ARTIGO
ORIGINAL
Atitudes
alimentares e consumo de alimentos relacionados à anorexia nervosa em
adolescentes de Venâncio Aires/RS
Feeding behavior and food intake related to anorexia nervosa in
adolescents at Venâncio Aires/RS Brazil
Ethiene Schirmann
Lakus, D.Sc.*, Daniel Prá,
D.Sc.*, Silvia Isabel Rech Franke, D.Sc.**
*Doutor
em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Docente do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Promoção da Saúde,
Universidade de Santa Cruz do Sul/RS, **Doutora em Biologia Celular e
Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Docente
e Coordenadora do Programa de Pós-graduação Stricto Senso em Promoção da
Saúde, Universidade de Santa Cruz do Sul/RS
Recebido 3 de novembro de 2016; aceito 15 de setembro de 2017
Endereço
para correspondência:
Ethiene Schirmann Lakus, Rua Osvaldo Aranha, 1441 Centro 95800-000 Venâncio
Aires RS, E-mail: ethienesl@yahoo.com.br; Daniel Prá: dpra@unisc.br; Silvia Isabel
Rech Franke: silvia_unisc@yahoo.com.br
Resumo
Objetivo: Identificar a
prevalência de alteração no comportamento alimentar relacionada à anorexia
nervosa de adolescentes de município do interior do RS, associando as atitudes
e os padrões alimentares ao risco de sintomas de anorexia nervosa. Métodos: As variáveis comportamentais
alimentares foram avaliadas pelo teste Eating
Attitudes Test-26 (EAT) e os dados de aversões e preferências alimentares
foram obtidos por questionário específico. Resultados:
A amostra constituiu-se por 451 adolescentes (53,9% feminino). A prevalência de
EAT+ foi de 10,9%, sendo maior no sexo feminino (14,8%) que no masculino (6,3%;
p=0,004). O consumo de cereais matinais diferiu entre os indivíduos com EAT+ e
EAT- (p=0,012) e o consumo frequente deste alimento mostrou-se associado ao
maior risco de EAT+ [OR: 2,5 (IC: 1,3-4,5)]. O consumo de refrigerantes diferiu
entre os indivíduos com EAT+ e EAT- (p<0,001) e o consumo frequente da
bebida mostrou-se associado ao menor risco de EAT+ [OR: 0,41 (IC: 0,22-0,75)].
Apesar de não se mostrarem associados com o risco de EAT+, o consumo de doces e
refrigerantes dietéticos e de frutas também diferiu entre os indivíduos com
EAT+ e EAT- (p=0,039 e p<0,001, respectivamente). Conclusão: A diferença na prevalência de EAT+ entre os homens e
mulheres aponta a necessidade de estudos futuros e intervenções, não focando
apenas as mulheres, mas a população como um todo. As diferenças nas aversões e
preferências por determinados alimentos indicam a possibilidade da avaliação do
consumo destes como marcadores de risco para a anorexia nervosa.
Palavras-chave: anorexia nervosa,
transtornos da alimentação, comportamento alimentar, adolescentes.
Abstract
Objective: To identify
the prevalence of changes in dietary behavior related to anorexia nervosa in
teenagers from the countryside of Rio Grande do Sul
State, Brazil, associating the attitudes and alimentary standards to the risk
of anorexia nervosa symptoms. Methods:
The feeding behavioral variables were evaluated by the Eating Attitudes Test-26
(EAT) and data of alimentary aversions and preferences were obtained based in a
standard questionnaire. Results: The
sample was composed of 451 teenagers (53, 9% females). Positive score (EAT+)
occurred in 10.9% of the sample, being more frequent in females (14.8%) than in
males (6.3%, p=0.004). Of the 26 questions of the EAT questionnaire, only 2
were not associate to the risk of EAT+. The intake of breakfast cereals
differed between EAT- and EAT+ individuals (p=0.012) and the frequent intake of
such food increased the risk of EAT+ [OR: 2.5 (CI:1.3–4.5)].
The intake of soft drinks differed between EAT- and EAT+ individuals
(p<0.001) and the frequent intake of such drink reduced the risk of EAT [OR:
0.41 (CI: 0.22-0.75)]. Besides not being associated to EAT+ risk, the
consumption of diet soft drinks and sweats or fruits also differed between EAT-
and EAT+ individuals (p=0.039 and p<0.001, respectively). Conclusion: The differences in
prevalence of EAT between males and females point out the need for future
studies and interventions in view of the population as a whole and not focusing
only on women. The differences in aversions and preferences of certain foods
indicate the potential usage of the consumption of given foods as surrogates of
anorexia nervosa risk.
Key-words: anorexia
nervosa, eating disorders, feeding behavior, teenagers.
Os transtornos
alimentares são definidos como desvios de comportamento alimentar [1],
caracterizados principalmente por alterações de apetite e perturbações da
imagem corporal [2-6].sendo registrados principalmente
em indivíduos jovens e do sexo feminino [7,8]. Tais desvios de comportamento
resultam da preocupação excessiva com o corpo (inadequação na percepção da
imagem corporal) [3,5,9-12] e podem estar associados
ao medo de engordar, que leva a dietas extremamente restritivas, com
consequências danosas à saúde [6,11-13]. A anorexia nervosa é caracterizada por
uma restrição dietética auto-imposta [14], sendo essa
progressiva, com acentuada perda de peso e com temor intenso de engordar [15].
Pacientes com essa patologia preocupam-se cada vez mais com a dieta, vivendo em
função dela, de seu peso e de sua forma corporal, como consequência, os
pacientes isolam-se gradativamente do convívio social [16]. O perfeccionismo, a
depressão e a fobia social estão associados aos transtornos alimentares [17].
Os padrões de beleza,
tamanho e formas ideais do corpo são culturalmente definidos, variando conforme
a sociedade [18,19]. Há uma extrema valorização da magreza nas sociedades
ocidentais, que pode contribuir para o aumento da incidência de transtornos
alimentares. O paciente com anorexia nervosa procura perder peso de várias
formas, seja restringindo alimentos, provocando vômitos ou fazendo uso de
fármacos anorexígenos, laxantes e diuréticos [10,20-22].
Os transtornos
alimentares são de difícil tratamento e podem causar complicações à saúde,
estando associados a altas taxas de mortalidade [1,20]. Os transtornos
alimentares tiveram aumento significativo em sua incidência, principalmente nas
últimas décadas [10,11,23-25]. A imagem do corpo,
divulgada pelos meios de comunicação, está associada a um padrão de beleza
feminino representado por um corpo cada vez mais magro26, em que quem quer ser
“feliz” deve seguir esse padrão [27].
O início da anorexia
nervosa frequentemente ocorre na adolescência [28], dos 13 aos 17 anos,
existindo, contudo, relatos de início pré-puberal [20,29]. Os estudos
internacionais apontam que a prevalência de anorexia nervosa é maior no sexo
feminino [30], com razão de prevalência (homens:mulheres)
entre 1:6 e 1:10. A anorexia nervosa atinge entre 0,3% (numa definição estrita)
a 3.7% das mulheres, numa definição mais ampla [31].
O presente estudo
propôs-se a identificar a prevalência de alteração no comportamento alimentar
relacionados à anorexia nervosa, associando as atitudes e os padrões
alimentares ao risco de sintomas de anorexia nervosa em adolescentes da 8ª
série do Ensino Fundamental e 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio de quatro
escolas do município de Venâncio Aires/RS. Os comportamentos alimentares dos
adolescentes foram verificados com o Eating
Attitudes Test (EAT) - Teste de Atitudes Alimentares [24]. Já a frequência
alimentar foi analisada utilizando um questionário, baseado em Dunker &
Philippi [15]. Por fim, buscaram-se diferenças quanto às respostas das questões
do EAT e do questionário de frequência alimentar entre os adolescentes com e
sem sintomas de anorexia nervosa.
A amostra foi
composta por adolescentes voluntários, com idades entre 13 e 19 anos de 4 escolas, sendo 3 públicas e uma particular, localizadas na
região central do município de Venâncio Aires/RS. A escolha das escolas foi por
conveniência, utilizando-se a localização e aceitação da direção da escola na
aplicação da pesquisa como critérios de definição da amostra. A coleta de dados
ocorreu de forma censitária dentro das escolas, pela entrevista de todos os
alunos das turmas de 8ª série do ensino fundamental, 1º, 2º e 3º anos do ensino
médio que cada escola possuía.
Somente fizeram parte
da amostra os adolescentes que autorizaram a participação ou cujos pais ou
responsáveis tenham autorizado mediante um termo de consentimento livre e
esclarecido. Foram excluídos da pesquisa os indivíduos que se recusaram a
responder o questionário e ou que não entregaram o termo de consentimento
devidamente assinado. No termo de consentimento livre esclarecido foi omitido o
objetivo real da pesquisa (identificar indivíduos com sintomas de anorexia
nervosa), não abordando os transtornos alimentares, para evitar a interferência
nas respostas (omissão e manipulação) pelos adolescentes com sintomas de
anorexia nervosa. Os indivíduos com sintomas de anorexia frequentemente
manipulam respostas para ocultar seu comportamento alimentar. A pesquisa teve
início após o consentimento dos responsáveis de cada escola e mediante a
aprovação do projeto 214/06 no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC.
A coleta de dados
ocorreu durante o período de aula pelo autopreenchimento dos questionários. A
forma de preenchimento dos questionários foi detalhadamente explicada aos
adolescentes, para evitar omissões e erros. Os dados referentes aos sintomas de
anorexia nervosa foram coletados utilizando-se o Teste de Atitudes Alimentares
(EAT-26) [32-34] enquanto os dados frequência alimentar (aversões e
preferências) foram obtidos por questionário, adaptado
de Dunker & Philippi [15].
O teste EAT considera
sintomático (EAT+) quando a pontuação total for ≥21. No questionário, as
siglas sempre (S), muito frequentemente (MF), frequentemente (F), às vezes
(AV), raramente (R) e nunca (N) correspondem, respectivamente, à seguinte
pontuação: (3) (2) (1) (0) (0) (0), com exceção da questão nº4, gosto de
experimentar novas comidas engordantes, em que (S), (MF), (F), (AV), (R) e (N)
correspondem, respectivamente, à pontuação (0) (0) (0) (1) (2) (3) [32].
O processamento dos
dados foi feito pelo software Statistical
Package for Social Sciences versão 14.0 (SPSS Inc, Chicago, IL). O software Prism 4.0 (GraphPad
Software, San Diego, CA) foi utilizado para plotar os gráficos. O odds ratio
foi utilizada para estimar o risco relativo de EAT+ de acordo com as questões
do EAT ou com a frequência alimentar. Para as questões de frequência alimentar,
estratificou-se os indivíduos em consumo infrequente
(1x ou, menos por mês) e frequente (1x por semana ou mais). O teste de
chi-quadrado foi utilizado para comparar o consumo alimentar entre os
indivíduos com EAT+ e EAT-. Para o teste de razão de Odds utilizou-se intervalo
de significância de 95% e para o teste de chi-quadrado utilizou-se nível de
significância de p<0,05.
A população de estudo
constituiu-se de 451 adolescentes, com idades entre 13 e 19 anos, sendo a média
15,7±1,3 anos. Destes 46,1% eram do sexo masculino e 53,9% feminino, sendo
estudantes da 8ª série (14,6%), 1º ano (34,4%), 2º ano (26,8%) e 3º ano
(24,2%). Do total de indivíduos, 10,9% apresentaram escore positivo (EAT+). O
EAT+ foi significativamente mais frequente (p<0,001) no sexo feminino,
14,8%, que no masculino, 6,3%. As respostas do EAT-26 mostram uma preocupação
de muitos adolescentes em relação ao peso, mesmo não apresentando sintomas de
anorexia nervosa na pontuação do EAT-26. Os resultados foram analisados quanto
à relação entre as respostas das questões do EAT-26 e o risco de sintomas de
anorexia (EAT+). Das 26 questões abordadas no EAT, apenas 2
não se associaram significativamente ao risco de EAT+, tendo a questão 15 se
associado negativamente (Tabela I).
Tabela
I - Relação entre as respostas às questões do
EAT-26 e o risco de sintomas de anorexia (EAT+).
As respostas sempre,
muito frequentemente e frequentemente foram consideradas para definir respostas
positivas (pontuação ≥1), enquanto as respostas
às vezes, raramente e nunca foram consideradas como respostas nulas (pontuação
zero), exceto para a questão 4 que foi interpretada de modo inverso.
O consumo frequente
de refrigerantes mostrou-se associado ao menor risco de EAT+ [OR: 0,41
(0,22-0,75)]. O consumo frequente de cereais matinais mostrou-se associado ao
maior risco de EAT+ [OR: 2,5 (1,3-4,5)]. Em concordância, o consumo de
refrigerantes foi menor entre os indivíduos com EAT+ (p<0,001; Fig. 1A) e o
consumo de cereais matinais foi maior entre os indivíduos com EAT+ (p=0,012;
Fig. 1B). Apesar de não se mostrarem associados com o risco de EAT+, o consumo
de doces e refrigerantes dietéticos e de frutas foi maior entre os indivíduos
com EAT+ (p=0,039 e p<0,001, respectivamente, Fig1C e Fig1D).
Figura
1 - Relação entre a frequência de consumo de
alimentos e a ausência (EAT-) e a presença (EAT+) de sintoma de anorexia
nervosa. N=451 indivíduos. p: nível de significância de acordo com o teste de
chi-quadrado.
A prevalência de EAT+
no presente estudo foi de 10,9% (n=451) considerando ambos os sexos, sendo de
14,8% para as meninas e 6,3% para os meninos. Este valor foi menor do que os
13,3% observado em adolescentes do interior de Minas Gerais (n=1807; 7 a 19
anos) [35]. A prevalência encontrada para o sexo feminino pode ser considerada
baixa em relação aos 21,2% encontrados em estudantes do ensino médio de São
Paulo, SP (n=279; 15 a 18 anos) [16] ou aos 22,2% encontrados em universitárias
de Florianópolis (n=221; 19 a 25 anos) [36]; contudo, foi similar aos 15,6%
observados em Florianópolis (n=1148; 10 a 19 anos; meninas) [37]. Os dados
obtidos estão na mesma faixa de prevalência reportada em alguns estudos
internacionais, utilizando o mesmo instrumento, com EAT+ entre 6 e 22% dos indivíduos, dependendo do sexo, do local ou de
peculiaridades da amostra [38,39]. Não obstante, assume-se que a incidência da
anorexia nervosa pode variar principalmente por aspectos culturais [10].
Dados epidemiológicos
mostram semelhanças entre Florianópolis, SC e as cidades da Microrregião de
Santa Cruz do Sul/RS (incluindo Venâncio Aires), incluindo similaridades quanto
ao padrão antropométrico e de marcadores de risco cardiovascular [40], bem como
quanto ao padrão alimentar (dados não publicados). Venâncio Aires é uma cidade
com cerca de 60.000 habitantes, localizada no Vale do Rio Pardo, a 120 km de
Porto Alegre/RS, constituída por uma população de origem predominantemente
germânica.
Um fato importante no
presente estudo é a grande prevalência de sinais de EAT+ entre os meninos,
sendo de 1 menino para cada 2,35 meninas; muito
superior a proporção esperada variando de 1:6 a 1:10 meninos por meninas
indicados na literatura [15,16,41]. De acordo com Callegari e Scaparra [42], a
probabilidade de atingir indivíduos do sexo masculino é de 5-10% [43], que
apresentam maior propensão (20 e 25%) de contrair a doença na idade pré-púbere.
Outros estudos indicam que o sexo masculino representa 2% a 10% dos casos de
transtornos alimentares [44]. Em contraste e em concordância com nosso estudo,
os dados de Vilela et al. [35] indicam prevalência de EAT+,
significativamente maior entre as mulheres e alta prevalência de EAT+ no sexo
masculino, indicando aumento de sua prevalência entre os homens [6,45].
Cabe lembrar, que a
presença de EAT+ não é suficiente para diagnosticar anorexia, o que fica
evidente pela faixa de prevalência clínica de anorexia variar entre 0,3% (numa definição
estrita) a 3,7 % das mulheres, numa definição mais ampla [31,46,47].
Por outro lado, o EAT pode auxiliar na identificação dos transtornos
alimentares, sendo útil para a definição de políticas públicas de minimização
do risco de anorexia nervosa, particulamente pela alta taxa de mortalidade da
doença, que pode chegar a 30% [15,16]. A análise pormenorizada do padrão de
resposta ao instrumento pode fornecer dados acerca de
quais comportamentos são mais comuns na população estudada. Das 12 questões do
EAT da escala de dieta, que refletem recusa patológica a
comidas de alto valor calórico e preocupação intensa com a forma física [20],
11 questões apresentaram associação positiva (q1, q6, q7, q10-12, q14,
q16, q22, q23, q25) e apenas a questão 17 não se associou significativamente ao
EAT+ (Tabela I). Quanto à escala da bulimia e preocupação com alimentos, que se
referem a episódios de ingestão compulsiva, vômitos e comportamentos para
evitar o ganho de peso [20], as questões q3, q9, q18, q21, q26 apresentaram
associação significativa, exceto para a questão 4
(Tabela I). Todas as questões relativas ao autocontrole em relação aos
alimentos, relacionado ao ambiente social [20] mostraram aumento de risco de
EAT+ (q2, q5, q8, q13, q19, q20, q24; Tabela 1), exceto a questão 15, se
associando negativamente.
Identificar as
preferências e aversões dos indivíduos possibilita entender melhor as
alterações dietéticas associadas à sintomatologia da anorexia nervosa. No
presente estudo, observou-se uma tendência à substituição dos refrigerantes por
doces e refrigerantes dietéticos e um aumento tanto no consumo de cereais
matinais e frutas. Além disso, o risco de anorexia nervosa mostrou-se reduzido
pelo consumo frequente de refrigerantes e aumentado pelo consumo de cereais
matinais. O refrigerante é um alimento calórico geralmente evitado por
indivíduos que objetivam a redução de peso, o que ocorre na anorexia nervosa. O
não-consumo desse alimento pode ser um indicativo de
anorexia nervosa no grupo de adolescentes, visto que, na maioria dos casos a
doença começa a partir de uma dieta restritiva e persistente, quando são
evitados alimentos que provoquem ganho de peso (geralmente os ricos em
carboidratos) [14]. De acordo com Busse [16], as pacientes inicialmente evitam
os alimentos ricos em carboidratos e posteriormente as gorduras.
O maior consumo de
alimentos dietéticos demonstrou novamente o medo de engordar presente na
anorexia nervosa. As frutas e os cereais matinais são considerados saudáveis
pelo conhecimento empírico da população, sendo que o consumo destes foi maior
no grupo com sintomas de anorexia nervosa, corroborando o fato de
preocuparem-se mais com a dieta.
Acreditamos que o
presente estudo é relevante para identificar a prevalência de comportamentos
alimentares associados à anorexia nervosa na região estudada, região central do
Rio Grande do Sul, local com comportamento alimentares peculiares e com pouca
cobertura epidemiológica. Ademais, há poucos estudos no Brasil acerca da descrição
de comportamentos alimentares associados à anorexia. Apesar da relevância do
estudo, cabe ressaltar que a incidência de anorexia nervosa pode ser
subestimada, devido à facilidade de acesso a informações acerca da doença e do
consequente conhecimento acerca do método para a identificação dos sintomas de
anorexia nervosa. De fato, informações sobre os transtornos alimentares são
disponíveis em revistas, na televisão e, sobretudo, na internet. Outra
limitação se refere à amostragem de conveniência e a adesão dos adolescentes,
pela falta de compromisso dos mesmos em devolver o termo de consentimento
assinado por seus responsáveis. Esse comportamento é típico dessa faixa etária.
No presente estudo
pode ser observado que os transtornos alimentares alcançaram grandes
proporções, atingindo adolescentes do gênero feminino e, em menor proporção, do
gênero masculino aponta a necessidade de estudos futuros e intervenções não
focando apenas as mulheres, mas a população como um todo. As diferenças nas
aversões e preferências por determinados alimentos indicam a possibilidade da
avaliação do consumo destes como marcadores de risco para a anorexia nervosa.