ARTIGO
ORIGINAL
Conservação
de ovos de galinha: avaliação da qualidade sob diferentes
condições de estocagem
Chicken eggs conservation: quality assessment in different conditions of
storage
Fabiane Pauline
Mueller*, Paulo Roberto Machado, M.Sc.**, Thais da Luz
Fontoura Pinheiro, M.Sc.***
*Bolsista
de Iniciação Científica. Acadêmica do Curso de Graduação em Nutrição da
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) Campus de
Frederico Westphalen/RS Rio, **Zootecnista, Docente do Curso de Tecnologia
Superior em Agropecuária da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e
das Missões - URI Campus de Frederico Westphalen/RS, ***Nutricionista, Docente
do Curso de Nutrição da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões-URI, Campus de Frederico Westphalen/RS
Recebido 26 de julho
de 2016; aceito 15 de maio de 2017.
Endereço
para correspondência:
Fabiane Pauline Mueller, Distrito de Sede Oldenburg, s/n, Interior 89887-000
Palmitos SC, E-mail: fabi-mueller@hotmail.com; Paulo Roberto Machado:
prmachado@uri.edu.br; Thais da Luz Fontoura Pinheiro: e-mail: thaispinheiro@uri.edu.br
Resumo
Objetivos: Avaliar a qualidade
de ovos submetidos a diferentes temperaturas e tempos de estocagem. Métodos: Foram avaliados 180 ovos
submetidos a quatro diferentes locais e analisados após 7, 14 e 21 dias de
armazenamento. A cada dia de avaliação foram analisados 60 ovos, 15 ovos de
cada local. A amostra foi dividida em quatro partes e acondicionada no local
ambiente, na porta, no freezer e nas prateleiras do refrigerador. As variáveis
avaliadas foram: peso (g), perda de peso (%), pH da
gema e da clara. As médias foram avaliadas com o teste Anova e os testes de
comparações múltiplas pareadas foram avaliados com o método de Holm-Sidak a 5%
de significância. Resultados: A média
do peso dos ovos foi de 59,55 ± 3,55 g. Ovos mantidos sob
temperatura de refrigeração apresentaram menores perdas de peso e melhor
qualidade interna. Durante o período experimental independentemente do local de
armazenamento e do tempo de estocagem, houve perda de peso significativa. Houve
uma interação significativa entre os fatores: locais e tempo de armazenamento
no pH da clara. Porém, o período de armazenamento dos
ovos não influenciou o pH da gema. Conclusão: É eficaz armazenar ovos nos
compartimentos internos de refrigeradores, pois estes estariam menos sujeitos a
sofrerem oscilações de temperatura durante o armazenamento, prolongando a vida
útil deste alimento.
Palavras-chave: ovos, controle de
qualidade, conservação de alimentos, tecnologia de alimentos.
Abstract
Objective: To assess
the quality of eggs in different temperatures and storage time. Methods: We assessed 180 eggs, submitted
to four different locations and analyzed after 7, 14 and 21 days of storage. On
each day of evaluation were analyzed 60 eggs, 15 eggs from each location. The
sample was divided into four parts and packaged in the local environment, in
the refrigerator door, in the freezer and the refrigerator shelves. The
variables evaluated were: weight (g), weight loss (%), pH of yolk and egg
white. The averages were evaluated with Anova test
and the multiple test pairwise comparisons were assessed with the Holm-Sidak method by 5% significance. Results: The average weight of the eggs was 59,55
± 3,55 g. Eggs in refrigeration temperature (door and shelves) showed lower
weight loss and better internal quality. During the trial period, independently
of storage location and the storage time, there was a significant weight loss.
There was a significant interaction between factors: local and storage time on
the pH of the white. However, the storage period of the eggs did not influence
the pH of the yolk. Conclusion: It is
efficient to store eggs in internal compartments of refrigerators, since they
would be less likely to suffer due to the temperature fluctuations during
storage, promoting ideal conditions to prolong the life of food.
Key-words: eggs,
quality control, food preservation, food technology
O ovo de galinha é um
alimento de alto valor nutricional para o consumo humano [1], proporciona um
balanço quase completo de nutrientes essenciais, contendo proteínas de alto
valor biológico, minerais, vitaminas e ácidos graxos [2]. É considerado o
segundo alimento mais completo nutricionalmente, perdendo apenas para o leite
materno [3]. É um importante item alimentar na dieta humana devido aos seus
nutrientes e suas propriedades funcionais [4].
O desconhecimento da
população pelas propriedades funcionais do ovo influencia no seu baixo consumo,
porém, torna-se necessário estimular as pessoas para que a ingestão deste
alimento aumente [5]. Contudo, o aumento na ingestão de ovos e a utilização de
seus benefícios nutricionais dependem da qualidade do produto ofertado, a qual
é determinada por características que podem influenciar na aceitabilidade do
consumidor [2].
Para que todos os
nutrientes possam ser aproveitados pelo organismo, é imprescindível que o ovo
seja preservado durante todo o período de armazenamento, pois pior será a
qualidade interna dos ovos quanto maior for o tempo estocado, considerando que
imediatamente após a postura a qualidade diminui de forma gradativa [6,7]. A
redução da qualidade interna dos ovos está relacionada, principalmente, à perda
de água e dióxido de carbono durante o armazenamento e é proporcional à
elevação da temperatura do ambiente [8]. Condições impróprias de armazenamento
incluindo tempo, umidade e temperatura de estocagem podem deteriorar a
qualidade do ovo [9]. Dessa forma, o armazenamento adequado está intimamente
relacionado com a manutenção da qualidade deste alimento [10].
Tendo em vista a
relevância de analisar as diferentes condições de estocagem na qualidade dos
ovos de galinha, bem como, levando em consideração o elevado consumo deste
alimento pela população, o objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade de
ovos de galinha submetidos a diferentes locais e tempos de estocagem, a fim de
identificar qual é o melhor método de conservação deste alimento.
Trata-se de um estudo
transversal, de caráter quantitativo e de natureza analítica. O mesmo foi
realizado no Laboratório de Técnica Dietética e no Laboratório Físico Químico
da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, campus de
Frederico Westphalen (URI-FW), durante os meses de fevereiro a março de 2016,
com duração de 28 dias.
Foram avaliados 180
ovos de consumo, originários de uma granja comercial do município de Seberi
localizada no estado do Rio Grande do Sul/RS. Os ovos utilizados apresentaram
classificação recente para que até o final do período experimental estivessem
dentro do prazo de validade. Os ovos foram submetidos a quatro diferentes
locais de armazenamento e analisados no dia da compra, após sete, catorze e
vinte e um dias de armazenagem nos locais e períodos estabelecidos.
Após a compra dos
ovos, todos foram identificados numericamente com pincel atômico, e pesados em
balança analítica eletrônica modelo Mark Série M no dia zero. Os ovos ficaram
armazenados no refrigerador do Laboratório de Técnica e Dietética do Curso de
Nutrição da URI-FW e foram analisados no Laboratório Físico Químico desta mesma
Universidade.
Em seguida, 45 ovos
ficaram acondicionados em temperatura ambiente de 18 a 36ºC, 45 ovos foram
armazenados na porta de uma geladeira de uso doméstico (capacidade total de 462
litros, com freezer superior acoplado, consumo de 58,1 kWh, altura 186,5 cm,
largura 70,2 cm) sob temperatura de 10°C, 45 ovos
ficaram no freezer desta geladeira sob temperatura de -18°C, e o restante dos
ovos (45 ovos) ficaram acondicionados nas prateleiras que ficam na parte
interna deste equipamento à temperatura de 6°C, totalizando 180 ovos.
As variáveis
avaliadas foram: peso do ovo (g), perda de peso (%), potencial de hidrogênio (pH) da gema e da clara. A cada dia de avaliação foram
analisados 60 ovos, 15 ovos de cada local (ambiente, freezer, refrigerador,
porta do refrigerador). No dia da aquisição dos ovos, estes, foram pesados e
posteriormente foram feitas anotações informando o peso em gramas de cada ovo.
Dessa forma, a perda de peso dos ovos foi obtida através da diferença do peso
do ovo no dia zero, pelo peso do ovo no dia da análise (7, 14
ou 21 dias de estocagem). O valor foi dividido pelo peso do ovo no início do
armazenamento e multiplicado por cem, gerando os dados de perda de peso em
porcentagem [11].
O pH
foi analisado através do pHmetro modelo Tec 2 do fabricante Tecnal, com a
inserção direta do eletrodo na gema e na clara, separadamente. Nos dias de
análise, o pHmetro foi calibrado com as soluções pH
4,0 e pH 7,0 à temperatura ambiente. Entre uma análise e outra os eletrodos do pHmetro foram higienizados com água destilada e secados com
papel toalha. Todos os materiais e reagentes utilizados para realizar as
análises foram disponibilizados pela Universidade.
Os dados foram
tabulados através do Windows Microsoft Excel e analisados a partir do SigmaStat 3.5. A análise de variância foi testada através do
teste ANOVA ou com seu correspondente não paramétrico. Utilizou-se o teste
ANOVA de duas vias de medidas simples para comparar dois fatores: local X tempo
de armazenamento. Os testes de comparações múltiplas pareadas foram avaliados
através do método de Holm-Sidak a 5% de significância (p < 0,05).
A média do peso dos
180 ovos foi de 59,55 ± 3,55 g, o menor ovo pesou 47,35 g e o maior 68,49 g.
Avaliando a classificação dos ovos em relação ao tipo, segundo seu peso,
identifica-se que estes ovos podem pertencer ao tipo 1
(extra), tipo 2 (grande), tipo 3 (médio) ou ao tipo 4 (pequeno).
Foi possível
identificar que os ovos que tiveram maior perda de peso foram os que ficaram
acondicionados no local ambiente, apresentando a média da perda de 3,04% do
peso inicial. Os ovos que ficaram na porta da geladeira perderam mais peso
(1,60% da média da perda de peso) em comparação aos ovos que ficaram nas
prateleiras da parte interna do refrigerador (1,22% da média da perda de peso).
Os valores médios da perda de peso de cada semana estão demonstrados no gráfico
1.
Fonte: os autores.
Gráfico
1 - Perda de peso dos ovos em relação aos
diferentes locais de armazenamento e tempos de estocagem.
Os ovos que ficaram
no freezer perderam menos peso (0,34% da média da perda do peso) em relação aos
outros, porém, estes foram desconsiderados estatisticamente devido ao
rompimento de suas cascas nos primeiros dias do experimento. Dessa forma,
durante o estudo foram analisados o pH da clara e da
gema de 135 ovos, pois os 45 ovos acondicionados no freezer do refrigerador
foram descartados da pesquisa.
A partir da análise
estatística, utilizando ANOVA de duas vias, notou-se que o local e o período de
armazenamento influenciaram na perda de peso dos ovos (p < 0,001). A perda
de peso dos ovos quando comparada entre as três semanas de estocagem e entre os
três locais de armazenamento (ambiente, porta e prateleiras) foi significativa
(p < 0,05). Através do método de Holm Sidak pode ser observado em quais
comparações múltiplas pareadas houve diferença significativa (p < 0,05),
como pode ser observado no gráfico 2.
Ao comparar o fator
local com a semana 1, houve diferença significativa
nos locais porta e prateleiras quando comparados ao local ambiente (p <
0,05). Os mesmos resultados foram obtidos nas semanas 2
e 3, onde os locais porta e prateleiras foram estatisticamente significativos
quando comparados com o local ambiente (p < 0,05). Dessa forma, há diferença
estatística significativa entre armazenar ovos na porta ou na parte interna do
refrigerador em relação ao local ambiente. Porém, somente na segunda semana de
estocagem houve diferença estatística entre armazenar ovos na porta ou nas
prateleiras do refrigerador. Este dado pode ser em decorrência do percentual da
perda de peso dos ovos obtido na segunda semana, o qual foi mais relevante em
relação à primeira ou à terceira semana dos locais citados.
Na comparação do
fator semanas com o local ambiente, houve diferença significativa nas semanas 2 e 3 quando comparadas com a semana 1 (p < 0,05). Os
mesmos resultados foram encontrados ao comparar o fator semana com o local porta, onde houve diferença significativa (p <
0,05) nas semanas 2 e 3 quando comparadas com a semana 1. Na comparação do
fator semana com o local prateleira, somente a
terceira semana apresentou diferença estatisticamente significante em relação a
primeira semana (p < 0,05).
Ao analisar os
resultados, verificou-se que durante o período experimental independentemente
do local de armazenamento e do tempo de estocagem, houve perda de peso
significativa (p < 0,05). Ovos armazenados durante 21 dias, independente da
temperatura avaliada, apresentaram perda de peso significativa (p < 0,05),
quando comparados aos ovos com 7 e 14 dias de
estocagem.
Além do tempo de
estocagem, o local de armazenamento também foi um fator determinante na perda
de peso dos ovos. Nos três locais avaliados houve redução do peso dos ovos,
porém, a maior perda foi dos ovos que foram acondicionados no local ambiente,
os quais obtiveram perda média de 3,04% do peso inicial.
Comparações entre
diferentes locais (ambiente, porta e prateleiras) dentro de cada semana (s1,
s2, e s3) são expressas por letras minúsculas. As letras minúsculas expressam
diferença estatística pelo teste de Holm-Sidak (p < 0,05) quando comparadas
com o local ambiente. Comparações entre diferentes semanas dentro de cada local
são expressas por letras maiúsculas. As letras maiúsculas expressam diferença
estatística pelo teste de Holm-Sidak (p < 0,05) quando comparados à 1ª
semana de cada local (ambiente, porta ou prateleiras).
Fonte: os autores.
Gráfico
2 - Efeito do tempo de estocagem e do local de
armazenamento na perda de peso dos ovos (%).
Houve uma interação
estatisticamente significativa entre os fatores: locais e tempo de
armazenamento na determinação do pH da clara (p ≤ 0,001). O pH da
clara dentre as três semanas não se mostrou significativo apenas na comparação
da semana 1 com a semana 2 (p > 0,05).
Na comparação do
fator local, somente não houve diferença significativa entre os
locais prateleiras vs. porta (p > 0,05). Ao comparar o fator local
com as semanas, houve diferença significativa nas três semanas quando os locais
porta e prateleiras foram comparados com o local ambiente
(p < 0,05). Porém, somente na terceira semana em que os
locais porta e prateleiras foram estatisticamente diferentes (p <
0,05) entre si.
Na comparação do
fator semanas com o local ambiente, não houve diferença significativa (p >
0,05) na comparação da semana 2 e 3 com a semana 1. Ao
comparar o fator semanas com o local porta, houve diferença significativa entre
a semana 3 com a semana 1 (p < 0,05). Os mesmos
resultados foram encontrados na comparação do fator semanas com o local prateleiras, onde a semana 3 se mostrou
significativa quando comparada com a semana 1 (p < 0,05).
O gráfico 3 apresenta as médias do pH da clara de cada semana nos três
diferentes locais de armazenamento.
Comparações entre
diferentes locais (ambiente, porta e prateleiras) dentro de cada semana (s1,
s2, e s3) são expressas por letras minúsculas. As letras minúsculas expressam
diferença estatística pelo teste de Holm-Sidak (p < 0,05) quando comparadas
com o local ambiente. Comparações entre diferentes semanas dentro de cada local
são expressas por letras maiúsculas. As letras maiúsculas expressam diferença
estatística pelo teste de Holm-Sidak (p < 0,05) quando comparados à 1ª
semana de cada local (ambiente, porta ou prateleiras).
Fonte: os autores.
Gráfico
3 - Efeito do tempo de estocagem e do local de
armazenamento no pH da clara dos ovos.
O período de
armazenamento dos ovos não influenciou na determinação do pH
da gema. Não houve uma interação estatisticamente significativa entre semanas e
local. (p = 0,051). Sendo assim, os resultados mostram que independente dos
dias de armazenamento (7, 14 ou 21 dias) o pH da gema
não sofreu alteração significativa.
Na comparação entre o
fator local, não houve diferença significativa somente entre os
locais porta vs. prateleiras (p > 0,05). Dessa forma, o pH da gema não será afetado se o ovo for armazenado na porta
ou nas prateleiras do refrigerador, não considerando o tempo de estocagem.
Ao comparar o fator
local com a semana 1, houve diferença significativa
nos locais porta e prateleiras quando comparados ao local ambiente (p <
0,05). Já na semana 2, somente o local prateleira foi
estatisticamente significante (p < 0,05) quando comparado ao local ambiente.
Na terceira semana não houve diferença significativa entre nenhum local de
armazenamento (p > 0,05). Estes resultados indicam que com o passar das
semanas o pH da gema tende a se estabilizar, tão logo,
essa característica não será afetada quanto ao local de armazenamento quanto
mais longo for o tempo de estocagem.
Na comparação do
fator semanas com o local ambiente, houve diferença significativa nas semanas 2 e 3 quando comparadas com a semana 1 (p < 0,05). Ao
comparar o fator semana com o local porta não houve
diferença significativa (p > 0,05). Os mesmos resultados foram encontrados
na comparação do fator semana com o local prateleira,
onde nenhuma semana foi significativamente estatisticamente da primeira semana
(p > 0,05). Os resultados dos locais porta e prateleiras indicam que
independente das semanas (1ª, 2ª ou 3ª) o pH da gema
não apresenta diferença significativa (p > 0,05).
O gráfico 4 apresenta as médias do pH da gema de cada semana nos três
locais de armazenamento.
Comparações entre
diferentes locais (ambiente, porta e prateleiras) dentro de cada semana (s1,
s2, e s3) são expressas por letras minúsculas. As letras minúsculas expressam
diferença estatística pelo teste de Holm-Sidak (p < 0,05) quando comparadas
com o local ambiente. Comparações entre diferentes semanas dentro de cada local
são expressas por letras maiúsculas. As letras maiúsculas expressam diferença
estatística pelo teste de Holm-Sidak (p < 0,05) quando comparados à 1ª
semana de cada local (ambiente, porta ou prateleiras).
Fonte: os autores.
Gráfico
4 - Efeito do tempo de estocagem e do local de
armazenamento no pH da gema dos ovos.
Os atuais
consumidores buscam por alimentos saudáveis, naturais e fáceis de serem
preparados. O ovo é uma alternativa viável, pois é fonte de proteína de alta
qualidade e baixo custo. Este alimento fornece muitos nutrientes, especialmente
algumas vitaminas liposssolúveis, A D E, ácidos graxos essenciais e alguns
minerais (ferro, cálcio e zinco) [12]. Além de possuir diversos nutrientes, o
ovo fornece substâncias promotoras da saúde e preventivas de doenças,
tornando-se um alimento funcional [13].
O ovo é um alimento
perecível e a sua qualidade diminui à medida que o tempo passa, desde a postura
até a comercialização. Um dos fatores que mais afeta a qualidade dos ovos
durante o armazenamento é a temperatura. Dessa forma, para obter um produto
mais saudável por um período de tempo maior, é necessário que haja a
refrigeração dos ovos [14].
Entretanto, no Brasil
não é obrigatória a refrigeração dos ovos. Os ovos
comerciais são estocados, desde o momento da postura até a distribuição final,
em temperaturas ambientes, sendo, geralmente, refrigerados na casa do
consumidor [15]. Armazenar ovos no sistema refrigerado ocasiona custos
elevados, no entanto, alguns supermercados armazenam este alimento próximo às
verduras e freezer, com o intuito de minimizar a temperatura deixando-a um pouco inferior da temperatura ambiente [9]. Sabe-se que
as baixas temperaturas prolongam a qualidade do ovo, porém, na maioria das
vezes a refrigeração e a manipulação dos ovos não são controladas durante o
período da distribuição e a comercialização [16].
A perda da qualidade
dos ovos ocorre, principalmente, em condições em que a temperatura é elevada,
neste caso, as reações físicas e químicas tendem a aumentar com a elevação da
temperatura. Altas temperaturas elevam a perda de peso dos ovos que estão
armazenados à temperatura ambiente. Este fato ocorre devido a um aumento na
transpiração que proporciona grande perda de CO2 e H2O
para o meio ambiente, consequentemente, há uma redução do peso inicial dos
ovos. A perda de peso aumenta na medida em que o período do armazenamento é
prolongado [17].
Situação semelhante
foi observada neste estudo, onde a perda de peso dos ovos foi maior naqueles
acondicionados sob temperatura ambiente e armazenados
por 21 dias. Estes resultados concordam com Freitas e Santos os quais
verificaram que ovos estocados durante 21 dias apresentaram maior perda de peso
quando comparados aos ovos com 7 e 14 dias de
armazenamento [9,18].
Tendo em vista de que
a refrigeração preserva a qualidade interna dos ovos, seria ideal se o ovo
saísse da granja diretamente para a geladeira onde deveria ser armazenado sob
temperatura de 0 a 4ºC [11]. O aumento da temperatura
e o tempo prolongado do armazenamento provocam uma rápida diminuição da
qualidade interna do ovo. A qual pode ser avaliada pelo aumento do pH da clara, diminuição do peso dos ovos e redução dos
sólidos totais na clara [16].
Ao avaliar o gráfico 3, nota-se que os valores de pH da clara da segunda semana
diminuíram quando comparados aos valores da primeira semana. Porém, da segunda
até a terceira semana houve redução mais expressiva dos valores do pH da clara nos três locais avaliados. Os valores de pH da clara considerados normais pertencem ao intervalo de
7,5 a 9,7 [19]. Observa-se que todos os ovos analisados demonstraram ter pH da clara normais.
Estes dados não
concordam com os resultados obtidos por Ganeco et al. [20] e Almeida et al.
[21], que afirmam que os valores do pH da clara aumentam durante o
armazenamento e depois sofrem uma diminuição. No presente estudo não houve
aumento no pH da clara, somente houve uma redução dos
valores de pH ao longo do período de armazenamento.
Em ovos frescos o pH normal (em torno de 7,5 a 7,6) é mantido pela presença do
ácido carbônico que se encontra dissolvido na clara. Logo após a postura, parte
desse ácido passa a se dissociar em gás carbônico e água, favorecendo a
alcalinização do pH da clara [22].
As alterações no pH da clara do ovo, que ocorrem durante o armazenamento,
estão associadas com a liberação do dióxido de carbono para o ambiente através
da porosidade da casca [21]. Dessa forma, a alcalinização da clara é um
processo irreversível. Parte da água liberada também pode evaporar através dos
poros da casca, acarretando redução do peso do ovo, redução em sua densidade e
aumento na câmara de ar [22].
Mesmo sob refrigeração, o pH da clara pode chegar a valores bem
alcalinos (9,2 a 9,3) em apenas 72 horas e depois tende a se estabilizar. Uma
importante consequência dessa modificação no pH da
clara é a perda da viscosidade o qual é o principal atributo da qualidade do
ovo pois é um indicador confiável do seu frescor (tempo decorrido desde a
postura) [22].
Neste estudo,
verificou-se que o pH da gema não se altera a ponto de
ser significativo estatisticamente (p > 0,05) quando comparado aos dias de
armazenamento. Não houve diferença significativa no pH
da gema entre armazenar ovos na porta ou na prateleira do refrigerador em
relação às três semanas de estocagem. Estes resultados corroboram com os dados
obtidos por Ganeco et al. [20], que indicam que o
tempo e local de armazenamento dos ovos não influenciam na característica do pH
da gema (p > 0,05), os quais apontam que independente do local de
refrigeração (interior e porta do refrigerador) e dos dias de armazenamento o
pH da gema não sofre alteração.
Ao avaliar o
comportamento do pH da gema nos três diferentes locais
e em relação às semanas de estocagem, percebe-se que da primeira para a segunda
semana houve diminuição dos valores do pH da gema. Porém da segunda para a terceira semana houve uma ligeira elevação nestes valores
nos locais porta e prateleiras, o que não ocorreu nos ovos que foram deixados
sob temperatura ambiente.
Estes resultados são
semelhantes aos obtidos por Spada et al. [23] em que
o pH da gema aumentou com o armazenamento prolongado. Durante o período de
estocagem sob refrigeração, íons alcalinos (sódio,
potássio e magnésio) migram da clara para a gema, trocados pelos íons
hidrogênio, provocam a elevação do pH da gema [24].
Na gema, as
modificações de pH oscilam entre valores de 6 (gema
fresca) e 6,5 em 18 dias a 37 °C [25]. Durante o armazenamento, há um aumento
gradativo do pH, o qual pode alcançar valores de 6,4 a
6,97. Dessa forma, verifica-se que os valores do pH da
gema estão na faixa da normalidade.
Um
possível método de
conservação dos ovos é o congelamento. Pode-se
congelar o ovo inteiro sem a
casca, a gema ou a clara separadamente [25]. As vantagens de utilizar
este
método são a boa conservação do produto e a
eliminação das perdas por putrefação
e quebras que podem acontecer na câmara frigorífica [26].
O ovo deve ser
removido da casca antes de ser congelado porque a expansão do conteúdo durante
o congelamento pode provocar a ruptura da casca [26]. No presente estudo, houve
rompimento das cascas dos ovos que ficaram no freezer do refrigerador. Dessa
forma, estes ovos foram desconsiderados, pois acredita-se
que a qualidade destes ovos foi afetada devido à ruptura da casca. Entretanto,
o congelamento dos ovos é considerado um bom método de conservação, porém, deve
ser feito de forma correta e de acordo com a literatura.
O ovo contém
nutrientes que desempenham papeis fundamentais, sendo considerado um alimento
funcional. Este alimento faz parte da alimentação da maior parte da população
por ser fonte de proteína de excelente qualidade, oferecer uma fonte de
calorias moderada (aproximadamente 150 kcal/100g) e, além disso, possuir baixo
valor econômico [27].
Os ovos estão sendo
cada vez mais valorizados por serem fontes de nutrientes essenciais para a
nutrição e a saúde humana. Há pesquisas recentes a respeito do enriquecimento
dos ovos com o intuito de reforçar seus benefícios nutricionais, redução de
problemas de saúde e consequentemente influência sobre a longevidade dos
consumidores deste alimento [28].
Entretanto, o
consumidor deve possuir maior conhecimento sobre o ovo, pois é um alimento de
origem animal, barato, de alto valor biológico, mas que pode sofrer alterações
bioquímicas visíveis desde a postura até o preparo e o seu consumo [29]. A
qualidade interna do ovo começa a diminuir após a postura, caso não sejam
tomadas medidas adequadas para sua conservação, sendo assim, a perda de
qualidade é um processo inevitável que ocorre de forma contínua durante o
período de armazenamento podendo ser influenciada por diferentes fatores [11].
Os ovos mantidos sob
temperatura ambiente apresentaram maior perda de peso do que os ovos
armazenados sob refrigeração. Estes, por sua vez,
estiveram acondicionados em dois locais diferentes dentro do refrigerador:
porta e prateleiras. Nesses dois compartimentos a perda de peso foi diferente,
sendo que os ovos que estavam na porta do refrigerador perderam mais peso do
que os ovos que estavam acondicionados nas prateleiras. A qualidade interna dos
ovos também foi alterada, nos ambientes sob refrigeração
essa característica demonstrou ser melhor do que nos ovos que estiveram sob
temperatura ambiente.
Além do local de
armazenamento, o período de estocagem também é um fator determinante na perda
de peso e na qualidade interna dos ovos. Quanto mais longo for o tempo de
estocagem, pior será a qualidade deste alimento, sobretudo se ovos não
estiverem sob refrigeração. Sabe-se que ocorrem várias
mudanças após a postura dos ovos, é um fenômeno inevitável, mas que pode ser
retardado com o uso da refrigeração. Portanto, quanto menor for o tempo entre a
postura dos ovos, a compra e o armazenamento em ambiente refrigerado, melhor
será a qualidade deste alimento.
Dessa forma, recomenda-se
que os ovos sejam armazenados nos compartimentos internos dos refrigeradores,
pois a qualidade destes ovos foi superior em relação aos outros locais de
armazenamento em que os ovos foram submetidos. Os ovos que estariam armazenados
nas prateleiras do refrigerador ficariam mais protegidos das oscilações de
temperaturas em que o “abrir e fechar” da porta deste equipamento proporciona,
favorecendo condições ideais para prolongar a vida útil deste alimento.