ARTIGO
ORIGINAL
Análise
físico-química da pimenta de cheiro mantida em temperatura ambiente
Physical-chemical analysis of smelling pepper maintained in ambient
temperature
Ana Alice Costa
Chaves*, Sérvulo Casas Furtado, D.Sc.**
*Nutricionista,
graduada pela Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO, Bolsista NOPI/CNPq,
**Engenheiro Agrônomo, Pesquisador do Núcleo de Apoio a Pesquisa e Inovação
Tecnológica – NOPI da Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO
Recebido 2 de junho de 2015; aceito 15 de outubro de 2016
Endereço
para correspondência:
Sérvulo Casas Furtado, Instituto Metropolitano de Ensino, Núcleo de Pesquisa e
Inovação Tecnológica – NOPI, Av. Constantino Nery, 3000 Chapada 69050001 Manaus
AM, E-mail: servulofurtado@gmail.com; Ana Alice Costa Chaves: alicechaves29@hotmail.com
Resumo
A pimenta de cheiro é
consumida como tempero diário do amazonense devido ao seu sabor atrativo e por
este motivo é bastante valorizada em pratos típicos da região. Desse modo,
diante dos poucos estudos e pesquisas que se tem sobre a pimenta de cheiro,
faz-se necessário promover avanços de conhecimento, visando a
oferta de um alimento de boa qualidade ao consumidor. O objetivo foi analisar físico-quimicamente frutos de pimenta de cheiro
comercializados em feira livre. Foram realizadas várias visitas técnicas a
quatro feiras livres da cidade, sendo selecionada para o trabalho a feira do
Parque Dez de Novembro. Foram adquiridos 24 unidades de pimenta de cheiro que
tinham chegado às seis horas da manhã do domingo considerado dia zero. A cada
24 horas todas as unidades foram avaliadas durante o período de cinco dias. Os
resultados evidenciaram que peso, sólidos solúveis e a vitamina C não sofreram variações
relevantes, sendo considerados estatisticamente iguais
ao controle, o dia zero. A pimenta de cheiro comercializada no ambiente da
feira livre apresentou padrão de qualidade satisfatório, com suas
características físico-químicas e valor nutricional preservado, dentro do
intervalo de tempo da pesquisa.
Palavras-chave: hortaliça, tempo de
prateleira, conservação de alimentos.
Abstract
The smelling pepper is daily consumed as spice due to its attractive
flavor and for this reason is fairly valued in Amazonian regional dishes. Thus, given the
few studies about smelling pepper, is necessary to promote advances in
knowledge, in order to offer a good quality food to the consumer. The aim of
this study was to evaluate the postharvest fruit quality of smelling peppers
sold in open fair. We performed technical visits at four fairs in the town and selected
the Park Ten for this study. We purchased 24 units of smelling peppers that
arrived at 6AM sunday morning
(day 0). Every 24 hours all units were evaluated for five days. The results
showed that weight, soluble solids and vitamin C suffered no significant
variations and were considered statistically equal to the control, day zero.
The peppers marketed in the open fair satisfied the standard of quality with
their physical-chemical characteristics and nutritional value preserved, within
the time of the study.
Key-words: vegetable,
shelf time, food preservation.
O consumo da pimenta
de cheiro está relacionado com hábitos e costumes alimentares de cada país ou
região. No norte do Brasil, a pimenta de cheiro é uma das pimentas mais
consumidas.
No Amazonas é
bastante apreciada pelos manauaras e comunidades ribeirinhas, onde são
comercializadas em feiras livres, supermercados, hipermercados, comércios de
pequeno porte e até mesmo em ruas ao ar livre, sendo utilizadas em pratos
regionais como peixes, arroz e salada popularmente conhecida como vinagrete.
O cultivo de pimentas
do gênero Capsicum é uma importante
fonte alternativa de geração de divisas para as populações agrícolas da região,
uma vez que o Brasil e principalmente a Amazônia é importante centro de
espécies domesticadas desse gênero [1].
Seu aroma e seu sabor
permitem diferencia-la das demais pimentas, que são características específicas
do fruto e sendo razão para seu consumo [2].
Esta especiaria é
rica em alguns nutrientes e estes são fontes para a atuação dos microorganismos,
que por sua vez atuam negativamente prejudicando os alimentos em suas
propriedades físicas, químicas e nutricionais, interferindo em sua qualidade e,
consequentemente, podendo até causar danos à saúde de quem os consomem [3].
Apesar da importância
da Capsicum chinense em nosso país,
as informações sobre a espécie são escassas [4,5].
Nutricionistas no
exercício da sua profissão trabalham com diversas tabelas de composição de
alimentos na elaboração de cardápios. No caso da pimenta de cheiro, não existem
informações nutricionais nas tabelas frequentemente usadas [6-10].
Levando em
consideração os hábitos alimentares de nossa região, onde esta pimenta é
bastante apreciada, se faz necessário que novos trabalhos acrescentem este
alimento nas tabelas de composição nutricional e tracem o seu perfil
pós-colheita.
A indústria de
alimentos tem como uma das suas grandes preocupações a segurança alimentar,
devido às exigências dos consumidores com a qualidade higiênico-sanitária e
nutricional dos alimentos produzidos sem danos ao meio ambiente e a saúde
humana [11].
O consumidor ao
escolher a hortaliça para comprar, deverá estar atento não somente ao bom
aspecto do alimento (cor, firmeza, aroma e sem machucados), mas também ao tempo
que esses alimentos estão expostos para a comercialização, mesmo que estejam
com bom aspecto, à qualidade tem que estar assegurada [12].
A questão é como
distribuir alimentos dos locais de produção para os de consumo, com manutenção
do frescor e da qualidade desejada [13].
A pós-colheita é o
ramo da ciência e tecnologia de alimentos que trata das modificações
físico-químicas que ocorrem nos alimentos após estes serem colhidos até
chegarem à mesa do consumidor. Assim, é preciso promover avanços no conhecimento,
ofertando alimento nutricionalmente adequado, de bom aspecto e estado de
conservação.
Nesse contexto, que
foi idealizado o presente trabalho com o objetivo de analisar físico-quimicamente frutos de pimenta de cheiro
comercializados em feira livre, na cidade de Manaus.
Esse trabalho é uma
das ações de pesquisa que compõem o projeto Avaliação das Perdas de Alimentos
em Feira Livre de Manaus. Projeto este, financiado pelo CNPq sob a forma de
bolsa do PIBITI, processo 800739/2013-2 com inicio em agosto de 2013.
Caracterização
da área de estudo
Foram realizadas
várias visitas técnicas a quatro feiras livres da cidade de Manaus tais como
mercado municipal, feira da banana, feira do coroado e feira do parque Dez de Novembro.
A feira do parque Dez
(Figura 1) foi selecionada para o trabalho por ter apresentado o espaço físico
mais adequado para a condução das atividades, com reservatório para a
higienização e manuseio dos equipamentos, local separado dos demais para a
armazenagem da pimenta, logística sem interferir no fluxo dos feirantes e dos
consumidores.
Fonte: Google Earth
Figura
1 - Localização da feira livre do parque dez de
novembro.
Obtenção
das amostras
A cada 24 horas as
pimentas eram avaliadas durante cinco dias, ou seja, de domingo até sexta-feira
(Figura 2). Essas permaneciam em temperatura ambiente o tempo que estavam em
exposição para venda. Ao final do dia eram acondicionadas conforme o manuseio
diário do feirante (dentro de caixa plástica, sem refrigeração).
Todas as avaliações
foram realizadas no próprio ambiente interno da feira. Para isso, foram
adquiridos 24 unidades de pimenta de cheiro que haviam chegado às seis horas na
manhã do domingo (dia zero). Posteriormente, essas unidades foram identificadas
e numeradas de um a quatro.
Figura
2 - Avaliação das pimentas a cada vinte e quatro
horas.
Avaliações
físico-químicas
As avaliações
físico-químicas realizadas foram o peso, pH e sólidos
solúveis conforme Zenebon [14].
- Perda de peso
fresco: Considerou-se a diferença entre o peso da hortaliça no tempo zero e
aquele obtido em cada 24 horas. Foi utilizada balança digital de precisão 0,1g,
marca Balmak– Actlife, modelo nutri-5;
- Análise de pH: Determinado em quadriplicata com o auxílio do pHmetro
digital portátil, da marca KASVI, modelo K39-0014P;
- Teor de sólidos
solúveis: Foi utilizado refratômetro portátil, marca QUIMIS, modelo Q667A1, com
compensação automática e faixa de leitura de 0 a 32° Brix;
- Vitamina C:
Estimou-se a vitamina C com base no valor de 80 mg/100g
de pimenta de cheiro de acordo com [15].
- Umidade relativa do
ar: Foi determinada utilizando-se um termo-higrômetro digital, marca INCOTERM,
com faixa de variação de 10 a 99% UR.
Planejamento
experimental
Adotou-se o
delineamento inteiramente casualizado (DIC), com seis tratamentos (tempos de
exposição na feira 0, 1, 2, 3, 4 e 5 dias), quatro repetições (quatro frutos de
pimenta de cheiro para cada dia de avaliação), 24 parcelas experimentais e 18
graus de liberdade para o resíduo.
O tempo zero foi
considerado como tratamento controle. Como regra, recomenda-se que os
experimentos tenham pelo menos 20 parcelas experimentais e 10 graus de
liberdade para o resíduo [16].
Análise
estatística
Os dados foram
submetidos ao teste de Shapiro-Wilk para verificação de normalidade dos
resíduos e ao teste de Cochran para verificação de homogeneidade da variância
residual, para atender as pressuposições da análise de variância [17].
Posteriormente, realizou-se análise de variância, sendo a significância testada
pelo teste F ao nível de 1% de probabilidade [18].
Quando houve efeito
significativo de alguma fonte de variação, procedeu-se à análise de regressão,
adotando-se os seguintes critérios para o ajuste de modelo: 1) desvios de
regressão não significativos; 2) coeficiente de determinação significativo
maior possível [19].
Todas as análises
estatísticas foram realizadas utilizando-se os procedimentos específicos no
SISVAR - A Computer Statistical Analysis System [20].
Os resultados
encontrados para os indicadores de qualidade (perda de peso fresco, sólidos
solúveis, pH e vitamina C) durante os cinco dias em
que a pimenta de cheiro esteve sob estudo estão descritos nas Tabelas I, II,
III, IV e Figura 3.
Perda
de peso fresco
Os frutos
apresentaram peso em média de 16,3g com uma margem de erro de 0,6 gramas para
mais e para menos, indicando que a média possui alta precisão. A variação de
peso nos frutos se deu de 13,7 g a 18,0 g (Tabela I).
Os valores de peso
aqui reportados são semelhantes aos referenciados por outros autores que também
fizeram pesquisas com pimenta de cheiro [5,21-23].
Durante o tempo de
armazenamento, observou-se que para o peso, não houve mudanças no alimento, ou
seja, a pimenta de cheiro não sofreu perda de peso significativa no período de
avaliação ao nível de 1% de probabilidade. O que é um fato muito bom, em se
tratando de um alimento que na feira livre é comercializado em temperatura
ambiente.
Tabela
I - Peso fresco (g) de pimenta de cheiro
acondicionada em temperatura ambiente na feira livre. Manaus/AM, 2014.
Médias seguidas pela
mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente pelo teste F ao nível de
1% de probabilidade.
Sólidos
solúveis
Os valores de sólidos
solúveis (SS) observados para os frutos de pimenta de cheiro são apresentados na
Tabela II, os quais variaram de 1,13% a 1,01%, apesar da diferenciação dos
valores a cada dia, os teores de SS não sofreram influência significativa
durante seu período de armazenamento.
Tabela
II -
Sólidos solúveis (ºBrix) de pimenta de
cheiro acondicionada em temperatura ambiente na feira livre. Manaus/AM, 2014.
Médias seguidas pela
mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente pelo teste F ao nível de
1% de probabilidade.
pH
Como podemos notar na
Figura 3 o pH da pimenta de cheiro sofreu uma pequena
alteração durante o período em que o alimento esteve em exposição na feira,
vale salientar que os valores variam de 5,81 a 5,94.
O interessante é que
essa variação se deu de duas formas, conforme mostra o modelo de regressão
ajustado (y = 5,817185 - 0,001496x + 0,000252x2), do dia zero até o
quarto dia o pH reduziu em média 0,001496 íons H+ e a
partir desse ponto tendeu a aumentar na ordem de 0,000252 íons H+.
Apesar de ter
ocorrido alteração de pH, essa alteração não foi
suficiente para proporcionar mudança na faixa de acidez, permanecendo o
alimento na faixa de pH cinco. Comportamento de pH
como esse também são reportadas por outros autores que fizeram pesquisas com
pimentas como [21].
Figura
3 - Variação de pH de
pimenta de cheiro sobre condições de temperatura ambiente em feira livre,
Manaus/AM, 2014.
Vitamina
C
Os teores de vitamina
C estimados com base no peso dos frutos de pimenta de cheiro para cada dia da
semana estão demostrados na Tabela III. Os valores variaram de 11,0 a 14,4 mg com uma média de 13,1 mg de vitamina de C por fruto.
Estes valores estão condizentes com os reportados por [14].
A ingestão
recomendada de vitamina C para suprir as necessidades diárias de um indivíduo
adulto é de 75 mg para mulheres a 90 mg para homens
[23], quantidade que pode ser facilmente obtida com 112,5 g de pimenta de
cheiro.
As diferenças nos
valores de vitamina C não foram significativas ao ponto de permitir a perda
desta vitamina ao nível de 1% de probabilidade pelo teste F, ou seja, a pimenta
de cheiro permaneceu com seu teor de vitamina C estável durante os cinco dias
de avaliação.
Tabela
III -
Estimativa de vitamina C (ácido
ascórbico) da pimenta de cheiro, conforme as condições de armazenamento.
Médias seguidas pela
mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente pelo teste F ao nível de
1% de probabilidade.
Perda
de peso fresco
A não redução do peso
fresco pode estar associada a três fatores inerentes à própria pimenta de
cheiro. O primeiro seria a indefinição que existe quanto ao entendimento de
como ocorre o processo fisiológico de respiração nessa hortaliça, o segundo
estaria ligado ao seu teor de umidade que é abaixo de 80% e o terceiro fator
seria a presença de substância antimicrobiana em sua composição química.
Processo
de respiração
Um dos fatores
relacionados à perda de peso é a respiração que é o principal processo
fisiológico que ocorre nas hortaliças e tem como consequência o consumo de
compostos ricos em energia, como açúcares e amido, resultando na perda de peso,
redução do valor nutritivo e aroma [24].
Frutos climatéricos
são aqueles que, em determinado momento de seu desenvolvimento, apresentam
aumento significativo da atividade respiratória. Outros fenômenos observados
nesses frutos, como degradação e síntese de pigmentos, amolecimento da polpa e
aumento da atividade enzimática, dentre outros, ocorrem concomitantemente com
essa ascensão climatérica ou após ela [25].
Para pimenta de
cheiro, pouco se conhece acerca do padrão respiratório, não estando claro, se
os frutos apresentam padrão climatérico ou não [32]. Na prática, dificilmente
um produto sofre redução de peso sem perder suas qualidades para consumo humano
[26].
Desse modo, as
evidências indicam a pimenta de cheiro como alimento não climatérico, não
apresentando aumento de atividade respiratória, daí a perda de peso não
significativa e um produto com boa qualidade.
Teor de
umidade
Outro fator que
também pode ter ocasionado a não perda de peso é o teor de umidade que a
pimenta de cheiro apresenta, é menor que 80%, em torno de 76,4% [15]. Um menor
teor de umidade pode conferir a esse tipo de pimenta uma maior capacidade de se
manter conservada por maior período de tempo.
A umidade relativa do
ar influencia diretamente na conservação do alimento. Qualquer alimento que esteja
armazenado em ambiente com alta umidade relativa poderá ter a sua atividade de
água aumentada e deteriorar por ação de microorganismos [27].
Podemos notar pela
Tabela IV que durante o tempo de exposição da pimenta na feira, a umidade
relativa do ar média foi de 59,1%. Isso indica que a pimenta de cheiro pode ter
sido beneficio com esse valor de umidade do ar, por não ter sua atividade de
água aumentada pelo ambiente feira livre, conforme explicado acima, colaborando
para o bom estado de conservação dos frutos.
Tabela
IV -
Valores de umidade relativa do ar para
pimenta de cheiro em exposição na feira livre. Manaus/AM, 2014.
Atividade antimicrobiana
E finalmente outro
fator de grande relevância que pode estar também relacionado à perda é ação
antimicrobiana, onde a estabilidade de alguns alimentos frente ao ataque de
microrganismos é devida à presença de algumas substâncias naturalmente presentes
nesses alimentos, tendo a capacidade de retardar ou mesmo impedir a
multiplicação microbiana [28].
Nesse sentido,
existem várias pesquisas mostrando que as pimentas do gênero Capsicum possuem
em sua composição química substâncias antimicrobianas, que permitem
prolongar à vida útil de estocagem [11].
Os trabalhos
de Pinto et al. [3], Oliveira [5] e Franco
et al. [29] comprovam atividade fungicida e
bactericida em extratos de pimenta. Assim, essas substâncias naturalmente
presentes na pimenta podem ter contribuído para a sua conservação, minimizando
os problemas de deterioração.
A interação entre
esses fatores e os seus efeitos acumulativos explicam porque da pimenta de
cheiro apresentou boa qualidade para ser consumida durante todo período de
exposição.
Sólidos
solúveis
Os sólidos solúveis
são compostos solúveis em água, como açúcares, vitaminas, ácidos, aminoácidos e
algumas pectinas. O teor de sólidos solúveis é dependente do estágio de
maturação no qual o fruto é colhido e geralmente, aumenta durante a maturação
[30-32]. O aumento dos sólidos solúveis é atribuído a maior disponibilidade de
açúcar, como consequência da degradação dos mesmos pela perda de peso que
normalmente acontece durante o armazenamento [33].
No presente trabalho
os frutos de pimenta não apresentaram redução de peso significativo, logo o
fenômeno mencionado por esses autores não aconteceu para o teor de sólidos
solúveis.
O não aumento de
sólidos solúveis foi importante, pois reforça o bom estado de conservação que o
produto se encontrava, uma vez que segundo [28]. Os microorganismos necessitam
do açúcar dos alimentos, como fonte de energia para seu crescimento e
desenvolvimento, ocasionando a deterioração dos mesmos.
pH
Sabemos que a acidez
é um importante parâmetro de qualidade, por caracterizar muito bem o estado de
conservação que um alimento se encontra [26,35].
As alterações de pH são provocadas por microrganismos que crescem e se
multiplicam no alimento. Desse modo, os dados indicam que os microrganismos se
encontravam na fase inicial de seu ciclo até quarto dia, o que está coerente
com o resultado encontrado para os teores de sólidos solúveis que não se
alteram. De acordo com Evangelista [36], essa fase é chamada latência, na qual
os microrganismos estão se adaptando ao meio.
A duração da fase de
latência reflete o tempo necessário para que os microrganismos alterem o pH do meio para sua faixa de crescimento [26]. O que
provavelmente estaria acontecendo do quinto dia em diante de exposição da
pimenta de cheiro na feira.
Vitamina
C
A hipótese testada
foi de que uma vez havendo redução de peso durante o armazenamento, também
haveria redução nos teores de vitamina C. A instabilidade da vitamina C era um
resultado esperado. Entretanto, como isso não aconteceu, o teor de vitamina C
não foi alterado em função do peso do fruto. Existem outros fatores além do
peso que reforçam o resultado.
O nível de acidez do
alimento também exerce influência sobre a estabilidade da vitamina C.
Uma das
características da vitamina C é que ela é suscetível á oxidação e alcalinidade
do meio [6,37].
A oxidação pode ser
acelerada pela presença de pH alcalino. Essas
características fazem com que muita vitamina C seja perdida [3,38,39].
Assim, como o pH médio das pimentas ficou em torno de
5,59, estando dentro da faixa de pH acido, isso também está relacionado com a
estabilidade encontrada.
A estocagem de
alimentos frescos por um longo período também pode reduzir de forma
significativa os teores de vitamina C [40].
Em nosso caso, o
tempo de permanência do produto na feira foi relativamente curto. Portanto, o
que proporcionou a permanência desta vitamina no fruto, foi o fato de não ter
ocorrido à redução de peso, o pH que esteve em
situação favorável de não alcalinidade e o pouco tempo de armazenamento.
A pimenta de cheiro
comercializada no ambiente da feira livre apresentou padrão de qualidade
satisfatório, com suas características físico-químicas e valor nutricional
preservados, dentro do intervalo de tempo da pesquisa.
É importante ressaltar
que se a pimenta for comercializada após o período de cinco dias, não estará
cumprindo com eficiência a sua função básica ao consumidor que por ventura vier
adquiri-la.
A pimenta de cheiro
possui um papel importante na cultura e na culinária do Amazonas, utilizada
usualmente como tempero. Por isso, além de seu consumo condimentar, a população
precisa conhecê-la de forma ampla, e que visem o alimento como fonte de
vitamina C e saibam optar por um produto em bom estado de conservação para o
consumo sem danos a saúde.