ARTIGO
ORIGINAL
Atividade
física e concentrações dietéticas de fibras e sua associação com parâmetros de
adiposidade
Physical activity and dietary concentrations of fibers and its
association with adiposity parameters
Aline Carole Marques da Silva Torres*, Mísia
Pinheiro Aguiar Cunha*, Betânia de Jesus e Silva Almendra
Freitas, D.Sc.**, Kyria Jayanne Climaco
Cruz***
*Nutricionista graduada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI),
**Nutricionista Professora Doutora UFPI, ***Nutricionista Doutoranda em
Alimentos e Nutrição UFPI
Recebido 2 de agosto de 2017; aceito15 de dezembro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Aline Carole Marques da Silva Torres, Rua 13 de maio
número 1266, 65018-285 Teresina PI, E-mail: aline_carole@hotmail.com; Mísia Pinheiro Aguiar Cunha: misiapac@hotmail.com; Betânia
de Jesus e Silva Almendra Freitas: bsaf@ufpi.edu.br; Kyria Jayanne Climaco
Cruz: kyriajayanne@hotmail.com
Trabalho apresentado
em eventos científicos: 12º Congresso Norte Nordeste de Nutrição Parenteral e
Enteral e 12º Congresso de Nutrição Clínica, Teresina/PI, no período de 24 a 26
de agosto de 2016.
Resumo
Introdução: O estilo de vida
moderno, com baixos níveis de atividade física, dieta hipercalórica e baixa
ingestão de fibras são fatores importantes para o aumento da prevalência de
sobrepeso e obesidade. Métodos:
Estudo transversal de abordagem quantitativa, realizado com mulheres em uma
unidade básica de saúde, com idade mínima de 20 anos. Foram obtidas informações
demográficas, antropométricas e para avaliação do consumo alimentar
utilizando-se dois recordatórios de 24 horas. Os
dados foram organizados em planilhas do Excel® e exportados para o programa
SPSS para análise estatística, com aplicação de teste T Student
e Qui quadrado, sendo considerado significante valor
de P < 0,05. Resultados: Foram
avaliadas 90 mulheres, sendo 45 obesas e 45 eutróficas.
Os valores médios da CC e IMC estavam aumentados nas obesas. Os resultados
mostram que o percentual de contribuição dos lipídios no VET das obesas estava
superior e a ingestão de fibras dietéticas estava inferior ao recomendado em
ambos os grupos. O nível de atividade física das usuárias mostrou predominância
de pessoas ativas em 46,7% no grupo caso e 66,6% no caso controle. Não houve
correlação entre ingestão dietética de fibras e os indicadores antropométricos
nos grupos estudados. Não houve associação entre nível de atividade física e
IMC (p = 0,079) e valores de CC (p = 0,529). Conclusão: O consumo dietético de fibras estava inferior nas
mulheres obesas. Não houve associação entre atividade física, IMC e CC; assim
como a ingestão dietética de fibras não se associou aos parâmetros de
adiposidade. Sugere-se a realização de novos estudos com amostras maiores e
aplicação de inquéritos alimentares associados a um Questionário de Frequência
Alimentar, a fim de dirimir vieses de memória e porcionamento
e assim alcançar resultados representativos que possam subsidiar a adoção de
estratégias de tratamento da obesidade.
Palavras-chave: Atividade física,
Índice de massa corporal, Circunferência da cintura, Ingestão alimentar de
fibras.
Abstract
Introduction: Modern lifestyle, with low levels of physical activity, hypercaloric diet and low fiber intake are important
factors in increasing the prevalence of overweight and obesity. Methods: This is a cross-sectional,
quantitative approach, carried out with women in a basic health unit, with a
minimum age of 20 years. Demographic, anthropometric and food consumption data
were obtained using two 24-hour Reminders. The data were organized in Excel®
spreadsheets and exported to the SPSS program for statistical analysis, with
application of Student's T-test and Chi-square, being considered a significant
value of P < 0.05. Results: A
total of 90 women were evaluated, being 45 obese and 45 eutrophic. The mean
values of WC and BMI were increased in obese women. The results show that the
percentage of lipids contribution in the VET of the obese was superior and the
dietary fiber intake was lower than the recommended one in both groups, however
there was no association between dietary fibers and BMI and WC in obese women.
The level of physical activity of the users showed a predominance of active
people in 46.7% in the case group and 66.6% in the control case. There was no
correlation between dietary fiber intake and anthropometric indicators in the
groups studied. There was no significant association between physical activity
level and BMI (p = 0.079) and WC values (p = 0.529). Conclusion: Dietary fiber intake was lower in obese women. There
was no association between physical activity, BMI and WC, dietary fiber intake
was not associated with adiposity parameters. It is suggested that new studies
with larger samples and the application of dietary surveys associated with a
Food Frequency Questionnaire should be carried out in order to resolve biases
in memory and portioning and thus achieve representative results that may
support the adoption of obesity treatment strategies.
Key-words: Physical
activity, body mass index, waist circumference, food fiber intake.
A obesidade é
definida como um acúmulo de gordura anormal que pode acarretar graves danos à
saúde, cujo diagnóstico baseia-se em IMC ≥ 30 kg/m2 [1,2]. cujas consequências está a vulnerabilidade para doenças
cardiovasculares e metabólicas, como hipertensão, diabetes tipo 2 e câncer [3].
Considerada uma doença crônica não transmissível (DCNT), a obesidade tem causa
multifatorial, englobando fatores genéticos, sociais, comportamentais e
culturais [4].
O ambiente moderno é
um potente estímulo para a obesidade. A diminuição dos níveis de atividade
física e o aumento da ingestão calórica são fatores determinantes ambientais
mais fortes. Há um aumento significativo da prevalência da obesidade em
diversas populações do mundo, incluindo o Brasil. Alguns levantamentos apontam
que mais de 50% da população está acima do peso, ou seja, na faixa de sobrepeso
e obesidade. Na população com mais de 20 anos de idade, o excesso de peso passou
de 28,7% para 48% entre mulheres, e a obesidade cresceu de 8% para 16,9% entre
mulheres. A causa do aumento da obesidade engloba diversos fatores, podendo ser
relacionada ao declínio do gasto energético dos indivíduos, pelo predomínio das
ocupações que demandam menor esforço físico e pela redução da atividade física
como lazer, associados a esses fatores, estão a
diminuição do consumo de fibras e o aumento do consumo de gorduras e açúcares
[5].
Nas últimas décadas,
a população está aumentando o consumo de alimentos com alta densidade calórica,
alta palatabilidade, baixo poder sacietógeno
e de fácil absorção e digestão. Estas características favorecem o aumento da
ingestão alimentar e, portanto, contribuem para o desequilíbrio energético.
Mudanças sócio-comportamentais da população também
estão implicadas no aumento da ingestão alimentar e, portanto, no aparecimento
da obesidade. A diminuição do número de refeições realizadas em casa, o aumento
compensatório da alimentação em redes de fast food e o aumento do tamanho das porções
“normais” levam ao aumento do conteúdo calórico de cada refeição. O estilo de
vida moderno também favorece o ganho de peso por diversos fatores que
interferem na ingestão alimentar, podem resultar em alterações comportamentais
relacionadas ao hábito alimentar em que o sistema de prazer e recompensa (não
homeostático) se sobrepõe ao sistema regulador homeostático [6].
A adoção de um estilo
de vida sedentário, com baixos níveis de atividade física (AF) e a adoção de
uma dieta hipercalórica e com baixa ingestão de fibras são fatores importantes
para o aumento da prevalência de sobrepeso, obesidade e, consequentemente,
distúrbios metabólicos [7]. O papel nutricional e metabólico das fibras
alimentares (FA) vem despertando interesse nos últimos anos e seu consumo
adequado de FA na dieta usual parece reduzir o risco de desenvolvimento de
algumas doenças crônicas como: doença arterial coronariana (DAC), acidente
vascular cerebral (AVC), hipertensão arterial, diabetes melito
(DM) e algumas desordens gastrointestinais, melhora os
níveis dos lipídeos séricos, melhora o controle da glicemia em pacientes com
diabetes mellitus (DM), auxilia na redução do peso corporal e ainda atua na
melhora do sistema imunológico [8].
Fontes tradicionais
de FA encontradas em hortaliças e frutas, como tomate, cebola, alface, repolho,
banana e laranja são insuficientemente consumidas no
Brasil. A avaliação da ingestão dietética de fibras é importante e faz-se
necessária devido a seu impacto sobre a saúde e indução de perda de peso. O
exercício físico e as dietas hipocalóricas promovem a diminuição da gordura
corporal, o aumento da massa magra e a atenuação das comorbidades
geradas pelo excesso de gordura, compondo o tratamento clínico da obesidade
juntamente com o uso de fármacos específicos.
Houve um aumento de
18% no percentual de pessoas que praticam atividade física no lazer no Brasil.
Ainda é alto o índice de sedentarismo o qual está relacionado ao aparecimento
de doenças crônicas, como: câncer, hipertensão, diabetes e obesidade [9]. No
mundo 31% dos adultos com 15 anos ou mais não são suficientemente ativos; e no
Brasil, o percentual de pessoas com mais de 18 anos não suficientemente ativos
é de 48,7%. O desafio assumido pelo Ministério da Saúde é reduzir esse
percentual a 10% até 2025 [6].
Os objetivos deste
trabalho são estimar a ingestão dietética de fibras e verificar o nível de
atividade física de mulheres eutróficas e obesas,
associando-os com os parâmetros de adiposidade.
Delineamento,
população e local do estudo
Trata-se de um estudo
transversal com controles de abordagem quantitativa que foi realizado com
mulheres em uma unidade básica de saúde do município de Teresina/PI. As
participantes do estudo foram selecionadas por amostragem de conveniência,
integrando-se à amostra as mulheres que aceitassem participar da pesquisa,
mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e
atendessem aos critérios de elegibilidade propostos: atendimento regular na
unidade de estratégia de saúde da família, com IMC dentro dos limites de eutrofia (grupo controle) e obesidade (grupo caso), ter aceito participar da pesquisa mediante assinatura do
termo de consentimento livre e esclarecido, sem distinção de sexo e raça, faixa
etária superior a 20 anos, não apresentar doenças crônicas debilitantes e
distúrbios psicológicos que dificultem a compreensão.
E o grupo controle
foi constituído por mulheres, cujo calor de IMC era inferior a 25 kg/m2
e similaridade ao grupo de obesas quanto as
características socioeconômicas. A partir do processo de amostragem descrito, o
universo amostral totalizou 90 mulheres divididas em dois grupos: obesas e eutróficas, cujo diagnóstico antropométrico baseou-se no
preconizado pela OMS/2004. Este projeto foi submetido à apreciação e aprovado
pelo comitê de ética e pesquisa da Universidade Federal do Piauí, cujo número
do CAAE 42235515.2.0000.5214, parecer 1.144.242. As informações fornecidas
pelos sujeitos terão sua privacidade garantida pelos pesquisadores
responsáveis. Os sujeitos da pesquisa não serão identificados em nenhum
momento.
Avaliação
antropométrica
Os sujeitos
incorporados à pesquisa foram submetidos à avaliação nutricional, utilizando-se
os parâmetros: peso, altura, circunferência da cintura (CC). Todas as medidas
antropométricas foram aferidas por um único observador, obedecendo ao prescrito
no International Standards for Anthropometric
Assessment e as recomendações do Manual de
Técnicas e Procedimentos do Ministério da Saúde (2003). A partir das medidas de
peso e altura foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC) (IMC = peso (kg)/altura2(m). O estado antropométrico das
mulheres foi definido, segundo a classificação proposta pela OMS/2004. A
Circunferência da cintura foi medida com fita métrica ao nível da cicatriz
umbilical, com as mulheres em expiração, comparando com o que preconiza a OMS
(2004), que estabelece como ponto de corte para risco cardiovascular aumentado,
a medida de circunferência abdominal igual ou superior a 94 cm em homens e 80
cm em mulheres.
Avaliação
do consumo alimentar
Para a avaliação do
consumo habitual foram aplicados dois recordatórios
de 24 horas, durante a semana, contendo alimentos quantificados em medidas
caseiras. Este método consiste em informar a hora em que foi realizada
determinada refeição, os alimentos que foram consumidos e as quantidades
destes, estimando o consumo atual. Os itens alimentares foram inseridos no
programa Nutwin. As porções foram apresentadas em
álbum de fotos ilustrativas a fim de se padronizar as medidas. Como ponto de
corte para verificar a adequação da composição das dietas, reportou-se ao
preconizado pela FAO/OMS (2003) em relação à participação dos macronutrientes no valor energético total (VET) da
alimentação: 55% a 75% do VET de carboidratos totais, 10% a 15% do VET de
proteínas e 15% a 30% do VET de gorduras e fibras dietéticas de 25 g/dia [5].
Avaliação
da atividade física
O nível de atividade
física (NAF) do indivíduo foi avaliado e classificado conforme orientação do
Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), nas seguintes
categorias: Insuficientemente Ativo – são as pessoas que praticam atividades
físicas por pelo menos de 10 minutos contínuos por semana, porém de maneira
insuficiente para ser classificado como ativos. Para classificar os indivíduos
nesse critério, são somadas a duração e a frequência dos diferentes tipos de
atividades (caminhadas + moderada + vigorosa). Essa categoria divide-se em dois
grupos: Insuficientemente Ativo A – Realiza 10 minutos contínuos de atividade
física, seguindo pelo menos um dos critérios citados: frequência – 5
dias/semana ou duração 150 minutos/semana. Insuficientemente Ativo B – Não
atinge nenhum dos critérios da recomendação citada nos indivíduos
insuficientemente ativos A. Ativo – Cumpre as seguintes recomendações: a)
atividade física vigorosa ≥ 3 dias /semana e ≥
20 minutos /sessão; b) moderada ou caminhada ≥ 5 dias /semana e ≥
30 minutos /sessão; c) qualquer atividade somada: ≥ 5 dias /semana e ≥
150 min/semana. Muito ativo – Cumpre as seguintes recomendações: a) vigorosa ≥
5 dias /semana e ≥ 30 min / sessão; b) vigorosa ≥
3 dias /semana e ≥ 20 min/sessão + moderada e ou caminhada ≥ 5 dias
/semana e ≥ 30 min /sessão.
Análise
estatística
Os dados foram
organizados em planilhas do Excel®, para realização de análise descritiva das
variáveis observadas nos grupos estudados. Posteriormente, os dados foram
exportados para o programa SPSS (for Windows® versão 20.0) para análise
estatística dos resultados, com aplicação de teste T Student
e Teste Mann-Whitney e teste Qui-quadrado e Correlação de Spearman, sendo considerado
significante valor de P < 0,05.
Resultados
Foram avaliadas 90
mulheres, sendo 45 obesas e 45 eutróficas. As
mulheres obesas apresentavam média de idade 42,64 ± 13,59 anos e de 35,58 ±
15,20 anos as eutróficas. As mulheres eutróficas apresentavam mais alta renda salarial (p =
0,004), a prevalência de mulheres casadas entre as obesas foi de 60% e 46,7%
entre as eutróficas.
Tabela
I - Idade e indicadores antropométricos médios
das usuárias da ESF. Teresina, 2016.
Teste Mann-Whitney a
ou Teste “t” de Student b. IMC = índice de massa
corpórea; CC = circunferência da cintura.
Os valores médios da
CC e IMC estavam aumentados nas obesas, apontando para risco elevado de
complicações metabólicas.
Tabela
II -
Concentrações dietéticas médias de
energia, macro nutrientes e fibras segundo os grupos
das usuárias da ESF. Teresina, 2016.
Teste “t” de Student a ou Teste Mann-Whitneyb.
VET = Valor Energético Total.
A tabela II expõe os
valores médios das concentrações dietéticas médias de energia, macronutrientes e fibras dos grupos caso e controle. Os
resultados mostram que o percentual de contribuição dos lipídios no VET estava
significativamente superior e a ingestão de fibras dietética estava
significativamente inferior nas obesas, e em ambos os grupos o consumo
dietético de fibras era inferior ao recomendado.
Figura
1 - Nível de atividade física das usuárias da
ESF. Teresina, 2016.
Qui-quadrado (p = 0,079).
Conforme figura 1, o
nível de atividade física das usuárias mostrou predominância de pessoas ativas
em 46,7% no grupo caso e 66,6% no caso controle, sem diferença significativa.
Tabela
III
- Correlação linear simples entre
ingestão dietética de fibras e parâmetros de adiposidade de mulheres segundo os
grupos. Teresina, 2016.
Coeficiente de
Correlação de Spearman.
Não houve correlação
entre ingestão dietética de fibras e os indicadores antropométricos IMC e CC
nos grupos estudados.
Tabela
IV -
Associação entre o nível de atividade
física e IMC.
Qui-quadrado de Pearson
0,079.
Não houve associação
significativa entre nível de atividade física e IMC (p = 0,079).
Tabela
V - Associação entre o nível de atividade física
e CC.
Qui-quadrado de Pearson
0,529.
Não houve associação
significativa entre nível de atividade física e classificação da circunferência
da cintura (p = 0,529).
Nossos dados
mostraram valores elevados para a CC de 99,48 ± 10,92 cm no grupo de mulheres
obesas, apontando para risco elevado de complicações metabólicas, corroborando
com estudo realizado que descreveram uma relação positiva entre a CC e peso
corporal, associando seus resultados com aspectos socioeconômicos,
comportamentais e bioquímicos, que atuam na etiologia da obesidade central. Os
autores ainda relatam que a adoção de hábitos alimentares inadequados,
caracterizados pelo consumo excessivo de açúcares simples e gorduras e ingestão
insuficiente de frutas e hortaliças, pode ter contribuído diretamente para o
ganho de peso nesse grupo populacional [10]. Além disso, os autores relatam a
necessidade de uma investigação mais aprofundada de outros fatores de risco
relacionados à ocorrência de obesidade como o sedentarismo, condição
socioeconômica e história familiar de obesidade.
Os resultados
mostraram maior prevalência da obesidade entre as mulheres com baixa renda; a
mais alta renda salarial das mulheres eutróficas pôde
ser evidenciada (p = 0,004). Evidenciam fraca correlação inversa entre renda e
consumo diário de vegetal A (r = -0,263) e ainda após análise por regressão
múltipla, observaram que os obesos de menor renda apresentavam 1,79 mais chance de não consumir vegetal A diariamente do
que os de maior renda [11]. E ainda demonstraram que a renda tem relação direta
ao poder de compra, definindo as escolhas alimentares. Assim indivíduos de
menor renda apresentam menor probabilidade de consumir vegetais folhosos e
alimentos ricos em fibras, os quais são tão importantes numa dieta saudável
para redução calórica e para melhorar a qualidade de vida.
A condição de
solteira, separada ou viúva, ou seja, de não estar engajada em uma relação mais
estável, parece proteger a mulher dos distúrbios nutricionais, em comparação às
mulheres casadas ou em união conjugal, que apresentaram um risco 36% maior de
serem obesas [12]. É provável que o excesso de risco esteja relacionado a uma
maior preocupação com a imagem corporal e a uma vida social mais ativa por
parte daquelas que não vivem com um parceiro, e a uma menor dedicação das
mulheres em união a si próprias, por conta dos esforços que despendem com os
cuidados do lar e dos filhos. Adultos casados, tanto homens quanto mulheres,
apresentavam uma maior prevalência de obesidade e sobrepeso quando comparados
com adultos de outros estados civis e aqueles que nunca haviam casado tinham
menor probabilidade de desenvolverem obesidade. Entretanto, alguns autores
sugerem que o estado civil pode influenciar o ganho de peso em homens, mas não
em mulheres.
A associação entre a
gordura abdominal e o consumo de gorduras é notória, no entanto o papel da
gordura na dieta dos obesos permanece controversa,
devido à complexidade que envolve seu metabolismo. Sabe-se que a ingestão de
gordura aumenta os riscos de doenças cardiovasculares e, dentre outros fatores,
causa a hiperinsulinemia, que pode levar ao aumento
do acúmulo da gordura abdominal [3].
Alguns trabalhos
apresentam resultados inconclusivos sobre a associação entre a ingestão das
gorduras totais e desenvolvimento da obesidade. Ressalta-se, por oportuno, a
importância do tipo de gordura consumida e a indução do aumento do peso e
acúmulo de gordura na região abdominal. São escassos os dados de estudos
realizados em populações de mulheres, dificultando a comprovação da hipótese de
que a alta ingestão de gorduras favorece o desenvolvimento da obesidade.
A importância da
ingestão das fibras em relação à diminuição do acúmulo de gordura abdominal tem
sido demonstrada em diferentes trabalhos; os resultados atuais mostraram
consumo de fibras estatisticamente inferior entre as obesas. Este estudo
mostrou grande probabilidade de inadequação de fibras dietéticas entre as
mulheres estudadas: os valores médios de ingestão mostraram-se inferiores ao
preconizado de 25 g/dia, evidenciou ainda 100% de inadequação no consumo de
fibras dietéticas pelas mulheres avaliadas, privando tal população de usufruir
os benefícios promovidos pelas fibras dietéticas, como: auxiliar no bom
funcionamento intestinal, na captação da glicose, a sua fermentação pelas
bactérias colônicas induz impacto sobre a velocidade
do trânsito intestinal, sobre o pH do cólon e sobre a
produção de subprodutos com importante função fisiológica [1]. Este estudo não
mostrou correlação entre as fibras dietéticas e os parâmetros IMC e CC. Tal
fato pode ser devido ao baixo consumo dietético de fibras da amostra analisada,
cujo percentual de inadequação atingiu 100% da amostra. O consumo baixo de
fibras na dieta pode ser evidenciado pela menor ingestão de frutas e verduras,
a qual decorre dos hábitos alimentares inadequados prevalentes na população,
caracterizados pela diminuição do consumo de alimentos in natura e aumento da
ingestão de alimentos industrializados.
As dietas ricas em
fibras estão associadas a níveis mais baixos de marcadores inflamatórios; neste
sentido, em estudo randomizado, envolvendo 35 sujeitos (18 normotensos magros e
17 indivíduos hipertensos obesos) com idades entre 18 a 49 anos, avaliaram o
efeito de 2 dietas: com alto teor de fibras (30 g/d) e
dieta (DASH) com suplemento de fibras (30 g/d), num período de 3 semanas,
encontrando que uma dieta rica em fibra natural ou com suplemento pode reduzir
os níveis de PCR [13].
Neste sentido um
estudo realizado com 120 mulheres obesas e pré-menopáusica
em que tinha a intenção de se avaliar os níveis de proteína C reativa (PCR)
ultrassensível (US), após a introdução de uma alimentação mais saudável com o
consumo de fibra alimentar aumentado na dieta, dentre as voluntárias um total
de 60 mulheres aderiram a dieta mediterrânea (à base
de vegetais, frutas, grãos integrais, oleaginosas, leguminosas, peixe e azeite
de oliva), esse foi o grupo de intervenção. O grupo controle foi apenas
instruído com informações gerais sobre as melhores escolhas de alimentos saudáveis.
Após 24 meses, os níveis de PCR US do grupo intervenção tiveram significativa
redução em relação aos seus valores basais (inicial: 3,2 mg/l
e final: 2,1 mg/l, respectivamente) [14].
As fibras alimentares
do tipo solúveis são as mais importantes no tratamento da obesidade. Entre elas
estão as frutas, a aveia, a cevada, as leguminosas
(como a lentilha, o feijão, o grão-de-bico, a ervilha) e as hortaliças [15].
Sua principal ação é formar géis no estômago, originando bolos alimentares mais
viscosos, que influenciam nas respostas nervosas, condicionando a saciedade. A
fibra alimentar auxilia no bom funcionamento do intestino, acelerando o tempo
de transito intestinal, reduz a velocidade do esvaziamento gástrico, diminui a
fome e com isso auxiliam no tratamento da obesidade.
Corroborando com o
estudo atual também não encontraram relação entre o IMC e a ingestão de fibras
da dieta (p = 0,653) [16]. Por outro lado, encontrou uma associação inversa
entre o ganho de peso e alto consumo de fibras e alimentos como grãos
integrais, sendo que o efeito benéfico do consumo de fibras sobre o peso foi
mais significante entre aquelas que começaram o estudo com excesso de peso
[13]. No mesmo sentido houve baixo consumo de fibras nos grupos com sobrepeso e
obesidade, com diferença estatística significativa (p = 0,04), o que pode
refletir a influência das fibras dietéticas sobre o estado antropométrico do
grupo analisado [17].
A intervenção no
estilo de vida como a regularidade de exercícios físicos traz importantes
benefícios para a saúde cardíaca: redução de peso, da circunferência da
cintura, aumento da capacidade física [4]. A redução dos níveis de atividade
física também parece exercer papel fundamental nesse processo [18]. Mesmo
diante das evidências, estudos revelam que a prevalência de sedentarismo ainda
é preocupante, tanto em países desenvolvidos quanto naqueles de renda média e
baixo. Entre os benefícios imediatos que a prática de atividades físicas
oferece está a melhora na aptidão física relacionada à saúde, como aptidão
cardiorrespiratória, força muscular e flexibilidade [19].
O presente trabalho
não mostrou correlação entre o nível de atividade física e os parâmetros IMC e
CC. É certo que o estudo apresentou limitações quanto ao preenchimento do
Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), suscitando muitas
dúvidas por parte dos entrevistados na compatibilização entre o nível de
atividade física proposto frente suas reais atividades diárias, o que poderia
gerar resultados distorcidos. Sabendo-se que a prática esportiva induz
benefícios, sobretudo para a diminuição do tecido adiposo, melhora dos
parâmetros metabólicos como glicemia, sensibilidade à insulina, lipídios e
resposta inflamatória, deve-se estimular a adoção de exercícios físicos
regulares como estratégia preventiva de combate a obesidade.
O consumo dietético
de fibras estava estatisticamente inferior nas mulheres obesas e 40% destas
mulheres foram consideradas sedentárias, o que pode ter contribuído para o excesso de peso. A despeito do
estudo não mostrar associação entre atividade física e IMC e CC, assim como
entre a ingestão dietética de fibras e mesmos parâmetros de adiposidade (IMC e
CC), é de se reconhecer um comportamento alimentar e hábito de vida tendente a
gerar um ambiente metabólico propício a balanço energético positivo, excesso de
peso e obesidade. Como obesos tendem a ingerir alimentos com maior densidade
calórica e considerando a maior vulnerabilidade a doenças crônicas nestes, deve
se estimular a adesão a programas de reeducação alimentar aliando a prática
regular de atividades físicas para assim dirimir tais riscos e melhorar a
qualidade de vida. Os fatores comportamentais e ambientais contribuem de forma
significativa para o sobrepeso e a obesidade e propiciam boas oportunidades
para ações e intervenções voltadas para prevenção e tratamento deste problema
de saúde pública. Tais resultados devem ser interpretados com cautela, isto
porque estudos transversais, embora sejam importantes na geração de hipóteses,
não permitem o estabelecimento de uma relação direta de causa e efeito.
Sugere-se a realização de novos estudos com amostras maiores e aplicação de
inquéritos alimentares associados a um Questionário de Frequência Alimentar, a
fim de dirimir vieses de memória e porcionamento e
assim alcançar resultados representativos que possam subsidiar a adoção de
estratégias de tratamento da obesidade.