EDITORIAL
Emagrecimento
e atividade física melhora o quadro da Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica
Martha Elisa Ferreira
de Almeida*
*Universidade
Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba (UFV/CRP)
Correspondência: E-mail:
martha.almeida@ufv.br
A ingestão alimentar
é uma condição primordial na vida dos seres humanos. Entretanto, a população
brasileira e de várias partes do mundo vem consumindo um excedente de calorias,
fato que pode resultar no excesso de peso corporal. Segundo dados de 2016 do
Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares, dos 5 bilhões de adultos de todo o mundo, cerca de 2 bilhões
apresentavam sobrepeso ou obesidade, e dentre as 667 milhões de crianças com
menos de 5 anos, 41 milhões apresentavam sobrepeso [1]. Tal fato é preocupante,
visto que o excesso de peso corporal é um dos principais fatores que contribuem
para o surgimento da Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA) [2].
O acúmulo de
moléculas de triacilgliceróis nos hepatócitos ocorre pelo aumento da lipogênese
mediante o sedentarismo, fatores hereditários ou pelo consumo elevado de
alimentos ricos em macronutrientes [3], com destaque para as dietas ricas em
frutose que têm contribuído diretamente para a DHGNA [4,5]. Outros fatores como
o jejum intermitente, e uma rápida e significativa perda de peso na desnutrição
severa, no pós-operatório de cirurgias intestinais e do pâncreas, podem levar
ao quadro da DHGNA [6], que é caracterizada por um excedente de 5% do peso do
fígado na forma de lipídios [7]. O tratamento da obesidade pela cirurgia
bariátrica tem contribuído para reverter o quadro da DHGNA [8].
A DHGNA pode
contribuir para o surgimento da fibrose hepática. Já foi descrito que o binômio
do índice de massa corporal elevado e a presença do vírus da hepatite C
contribuem para a DHGNA e o avanço da fibrose hepática [9]. Caso o tratamento
da DHGNA não seja adequado, tal condição patológica pode progredir para a
cirrose, o carcinoma hepatocelular [4] e a encefalopatia hepática, e em alguns
casos necessitar de um transplante deste órgão [10].
Estima-se que 10 a
24% da população mundial possuam a DHGNA [11], e tais dados têm aumentado em
virtude da prevalência da obesidade em todos os estágios de vida [4], sendo que
tal acúmulo de lipídios no fígado pode atingir de 57,5 a 74% dos indivíduos
obesos [11]. Em crianças e adolescentes obesos, a DHGNA tem sido identificada
com frequência pela ultrassonografia hepática, mesmo na ausência de alterações
dos níveis séricos das aminotransferases [12].
O diagnóstico da
síndrome metabólica em crianças e adolescentes [12], adultos [3] e idosos [13],
ou de desordens associadas a esta síndrome como a obesidade, a hipertensão
arterial e a elevação dos níveis glicêmicos tem sido correlacionada à presença
da DHGNA [3].
Pode ocorrer uma
redução do teor dos triacilgliceróis depositados no fígado [14], mediante
treinamento físico funcional ou concorrente [15], e a redução do peso corporal
[16], principalmente do tecido adiposo abdominal que está diretamente
relacionado com a DHGNA [17]. A redução do peso corporal tem melhorado o quadro
da DHGNA e da fibrose hepática, principalmente nos pacientes que diminuíram
mais de 10% de seu peso corporal [18].
Tem sido observada
uma grande dificuldade de mudanças no estilo de vida de muitos indivíduos, para
evitar o uso de dietas hipercalóricas e ricas em açúcares e lipídios, bem como
permanecer com tais mudanças durante vários anos. Sendo que tais alterações
comportamentais são fundamentais para o emagrecimento e a reversão da DHGNA
[18,19]. Para que tal fato ocorra, merece destaque a ingestão dos alimentos
ricos em fibras que podem estar presentes em alimentos convencionais, bem como
nas Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) [20].
Assim, mudanças no
estilo de vida pela prática de atividade física e a adoção de hábitos
alimentares saudáveis, quanto aos aspectos quali-quantitativos dos nutrientes e
compostos bioativos, que promovam uma redução de peso corporal e do tecido
adiposo abdominal devem ser uma prioridade dos pacientes com DHGNA em qualquer
estágio de vida, tanto como estratégia prognóstica quanto terapêutica.