ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação
das condições estruturais e higiênico-sanitárias das unidades de alimentação e
nutrição de uma instituição hoteleira de Foz do Iguaçu/PR
Assessment of structural and hygienic-sanitary conditions of feeding and
nutrition units of an hotel at Foz
do Iguaçu/PR
Gelvani Locateli*,
Elisabete Florêncio da Silva**
*Acadêmica
do curso de graduação em Nutrição da Universidade Federal da Fronteira Sul,
Campus Realeza/PR, **Graduada em Nutrição pela Faculdade União das Américas,
Campus Foz do Iguaçu/PR
Recebido 15 de
setembro de 2016; aceito 15 de setembro de 2017
Endereço
para correspondência:
Gelvani Locateli, Rua Padre Fernando Zanchet, 2985/05 Centro 85770-000
Realeza/PR, E-mail: gelvanilocateli@gmail.com; Elisabete Florêncio da Silva:
bettyciencias@gmail.com.
Resumo
O presente estudo
teve por objetivo avaliar as condições estruturais e higiênico-sanitárias das
Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) de uma instituição hoteleira de Foz do
Iguaçu/PR. Para isso, realizou-se a aplicação do check-list do Programa
Alimentos Seguros nas duas UANs da instituição. Sendo uma destinada a produção de refeições dos hospedes, enquanto que a outra
era veiculada ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). E, para
considerar a UAN como satisfatória foi estabelecido um percentual de adequação
igual ou superior a 70%. Assim, percebeu-se que a UAN Hoteleira e a UAN do PAT
apresentavam condições estruturais e higiênico-sanitárias satisfatórias,
alcançando 88,3% e 74,2% de conformidade, respectivamente. Ainda, na UAN
veiculada ao PAT foram observados oito pontos críticos, enquanto que a outra
possui quatro, sugerindo a necessidade de intervenção de um profissional de
nutrição.
Palavras-chave: lista de checagem,
serviços de alimentação, hotelaria, programas governamentais.
Abstract
This study aimed to evaluate the hygienic-sanitary conditions of Food
and Nutrition Units of a hotel at Foz do Iguaçu/PR.
For this, we applied the the checklist Safe Food
Program in the 2 food service units, one for the production of meals for
guests, while the other was for the Worker Food Program. And, to consider UAN
satisfactory was established a percentage equal to or higher than 70%. We
observed that the 2 units had satisfactory structural and hygienic-sanitary
conditions, reaching compliance of 88.3% and 74.2%, respectively. Further, in
the unit linked to the workers there were eight critical points, while the
other has four, suggesting the need for intervention of a professional
nutrition.
Key-words: Checklist,
food services, hotel, government programs.
Os primeiros
registros históricos do serviço hoteleiro datam do século VII a.C. e se devem aos primórdios dos jogos olímpicos
realizados na cidade-estado de Olimpía, na antiga Grécia, que atraia atletas e
espectadores, os quais necessitavam de um alojamento enquanto permaneciam
naquela cidade. Desta forma, adaptaram-se e criaram-se estruturas de
alojamento, alimentação e transporte para esses primeiros turistas, tanto em
Olímpia, como no caminho para esta. Em Roma, durante o período conhecido como
“Paz Romana”, o setor hoteleiro também expandiu devido, principalmente, a ampla
construção de estradas [1].
Já, no Brasil, o
setor hoteleiro teve origem com as hospedarias familiares que, muitas vezes,
estavam anexas as instalações da moradia do proprietário. A partir da década de
70, o setor experimentou amplo crescimento, o que pode estar relacionado a criação do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), o
qual viabilizou a aprovação de diversos projetos ligados ao segmento de turismo
e hotelaria [2].
Conforme o setor
hoteleiro foi evoluindo, o sentido de hospitalidade passou a ser melhor compreendido, e outros serviços foram desenvolvidos
para atender a demanda satisfatoriamente, incluindo o serviço de alimentação.
Salienta-se que os serviços de alimentação e nutrição cada vez possuem mais
espaço no setor hoteleiro, com importante contribuição da gastronomia, devido
ao turismo gastronômico [3]. Para Paula [4], “hospitalidade e serviços de
alimentação são dois termos que encerram o mesmo significado: ambos representam
o ato de acolher e prestar serviços a alguém que esteja fora de seu lar
(p.160)”.
Desta forma, como o
nutricionista é o profissional que estuda a relação homem x alimento, presume
que o mesmo também possa atuar em restaurantes hoteleiros. Uma unidade de
trabalho, onde suas atividades estão relacionadas com a alimentação e nutrição
de pessoas é chamada de Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN). A UAN deve
apresentar uma refeição equilibrada nutricionalmente, que apresente segurança
alimentar e nutricional ao comensal, deve ainda, satisfazê-lo quanto ao serviço
oferecido, desde o ambiente físico, incluindo tipo, convivência e condições de
higiene de instalações e equipamentos disponíveis [5].
Desta
forma, o
presente trabalho teve como objetivo avaliar as condições
estruturais e
higiênico-sanitárias das unidades de
alimentação e nutrição de uma
instituição
hoteleira de Foz do Iguaçu, Paraná.
Realizou-se, em 2016,
estágio extracurricular em uma instituição hoteleira de Foz do Iguaçu/PR. O
local de estágio era composto por uma cozinha central, copa e padaria, que fornecia
a alimentação para os clientes da instituição; uma cozinha e refeitório, no
qual eram produzidas e servidas as refeições para os funcionários do local.
Vale salientar que esta era veiculada ao Programa de Alimentação do Trabalhador
(PAT) e seguia o modelo de autogestão; e um almoxarifado, o qual recebia e
distribuía matéria-prima para as unidades de produção de refeições.
Desta forma, realizou
algumas atividades nestes locais, entre estas, destaca-se a aplicação do
check-list do Programa Alimentos Seguros (PAS), o qual foi adotado por apontar
pontos críticos e possibilitar a sugestão de medidas corretivas. O check-list
do Programa Alimentos Seguros (PAS) possui ao todo 174 itens, sendo 60
considerados como críticos e 114 não críticos, estes são separados em nove
diferentes etapas: Aspectos gerais de recursos humanos; Aspectos gerais de meio
ambiente; Aspectos gerais de instalações, edificações e saneamento; Aspectos
gerais de equipamentos; Aspectos gerais de sanitização; Aspectos gerais de
produção; Aspectos gerais de embalagem e rotulagem; Aspectos gerais de controle
de qualidade e Aspectos gerais de controle no mercado.
As opções de
respostas para o preenchimento do check-list foram: “Conforme” (C), quando o
estabelecimento atendeu ao item observado; “Não Conforme” (NC), quando o mesmo
apresentou não conformidade. Os itens, cuja resposta foi “Não Aplicável” (NA),
não foram avaliados.
A aplicação do check
list foi realizado em horário aleatório, sem
conhecimento prévio dos colaboradores. Primeiramente foi aplicado na Unidade de
Alimentação e Nutrição (UAN) que fornece a alimentação para os funcionários do
hotel. Posteriormente, aplicou-se o mesmo instrumento também na UAN responsável
pela produção das refeições ofertadas aos clientes do mesmo.
Para considerar cada
UAN como satisfatória foi estabelecido um percentual de acertos igual ou
superior a 70% e insatisfatória quando este for inferior a 70%.
A partir da aplicação
do check list, levantou-se a quantidade de itens adequados, inadequados e não
aplicáveis na UAN Hoteleira e naquela veiculada ao PAT. Assim como foram
identificados os pontos críticos em ambas as UANs (tabela I).
Tabela
I - Check-list realizado em Unidades de
Alimentação e Nutrição de um Hotel de Foz do Iguaçu, 2016.
*Pontos críticos
encontrados.
Deste modo,
percebeu-se que, a UAN Hoteleira e a UAN do PAT obtiveram 88,3% e 74,2% de conformidade,
respectivamente, sendo classificadas como satisfatórias. Salienta-se que a UAN
veiculada ao PAT apresentou maior percentual de conformidade nos aspectos
gerais de recursos humanos (83,3%), enquanto que a UAN Hoteleira obteve 100% de
adequação nos aspectos gerais de equipamentos e do meio ambiente (gráfico 1).
Gráfico
1 - Percentual de adequação encontrado nas duas
UANs investigadas, de acordo com a aplicação do check-list do Programa
Alimentos Seguros (PAS), 2016.
Também foi observado
que, na UAN do PAT, os aspectos gerais de meio ambiente tiveram o menor
percentual de adequação (50%). Já, para a UAN destinada a
produção de refeições para os hospedes, os aspectos gerais de controle de
qualidade apresentaram maior inadequação (gráfico 1).
Quanto aos pontos
críticos encontrados, observou-se que alguns são comuns entre as duas unidades,
uma vez que são instalações próximas e compartilham de algumas estruturas
(tabela II).
Tabela
II -
Descrição dos pontos críticos encontrados
em Unidades de Alimentação e Nutrição de um Hotel de Foz do Iguaçu, 2016.
Desta forma,
observou-se que a UAN que fornece as refeições para os funcionários apresenta
maior número de não conformidades quando comparada a UAN destinada a produção de refeição aos hospedes. Note, ainda, que na UAN
veiculada ao PAT foram identificados 8 não
conformidades consideradas como críticas, enquanto que na UAN hoteleira, este
valor reduz pela metade.
A partir da análise
da distribuição geográfica das redes de hotéis paranaenses, percebe-se que
estes se concentram na capital do estado, Curitiba, e em algumas cidades
interioranas, como Londrina, Maringá e Foz do Iguaçu [6], sendo que esta última
sedia a instituição investigada. Ainda, quanto aavaliação
da adoção das boas práticas de
fabricação/manipulação na hotelaria
paranaense, a literatura se mostra escassa.
Assim, no presente
estudo, o percentual de adequação encontrado para a UAN Hoteleira foi de 88,3%, classificando-se como satisfatória. Utilizando
check list da RDC 275/2002, Ferreira et al. [7]
avaliaram nove unidades hoteleiras em Minas Gerais, sendo que destas, 8
classificaram-se no grupo 1 (76 a 100% de atendimento dos itens), demonstrando
importante frequência de adequação entre as unidades hoteleiras.
Estes achados são
semelhantes aos de Bernardo et al. [8], também
adotando o check list da resolução 275/2002, que investigou 10 hotéis de Belo
Horizonte/MG. Destes, 6 foram classificados no grupo
1. Destaca-se que apenas em 30% destes estabelecimentos havia um profissional
como responsável técnico.
Assim, salienta-se a
importância do acompanhamento técnico de um profissional de nutrição para a
adoção das boas práticas de fabricação/manipulação, sanando irregularidades e
garantindo a segurança alimentar e nutricional do serviço oferecido [9-11].
Quanto a UAN
veiculada ao PAT, este programa foi instituído por lei em 1976 [12] e
regulamentado por decreto em 1991 [13], e prevê a responsabilidade técnica de
um profissional nutricionista [14]. A UAN estudada apresentou percentual de
adequação de 74,2%, menor quando comparado a UAN Hoteleira da mesma
instituição, o que pode se dever ao baixo investimento na mesma.
Ainda, observou-se
que, na literatura, têm-se maior ênfase na análise de cardápio das refeições
oferecidas aos trabalhadores [15-18], e pouco se menciona as
condições higiênico-sanitárias, mas estas também integram a segurança
alimentar e nutricional.
Através do presente
trabalho percebeu-se que as UANs da instituição hoteleira apresentaram
condições higiênico-sanitárias satisfatórias. Entretanto, foram identificados
importantes pontos críticos, sugerindo a necessidade de intervenção de um
profissional de nutrição.
Assim, foi possível
perceber a importância de desbravar novos mercados de trabalho, uma vez que a
atuação do profissional de nutrição em hotelaria é recente e não exigido, com
exceção da UAN veiculada ao PAT, na qual a própria regulamentação do programa
prevê a responsabilidade técnica do nutricionista.
Ainda, destaca-se a
necessidade de mais investigações nesta temática, uma vez que se percebeu
escassez literária.