêm se expandindo. Para garantir a
segurança, crescimento e desenvolvimento saudável, a composição das papinhas
deve ser variada e oferecer todos os tipos de nutrientes. Este estudo teve como
objetivo avaliar as informações nutricionais, composição e aditivos em papinhas
de duas empresas, comparando com as necessidades nutricionais. Os dados
coletados nos websites das empresas foram: embalagem, validade, composição e
informação nutricional de todas as papinhas doces e salgadas e porcentagem de
adequação das necessidades. O estudo baseou-se nas recomendações do Guia
Alimentar do Ministério da Saúde Brasileiro. Os resultados sugerem que se deve
dar prioridade aos alimentos in natura ou minimamente processados,
desestimulando o consumo frequente de papinhas industrializadas.
Palavras-chave: alimentos infantis,
alimentação complementar, manipulação de alimentos, alimentos industrializados.
Abstract
Feeding from birth to the first years of life has health implications.
The introduction of complementary food should be in the form of potatoes; Using this niche market, industries have been expanding. To
ensure safety, growth and healthy development, the composition of the baby food
should be varied and offer all kinds of nutrients. The objective of this study
was to evaluate the nutritional information, composition and additives in baby
foods from two companies, comparing with nutritional requirements. The data
collected on the companies' websites were: packaging, validity, composition and
nutritional information of all baby foods, sweet and salty, and percentage of
adequacy of needs. The study was based on the recommendations of the Food Guide
of the Brazilian Ministry of Health. The results suggest that priority should
be given to natural or minimally processed foods, discouraging the frequent
consumption of industrialized baby foods.
Key-words: infant food,
supplementary feeding, food handling, industrialized foods.
O aleitamento materno
é a melhor estratégia natural de vínculo, afeto, proteção e nutrição para a
criança. A manutenção do aleitamento materno é vital assim como a introdução de
alimentos seguros na dieta da criança, que deve ser oportuna e de forma
adequada [1].
A partir dos 6 meses de idade, o leite materno não supre todas as
necessidades nutricionais das crianças, sendo fundamental a introdução da
alimentação complementar, visto que também a partir dessa fase inicia-se o
desenvolvimento geral e neurológico da criança. A alimentação complementar é a
introdução de outros alimentos além do leite materno oferecidos durante o
período de aleitamento. Esse período é de elevado risco para o bebê, tanto pela
oferta inadequada de alimentos quanto pelo risco de contaminação por
manipulação inadequada. Práticas maternas adequadas de manejo,
preparo, administração e estocagem dos alimentos complementares podem
reduzir a contaminação dos mesmos. A introdução deve ser de forma gradual sob a
forma de papas e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à
alimentação da família. A composição deve ser variada e oferecer todos os tipos
de nutrientes e grupos alimentares: cereais, tubérculos, carnes, leguminosas,
frutas e legumes [2,3].
Segundo a Sociedade
Brasileira de Pediatria [4], a alimentação complementar adequada deve
compreender uma composição equilibrada de alimentos com quantidade adequada de
macro e micronutrientes com destaque para ferro, zinco, cálcio, vitamina A,
vitamina C e ácido fólico. Devido à praticidade, muitos pais optam por oferecer
algum produto industrializado, cujo preparo consiste em apenas adicionar um
pouco de água a ele ou cozinhá-lo rapidamente para que seja consumido. Os alimentos
industrializados contêm, na sua formulação, aditivos que poderão desencadear,
mais tarde, uma série de problemas à criança. São conservantes, acidulantes, espessantes, estabilizadores, aromatizantes, corantes, entre
tantas outras substâncias.
A Resolução n.º 31/92
do Conselho Nacional de Saúde [5], regulamenta a produção de alimentos
direcionados aos bebês, como leites modificados e papinhas prontas, o que nem
sempre configura a melhor escolha para eles. Além disso, é possível que estes
alimentos não atendam corretamente as necessidades nutricionais dos lactentes.
Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira [6], apesar da facilidade
e praticidade que os alimentos industrializados oferecem no dia a dia, deve-se
sempre dar prioridade aos alimentos in natura ou minimamente processados, além
de reservar um horário para as refeições e tempo para uma alimentação
equilibrada e saudável, já que as escolhas alimentares vão influenciar a saúde
e os hábitos ao longo da vida. Dessa forma, é importante para a saúde do
lactente que sua alimentação seja a mais natural possível.
Diante disso, o objetivo do presente
estudo foi descrever a composição nutricional e presença de aditivos de
papinhas industrializadas, comparando com as necessidades nutricionais diárias
de lactentes e verificar o uso de aditivos nesses produtos.
Para a coleta de
dados, utilizaram-se informações presentes no website de duas marcas de
papinhas no mercado.
Os dados foram
registrados em tabelas para avaliação e comparação da composição e valor
nutricional das papinhas. Cada empresa teve suas papinhas analisadas
qualitativamente quanto aos seus ingredientes e presença de aditivos e
conservantes, dados fornecidos pelos rótulos alimentares. No total, foram
analisadas 31 papinhas. A análise das papinhas foi dividida por empresa e
agrupada de acordo com a faixa etária: a partir de 6
meses de idade (etapa 1 e 2), a partir de 8 meses de idade (etapa 3) e a partir
de 12 meses de idade (etapa 4).
Em relação à
composição das papinhas, foram analisados os ingredientes mais citados e os
aditivos presentes. Quanto ao valor nutricional, foram avaliadas apenas as
informações fornecidas pelo rótulo, que são: valor energético, carboidratos,
proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans,
fibra alimentar e sódio. Foi feito uma média dos valores de cada nutriente, da
porção e do valor energético de todas as papinhas para avaliar se atendem as
necessidades nutricionais de cada faixa etária. Através dos valores obtidos
pelas médias, calculou-se o percentual de adequação dos nutrientes segundo as
recomendações diárias do Instituto de Medicina [7,8].
Para a comparação do valor energético,
foi necessário o cálculo anterior da Necessidade Energética Estimada, em inglês
Energy Efficiency
Ratio - EER [8] para as três faixas etárias. Para
o cálculo, utilizaram-se 7 meses para representar a
faixa etária de 6 a 8 meses, 10,5 meses representando 8 a 12 meses e 18 meses
para representar de 12 a 24 meses. Para melhor padronização, utilizaram-se
como referência, em todas as fórmulas, o sexo masculino.
As papinhas são
divididas em doces e salgadas, por faixa etária e modo de embalagem. A marca A
possui 26 papinhas no total, 8 doces e 18 salgadas.
São divididas em etapas 1 e 2, para lactentes a partir
do 6° mês, etapa 3, a partir do 8° mês e etapa 4, a partir do 12° mês e utiliza
apenas embalagem de vidro. Segundo informações do site da marca A, a tecnologia
de fechamento a vácuo dispensa o uso de conservantes e garante a qualidade do
produto por um período de um ano.
A marca B possui 5 papinhas no total, 2 doces e 3 salgadas. Possui apenas uma
etapa, todas as papinhas são a partir do 6° mês e utiliza embalagem de plástico
sem bisfenol. Ambas as empresas apresentam o mesmo
prazo de validade das papinhas. A empresa A não utiliza produtos orgânicos nas
suas papinhas, já a empresa B utiliza produtos orgânicos em suas papinhas e
possuem selo de certificação de produto orgânico.
Na Tabela I, seguem
características gerais das papinhas avaliadas.
Tabela
I – Principais características das papinhas
avaliadas.
Dados do website, 2017
As papinhas da marca
A da etapa 1 e 2 apresentam consistência lisa e
homogênea; a etapa 3 com consistência mais espessa e com pedacinhos que
estimulam a mastigação e etapa 4 com uma consistência mais espessa e com
pedaços. Segundo informações do site da marca A, as papinhas doces não são
adicionadas de açúcar (sacarose), porém, possuem açúcares naturalmente
presentes nas frutas. As papinhas salgadas da etapa 2
não são adicionadas de sal, porém possuem o sódio naturalmente presente nos
legumes e vegetais. Já as papinhas salgadas das etapas 3
e 4 contêm pouco sal.
Na marca B, que
possui apenas uma etapa, todas as papinhas têm consistência lisa e homogênea.
Na Tabela II,
encontra-se a composição das papinhas avaliadas e seus principais aditivos.
Tabela
II –
Composição das papinhas avaliadas.
Dados do website, 2017
Pode-se perceber que
apenas a marca A utiliza óleos e proteínas de origem animal na preparação das
papinhas.
Na Tabela III, é
apresentada a média das informações nutricionais de todas as papinhas divididas por doce e salgada, marca e etapa. Contém apenas
as informações nutricionais que são obrigatórias no rótulo de alimentos de
acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa
[9].
Deve-se destacar,
entretanto, que é importante avaliar também outros nutrientes como vitaminas e
minerais que são essenciais na fase infantil, porém essas informações não são
acessíveis já que não são obrigatórias nos rótulos dos produtos.
Tabela
III
– Informação nutricional média das
papinhas avaliadas.
Médias dos dados dos
websites, 2017
De acordo com
informações do site da marca A, as
papinhas salgadas que possuem fumarato ferroso e
lactato ferroso atingem 63% das necessidades diárias de ferro do lactente.
Porém, vale ressaltar que não foi fornecida pelo fabricante a quantidade de
ferro vinda dos alimentos. Sendo assim, é provável que grande parte desse ferro
seja fornecido pelo aditivo alimentar e não pelo
próprio alimento.
Utilizando a
informação nutricional média das papinhas, calcula-se a necessidade diária
atingida, em porcentagem, de cada item do quadro 3 de
acordo com a recomendação do Instituto de Medicina [7,8] para lactentes de 7 a
11 meses e 1 a 3 anos. Para realização do cálculo de porcentagem do valor
energético, calculou-se anteriormente a EER [8], representando as quatro etapas
das papinhas. As EER’s calculadas e utilizadas nos
cálculos de porcentagem de adequação ficaram assim determinadas: 6 a 8 meses =
651,8 kcal/dia, 8 a 12 meses = 749,7 kcal/dia, e >12meses = 899 kcal/dia.
Na Tabela IV,
encontram-se os valores obtidos para cada item, representando a etapa de cada
papinha por marca.
Tabela
IV –
Necessidade diária atingida, em
porcentagem, de acordo com a informação nutricional fornecida na tabela
anterior.
Os autores, 2017
De acordo com os
valores da Tabela IV, pode-se perceber que as papinhas analisadas atendem pouco
às necessidades diárias dos lactentes de um modo geral. As papinhas salgadas da
marca A provavelmente atendem melhor à recomendação de proteína, pois possuem
proteína de origem animal em sua composição. Já as papinhas salgadas da marca B
não possuem nenhuma proteína de origem animal. Há uma diferença significativa
entre a porcentagem do valor energético de papinhas salgadas entre as duas
marcas, que pode ser influenciada tanto pela proteína utilizada quanto pela
gordura. As papinhas da marca A, utilizam óleo de canola e óleo de milho em sua
composição. Já as papinhas da marca B não utilizam nenhum tipo de gordura
vegetal. Além disso, pode-se perceber que as papinhas que utilizam adição de
sal em sua composição elevam os valores percentuais diários de sódio. Deve-se
destacar que o consumo somado de várias papinhas em um dia, podem ultrapassar
as necessidades diárias do lactente.
A principal função
das embalagens é proteger o produto, porém apresenta também outras finalidades,
dentre elas a de facilitar e assegurar o transporte e distribuição do alimento,
identificar o conteúdo em qualidade e quantidade, atrair a atenção do comprador
e identificar o fabricante e o padrão de qualidade. Para atingir essas
finalidades, alguns requisitos são de fundamental importância como: não ser
tóxica e ser compatível com o produto, dar proteção sanitária, ter resistência
ao impacto, ter facilidade de abertura, não agravar os problemas de poluição e
ser adequada à forma, tamanho e peso do produto. As fontes de matéria-prima
empregada nas embalagens podem ser de origem animal, vegetal, mineral e
sintética [10].
A marca A apresenta
fonte de origem mineral (embalagem de vidro) e a marca B fonte de origem
sintética (embalagem de plástico). Entre as principais vantagens do uso do
vidro como recipiente de alimentos destaca-se: atóxico, inerte quimicamente à
maioria das substâncias, resistente às temperaturas de esterilização até 100°C,
impermeabilidade e melhor visualização do produto. No entanto, alguns
inconvenientes limitam seu uso, tais como o excesso de peso, preço mais
elevado, facilidade de quebra e pouca resistência às temperaturas de esterilização
acima de 100°C [11].
Os materiais
plásticos, usados pela marca B vêm ganhando cada vez mais espaço no mercado
devido ao menor custo e praticidade. Por outro lado, as embalagens plásticas
são a classe que mais interage com os alimentos, sendo o peso molecular,
umidade e temperatura os fatores que afetam as propriedades de barreira [12].
Os plásticos são fabricados com polímeros produzidos principalmente a partir de
derivados do petróleo ou carvão. As embalagens plásticas, por sua vez, possuem
características que dependem do tipo de material e de sua composição
estrutural. Os mais usados em embalagens alimentícias são termoplásticos como o
polietileno e o polipropileno [11]. A marca B utiliza uma embalagem plástica
livre de bisfenol A, que confere proteção contra os
efeitos da luz e umidade, maximizando o tempo de vida útil do produto [13].
O Bisfenol
A (BPA) é um produto químico-industrial que, em sua forma monomérica é
amplamente utilizado na produção de resinas epóxi e embalagens plásticas [12].
Segundo Fontenele e Martins [14], por apresentar uma composição química
semelhante ao hormônio feminino (estrógeno), o Bisfenol
A pode agir como um desregulador endócrino, e estudos
realizados com animais mostraram que o BPA pode causar problemas neurológicos,
sobretudo em crianças expostas à substância química nos primeiros anos de vida
[15]. Por isso, vale ressaltar a importância da utilização de embalagens livres
de bisfenol A no armazenamento de suas papinhas.
A exposição repetida
faz parte do processo de familiarização com alimentos que se iniciam com o
desmame e a introdução de alimentos mais pastosos e sólidos, durante o primeiro
ano de vida da criança. O Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos [2] recomenda que a alimentação complementar seja
espessa desde o início, oferecida de colher, deva começar com consistência
pastosa e gradativamente aumentar a sua consistência, até chegar à alimentação
da família. Dentre as empresas analisadas, observou-se que marca A apresenta
maior variedade de papinhas doces e salgadas em relação à marca B. As papinhas
da marca A são divididas em etapas (6 meses, 8 meses e
12 meses), aumentando a consistência gradativamente, de pastosa para uma
consistência mais espessa com pedaços. Já a marca B apresenta somente uma etapa
(a partir dos 6 meses), sendo todas as papinhas
pastosas. Devem ser ofertado a criança diferentes
alimentos ao dia, pois, segundo o Guia Alimentar para Crianças Menores de 2
anos [2], uma alimentação variada deve ser colorida, estimulando o consumo
diário de frutas, verduras e legumes nas refeições, assegurando o consumo
adequado de nutrientes. Recomenda-se a utilização diária de alimentos dos
vários grupos alimentares, obtendo fonte de energia, proteína, vitaminas e
minerais. É importante observar o uso de óleo vegetal nas papinhas, pois é
fonte de ácidos graxos essenciais e energia, contribuindo assim para o aumento
da densidade energética da preparação, além de melhorar o sabor e viscosidade
[16].
A marca A utiliza
dois tipos de óleo vegetal em suas papinhas salgadas, já a marca B não utiliza
nenhum tipo de óleo. Nos resultados do presente estudo, pode-se perceber que há
bastante diferença entre o valor energético das papinhas salgadas entre as duas
marcas, o que pode ser explicado, também, pela adição do óleo vegetal apenas
nas papinhas da marca A. As refeições principais devem conter alimentos-fonte
de ferro-heme (carnes) e ferro não-heme (hortaliças
folhosas e leguminosas) e utilizar condimentos naturais e suaves, como cebola,
salsinha e alho, sempre com adição mínima de sal [2,16].
Apenas a marca A
utiliza fontes de ferro heme (carnes) em suas papinhas. Ambas as marcas
acrescentam sal em suas papinhas salgadas e utilizam poucos condimentos
naturais. A marca A utiliza cebola em suas papinhas salgadas, a marca B utiliza
cebola em pó. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria [4], o planejamento
da papinha salgada deve conter nutrientes favoráveis ao crescimento saudável do
bebê. Para isso, deve conter os seguintes grupos alimentares: cereal ou
tubérculo, alimento proteico de origem animal, leguminosas e hortaliças. As
papinhas da marca A apresentam na mesma preparação a combinação de cereal,
amido e tubérculo, elevando bastante o teor de carboidrato da preparação, o que
acontece, também, com a marca B.
Na fase inicial da
alimentação complementar é aconselhável oferecer frutas e legumes e evitar
papinhas com farinhas, cereais e mingaus a base de açúcar. A digestão do amido
se inicia entre seis e nove meses e seu o consumo elevado pode causar uma
gastroenterite [17]. A maioria das papinhas doces da marca A apresentam em sua
composição amido e farinhas desde a fase inicial, sendo que o principal
ingrediente, que teria que ser a fruta, não é o primeiro ingrediente da lista,
ao contrário da marca B, cujo principal ingrediente é a fruta, e são isentas de
farinhas e amido. A portaria n º 34 de 13 de janeiro de 1998, da Secretaria de
Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde [18] lista
os Alimentos de Transição para Lactentes e Crianças de Primeira Infância e
permite os seguintes ingredientes no preparo: concentrados proteicos e outros
ingredientes de alto teor proteico apropriados para o consumo por lactentes e
crianças de primeira infância; aminoácidos essenciais para melhorar a qualidade
das proteínas, porém, somente em quantidades necessárias para este fim; sal
iodado; leite e derivados lácteos; cereais; ovos (quando usada a clara de ovo,
somente em produtos consumidos após 10 meses de idade); carnes e peixes; óleos
e gorduras vegetais; frutas, hortaliças e leguminosas, tubérculos; açúcares;
malte; mel; cacau (somente em produtos consumidos após os 9 meses de idade); amido
e macarrão [18].
A orientação do Guia
Alimentar para crianças menores de 2
anos adota a
recomendação da Organização Mundial da
Saúde - OMS de oferecer três refeições
por dia para as crianças amamentadas e cinco
refeições para as que não recebem
leite materno. Até completar 6 meses, a criança deve
receber aleitamento materno exclusivo e, a partir de 6 meses, incluir papa de
fruta e papa salgada, continuando com o aleitamento materno. Ao completar 7 meses, deve-se oferecer uma segunda papa salgada e,
somente aos 8 meses, passar gradativamente para a alimentação da família,
consumindo aos 12 meses a comida da família como um todo [2]. Além disso, de
acordo com o Guia Alimentar para a população brasileira, a constituição da
autonomia para escolhas alimentares mais saudáveis não depende apenas de
escolhas do próprio indivíduo, mas também do ambiente onde ele vive. Muitos
fatores podem influenciar positivamente ou negativamente a alimentação da
família. Alimentos in natura e
minimamente processados devem ser a base da
alimentação, visando uma melhor qualidade de vida, saúde e prevenção de
possíveis doenças crônicas no futuro. Também valoriza o ato de cozinhar e
preparar os alimentos, resgatando as habilidades culinárias [6].
Sendo assim, preparar
papinhas caseiras com alimentos in natura e frescos contribui para a saúde do
lactente, além de melhorar o processo de familiarização com os alimentos que se
inicia na introdução alimentar. A exposição frequente a alimentos
industrializados pode gerar hábitos alimentares indesejáveis ao longo da vida.
É possível que uma maior familiarização com alimentos industrializados desde a
infância aumente a chance de consumir frequentemente estes alimentos na vida
adulta.
Aditivos alimentares
são substâncias não nutritivas adicionadas intencionalmente ao alimento,
geralmente em poucas quantidades para melhorar a aparência, sabor, textura e
propriedades de armazenamento [11]. Vitaminas, sais minerais, aminoácidos e
fibras podem ser adicionados aos alimentos como aditivos chamados nutricionais,
cuja finalidade pode ser a correção de deficiências alimentares quanto à
manutenção da qualidade nutricional do alimento, conforme descrito pela Anvisa [19].
Ambas as marcas
analisadas utilizam aditivos em suas papinhas. A marca A utiliza, na maioria de
suas papinhas doces, o acidulante ácido cítrico, e a marca B utiliza o ácido
ascórbico. Os aditivos acidulantes são substâncias que conferem sabor ácido aos
produtos [10]. O ácido cítrico apresenta alta solubilidade em água e funciona
como quelante de metais como cobre e ferro. O ácido
ascórbico em solução aquosa possui facilidade para ser oxidado, ele protege
outras espécies químicas de se oxidarem, sendo um ótimo antioxidante. Assim,
para evitar que o alimento sofra alteração, atualmente muitos alimentos
industrializados recebem adição de vitamina C [12].
Não só a acidez dos
alimentos é alterada pelos compostos acidulantes; essas substâncias também
desempenham outras funções, como regulador de pH,
atuando como tampão nas mais diversas etapas do processamento de alimentos e
diminuindo a resistência de microrganismos; agente flavorizante, disfarçando
gostos desagradáveis de outras substâncias e tornando o alimento mais saboroso;
conservadores, controlando o crescimento e desenvolvimento de bactérias
patogênicas e seus esporos.
Além disso, os
acidulantes impedem o escurecimento dos alimentos, modificam a textura de
confeitos, realçam a cor vermelha das carnes, contribuem para a extração da
pectina e pigmentos de frutas e vegetais, alteram o sabor doce em alguns
alimentos e evitam a cristalização indesejada do açúcar [20].
Porém, em doses
elevadas os aditivos podem causar toxicidade. Outros aditivos utilizados pela
marca A em suas papinhas salgadas são o lactato ferroso e o fumarato
ferroso, que são fontes de ferro utilizadas para fortificar o produto
alimentício. O lactato ferroso é considerado um ferro de alta
biodisponibilidade, mas apresenta a desvantagem de interagir com a matriz
alimentar, modificando suas características sensoriais, devendo ser utilizado
para fortificar alimentos estocados por curto período tempo, apesar de a marca
A utilizar esse aditivo mantendo a validade de seu produto por 12 meses.
O fumarato
ferroso é um sal do ácido fumárico com o ferro pouco
solúvel em água e solúvel em ácidos diluídos, que geralmente não causa tantas
alterações organolépticas, e com isso melhora a retenção do mineral no produto
final, possibilitando melhora na biodisponibilidade [21].
De acordo com
informações da marca A, as papinhas que possuem fumarato
ferroso e lactato ferroso atingem 63% das necessidades diárias de ferro do
lactente. Porém, vale ressaltar que não foi fornecida pelo fabricante a
quantidade de ferro vinda dos alimentos. Sendo assim, é provável que grande
parte deste ferro seja fornecido pelo aditivo
alimentar e não pelo próprio alimento. Segundo a rotulagem nutricional
obrigatória [9], não é obrigatório conter informações sobre ferro no rótulo.
Talvez a legislação
deva ser reavaliada pelo Ministério da Saúde, pelo menos para produtos voltados
para a alimentação infantil, já que os micronutrientes também são
indispensáveis para o crescimento e o desenvolvimento adequado da criança,
principalmente na introdução alimentar de lactentes.
O desenvolvimento
saudável da criança depende de uma alimentação adequada. A introdução alimentar
de lactentes deve ser completa nutricionalmente,
segura e atender às necessidades da criança. A procura por alimentos prontos
aumentou no público adulto e vem aumentando para o público infantil. Com a
inserção da mulher no mercado de trabalho e a falta de tempo, os pais procuram
nas papinhas industrializadas uma opção de alimento rápido e que atenda às
necessidades de seu filho. Conclui-se com o presente estudo que as papinhas
analisadas das duas empresas não atendem corretamente às necessidades
nutricionais dos lactentes e sua composição não possui todos os grupos de
alimentos como recomenda o Guia Alimentar para crianças menores de 2 anos. Além de não serem nutricionalmente
completas e possuírem aditivos alimentares em sua composição. Portanto, deve-se
desestimular o consumo frequente de papinhas industrializadas e dar preferência
a papinhas caseiras com alimentos in natura como recomenda o Guia Alimentar
para a população brasileira. O consumo de papinhas caseiras melhora a
familiarização da criança com os alimentos, resgata os hábitos culinários e de
realizar a própria refeição dos pais e estimula hábitos saudáveis,
possivelmente diminuindo o consumo frequente de alimentos industrializados na
vida adulta.