ARTIGO ORIGINAL
Importância do ensino
da oncologia na formação do profissional nutricionista: caracterização do
ensino no Piauí
Importance of
oncology teaching in the training of the nutritionist: characterization of teaching in Piauí
Maria
dos Milagres Farias da Silva*, Tatiany Caroliny
Santana Castro**
*Mestranda em Ensino na
Saúde – (UECE), Pós-Graduação em Oncologia Multiprofissional pela UNIPÓS,
Professora no Centro de Educação Profissional João Mendes Olímpio de Melo,
Teresina/PI, **Pós-Graduação em Alimentos e Gastronomia pelo IFPI, Professora
do Centro de Educação Profissional Nossa Senhora das Graças, Caxias/MA
Recebido
12 de julho de 2017; aceito 15 de agosto de 2019.
Correspondência: Maria dos Milagres
Farias da Silva, Rua Jonatas Batista, 1254 Centro 64000-460 Teresina PI
Maria
dos Milagres Farias da Silva: milanutricionista.pi@gmail.com
Tatiany Caroliny
Santana Castro: taticastro.nutricionista@gmail.com
Resumo
O
câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o
crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos. A formação do
profissional de nutrição visa atender a uma área de atuação ainda desconhecida
por parte da população. O objetivo deste artigo detém repensar a disciplina de
oncologia no currículo de graduação em nutrição pontuando aspectos relevantes
de sua inserção, considerando a atual necessidade do mercado de trabalho, o
perfil epidemiológico brasileiro e uma formação reflexiva e crítica acerca das
competências profissionais do nutricionista. Trata-se de um estudo exploratório
descritivo, sobre as grades curriculares de Instituições de Ensino Superior,
públicas e privadas no estado do Piauí, ofertantes para o curso Bacharelado em
Nutrição. Foram encontradas 08 instituições de ensino superior que possuíam
Graduação em Nutrição, porém nenhuma delas possuía disciplina específica
voltada para o ensino da Nutrição em Oncologia. É necessário inovar os padrões
curriculares para integrar os novos campos de atuação do nutricionista.
Palavras-chave: ensino, oncologia,
nutrição.
Abstract
Cancer is the name given
to a group of more than 100 diseases that have
in common the uncontrolled growth of cells
that invade tissues and organs. The formation of nursing
professional aims to cater to a practice
area still unknown by the population.
The purpose of this article has
to rethink the oncology discipline in the undergraduate curriculum in nutrition analyzing relevant issues of its insertion, considering the current needs of
the labor market, the Brazilian epidemiological
profile and a reflective and critical training about the professional nutritionist skills. This is a descriptive exploratory study on the curricula
of higher education institutions, public and private
in the state of Piauí, offers for the Bachelor course
in Nutrition. They found 08 higher education institutions had undergraduate nutrition, but none of them
had specific discipline focused on the
teaching of nutrition in oncology. It is necessary to
innovate the curriculum
standards to integrate new nutritionist fields.
Key-words: education,
oncology, nutrition.
O câncer é o nome dado a um conjunto de mais de
100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem
tecidos e órgãos. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito
agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores malignos, que
podem espalhar-se para outras regiões do corpo [1].
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que
em 2030 tenhamos cerca de 27 milhões de casos de câncer com 17 milhões de
mortes, gerando grande impacto nos países em desenvolvimento [2].
Estimativas previstas para o biênio 2016-2017
no Brasil apontam a ocorrência de cerca de 600 mil casos novos de câncer. Este
perfil epidemiológico observado assemelha-se ao da América Latina e do Caribe,
onde os cânceres de próstata (61 mil) em homens e mama (58 mil) em mulheres
serão os mais frequentes [3].
Excluindo o câncer de pele não melanoma, os
tipos mais frequentes em homens serão próstata (28,6%), pulmão (8,1%),
intestino (7,8%), estômago (6,0%) e cavidade oral (5,2%). Nas mulheres, os
cânceres de mama (28,1%), intestino (8,6%), colo do útero (7,9%), pulmão (5,3%)
e estômago (3,7%) figurarão entre os principais [4].
As Diretrizes Curriculares dos Cursos de
Graduação em Saúde foram delineadas para atender às exigências da Lei de
diretrizes e Bases da educação nacional e apresentam como um de seus objetivos
o aprender a aprender, que é a síntese do aprender a ser, aprender a fazer,
aprender a viver juntos e aprender a conhecer [5].
Na
Resolução Nº 5/2001 do Conselho Nacional de
Educação, que institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais do Curso de Graduação
em Nutrição caracterizam o perfil do egresso/
profissional nutricionista, com
formação generalista, humanista e crítica,
capacitado a atuar, visando à
segurança alimentar e a atenção dietética,
em todas as áreas do conhecimento em
que alimentação e nutrição se apresentem
fundamentais para a promoção,
manutenção e recuperação da saúde e
para a prevenção de doenças de indivíduos
ou grupos populacionais, contribuindo para a melhoria da qualidade de
vida,
pautado em princípios éticos, com reflexão sobre a
realidade econômica,
política, social e cultural [6].
O presente estudo teve como objetivo repensar
os modelos de grades curriculares atualmente preconizados no estado do Piauí
por Instituições de Ensino Superior (IES) visando adequar a uma necessidade de
formação do profissional nutricionista para a atuação no setor oncológico em
todos os níveis de atenção.
Trata-se de um estudo do tipo exploratório
descritivo, com abordagem quantitativa, por meio de análise documental das
matrizes curriculares, tendo como base a informação contida nos sites das IES
públicas e privadas localizadas no estado do Piauí. Foram incluídos nesse
estudo IES que ofertam regularmente o curso de Bacharelado em Nutrição com
conceito reconhecido pelo Ministério da Educação, além de conter em acesso
aberto a matriz curricular, as disciplinas ofertantes em todos os períodos do
curso, inclusive as disciplinas consideradas optativas.
A coleta de dados ocorreu no período de janeiro
a março de 2017, por meio dos sites eletrônicos das IES participantes. Ao
total, o estado do Piauí conta com 8 instituições de ensino superior com oferta
regular do Bacharelado em Nutrição. As informações buscadas foram: oferta ou
ausência de disciplina específica sobre a nutrição oncológica na matriz
curricular ou sob forma de disciplina optativa. Os dados foram tabulados por
meio do programa Microsoft Excel versão 2007.
Ensino na graduação
Do total de 8 IES reconhecidas no Ministério da
Educação, ofertam o curso de Bacharelado em Nutrição, 62% (n = 5) delas
localizam-se em Teresina. Somente 38 % (n = 3) nos municípios do estado do
Piauí, conforme gráfico 1.
Em relação à forma de ensino ofertado por essas
instituições, 75% (n =7) são privadas, e 25% (n=1) instituição pública. Cabe
ressaltar que nesta última, um campus localiza-se na capital – Teresina, e
outro no município de Picos-Piauí.
Gráfico 1 - Distribuição do curso de Bacharelado em Nutrição no Piauí.
Gráfico 2 - Forma de ensino ofertado do curso de Bacharelado em Nutrição por IES.
Hoje o maior número de instituições que ofertam
o curso é privado, embora ele tenha surgido primeiramente em instituições
públicas (Gráfico 2)
Ao se tratar da matriz curricular dessas
instituições 100% (n = 8) não traziam disciplinas especificas sobre o ensino da
Nutrição Oncológica, assim como nas disciplinas optativas.
Ensino na
especialização
Das oitos instituições de ensino superior
citadas, apenas uma oferta um curso regular lato sensu (Especialização) em
Oncologia de forma presencial. No estado ainda contém uma IES, no qual não
possui o Bacharelado em Nutrição, mas oferta regularmente o curso também na
modalidade Lato Sensu. Dessa forma cabe apenas ao profissional, diante da
necessidade em aprofundar-se mais sobre o tema recorrer a especializações, ou
mesmo a cursos de extensão para diminuir um “espaço” transpassado na graduação.
A portaria 2.439/2005 que institui a política
nacional de atenção oncológica traz em seu texto, que deve ser incentivado o
desenvolvimento na formação e especialização de recursos humanos para a rede de
atenção oncológica [7].
Dessa maneira, é imprescindível que o
nutricionista saia da graduação, para prestar os cuidados ao paciente
oncológico, de maneira humanizada, levando em consideração que dentro do
enfoque interdisciplinar, nenhum profissional tem maior importância que o outro
e todos contribuem para a melhoria da assistência e qualidade de vida do
paciente oncológico.
Nesta pesquisa, constatou-se que todas as
matrizes curriculares não apresentaram a disciplina de nutrição voltada para a
oncologia. A inclusão da disciplina de nutrição oncológica nos cursos para a
graduação se justificaria, devido à existência do atual panorama brasileiro.
Em todas as matrizes havia a disciplina
dietoterapia, na qual se subtende que os docentes abordem ainda que de maneira
insuficiente, conteúdo relacionado a esta patologia. Contudo sabemos que a
visão multiprofissional e interdisciplinar de uma patologia complexa requer uma
maior carga horária na matriz, para um melhor embasamento científico e teórico
na formação de um profissional qualificado, reflexivo e pronto para atuar sobre
sua realidade social.
Esses achados também foram encontrados no
estudo realizado por Amador [8] correlacionando outros cursos de graduações,
que ainda não dispõe de nenhum tipo de abordagem apropriada e suficiente.
Nesse sentido propõe-se uma reflexão deste
ensino enquanto disciplina, nos currículos de graduação, para isso é necessário
que essa proposta esteja contextualiza com o projeto político pedagógico (PPP)
das universidades.
Dados de uma pesquisa realizada pelo INCA [9]
sobre o ensino em atenção oncológica no Brasil demonstraram que é necessário
planejar e desenvolver ações educacionais que atendam as demandas especificas
das categorias profissionais.
A atuação do nutricionista poderá ser efetivada
desde os cuidados assistenciais, e em medidas para a promoção, proteção e
prevenção do câncer.
As
diretrizes curriculares nacionais ressaltam
a formação do profissional de Nutrição com
enfoque generalista, contudo as
instituições têm a liberdade na
formulação na composição da carga
horária a ser
cumprida para a integralização dos currículos,
assim como na especificação das
unidades de estudos a serem ministradas.
Entende-se que nem todas as pessoas tem o
desejo de atuar nessa área, mais diante do perfil epidemiológico e incidência
de casos tanto no mundo quanto na população brasileira, é imprescindível que
profissionais de saúde tenham um enfoque voltado ao conhecimento desde os
níveis de prevenção, promoção e recuperação da saúde [10].
É sabido que o câncer quando diagnosticadas em
estágios iniciais, maiores serão as chances de melhor recuperação e prognóstico
de cura. Para isso é necessário formar ainda enquanto estudantes, futuros
profissionais qualificados para essa demanda.
A alimentação e nutrição são fundamentais desde
o prognóstico quanto na prevenção do aparecimento de um câncer. A forma de
ensino, ou seja, as matrizes curriculares necessitam acompanhar as mudanças no
perfil epidemiológico brasileiro, permitindo aos estudantes mais acesso ao
conhecimento da nutrição oncológica. São necessários mais estudos e ampliar o
debate acerca dessa temática entre pedagogos, professores, gestores de IES e
toda a comunidade escolar.