ARTIGO ORIGINAL

Consumo de alimentos industrializados e sua associação com o estado nutricional e a renda familiar de crianças de 1 a 4 anos

Intake of industrialized foods and their association with nutritional status and family income of children from 1 to 4 years

 

Stefanie Lopes Brandão de Sá*, Elton Bicalho de Souza, M.Sc.**, Aline Cristina Teixeira Mallet, D.Sc.**, Alden dos Santos Neves, D.Sc.**, Margareth Lopes Galvão Saron, D.Sc.**

 

*Nutricionista pelo Centro Universitário de Volta Redonda, Volta Redonda/RJ, **Nutricionista, Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário de Volta Redonda, Volta Redonda/RJ

 

Recebido 2 de agosto de 2017; aceito 15 de fevereiro de 2018.

Endereço para correspondência: Margareth Lopes Galvão Saron, Centro Universitário de Volta Redonda, Curso de Nutrição. Avenida Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325 Três Poços 27240-560 Volta Redonda RJ, E-mail:mlgsaron@gmail.com; Stefanie Lopes Brandão de Sá: stelopes19@gmail.com; Elton Bicalho de Souza: elton.souza@foa.org.br; Aline Cristina Teixeira Mallet: alinectmallet@gmail.com; Alden dos Santos Neves: alden.neves@foa.org.br

 

Resumo

Objetivos: Este estudo teve como objetivo avaliar o consumo de alimentos industrializados pelas crianças e sua associação com o estado nutricional e a renda familiar. Métodos: Trata-se de um estudo transversal e controlado feito com crianças entre 1 a 4 anos. A avaliação do estado nutricional foi realizada por meio das variáveis: peso/estatura, peso/idade, estatura/idade, IMC/idade e Circunferência Cefálica. A avaliação socioeconômica e do consumo alimentar foi feito por meio da aplicação de um questionário estruturado. Resultados: Participaram um total de 117 crianças, e observou-se a predominância do sexo masculino (53%). A avaliação antropométrica mostrou que a maioria das crianças se encontrava adequada pelos parâmetros avaliados. Porém, verificou-se presença de sobrepeso entre os meninos (n = 14) e meninas (n = 17), e a obesidade foi detectada em 9 meninos e 4 meninas. A maioria dos participantes possuía uma renda mensal familiar entre 1 a 2 salários mínimos e o consumo de alimentos industrializados foi maior em relação aos seguintes alimentos: biscoitos e salgadinhos (94%); iogurte (93,2%); massas diversas (80,3%); balas (80,3%); açúcar (79,5%); sorvete (76,1%), suco natural embalado (75,2%); chocolate (73,5%); refrigerante (70,9%); Achocolatado (70,1%). Conclusão: Houve um elevado consumo de alimentos industrializados, mesmo por aquelas crianças que estavam adequadas pelo IMC para idade.

Palavras-chave: criança, estado nutricional, alimentos industrializados.

 

Abstract

Objective: The aim of this study was to evaluate the intake of processed food of children and to associate to nutritional balance and family income. Methods: The data of this transversal and controlled study were collected from children between 1 and 4 years. The evaluation of the nutritional balance was performed from the variables: weight/height, weight/age, height/age, BMI/age and cephalic circumference. We applied a structured questionnaire for the socioeconomic evaluation and food intake. Results: A total of 117 children participated, with predominance of male (53%). The anthropometric evaluation showed the most children were found suitable for the evaluation parameters. However, It was verified an overweight among the boys (n=14) and girls (n=17) and the obesity was detected in 9 boys and 4 girls. The most of participants got a familiar monthly income between 1 and 2 minimum wage and the consume of processed food was bigger in relation to the following nourishments: Biscuits and crisps (94%); Yogurts (93.2%); dough (80.3%); candies (80.3%); sugar (79.5%); ice cream (76.1%); soft drinks ( 75.2%); chocolate ( 73.5%); Sodas (70.9%); chocolate drinks (70.1%). Conclusion: There was a high consume of processed food, even in the children suitable of BMI for their age.

Key-words: children, nutritional balance, processed foods.

 

Introdução

 

Durante a infância a criança passa por inúmeras transformações fisiológicas, tornando importante o cuidado mais específico relacionados a sua alimentação, em virtude do seu crescimento e desenvolvimento. A introdução de alimentos de baixo valor nutricional pode acarretar a diminuição da proteção do sistema imunológico, desenvolvendo uma alergia alimentar ou podendo apresentar algum tipo de distúrbio nutricional [1,2].

Desde os primeiros anos de vida, a alimentação adequada de uma criança é considerada um dos principais fatores para a saúde. Nesta fase pré-escolar a formação dos hábitos alimentares pode sofrer várias intervenções do meio ambiente. Por isto, o estimulo ao consumo de uma alimentação saudável e equilibrada é fundamental para que a criança possa dar continuidade ao longo da vida. Á medida que um novo ambiente é frequentado pela criança como a escola, se inicia uma intensa socialização, que pode interferir nos hábitos alimentares [3].

Quando uma criança recebe uma alimentação equilibrada possui uma resistência maior às doenças precocemente desenvolvidas. Em contrapartida o consumo em excesso de alimentos com alto teor de açucares simples, gordura trans, ácidos graxos saturados, sódio, pouco consumo de fibras, carboidratos complexos e sedentarismo são um dos fatores que se associa ao surgimento precoce de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) como por exemplo, a obesidade [4].

De acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), o marketing de gêneros alimentícios dirigido às crianças é um dos fatores relacionado ao ganho de peso e da obesidade infantil [5]. Por este motivo, nos últimos anos, o marketing nutricional tem sido alvo de intensos debates internacionais [6].

A diversidade e o aumento da oferta de alimentos industrializados podem influenciar os padrões alimentares de uma população, principalmente a infantil. E o marketing de gêneros alimentícios, principalmente de elevada densidade energética e pobres em micronutrientes, exercem influência negativa nos padrões de consumo alimentar das crianças. Há evidências de que este marketing influencia as crianças em suas escolhas, consumos e preferências alimentares, e os pais nas compras de gêneros alimentícios [7-10].

Tendo em vista a adoção de práticas alimentares adequadas como importante recurso para a manutenção da qualidade de vida e prevenção de DCNT, o presente estudo teve como objetivo investigar o consumo de alimentos industrializados de crianças e sua associação com o estado nutricional e a renda familiar.

 

Material e métodos

 

Trata-se de um estudo transversal e controlado. A coleta de dados foi realizada em 117 crianças, na Pastoral da Criança e em duas escolas municipais localizadas no município de Volta Redonda/RJ, cujos pais demonstraram interesse em participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi solicitado inicialmente o consentimento prévio da Direção e Coordenação das escolas e da Pastoral. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (COEPS) do Centro Universitário de Volta Redonda-UniFOA, sob o número de CAAE: 42242815.8.0000.5237.

Os critérios de inclusão foram: a autorização formal dos pais permitindo a participação das crianças na pesquisa, idade entre 1 a 4 anos; que fossem residentes do município de Volta Redonda e que estivessem acompanhadas dos pais ou responsáveis na coleta de dados.

A avaliação do estado nutricional foi realizada por meio das variáveis peso/estatura, peso/idade, estatura/idade, circunferência cefálica (CC) e IMC/idade. O peso foi aferido com a balança digital Plenna® e balança pediátrica digital Welmy®; a estatura foi aferida através do estadiômetro Alturexata® e régua antropométrica pediátrica FamiLtá® e a circunferências foram aferidas por meio de uma fita métrica retrátil. As variáveis do estado nutricional foram calculadas como escore-Z, por meio do programa Anthro - versão 3.3.2 para crianças até 4 anos e 11 meses de idade. A classificação do estado nutricional foi feita de acordo com o recomendado pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional.

Foram aplicados questionários com os pais investigar variáveis socioeconômicas e a frequência alimentar das crianças. O rendimento domiciliar per capita foi o resultado da soma dos rendimentos recebidos por cada morador, dividido pelo total de moradores do domicílio. O valor do salário mínimo nacional utilizado foi de R$ 880,00 por meio do Decreto Presidencial 8.618, publicado em 29 de dezembro de 2015 [11].

Em relação à frequência alimentar, os alimentos foram organizados em dez grupos, com suas características industriais e nutritivas, e sua utilização na alimentação infantil (Lácteos, Espessantes, Alimentos matinais, Açúcar, Biscoitos e salgadinhos, Sopinha e Papinha de frutas industrializadas, Massas Alimentícias, Embutidos, Bebidas Industrializadas e Doces) [7]. Foi investigada também por meio dos questionários a introdução do aleitamento materno exclusivo pelas crianças.

Os dados da pesquisa foram avaliados com o auxílio do programa de computador Statiscal Package for the Social Sciences® (SPSS) versão 17.0. As variáveis com distribuição simétrica foram descritas por meio de média e desvio padrão. Para descrever a classificação das variáveis qualitativas, foi utilizada frequência absoluta e porcentagem. Para verificar a existência da associação entre as variáveis, foi utilizado o teste Qui-quadrado e as médias de IMC entre sexos por teste t de Student. O nível de significância adotado foi de p < 0,05 para todos os testes.

 

Resultados

 

Neste estudo participaram um total de 117 crianças, e observou-se a predominância do sexo masculino com 53% (n = 62), e o sexo feminino 47% (n = 55), com a média de idade das crianças foi de 3,26 ± 1,14 anos e a predominância da cor de pele, auto intitulada pelos pais, foi branca com 54,7%. Com relação à quantidade de membros na família foi constatado que a maioria (58,1%) possuía de 3 a 4 membros na família, e já a escolaridade materna e paterna, verificou-se que 33,3% de ambos, possuíam o ensino médio completo e com uma renda familiar de 1 a 2 salários mínimos, representando 36,8%. Estes dados podem ser visualizados na Tabela I.

Outros aspectos avaliados foram os parâmetros antropométricos que mostraram as variáveis peso/idade um valor médio de 0,94 ± 1,09, estatura/idade foi de 1,08 ± 1,32, peso/estatura de 1,11 ± 1,13, IMC/idade de 1,14 ± 1,18 e C. cefálica 0,98 ± 0,75. Não houve diferença significativa entre as variáveis antropométricas do grupo das meninas e dos meninos.

 

Tabela I - Descrição socioeconômica das crianças avaliadas.

 

*SM = Salário Mínimo

 

A classificação do estado nutricional mostrou que a maioria das crianças encontrava adequada pelos parâmetros avaliados. Porém, verificou-se a presença de sobrepeso entre os meninos (n = 14) e meninas (n = 17), enquanto que, a obesidade foi detectada em 9 meninos e 4 meninas, de acordo com o IMC para idade. Foi observado também, que crianças até 2 anos, encontraram-se com valores adequados com relação a circunferência cefálica (11 meninos e 7 meninas), e apenas 2 crianças (1 menino e 1 menina) encontravam-se com valores acima do recomendado, conforme descrita na Tabela II.

A tabela III apresenta o consumo de alimentos industrializados pelos participantes e percebe-se que a porcentagem dos alimentos mais consumidos em ambos os sexos foram biscoitos e salgadinhos (94%); iogurte (93,2%); massas diversas (80,3%); balas (80,3%); açúcar (79,5%); sorvete (76,1%), suco natural embalado (75,2%); chocolate (73,5%); refrigerante (70,9%); Achocolatado (70,1%) seguidos dos demais itens descritos na tabela 3. Em relação ao aleitamento materno exclusivo, verificou-se que a maioria das crianças (57,3%) tiveram este aleitamento até os 6 meses de idade.

 

Tabela II - Classificação do estado nutricional das crianças avaliadas.

 

 

Tabela III - Consumo de alimentos industrializados pelas crianças avaliadas.

 

 

A figura 1 mostrou a associação significativa do consumo de alimentos industrializados com o estado nutricional, pelo parâmetro de IMC/Idade. Destacando-se os seguintes alimentos: açúcar (p = 0,008); bala (p = 0,004); chocolate (p = 0,001) e doce industrializado (p = 0,0001). Estes resultados mostraram um elevado consumo destes alimentos pelas crianças com peso adequado e também com sobrepeso e obesidade.

 

 

Figura 1 - Associação do consumo de alimentos industrializados de acordo com a classificação do IMC por idade.

 

Neste estudo, observou-se que existe uma associação significativa (p = 0,003) da renda familiar com o consumo de refrigerante, em que a maioria das crianças que apresentavam uma renda familiar ≥ 1-2 salários mínimos, eram as que mais consumiam o refrigerante. Os demais alimentos não tiveram associação com renda, p < 0,05.

 

Discussão

 

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), o rendimento domiciliar per capita do Brasil ficou em R$ 1.052 em 2014 [12]. Segundo o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde – DATASUS (BRASIL, 2010) [13], a renda média domiciliar per capita no município de Volta Redonda/RJ, foi de R$ 904,83; no período de 2010, com base no salário mínimo de R$ 510,00.

Neste estudo observou-se que a média do rendimento domiciliar per capita foi R$ 910,43 reais, a amplitude variou de R$ 262,66 a R$ 2364,00 reais, mostrando importantes diferenças na distribuição de renda das famílias e o poder aquisitivo praticamente se manteve em período de 5 anos, comparando-se com o DATASUS de 2010 [12]. No estudo feito por Silva [14] com crianças de 2 a 6 anos em creches públicas, em Belo Horizonte/MG, verificou-se que a renda familiar per capita da maioria das famílias era até 2 salários mínimos.

Variáveis como renda familiar, escolaridade, entre outras, estão relacionadas, em última instância, à forma de inserção das famílias no processo de produção, refletindo na aquisição de alimentos e, consequentemente, no estado nutricional [15].

Devido às suas características biológicas, as crianças menores de cinco anos de idade merecem atenção especial, tendo em vista que uma alimentação inadequada pode colocar em risco o seu crescimento e desenvolvimento, além de causar problemas como anemia ferropriva, desnutrição ou obesidade, e outros distúrbios nutricionais [16].

O comprometimento do índice estatura /idade indica que a criança tem o crescimento comprometido em processo de longa duração (“stunting”, que significa nanismo). O déficit no índice peso/estatura reflete um comprometimento mais recente do crescimento com reflexo mais pronunciado no peso (“wasting”, que significa emaciamento). Estes déficits não foram observados nas crianças avaliadas no presente estudo [17].

Em um estudo feito com crianças entre 1 a 6 anos, em Centros Educacionais de Alfenas/MG, os autores encontraram que a maioria das crianças apresentou-se eutróficas pelos parâmetros de peso/idade (58,3%), peso/estatura (68,2%) e estatura/idade (43,7%). Constatou também uma prevalência de risco para baixo peso para idade (22,5 %) e baixo peso para estatura (4,6 %) [18]. Em outro estudo, verificou-se em relação ao IMC/idade a presença de sobrepeso (24,62%) e obesidade (13,85%) nas crianças avaliadas. No presente estudo, foram encontrados valores similares, em que a maioria das crianças avaliadas encontra-se eutróficas com relação às variáveis peso/idade, peso/estatura e estatura/idade. Porém já em relação ao risco para baixo peso/idade e peso/estatura, o presente estudo não encontrou nenhuma criança com este déficit [19].

Com o aumento da incidência de sobrepeso e obesidade entre crianças menores de cinco anos de idade em todo o Brasil, esse fenômeno tem ocorrido com a sistemática diminuição das taxas de desnutrição, salienta-se no presente estudo uma prevalência de 53,5% sobrepeso e 21,8% obesidade com relação ao IMC/idade das crianças avaliadas [20].

A obesidade na infância vem aumentando de forma significativa e durante essa fase os desafios são maiores quanto a sua prevenção, pois além da criança não possuir um entendimento dos riscos que a obesidade pode vir a trazer, existe a questão das inúmeras mudanças de hábitos alimentares na vida da criança sendo importante a presença constante dos pais para o desenvolvimento da formação de hábitos alimentares saudáveis. É cada vez mais necessário que todas as estratégias benéficas impostas para a prevenção da obesidade infantil sejam efetivamente duradouras e bem sucedidas, para que possa ter alcance até sua fase adulta [21].

O consumo de alimentos industrializados não tem sido estudado de forma específica, não se dispondo de dados comparativos. Portanto, estudos baseados em pesquisas de orçamento familiar têm fornecido informações gerais sobre o consumo alimentar e, desde a década de 80, observa-se tendência a haver maior diversificação na alimentação e aumento na aquisição de alimentos industrializados. Alimento industrializado é considerado todo produto obtido de processamento de um ou mais tipos de alimentos, por meio de processos tecnológicos adequado, em que utilizam substâncias químicas permitidas com a intenção de melhorar a durabilidade e armazenamento do produto, onde não é recomendado o consumo excessivo dessas substâncias no plano alimentar da criança [7].

No estudo realizado com crianças de 2 a 5 anos, para avaliar o consumo alimentar e a prevalência de sobrepeso/obesidade, no município e Salvador do Sul/RS, verificou-se que os alimentos industrializados mais consumidos pelas crianças foi o açúcar, achocolatado, bolos, chocolate e biscoitos e salgadinhos, mas os alimentos em destaque, em relação ao consumo maior por dia foi o açúcar com (20%) e o achocolatado (24,6%) [19]. Em ambos os estudos, verificou-se um elevado consumo de alimentos industrializados.

Entre os fatores associados ao aumento da obesidade em crianças, o consumo de bebidas açucaradas tem sido estudado, indicando uma associação positiva entre consumo destas bebidas e ganho de peso. No Brasil, os dados do POF 2002-2003 revelaram que o consumo de refrigerantes aumentou em até 400%, na população, no período de 1975-2003 [12]. Em um estudo observou-se que 66,6% das crianças avaliadas tinham um grande consumo de refrigerantes na sua alimentação. O consumo de alimentos industrializados não teve associação com o peso [22]. No presente estudo, grande parte das crianças avaliadas consumia refrigerantes (70,9%), mostrando que em ambos os estudos, o aumento da introdução de bebidas açucaradas na alimentação das crianças, vem aumentando cada vez mais, consequentemente aumentando assim o consumo em excesso de açúcar. Enquanto que, no presente estudo houve associação do IMC/idade com alguns alimentos industrializados.

No último século o processo de urbanização ocorrido em muitos países trouxe modificações no estilo de vida da população, favorecendo a aquisição de hábitos alimentares inadequados. A necessidade de refeições rápidas e feitas fora de casa fez com que aumentasse o consumo de refrigerantes, salgadinhos, sanduíches e biscoitos, que substituíram a refeição do estilo caseira como arroz, feijão, verdura, carne e legumes [23].

A introdução precoce de alimentos industrializados e o desmame precoce pode refletir no crescimento e desenvolvimento da criança. Observou-se que o aleitamento materno exclusivo foi até os 4 meses de idade para a maioria das crianças avaliadas. Já em relação a alimentação complementar, relatou uma introdução precoce de quase todos os alimentos industrializados no período de zero a seis meses de idade [20]. Outro estudo mostrou que 73,7% das crianças avaliadas receberam alimentação complementar antes dos 6 meses de idade, sendo a maioria meninos 50,3% [24]. No presente estudo, os resultados encontrados mostraram que a maioria das crianças receberam o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade.

Em outro estudo realizado com crianças de 0 a 4 anos, no estado de São Paulo [7], avaliou-se o consumo de alimentos industrializados com a renda familiar, verificou-se que o açúcar, achocolatados, chocolates, iogurte, leite em pó modificado e refrigerantes tiveram um maior consumo pelas crianças de renda familiar alta. No presente estudo verificou apenas o refrigerante teve associação com a renda familiar.

 

Conclusão

 

Este estudo permitiu concluir que houve um elevado consumo de alimentos industrializados, apesar de que a maioria destas crianças estava adequada em relação aos parâmetros antropométricos. Verificou-se que o consumo destes alimentos industrializados se fez presente tanto para as crianças de peso adequado e com excesso de peso.

O acesso aos alimentos industrializados pode ser observado em todas as faixas de renda, porém verificou-se que somente o refrigerante teve uma associação significativa com renda.

O consumo destes alimentos industrializados com alto teor de açucares simples, gordura trans, ácidos graxos saturados, sódio; e o baixo consumo de fibras e carboidratos complexos são um dos fatores que se associa para o surgimento precoce de DCNT, podendo trazer alguns prejuízos à saúde das crianças a curto e em longo prazo.

Desta forma, torna-se imprescindível a implantação de um programa de educação nutricional nas escolas e nas comunidades para a promoção da saúde e prevenção de DCNT. Além do controle na comercialização dos alimentos industrializados nas dependências escolares.

 

Referências

 

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