ARTIGO
ORIGINAL
Conteúdo
de minerais, compostos fenólicos e antocianinas em farinhas de bagaço de uva
das variedades Seibel e Bordô provenientes de uma
vinícola sul-paranaense
Mineral content, total phenolics compounds and
anthocyanins of grape pomace flour of Seibel and Bordô
varieties from winery of South of Paraná
Gabriela Caroline Rovea Costa Moreira*, Clerissa Fabielle de Assis*, Renato Vasconcellos Botelho, D.Sc.**, Diana Souza Santos
Vaz***, Priscila Lumi Ishii
Freire, M.Sc.****, Gabriela Datsch
Bennemann*****
*Acadêmica
do Curso de Nutrição da Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro). Guarapuava/PR, **Docente do Departamento de
Agronomia da Unicentro, ***Docente do Departamento de
Nutrição da Unicentro, Doutoranda em Ciências da
Saúde pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ****Docente do
Departamento de Nutrição da Unicentro, *****Docente
do Departamento de Nutrição da Unicentro, Doutoranda
em Agronomia (Fruticultura) pela Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro)
Recebido 27 de
outubro de 2017; aceito 15 de dezembro de 2017
Endereço
para correspondência:
Gabriela Datsch Bennemann,
Rua Simeão Camargo Varela de Sá, 03 Vila Carli 85040-080
Guarapuava PR, E-mail: gabibennemann@gmail.com; Gabriela Caroline Rovea Costa Moreira: gabrielacaroline_@hotmail.com; Clerissa Fabielle de Assis:
clerissafassis@gmail.com; Renato Vasconcellos Botelho: rbotelho@unicentro.br;
Diana Souza Santos Vaz: nutridianavaz@gmail.com; Priscila Lumi
Ishii Freire: pri_ishii@hotmail.com
Resumo
Objetivo: Avaliar o conteúdo
de minerais e compostos bioativos presentes em
farinha de bagaço de uva das cultivares Bordô e Seibel.
Métodos: Foram coletados bagaço das
uvas dos tanques de fermentação de vinhos, posteriormente submetidos a secagem em estufa e trituradas até obtenção de farinha,
após foram realizadas análises para determinação de minerais, nitrogênio e
compostos fenólicos totais. Os minerais foram avaliados com suas respectivas
quantidades em 100 g, e comparados com o consumo recomendado pelas Dietary Reference Intakes e Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resultados: Os minerais, ferro,
potássio, zinco e manganês apresentaram quantidades superiores a 100% do
percentual de valor diário de ingestão, em relação aos compostos bioativos, a cultivar Bordô obteve resultados
superior a Seibel tanto em antocianinas quanto nos
compostos fenólicos totais. Conclusão:
Por conter elevadas quantidades de minerais a farinha de uva pode ser utilizada
para suprir as necessidades desses micronutrientes além de ser rica em
compostos bioativos que tem características
funcionais. A farinha de uva pode ser empregada nos mais variados tipos de
alimentos e os enriquecer trazendo beneficios a saúde da população.
Palavras-chave: micronutrientes, polifenóis, resíduos.
Abstract
Objective: To evaluate
the mineral content and bioactive compounds present in grape pomace flour of Bordô and Seibel varieties. Methods: We collected pulp of grapes for wine fermentation tanks
subsequently subjected to drying in an oven and ground to obtain flour,
following analyzes were performed for minerals, nitrogen and phenolic
components. The minerals were evaluated with their respective amounts in 100g
along the comparison with the intake of Dietary Reference Intakes (DRI) and
Brazilian National Sanitary Surveillance Agency (Anvisa).
Results: Minerals iron, potassium,
zinc and manganese were above 100% of the daily value intake in relation to
bioactive compounds. Bordô obtained better results
than Seibel both in anthocyanins as the total phenolic compounds. Conclusion: For contain high amounts of
mineral grape flour can be used to meet the needs of these micronutrients in
addition to being rich in bioactive compounds that have functional
characteristics. Grape flour can be used in various types of foods and bringing
benefits to health.
Key-words:
micronutrients, polyphenols, waste.
A produção de vinhos
no mundo é de cerca de 260 milhões de litros, o que resulta em aproximadamente
19 milhões de toneladas de resíduos, normalmente utilizados como fertilizantes,
ou simplesmente descartados [1].
Os resíduos sólidos
da uva processada industrialmente e que apresentam potencial de interesse
econômico são o engaço, o bagaço, sementes, material filtrado dos líquidos e
outros. Dependendo das condições das uvas quando colhidas, os seus resíduos
podem representar 13,5-14,5% do volume total de uvas, chegando a 20%. Esses
resíduos são constituídos por água, proteínas, lípidios,
hidratos de carbono, vitaminas, minerais, e compostos, tais como fibras,
vitamina C e compostos fenólicos (taninos, ácidos fenólicos, antocianinas e resveratrol), dependendo do tipo de resíduos, a cultivar e
condições climáticas de cultivo [2-5].
A uva é produzida
pela videira (parreira), botanicamente classificada como Vitis spp. Atualmente mais de 10.000 variedades são conhecidas no mundo,
cultivadas principalmente em regiões de climas temperados. Destas, mais de uma
centena são cultivadas na região sul do Brasil, país
considerado o 15° produtor em volume mundial [2,6].
Dentre as castas de
uvas de origem americana (V. labrusca) e hibridas cultivadas
no Brasil, Bordô e Seibel, respectivamente, se
caracterizam como cultivares tintas, conhecidas como "uvas rústicas"
ou "uvas comuns", utilizadas na produção de vinhos de mesa ou sucos.
A cultivar americana
Bordô se destaca por sua elevada adaptação às condições climáticas brasileiras
e por apresentar excelente fertilidade e considerável tolerância a doenças fúngicas.
A cultivar Seibel, que é, na verdade, um termo genérico que designa as
diversas uvas de casta híbrida criada na França, no fim do século XIX, por
Albert Seibel, um ativo médico e vitivinicultor, a
partir de castas europeias e nativas da América do Norte, com o objetivo de ser
resistente à praga filoxera, tem alta tolerância a invernos rigorosos e
dificilmente diminui sua produção nessa época, é formada por pequenos cachos os
quais dão o suporte necessário à uva contra pragas e fungos [7-9].
Análises químicas
mostraram que as cascas das frutas apresentam, em geral, teores de nutrientes,
como minerais, maiores do que as suas partes comestíveis, por conseguinte podem ser consideradas uma fonte diferenciada de nutrientes
[10].
Vários efeitos
benéficos à saúde têm sido atribuídos aos compostos fenólicos presentes nas
frutas, vegetais, chás e vinhos, devido às propriedades funcionais desses
resíduos que são capazes de agir sobre o metabolismo e fisiologia humana.
Estudos epidemiológicos, clínicos e in vitro mostram grandes efeitos biológicos
relacionados aos compostos fenólicos, tais como: atividades antioxidantes,
anti-inflamatória, antimicrobiana e anticarcinogênica
[5,11].
As uvas são consideradas
uma das maiores fontes de compostos fenólicos quando comparadas a outras frutas
e vegetais, porém a grande diversidade entre as cultivares resulta em uvas com
diferentes características, tanto de sabor quanto de coloração, o que
certamente está associado com o conteúdo e o perfil destes compostos bioativos. Em uvas tintas, as antocianinas constituem a
maior porcentagem de compostos fenólicos, representando um constituinte
importante para a produção de vinhos tintos e contribuindo para os atributos
sensoriais e, principalmente, para a coloração do vinho [11].
O objetivo desse
trabalho foi analisar o conteúdo de minerais, compostos fenólicos totais e
antocianinas presentes em farinhas preparadas a partir de bagaço de uva das
cultivares Bordô e Seibel, um subproduto do
processamento da indústria vinícola, visando verificar se este alimento
apresenta valor considerável desses nutrientes, podendo ser empregado em
alimentos, enriquecendo e beneficiando a saúde da população.
Após abertura dos
tanques de fermentação de uma indústria vinícola da cidade de Bituruna/PR, foram coletadas amostras de bagaço de uva das
cultivares Bordô e Seibel, as quais foram
imediatamente acondicionadas dentro de caixas térmicas com gelo em temperatura
entre 0 e 2°C a fim de preservar seu conteúdo nutricional.
Os bagaços coletados foram transportados até a cidade de Guarapuava/PR onde, no
Laboratório de Fruticultura do Curso de Pós-Graduação em Agronomia do Campus Cedeteg da Unicentro, as amostras
foram acondicionadas em bandejas de alumínio e submetidos a
secagem em estufa com circulação de ar (Solab®,
Brasil) a 55°C, até atingir a umidade de <14% p/p indicada para a produção
de farinhas de resíduos de uvas, após, foram deixadas em temperatura ambiente
(22ºC) até resfriamento total, posteriormente, as cascas e sementes foram
trituradas em moinho rotor (Marconi®, Brasil), até a obtenção da farinha a qual
foi peneirada por peneiras do tipo Tyler com aberturas de malhas de 28 Tyler.
Após o preparo da
matéria-prima, foram realizadas análises do conteúdo de minerais (N, P, K, S,
Ca, Fe, Mg, Mn, Fe e Zn), de acordo com a metodologia
descrita por Silva [12]. As concentrações de nitrogênio (N) foram determinadas
por digestão usando ácido sulfúrico e o método semimicro-Kjeldahl. Após a
digestão ácido nítrico-perclórica, o fósforo (P) foi
determinado por espectrofotometria de absorção molecular, o enxofre (S) por turbidimetria de sulfato de bário, o potássio (K) por
fotometria de emissão de chama e outros nutrientes, o cálcio (Ca) e o magnésio
(Mg), por espectrofotometria de absorção atômica.
A Recommended Dietary Allowance
(RDA) é a recomendação do consumo alimentar de cada
nutriente necessária para suprir as recomendações de quase toda a população
saudável (97 a 98%), compreendida num determinado grupo, gênero, idade e
estágio de vida. Os valores encontrados para minerais foram comparados com
valores de ingestão recomendados pela Dietary Reference Intakes (DRI) e
calculados segundo valores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para 100 g e o percentual de valor diário de
ingestão (%VD) recomendado foi baseado em uma dieta de 2000 kcal para adultos
saudáveis [13].
O conteúdo de polifenóis totais em cada extrato foi determinado espectrofotometricamente de acordo com o método de Folin-Ciocalteau, com a leitura da absorbância em 764 nm, e os resultados expressos em gramas de equivalentes a
ácido gálico (GAE) por 100 g de extrato seco. A análise do conteúdo total de
antocianinas foi realizada seguindo-se o método de diferença de pH, e os resultados apresentados em miligramas por 100 g de
extrato seco [14,15].
Os dados obtidos
foram submetidos à análise de variância e, quando resultado significativo, as
médias foram comparadas pelo teste SNK, ao nível de 5% de probabilidade por
meio do programa estatístico Sisvar. Todas as
análises foram realizadas em triplicata e os resultados apresentados como média
± desvio padrão.
Na Tabela I são
apresentados os minerais analisados das farinhas de uva Seibel
e Bordô e suas respectivas quantidades em 100 g juntamente da quantidade de
farinha de uva que atinge as recomendações da DRI e o %VD dos minerais
avaliados.
Tabela
I - Conteúdo de minerais, percentual de valor
diário de ingestão (%VD) e recomendação da RDA em farinhas de uva Bordô e Seibel, resíduos de produção vinícola no sul do Brasil.
1Valores calculados em porções
de 100g de farinhas de bagaço de uvas Seibel e Bordô;
2Médias seguidas por letras diferentes na mesma coluna são
significativamente diferentes de acordo com o teste SNK, a nível de
significância p < 0.05; 3 %VD: percentual do valor diário de ingestão.
Destacam-se os
elevados valores encontrados de %VD dos minerais zinco
(Seibel: 89,85% e Bordô: 249,57%), manganês (Seibel: 1304,34% e Bordô: 1272,17%), ferro (Seibel: 1188,28% e Bordô: 1725,28%) e potássio (Seibel: 126,80% e Bordô: 535,10%) ressaltando o elevado
conteúdo das farinhas de ambas as cultivares nesses minerais. A ingestão de
pequenas quantidades deste alimento pode ser caracterizada como fonte de
diversos minerais, segundo a RDC Nº 54/2012 que refere Informação Nutricional
Complementar (INC). Para que um alimento seja fonte de minerais ele precisa
apresentar no mínimo 15% do %VD e assim pode ser empregado em produtos ou
preparações [16]. O presente estudo mostrou esta superioridade para todos os
valores encontrados de todos os minerais em ambas as cultivares,
com exceção dos minerais fósforo em ambas as cultivares e cobre na cultivar
Bordô.
As variedades em
questão não apresentaram diferença significativa no conteúdo dos minerais fósforo, enxofre e manganês. Com relação ao
nitrogênio, potássio, cobre, magnésio e cálcio, a
cultivar Seibel apresentou concentrações superiores,
ao contrário do zinco e ferro, para os quais foram encontrados níveis
significativamente mais altos na uva Bordô.
Na Figura 1 pode ser
observado o conteúdo dos compostos bioativos
antocianinas e compostos fenólicos totais.
Figura
1 - Comparação do conteúdo de antocianinas e
compostos fenólicos totais em farinhas de resíduos de uvas de variedades Seibel e Bordô de vinícola paranaense.
É possível observar a
superioridade da uva Bordô com 19,86 ± 6,46 mg/100g de
antocianinas em relação à Seibel com 18,35 ± 2,1
mg/100g, o mesmo ocorre com os compostos fenólicos totais em que a Bordô
apresenta 2,4 ± 0,10 gAGE/100g e a Seibel 0,59 ± 0,39 gAGE/100g.
Este estudo
apresentou níveis expressivos nos diversos minerais analisados. Sousa et al. [5] analisando resíduos da
variedade de uva Benitaka, encontrou níveis menores
dos minerais avaliados (cálcio 0,44 mg/100g, magnésio 0,13 mg/100g, potássio
1,40 mg/100g, ferro 18,08 mg/100g, manganês 0,817 mg/100g, fósforo 0,183
mg/100g, enxofre 0,089 mg/100g, zinco 0,98 mg/100g), a diferença pode se dar
pelas condições proporcionadas ao crescimento da uva, como a composição do
solo, uso de fertilizantes e herbicidas e ao clima, já que esse estudo foi
realizado na região nordeste. No estudo de Rizzon e Miele [8], com suco de uva proveniente de Bento
Gonçalves/RS, também foram encontrados valores menores (cálcio 112,1 ± 14,8 mg/100g, magnésio 87,8 ± 7,2 mg/100g, manganês 1,9 ± 0,5
mg/100g, ferro 1,4 ± 1,3 mg/100g, cobre 0,6 ± 0,7 mg/100g, zinco 0,4 ± 0,16
mg/100g), mesmo a localidade tendo clima e solo semelhante ao estudado. Rizzon e Link [17], fizeram um
estudo também na região de Bento Gonçalves/RS com suco de uva caseiro de
diferentes variedades, dentre elas a cultivar Bordô a qual ainda são
encontrados valores mais baixos, porém mais próximo ao encontrado do que os
demais com excessão do potássio o qual foi superior
(cálcio 67,4 mg/L-1, magnésio 62,3 mg/L-1, potássio 1764 mg/L-1, ferro 0,7
mg/L-1, cobre 3,6 mg/L-1 e zinco 0,15 mg/L-1 ).
Sabe-se que a uva é
muita rica nutricionalmente e, como observado no
presente estudo, os resíduos da produção vinícola conservam níveis elevados de
minerais, que podem representar importante fonte de ingestão. Ferro e zinco são
minerais essenciais para o corpo humano em virtude da produção de células e
atuação no sistema imunológico, respectivamente. O ferro de origem vegetal ou
ferro não-heme tem a absorção um pouco mais baixa que
o de origem animal, porém a biodisponibilidade é alta principalmente se
consumidos com alimentos fontes de vitamina C, a disponibilidade e absorção de
zinco já é conhecida por produtos vegetais. O cálcio, assim como o magnésio,
são elementos primordiais na permeabilidade da membrana celular, além de
estarem ligados com a contrações das fibras
musculares. O potássio contribui para o metabolismo e síntese de proteínas e do
glicogênio, e regula o teor de água no organismo [18].
No estudo de Sousa et al. [5], a quantidade de ferro
encontrada (18,08 mg/100g) irá fornecer aos adultos as necessidades diárias do
mineral (8 mg/dia para homens e de 8 a 18 mg/dia para as mulheres). Para o
zinco, a ingestão diária recomendada é de 11 mg para
homens e 8 mg para as mulheres, na qual a uva Bordô ja
supre essa necessidade em 100 g. Janiques et al. [19] desenvolveu um suplemento a
base de farinha de uva para pacientes em hemodiálise contendo em sua composição
234 mg de potássio, 7,8% dos valores recomendados para esses pacientes, o que
representa cerca de 41, 73% do %VD. Os compostos fenólicos e antocianinas
exercem um papel importante na função antioxidante, assim prevenindo o
envelhecimento das células e mantendo suas funções vitais. Segundo Orak [20], os teores de compostos fenólicos presentes no
bagaço de uva representam uma grande variedade de compostos, incluindo os
flavonoides. Entre estes, destacam-se as antocianinas, pigmentos que estão
presentes na casca da uva, que podem variar entre 30 a 750 mg/100
g de fruta. Guimarães et al. [21] e Karakaya
[22] ressaltam que a ingestão regular de alimentos com compostos fenólicos
antioxidantes é um fator comprovado de prevenção a inúmeras doenças crônicas,
como as cardiovasculares, câncer, distúrbios demenciais neurológicos,
distúrbios inflamatórios e disfunções cognitivas, diabetes, artrite reumatoide
além de prevenção da oxidação da LDL assim bloqueando a formação de placas
ateroscleróticas e controle de níveis de pressão arterial.
O conteúdo de
compostos bioativos do tipo antocianinas apresentou
níveis significativos no presente estudo. Os valores obtidos foram de 19,86 mg/100g para a cultivar Bordô e 18,35 mg/100g para a
cultivar Seibel. Sua quantidade nos alimentos é
afetada por vários fatores, como clima, cultivar, práticas agrícolas e solo. O
estudo de Natividade [23] mostra que no suco de uva há uma grande concentração
de antocianinas, com teores entre 11,27 e 72,41 mg/100ml,
sendo o maior para a cultivar Bordô, uva proveniente da cidade de Jales/SP. Sua
alta concentração pode se dar pelo clima e tipo de cultivo e manejo da região
Sudoeste do País. Malacrida e Motta [24] que
realizaram o estudo com sucos de uva da região de Belo Horizonte/MG, a qual
varia de clima tropical a semiárido identificaram uma concentração média nos
sucos de uvas de 21,3 mg/100ml a 362,3 mg/100ml. Foi
relatado que não constava no rótulo do produto de qual variedade era a uva. Gurak et al. [18] encontrou teores de 107
mg/100g a 113,7 mg/100g em sucos de uvas tintas provenientes da Embrapa
localizada em Bagé/RS, região sul do Brasil.
É possível notar que
ainda a uva Bordô apresenta níveis mais altos de compostos fenólicos com 2,4 g
AGE/100g, em comparação à Seibel, que apresenta 0,59
g AGE/100g. No estudo de Natividade [23], realizado em Jales/SP, o conteúdo de
compostos fenólicos totais em farinhas obtidas de resíduos da produção de sucos
de uvas na cultivar Bordô foi de 6,64 g AGE/100g e na cultivar Isabel precoce
foi de 5,26 g AGE/100g. Quando comparado à matéria prima do presente estudo,
esta farinha foi submetida somente à maceração, enquanto que nossos resíduos
além de macerados, foram fermentados, o que pode justificar a maior perda
destes compostos.
No estudo de Abe et al. [11] realizado com variedades de
uva frescas Niágara rosada, Syrah, Merlot, Bordô e Moscato Embrapa,
todas as amostras foram trituradas sob nitrogênio líquido, liofilizadas e
armazenadas a –80°C até o momento da análise em Belo Horizonte/MG também houve
prevalência da uva Bordô chegando a ser 87% superior no conteúdo do que as
demais uvas com 12,8 ± 0,1 mg/100g, o que se justifica pelas características da
matéria prima ser fresca, sem posteriores processamentos.
O emprego da farinha
de uva vem ocorrendo em diversos estudos com produtos alimentícios. Piovessana [25] utilizou a mesma para o desenvolvimento de
biscoitos, Bennemann et al. [26], adicionaram farinha das cultivares Bordô e Ancellotta em muffins, e Assis [27] utilizou farinha da cultivar Bordô no
desenvolvimento de um sorvete. Estes estudos mostram, por meio dos resultados
das análises sensoriais e de caracterização físico-química e de compostos bioativos, que além de desenvolver produtos com boa
aceitabilidade, é possível agregar valor nutricional
aos mesmos com a adição da farinha de resíduos de produção vitivinícola.
As cultivares
apresentaram valores diferenciados entre si, onde a Seibel
obteve indices de minerais (fósforo, nitrogênio,
cobre, manganês, magnésio e cálcio) mais altos que a uva Bordô (enxofre,
potássio, zinco e ferro). Em contrapartida, a variedade Bordô teve resultados
superiores em relação a Seibel
no conteúdo de antocianinas e compostos fenólicos totais, antioxidantes
importantes para a saúde da população, sendo assim os resíduos vinícolas podem
ser extensamente utilizados na indústria alimentícia e a farinha de uva pode
ser considerada um alimento funcional e rico em minerais e compostos bioativos, podendo ser empregada nos mais variados tipos de
alimentos.