Hipercalemia
e consumo de potássio em pacientes renais crônicos em hemodiálise
Hyperkalemia and potassium intake in chronic renal patients with chronic
kidney disease on hemodialysis
Ana Mykaele Dantas
Patrício*, Paloma Bezerra de Sousa*, Francisca Gecilvânia Alves de Sousa*,
Janice Alves Trajano*, Thaís da Conceição Pereira*, Leticia Alves de Sousa
Lima**, Antonio Wislley Pedrosa Cavalcanti*, Karina Morais Borges***
*Nutricionista
pela Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN), **Graduanda em Nutrição pelo Centro
Universitário Estácio do Ceará, **Profa. Esp, Curso de Nutrição da Faculdade de
Juazeiro do Norte (FJN), Juazeiro do Norte/CE
Recebido 5 de agosto de 2017; aceito 15 de setembro de 2017
Endereço
para correspondência:
Ana Mykaele Dantas Patrício, E-mail: mykaele1046@gmail.com; Paloma de Sousa
bezerra: paloma.s.bezerra@gmail.com; Francisca Gecilvânia Alves de Sousa:
gecilvanya_alves12@hotmail.com; Janice Alves Trajano: janicetrajano@live.com;
Thaís da Conceição Pereira: thaispereira1914@gmail.com; Leticia Alves de Sousa
Lima: leticia_lima123@hotmail.com; Antonio Wislley Pedrosa Cavalcanti:
wislleypedrosa@hotmail.com; Karina Morais Borges: karinamoraisborges@yaho.com.br
Resumo
A doença renal
crônica é a perda progressiva e irreparável da função renal, sendo necessária
uma terapia renal substitutiva, a hemodiálise. Mesmo nos pacientes realizando
este procedimento, um distúrbio hidroeletrolítico ainda comum nessa população é
a retenção de potássio sanguíneo podendo levar a hipercalemia. O objetivo deste
estudo foi relacionar o consumo alimentar com a hipercalemia em pacientes
renais crônicos em hemodiálise e avaliar se estes conhecem e/ou praticam
técnicas dietéticas que minimizem o teor de potássio dos alimentos. Os
pacientes hipercalemicos foram selecionados mediante consulta nos prontuários,
foi utilizado um instrumento de coleta de dados semiestruturado, subdividido em
quatro tópicos: perfil sócio econômico, dados clínicos, perfil alimentar e
conhecimento e práticas de técnicas dietéticas que minimizam o potássio dos
alimentos. Foi verificado que a maioria dos pacientes tem uma alta frequência
de consumo de alimentos ricos em potássio, não conhecem e nem realizam técnicas
dietéticas que minimize o teor de potássio dos alimentos. Conclui-se que houve
uma correlação entre o alto consumo alimentar, a não realização de técnicas que
minimiza o teor de potássio dos alimentos e a hipercalemia.
Palavras-chave: doença renal
crônica, hipercalemia, consumo alimentar.
Abstract
Chronic kidney disease is the progressive and irreparable loss of renal
function, requiring renal replacement therapy. Even patients undergoing this
procedure, an electrolyte disturbance still common in this population is the
retention of blood potassium, which can lead to hyperkalemia. The objective of
this study was to connect dietary intake with hyperkalemia in patients with
chronic renal disease on hemodialysis and to evaluate if they know and/or
practice dietary techniques that minimize the potassium content of foods.
Hyperkalemic patients were selected through medical records, and we used a
semi-structured data collection instrument subdivided into four topics:
socioeconomic profile, clinical data, food profile and knowledge and practices
of dietary techniques that minimize potassium in food. It was verified that the
majority of the patients have a high frequency of intake of foods rich in
potassium, do not know and do not use dietary techniques that minimize the
potassium content of foods. We concluded that there was a correlation between
the high food intake consumption, the non-performance of techniques that
minimizes the potassium content of foods and hyperkalemia.
Key-words: chronic
kidney disease, hyperkalemia, food intake.
Nos últimos 20 anos a
incidência da doença renal crônica (DRC) vem crescendo de forma epidêmica em
todo o mundo. Esta doença tem como característica a perca progressiva e
irreversível da função renal, contribuindo desta forma para o aparecimento de
uma série de distúrbios hidroeletrolíticos, hormonais, metabólicos e
nutricionais [1].
Esta doença é
classificada em cinco estágios, relacionada à taxa de filtração glomerular
(TFG), em que os estágios 1 e 2 são estágios iniciais,
que tem como marcadores proteinúria, hematúria ou questões anatômicas. Os
estágios 3 e 4 são considerados estágios avançados e o
estágio 5 é caracterizado por falência renal e resulta em morte, a menos que se
inicie uma terapia renal substitutiva realizada através da hemodiálise
(filtração do sangue artificialmente), diálise peritoneal ou do transplante
renal [2].
Um
distúrbio
hidroeletrolítico comum nessa população é a
diminuição da eliminação renal do
potássio, levando, consequente a um quadro de hipercalemia,
definida quando a
concentração sérica de potássio está
superior a 5,5 mEq/l.
Esse excesso de potássio na corrente sanguínea pode levar a arritmias,
bradicardia, fraqueza muscular, paralisia (inclusive respiratória), parestesia,
reflexos hipoativos, náuseas, vômitos e até mesmo morte súbita[3]. Outras
condições, além da doença renal crônica em si, podem levar ao quadro de
hipercalemia tais como: destruição tecidual aumentada, hipoaldosteronismo,
interação com alguns medicamentos como os inibidores ECA (enzima conversora da
angiotensina), heparina e anti-inflamatórios [3,4].
Como na doença renal
crônica não há a excreção devida do potássio, o controle da ingestão de
alimentos ricos neste eletrólito é uma das formas de tratamento, pois tem como
objetivo não elevar os níveis de potássio sanguíneo principalmente no período
interdialítico, para pacientes que realizam a hemodiálise três vezes por
semana, uma vez que a hemodiálise realiza a filtração sanguínea removendo assim
o excesso de potássio. A atenção nutricional a estes pacientes é de fundamental
importância para o controle dietético da ingestão de potássio. É importante
também que os pacientes tenham conhecimento de algumas técnicas dietéticas para
reduzir o potássio de alguns alimentos, tais como: descascamento, corte, centrifugação e cocção em bastante água,
principalmente para os alimentos de origem vegetal que são mais ricos neste
eletrólito [5,6].
Estudar os fatores
causadores da hipercalemia e a adesão dos pacientes a dietas hipocalêmicas, seja pelo consumo de alimentos naturalmente pobres em
potássio ou pela aplicação de técnicas dietéticas corretas que reduzam o
potássio dos alimentos a fim de garantir a inclusão de uma alimentação mais
diversificada, é de fundamental importância para melhorar a qualidade de vida
desses pacientes.
A realização deste
estudo possibilitará a obtenção de ferramentas que irá subsidiar o planejamento
e desenvolvimento de ações educativas que melhorem o quadro clínico do paciente
e o quadro de hipercalemia.
Assim, o objetivo do
presente trabalho foi relacionar o consumo alimentar com os elevados níveis de
potássio sérico em pacientes renais crônicos em programa de hemodiálise, bem
como avaliar se estes pacientes conhecem e/ou praticam técnicas dietéticas
capazes de minimizar o teor de potássio dos alimentos.
Trata-se de um estudo
do tipo transversal com abordagem quantitativa, que foi realizado em uma
unidade de diálise e transplante renal na cidade do Crato/CE no período de
fevereiro a abril de 2017. Os critérios de inclusão adotados para a
participação no estudo foram: pacientes que estivessem em tratamento dialítico
há pelo menos três meses, que apresentassem exames bioquímicos com níveis
séricos de potássio > 5,5 mEq/l nos últimos três meses, de ambos os sexos, com idade
mínima de 18 anos, clinicamente estáveis e que tivessem uma boa eficiência
dialítica, identificada por meio de Kt/V ≥ 1,2. Os critérios de exclusão
foram: pacientes que tivessem distúrbios psiquiátricos ou baixa capacidade
cognitiva, que apresentassem outras doenças crônicas que pudessem interferir
nos resultados, como: câncer, AIDS, doença pulmonar e hepatopatias.
Este estudo foi
aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Faculdade de Juazeiro do Norte sob
protocolo número 1.975.398, bem como cumpriu com todas as exigências referente
aos aspectos éticos e legais de pesquisa, dispostas na resolução n 510, de 7 de abril de 2016 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério
da saúde que dispõe sobre pesquisas que envolve seres humanos [7]. A direção da
referida clínica e a médica responsável autorizaram a pesquisa e a avaliação
dos prontuários dos pacientes, mediante assinatura de uma declaração.
Foram avaliados os
prontuários de todos os pacientes em hemodiálise na clínica, um total de 258, a
fim de identificar quais pacientes preencheriam os critérios de inclusão para
participarem da pesquisa. Destes, 21 pacientes se enquadraram e compuseram a amostra do estudo, estes foram convidados a
participar da pesquisa mediante explicação dos objetivos do trabalho e
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Foi utilizado um
instrumento de coleta de dados semiestruturado subdividido em quatro tópicos:
perfil sócio econômico, dados clínicos, perfil alimentar, conhecimento e
pratica de técnicas dietéticas que minimizam o potássio dos alimentos. O tópico
dados clínicos foi coletado nos prontuários do pacientes, onde foram obtidas
informações referentes aos níveis séricos de potássio dos últimos 3 meses, Kt/V, tempo de hemodiálise, etiologia base da
doença renal crônica, outras morbidades e uso de medicamentos que possam
influenciar na hipercalemia. Já as informações para preenchimento dos demais
tópicos foram colhidas junto ao paciente através de entrevistas, realizadas de
forma individualizada.
O questionário de
frequência alimentar foi composto por 25 alimentos com alto teor de potássio, a
escolha destes baseou-se em tabelas com os principias alimentos ricos neste
eletrólito, que são aqueles com quantidade de potássio maior que 5,1 mEq/porção [5,6]. Foram então selecionados os alimentos que
mais se adequavam a realidade regional da população estudada.
Os dados obtidos
foram digitados em planilhas do Microsoft Office Excel 2010 e organizados de
acordo com a estruturação do questionário em forma de tabelas, depois de
digitados, organizados e agrupados, foram então submetidos a cálculos
estatísticos.
Dos 21 pacientes
selecionados para participar da pesquisa 1 foi à óbito
antes da entrevista e 2 se recusaram a participar, desta forma, foram avaliados
18 pacientes.
Na Tabela I podem ser
observadas as características demográficas e socioeconômicas destes pacientes.
A idade média foi de 64,7 ± 12,26 anos, a maioria dos pacientes são do sexo
masculino (83,3%), possui ensino fundamental incompleto (55,5%), renda familiar
de até 1 salário mínimo (61,1%), casados (77,7%) e
moram com familiares (44,4%).
Apesar de nenhum
paciente ser etilista e 2 serem tabagista no momento
da pesquisa, estes relataram já terem feito uso regular de bebida alcoólica e
tabaco, tendo que deixaram tal hábito por apresentarem problemas de saúde.
Apenas 16,6% dos
pacientes praticam atividade física diariamente e 22,2% pratica
de 2 a 3 vezes por semana, durante aproximadamente 30 minutos.
Tabela
I - Características demográficas e
socioeconômicas dos pacientes avaliados. Crato, Ceará. Brasil, 2017.
A Tabela II traz os
dados clínicos dos pacientes renais, coletados nos prontuários. A média de
potássio sérico foi de 5,93 ± 0,35 mEq/l, essa média
foi calculada a partir da média de potássio dos últimos 3 meses de cada
paciente. Quanto ao uso de medicamentos que podiam influenciar na hipercalemia,
foi encontrado apenas 1 (5,5%) paciente que fazia uso
da losartana potássica. Em relação à doença de base foi verificado que, a
associação entre hipertensão e diabetes foi a
etiologia base mais prevalente em 44,4% dos pacientes, seguida por somente
hipertensão 27,8 %, somente diabetes 11,1%, glomerulonefrite 5,5%, outras
etiologias somaram 11,1%. Já a média de tempo de tratamento hemodialítico foi
de 6,16 ± 4,43 anos, sendo que a maioria 44,4% está em tratamento entre 1 e 5 anos.
Tabela
II -
Dados clínicos dos pacientes renais
hipercalemicos em hemodiálise. Crato, Ceará. Brasil, 2017.
Em relação à frequência
alimentar de alimentos ricos em potássio, foi verificado que todos os paciente
consomem diariamente pelo menos 1 porção de algum
alimento com alto teor de potássio, sendo que a maioria (77,8%) consomem de 1 a
2 porção/dia, 16,7% consomem de 3 a 4 porções/dia e 5,5% consomem mais de 5
porções diariamente.
Em relação ao consumo
semanal a maioria consome de 3-4 porções, sendo que 44,4% dos pacientes
consomem esses alimentos de 3 a 5 vezes na semana e 55,6% de 1 a 2
vezes/semana.
Em se tratando da
frequência de consumo mensal, a maioria consome 5 ou
mais alimentos com alto teor de potássio. Uma vez que a frequência de tempo é
maior, o consumo tende a elevar-se também. A Figura 1 traz a frequência de
consumo por número de porções de alimentos com alto teor de potássio por
pacientes renais crônicos com hipercalemia.
Figura
1 - Frequência de consumo de alimentos com alto
teor de potássio por pacientes renais crônicos com hipercalemia. Crato, Ceará.
Brasil, 2017.
Na Tabela III
observam-se os alimentos com alto teor de potássio mais consumido pelos
pacientes renais. Os mais comumente consumidos diariamente foram o café,
feijão, leite e mamão. Já a batata, o molho de tomate, laranja pera e amendoim
tiveram uma maior frequência de consumo semanalmente, enquanto que, banana
prata teve um uma frequência de consumo tanto diária,
quanto semanal. Entre aqueles consumidos com frequência mensal, os destaques
foram: melão, uva, beterraba, iogurte e abacate.
Tabela
III
- Alimentos com alto
teor de potássio mais consumidos pelos pacientes com hipercalemia.
Crato, Ceará. Brasil, 2017.
Na Figura 2,
observar-se a análise do conhecimento e práticas de técnicas dietéticas que
minimizam o potássio dos alimentos, foi verificado que 22 % dos pacientes
afirmaram ter conhecimento de pelo menos 1 técnica
dietética, enquanto que, destes, apenas 11% alegou que faz uso destas técnicas,
principalmente para alimentos vegetais.
Figura
2 - Conhecimento e pratica dos pacientes renais
hipercalemicos sobre técnicas dietéticas que minimizam o potássio dos
alimentos. Crato, Ceará. Brasil, 2017.
A média de idade
destes pacientes retrata uma população majoritariamente idosa, fato que pode
ter sua explicação em virtude da idade ser um fator de risco para o
desenvolvimento da DRC, pois a diminuição fisiológica da filtração glomerular
com o avanço da idade e as lesões renais secundarias à
doenças crônicas, tornam essa população mais susceptível a tal doença [8].
A maior proporção de
indivíduos do sexo masculino nesta pesquisa não se diferencia dos resultados
encontrados em estudos realizados em outros estados do nordeste brasileiro [9].
Inclusive alguns autores acrescentam que o gênero masculino seja um dos fatores
de risco para o desenvolvimento da cronicidade da doença renal [10]. Em relação
ao baixo nível de escolaridade e econômico aqui encontrado, corrobora com
estudos que investigaram o perfil demográfico e socioeconômico de pacientes
renais que realizam hemodiálise, sendo que a associação destes dois fatores
proporciona condições desfavoráveis para a compreensão e adesão ao tratamento
da doença [9,11,12].
Segundo a Sociedade
Brasileira de Nefrologia, valores normais de potássio variam 3,5 a 5,0 mEq/l. No entanto, para paciente com doença renal crônica em
estado terminal são aceitáveis valores até 5,5 mEq/l, acima disto já se
considera um quadro de hipercalemia[13]. Em estudos no qual foram avaliados o
potássio sérico de pacientes renais, verificou-se que, no primeiro estudo todos
os pacientes da amostra estavam hipercalemicos, com valores médio de potássio
de 5,89 mEq/l [14], já no segundo 96,7% da amostra do
estudo apresentavam hipercalemia [15].
Tanto a hipertensão
arterial sistêmica (HAS) quanto o diabetes mellitus (DM) são fatores de risco
isolados para o desenvolvimento da DRC [16]. A associação destes dois fatores
torna o indivíduo ainda mais susceptível. Desta forma, os resultados aqui
encontrados mostram que foi a associação destas duas doenças a principal causa
etiológica da DRC nestes pacientes, seguida de HAS isolada, DM isolado e
glomerulonefrite. Esses dados corroboram com Inquérito brasileiro de diálise
crônica no qual a hipertensão arterial (35%), o diabetes (29%), seguidos por
glomerulonefrite crônica (11%) foram as principais causas primárias da DRC no
Brasil [17].
Em relação ao consumo
de alimentos ricos em potássio, um estudo sobre avaliação do seguimento de
dieta por pacientes renais submetidos a hemodiálise
[18], revelou que uma ampla parcela dos pacientes relataram consumir tais
alimentos, sendo que a maioria dos pacientes tinham o hábito de consumi-los
diariamente, concordando com os resultados aqui encontrados, no qual todos os
pacientes consomem pelo menos 1 porção destes alimentos diariamente. Quanto à
frequência semanal também houve um consumo elevado destes alimentos com alto
teor de potássio [18]. No entanto, no estudo não foi levado em consideração as quantidades de alimentos consumidos, apenas se os
pacientes consumiam ou não algum alimento com alto teor de potássio.
Mesmo com uma alta
frequência de consumo, é importante saber também se a quantidade ingerida é
alta ou baixa. Os resultados desta presente pesquisa mostram que, além da alta
frequência, há também uma alta quantidade ingerida, onde semanalmente os
pacientes consomem de 3 a 4 porções de determinados alimentos, isto sem contar
com aqueles que já comem mais de 1 porção diária.
Em um
outro estudo, sobre a avaliação do consumo alimentar de pacientes com doença
renal crônica em hemodiálise, os autores não encontraram nenhuma correlação
significativa entre o consumo de potássio e a hipercalemia [19]. No entanto, os
autores não levaram em consideração outros fatores que poderiam estar
associados a este aumento do potássio sérico, além do consumo alimentar.
Quanto aos alimentos
ricos em potássio mais comumente consumidos, em um estudo sobre avaliação do
estado nutricional e ingestão dietética de pacientes com insuficiência renal
crônica, observou-se através da frequência alimentar que a maioria dos
pacientes (78,5%) consomem café diariamente [20]. Nos
resultados aqui encontrados, foi visto que todos os pacientes ingerem café
diariamente e alguns deles o ingere várias vezes ao
dia. Isso mostra que o consumo de café é um hábito bastante comum entre os
pacientes, principalmente entre aqueles que são idosos, sendo costume de
difícil mudança, contribuindo desta forma para pouca adesão dietoterápica de
restrição do café, que consumido frequentemente e em grandes quantidades pode
influenciar de forma significativa os níveis sanguíneos de potássio em
pacientes renais em fase terminal (principalmente se tratando do café solúvel
que é o mais rico em potássio) [21,22]. Já frutas como laranja, mamão e banana
tiveram um maior consumo semanal [20], assim como, os resultados aqui
encontrados, exceto pelo mamão que no presente trabalho teve um maior consumo
diário.
O primeiro censo do
estado nutricional de pacientes em hemodiálise revelou através da frequência alimentar, que os alimentos ricos em potássio
mais consumidos na região nordeste foram: o café com 63,5% dos pacientes
consumindo de 2 a 3 vezes/dia e 17,5 % 1 vez/dia, o feijão (54% consumiam
diariamente) e frutas como laranja, banana nanica, prata, mexerica, mamão e
melão com maior frequência de consumo semanal (25,8% consumiam de 2 a 4
vezes/semana e 21% 1 vez/semana) [23], concordando com os resultados aqui
encontrados. Vale ressaltar, ainda, que até o dado momento não foram
identificados nenhum estudo que realizassem intervenções nutricionais visando a redução dos níveis séricos de potássio.
Para que não haja a
exclusão de alimentos como frutas, verduras, legumes e leguminosas com elevado
teor de potássio na dieta alguns processos dietéticos podem ser empregados a
fim de diminuir o teor deste nos alimentos. As partes não convencionais dos
vegetais como cascas, talos e folhas, apresentam micronutrientes, como cálcio,
potássio, ferro e a vitamina C com teores maiores que as partes convencionais
[24]. Desta forma a técnica de descasque de frutas e vegetais auxiliam na redução dos teores de potássio dos alimentos.
Outra técnica
bastante utilizada e comprovada é o remolho e a cocção dos alimentos. Vários
estudos foram realizados a fim de verificar o emprego desta técnica para
redução do potássio dos alimentos, e foi constatado que o cozimento a vapor, em
micro-ondas, na pressão e imerso em água, reduzem os níveis de potássio. Sendo
unânime nos resultados que o método de cozimento por imersão em bastante água é
o que resulta significativamente numa maior perda deste nutriente (25,26,27,28).
As recomendações para
pacientes hipercalêmicos é que estes descasquem as frutas, verduras e legumes,
corte-as em pequenos pedaços e cozinhe em bastante água, desprezando a água
depois do cozimento [29,30].
Não foi encontrado na
literatura nenhum estudo que avaliasse o conhecimento dos pacientes renais
sobre o conhecimento e/ ou prática destas técnicas.
Em virtude dos fatos
mencionados foi possível concluir que os pacientes hipercalemicos apresentam um
alto consumo de alimentos ricos em potássio e que não conhecem ou não praticam
técnicas dietéticas capazes de reduzir o teor de potássio dos alimentos,
podendo desta forma relacionar a hipercalemia ao fator dietético como seu
principal causador
Diante disso,
sugere-se a necessidade de educação nutricional, por meio de um profissional
habilitado, a estes pacientes a fim de tratar esse quadro hipercalêmico e como
forma de prevenção deste e de outros agravos decorrentes da não adesão
dietoterápica na doença renal crônica